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Scarface (1983): Imigração, guerra fria e drogas são temas do remake clássico dos anos 80, que crítica a ganância e a superficialidade da cultura americana



Um imigrante cubano, Tony Montana (Al Pacino), é exilado de Cuba para Miami. Ao lado de alguns companheiros, um deles Manny Ribeira, ele inicialmente é preso em um campo de imigrantes, mas Tony assassina um militante comunista, amigo de Fidel para ganhar liberdade. Em Miami, Tony começa fazendo pequenos trabalhos para um chefão do tráfico de drogas, Frank Lopez, e em pouco tempo cresce na organização criminosa, assim como suas ambições. Para completar, Tony se apaixona por Elvira (Michelle Pfeiffer), mulher de seu chefe. Dirigido por Brian De Palma, o roteiro é de Oliver Stone baseado no romance de Armitage Trail e no filme de 1932 de Howard Hawks. Scarface é um dos filmes mais violentos já feitos e um expoente da nova Hollywood no cinema da década de 80. A resposta da crítica inicial a Scarface foi mista, com críticas sobre a violência excessiva, linguagem forte e frequente uso gráfico de droga, fazendo o filme ser censurado em vários países

Scarface está no Netflix, Star+, Amazon, Telecine e Globoplay. Há também um link no Internet Archive dublado, que segundo o post está em domínio público


Crítica e explicação do filme


A primeira coisa que vemos é a questão de Fidel e Cuba. O filme começa com um letreiro correndo na tela, ao estilo Star Wars, explicando que em 1980, Fidel Castro abriu o porto de Mariel para permitir que os cubanos voltassem a ter contato com seus familiares nos Estados Unidos. 


Só que, segundo o argumento do filme, dentre esses milhares de pessoas que foram para os Estados Unidos, existiam vários "criminosos", que saíram das prisões cubanas. Logo depois, somos tacados um frame de Fidel falando que aquelas pessoas não se adequam ao regime e que "não os queremos", uma imagem profundamente contraditória e que ecoa todo o filme, algo que deve ter desagradado a muitos na época.



Na primeira cena que Pacino aparece, a polícia está interrogando Tony, parecendo um jogo de RPG, onde cada resposta parece simbólica para entendermos sua personalidade. Quando perguntam a Tony como ele aprendeu inglês, ele diz aos agentes que era “do cinema. Eu aprendo. Eu assisto caras como Humphrey Bogart, James Cagney. Eles me ensinam a falar.” Esse elemento é claramente inspirado no personagem Michel, do filme Acossado (1960), de Godard (já analisado aqui).  


A pose de gângster de Tony é, portanto, um modelo comportamental inspirado em gângsteres de cinema. Um sinal da sua colonização cultural e como Estados Unidos, até mesmo no cinema, reforça certos estereótipos que influenciam as pessoas menos esclarecidas. 


O filme já foi algumas vezes acusado de reforçar arquétipos negativos em torno do cubano, principalmente por ser um italiano que interpreta Tony. Durante as filmagens, alguns cubanos se opuseram aos personagens cubanos do filme serem retratados como criminosos por atores não-cubanos. Mas o filme apresentava uma isenção de responsabilidade após seus créditos afirmando em vermelho: "Scarface é um relato fictício das atividades de um pequeno grupo de criminosos implacáveis. Os personagens não representam a comunidade cubana-americana e seria errado e injusto sugerir que o façam. A grande maioria dos cubanos/americanos demonstrou uma dedicação, vitalidade e empreendimento que enriqueceu a cena americana."


Entretanto, o principal aspecto que percorre o filme e é pouco debatido é sobre questões são as questões políticas entre capitalismo e comunismo. 



Analisando conjenturalmente o filme como um todos, em suas transições, é notável que o filme indica Tony Montana é um fruto do comunismo cubano e a falta de oportunidade para caras como ele. Para o comunismo, ele representa a escória do capitalismo. Para os Estados Unidos, ele é uma escória comunista. Mesmo que ele rejeite seu país e se diga um anticomunista, ele sempre vai ser visto como herdeiro, mesmo que apenas de etnia, de seu país. Por outro lado, se refletirmos a tragédia e a dor que causou a trajetória de Tony, será que Fidel e Cuba não tinham certa razão de querer se livrar dele?


Depois a questão do campo de concentração Há uma critica sutil do filme a gestão Jimmy Carter, colocando que os imigrantes latinos eram colocados em condição desumana ao chegar no país. Logo, para ter sua liberdade do campo de concentração, ele tem que matar um comunista cubano que está no acampamento para ganhar liberdade, algo que Tony afirma que faria de graça por ideologia, quanto mais por um green card, expondo o caráter anticomunista de Tony, representando o senso comum de quem é imigrante para os Estados Unidos para ganhar uma "nova vida".  



Eles conseguem a liberdade mas fritam hambúrgueres em um emprego precário, mostrando que a América não é esse sonho. Logo, Manny arruma uma oportunidade.



Eles conseguem um esquema de vender pó, mas quase são mortos de cara em uma emboscada, em uma sequência claustrofóbica muito bem dirigida. Vale notar os tons da cena, indicado pelo plano que faz uma transição do volume da televisão para a música no carro: dentro do Hotel, tudo indo pro ar, um cara sendo torturado com uma motosserra e Tony sendo obrigado a assistir(referência ao Massacre da Serra Elétrica?)



Lá fora, tudo calmo, a rua vazia, velhinhas andando na calçada enquanto Manny conversa com uma loira de biquíni. Seria uma metáfora do clima da América nos anos 80 e seus contrastes sociais?



Tony consegue fugir, em uma cena tensa e claustrofóbica, onde todo mundo parece querer se matar muito brutalmente. Depois, ele executa o cara no meio da rua na frente de todos lembrando a foto de Eddie Adams, um antigo combatente dos fuzileiros navais durante a Guerra da Coreia. Sua fotografia registrou o momento exato em que o general Nguyen Ngoc Loan, chefe de polícia do Vietnã do Sul, alvejava o capitão Guyen Van Lem, suspeito de ter executado um de seus oficiais. 




Então, depois da emboscada, telefona para o chefe da operação. Essa cena é genial em termos de linguagem, pois é só ele falando no telefone público para continuar a narrativa, mas a fotografia do por do sol está perfeitamente iluminada e colorida, tornando a cena um conexão totalmente inteligente e estética para o filme. 



Ele pede para ver diretamente o chefão, Lopez, que quer a cocaína. Ele logo percebe que o cara é um bonachão, e pior: fica interessado em sua mulher, que é Michele Pfeiffer. 



Na boate, há um clima de masculinidade estranha, já que os homens parecem querer mais puxar saco de Tony por ter conseguido a droga sem gastar dinheiro, e o chefe ignora sua própria mulher. Parece um clima de broderagem e felação como a cena foi construída. Aí, a moça decide dançar e chama o velho. Mas ele diz preferir um ataque cardíaco do que dançar com ela. 


Ela então chama Tony. Achamos que ele está fazendo algo transgressor ao aceitar, pois afinal ele estaria pegando a mulher do patrão e praticamente na cara dele com consentimento dele. Mas ao sair da mesa que percebemos no olhar do homem: ele quer se livrar dela e quer que Tony a pegue para dar trabalho para ele. 



Na cena que eles dançam, não parece divertido, mas sim profundamente mórbido e superficial. As pessoas ao fundo, parecem, na verdade, meio zumbis enquanto dança, com roupas meio ultrapassadas e maquiagens forçadas até para os anos 80



Aqui, parece que De Palma, famoso por dirigir filmes de terror, tenta acrescentar uma pitada crítica, como quem diz que a cultura dos anos 80 já nascia velha, ultrapassada e profundamente superficial. Isso é reforçado pelo fato da moça não querer falar sobre o passado e sua origem com Tony. 



Há uma cena na piscina, onde Manny tenta de novo desenrolar uma loira, que dá um tapa na cara dele, ao que Tony ri junto com as crianças. Depois, ele faz um discurso ultra misógino sobre ter que ter dinheiro, para ter poder e poder para ter mulher. 



Logo em seguida, vemos ele tentando de novo conquistar a mulher do patrão, Elvira. Mas ela, vestida toda de branco critica seu carro por ser um Cadillac, com estofado de estampa de tigre clássico. Aqui, além de vermos que ela pode explorar ele pois ele acha que pode comprá-la, a distinção de visões entre os dois. Para ele, tirar onda é ter um carro clássico, para ela um carro do ano. 



Depois tem uma cena, dos dois no carro muito interessante, onde ela cheira pó e ele aproveita para tentar beijá-la, porém ela resiste. Ele coloca então o chapéu dela na cabeça e ela começa a rir, depois Pacino começa a rir, como se tivesse um ar de improviso na cena,



Ele vai então finalmente fazer uma visita para sua mãe, que aparentemente já morava em Miami antes dele, algo que sempre me deixou um pouco confuso sobre o roteiro, já que ele morava em Cuba e está chegando ali a primeira vez no filme, mas ela parece já estar bem estável lá, com casa que parece própria e tudo. Ou será que ela chegou junto com Tony e a casa já são frutos do trabalho dele ao longo desses meses que só está sendo mostrado agora? O roteiro não esclarece direito, algo que sempre considerei uma certa falha do filme.


Esta cena é muito simbólica, pois nela toca uma musica terna, que contrasta com o tom geral do filme. Ao fundo, vemos a luz do por do sol de Miami, mais uma vez dando o tom nostalgico ao filme. Ele então fala com a mãe, e podemos perceber que ele possui um respeito e veneração exagerado por sua mãe. Isso me faz pensar que Tony é um pouco lacaniano, e por ter dificuldades de lidar com a mãe, tem dificuldades em lidar com as mulheres em geral, por isso tenta comprar o afeto delas com dinheiro. 



Para confirmar a cena, vemos ali Gina, a irmã de Tony pela qual, como no Scarface original de Howard Hawks. ele possui desejos incestuosos. 



Ele, em mais uma cena machista de sua parte, dá mil reais para mãe, colocando sobre a mesa enquanto fuma um charuto e ajeitando a cintura da calça. Ela desconfia da postura e pergunta: quem você matou para conseguir esse dinheiro? Ao que Tony responde dizendo que está trabalhando para um grupo anti Fidel Castro. 



Por outro lado, sua mãe reforça o discurso dos jornais, provavelmente denuncistas, que afirmam que cubanos como seu filho que são bandidos e mancham o nome dos cubanos que querem ir para a América e construir a vida honestamente. Há um quadro de santo na cozinha onde eles dialogam para marcar a moralidade católica da mãe e da família. Sua mãe ainda o expulsa de casa, para marcar que apesar de ela estar certa, ela está errada no método que é muito conservador e reforça o comportamento errado de Tony. 



A irmã o segue, e para completar a metáfora e a tragédia, Manny está lá fora esperando Tony no carro. Isso tem sentido forte, pois ele estar ali além de representar que Tony é realmente um bandido e por isso precisa de um guarda-costas sempre esperando por ele, que ele estava sendo um machista, com ideologia de macho provedor, e por isso sua mãe estava tendo repulsa a ele.


A cena também é importante pois Manny vê Gina a primeira vez, comentando inclusive sua beleza para Tony, ao que ele fica extremamente irritado, marcando seu tom incestuoso. 



O filme pula então para Cochabamba, na Bolívia, onde Tony está junto com o funcionário de Lopez conversando com ninguém menos que Sosa, o barão da cocaína que vem da Bolívia para Miami. A hierarquia na fazenda de Sosa, junto com uma estrutura meio mística e imperial, parecida com o modelo do "plantation", causa um certo clima tenso no filme. Logo, sentimos que quando Tony pede para dividir o risco com Sosa, pedindo para ele levar a droga até o Panamá, sentimos que ele está tomando um passo mais arriscado do que pensa. Isso é confirmado pela trilha sonora, que toca uma flauta meio sombria para marcar os momentos de tensão. 



No meio da cena então, vemos um funcionário (Mark Margolis, o tio Hector Salamanca de Breaking Bad) atender um telefone e chamar Sosa para falar com ele. Não é mostrado o que é falado. Depois, eles matam o funcionário de Lopez e parceiro de Tony na missão, de maneira brutal e assustadora, enforcando-o a partir de um helicóptero, onde mais uma vez a influencia dos filmes de terror trash parecem marcar o horror necessário para a cena. 



Ele justifica afirmando que o homem era informante da polícia, mas como saber se é verdade? Tony não percebe nada de estranho, pois ele é profundamente individualista, mas a cena já era uma ameaça, uma intimidação para ele. 



Ele sente que Sosa tinha gostado dele e isso reforçava que ele era melhor, mas na verdade para mim ali Sosa começava a armar seu plano. Logo depois, tomando seu chá com requinte, Sosa estimula Tony a matar Lopez e tomar conta de seu negócio. Tony parece inocente demais para perceber que está sendo usado e aceita o plano vendo aquilo como uma oportunidade para enriquecer.  Mas de maneira inteligente o filme constrói mais do que tudo que não há oportunidades: e o fornecedor que decide quem vai ficar rico. 



A Bolívia era governada na época pelo conservador Rául Alfonsin o primeiro presidente desde o fim da ditadura (1976 - 1983). Ele era próximo de Reagan, e em seu velório, compareceu o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Ali Tony devia desconfiar de Sosa e mais: de sua ambição, afinal ele nem tinha com o que gastar tal dinheiro, pois sua família não aceitaria, como vimos na cena anterior com a mãe. 



Lopez também anuncia a tragédia, ao reforçar para Tony o que disse no início: que esse é um negócio que só funciona para quem não é ambicioso, quem não quer ter muita luxuria. Mas Tony agora é a ligação com a fonte de fornecimento de droga, Sosa, então ele ignora o alerta de Lopez e pior: dá em cima abertamente de sua namorada na casa dele agora, já que sabe que Lopez não pode o matar pois perderia o acordo milionário. Ele se declara para ela, mas soa ridículo afinal ela é uma gold digger. Ela sabe disso, e por isso sente pena dele, e logo, algum sentimento por ele. A cena parece já entregar que ser rico, é viver problemas de rico. 


Depois, ele vai até o clube e vê Gina dançando com um cara. Ele, claro, fica com bastante ciúme, algo marcado no plano detalhe dos olhos de Tony, cena que lembra muito os planos detalhe nos olhos de Zé do Caixão em A Meia Noite Levarei a sua Alma(já analisado aqui), e sendo De Palma alguém do terror e do trash, não é difícil imaginar que há uma influência.



Nessa hora, um detetive da narcóticos vem falar com Tony, pedindo para ter a mão molhada. Mas enquanto a cena acontece, seus olhos permanecem focados em Gina. Quando ele vê finalmente um cara passando a mão na bunda de sua irmã e a arrastar para o banheiro, há um raccord de som de tigre, demonstrando sua impulsividade e ódio. 


Logo em seguida, para entendermos o tom crítico da narrativa, pula para um show de stand up, onde o humorista fala sobre estar sob efeito de coca, e todos riem histericamente como se estivessem realmente sob efeito de cocaina. A câmera foca então em Tony, que parece deprimido e desolado, com as gargalhadas ao fundo, onde as gargalhadas fazem um raccord interessante que parece ser sob sua atitude passional, que ao mesmo tempo busca ser aceito pela elite.



Surge então um homem vestido com uma fantasia de gangster arquetípica, e vemos dois homens, que querem matar Tony, posicionar suas metralhadoras. Eles atiram, acertam o gangster de mentira do show de humor, mas erram Tony que reage e foge, marcando que a partir daqui a parte mais engraçada do filme acabou. 



Tony busca se vingar de Lopez, que para ele foi quem orquestrou seu assassinato. Ele chega lá e vê seu chefe conversando com o policial da narcóticos, que o intimidou antes. Tony confirma que foi Lopez que tentou o matar ao ver ele receber uma liga exatamente as 3h, informando provavelmente que a tentativa de assassinato deu errado, algo muito bem pensado em termos de linguagem e temporalidade do filme. Lopez confessa, e Tony não o mata, mas manda Manny o matar. Depois, ele mesmo mata o policial da narcóticos. 



Ele então vai buscar Elvira, que está na casa de Lopez dormindo, com as mãos ainda sujas de sangue de seus algozes, em uma cena que também tem tom estético de terror bem trash. 



Logo em seguida, ele olha pela janela da mansão e vê em um dirigível a mensagem "O mundo é seu", uma cena que significa que Tony acredita no marketing e superficialidade de tudo. Mas ser um dirigível torna impossível de não lembrar do zeppelin, e sua metáfora de rápida ascensão e queda. 



Na montagem seguinte é quando ouvimos a trilha "Push it to the Limit" de Georgio Moroder, na montagem onde vemos a ascensão de Tony, que passa a lavar milhões no banco, dá um salão de beleza para sua irmã provavelmente também lavando dinheiro, se casa com Elvira, a ex-mulher de seu chefe, onde isso parece mais uma das coisas necessárias para se lavar dinheiro. 




Ele também compra um tigre, ao qual ele exibe para todos na festa de casamento, amarrado a uma corrente, como se o tigre fosse uma metáfora screwball de como Tony trata Elvira: como animal exótico amarrado, ao estilo Bringing Up Baby. 



Para completar essa intepretação da sequência, vemos Tony dando um vestido sensual para sua irmã, admirando sua beleza, e logo depois um plano de Elvira deprimida cheirando pó, sozinha na calada da noite. 



O gerente do banco de Tony negociando a porcentagem do banco em relação a lavagem do dinheiro de droga de Tony é hilária, pois parece que o cara do banco parece mais bandido negociador que Tony. As técnicas de foco, meio lento e sorrateiro, dessa cena como de outras dá aquela sensação de náusea perante o clima de falsidade da interação. 


O elemento da câmera de vigilância é bem interessante também, pois instaura a paranoica mania de observação e controle de Tony. Toda a extravagância da casa nova de Tony parece exagerada, e logo tudo parece uma tragédia anunciada. Quando ele está na banheira, vendo o jornal e debatendo política, piora. Um jornalista fala sobre a possível legalização das drogas, algo que Tony critica e continua falando de dinheiro. Mas então Elvira o critica, falando que ele é entediante e que Frank pelo menos não falava de dinheiro. Ele termina a cena não só brigando com ela e a chamando de branquela inútil, como também briga com Manny, com a câmera se afastando em um plongée ao estilo Cidadão Kane para representar o grande ego de Tony, que nunca aceita críticas.



Logo em seguida, Tony está contando dinheiro e dois capangas estão falando do filme de Gilo Pontercorvo, Queimada!, estrelado por Marlon Brando. Ele é preso em uma emboscada da polícia, mas logo sai com um bom advogado, algo que ele faz questão de destacar. 


Assim, vemos mais uma reunião dele com Sosa, mas agora com grandes tubarões do negócio. Ele apresenta para Tony, Pedro Quinn, presidente da Açúcar Andes e ao general Strasser, Chefe do Exército da Bolívia. Aqui De Palma fez uma brincadeira associativa entre Gregor Strasser membro do Partido Nazista de Adolf Hitler até que, em 1934, foi assassinado pela facção do Führer durante um episódio que ficou conhecido como a "Noite das facas longas", e Alfredo Stroessner, militar, político e ditador como Presidente do Paraguai sob um governo autoritário desde 15 de agosto de 1954, até que uma insurreição militar o tirou em 3 de fevereiro de 1989. Uma forma de De Palma de denunciar as ditaduras da América Latina como nazistas.



Sosa ainda apresenta para Tony Ariel Bleyer, do Ministério do Interior, Charles Goodson, de Washington. Eles mostram para Tony um vídeo de um político que sabe as conexões de Sosa e do ministro com o tráfico de drogas. Sosa pede então que Tony guie seu capanga para ele assassinar o político. 



No meio das cenas, há uma sequência do jantar de Tony com a esposa e Manny. Ele parece estar extremamente chapado, com um discurso derrotista e humilhando a mulher por ela não conseguir ter filhos, ao que ela responde tacando bebida na cara dele. Ela afirma que ele por sua vez não sabe ser marido e seria péssimo pai. Essa é a última aparição de Elvira, que some do filme e da vida de Tony. 



A cena é mais importante do que parece, pois na sequência Tony tem tudo pronto para bombardear o carro do político, mas como inesperadamente o alvo faz o retorno e pega mulher e filhos com o carro, bate um crise de consciência em Tony. Obviamente, pois Elvira havia duvidado da sua capacidade paterna. Ele prefere então matar o capanga de Sosa antes que ele aperte o botão.



Ao voltar para casa, ele descobre não só que Sosa está furioso com ele, como Manny desapareceu assim como Gina. Ele descobre, claro, que Gina está com Manny, Mas antes de ouvir qualquer coisa, mata Manny friamente por se meter com a irmã, sem saber que eles haviam acabado de se casar e preparavam uma surpresa. Ele obriga então seus capangas a arrastar Gina de volta para sua mansão, onde desolado, Tony passa a noite cheirando. 



Eis que tem a cena de Gina se oferecendo para ele, algo que é idêntico a cena final do Scarface dos anos 30. 



O filme chega ao seu auge, em uma das sequências mais incríveis da história do cinema. É pesado ver que Tony tão chapado e traumatizado com Gina e seu ego, é tão individualista que não abre a porta para seus parceiros, algo que a trilha sonora marca como desumano. 



Outro aspecto que sempre me chamou atenção da sequência, é que não fica claro se são capangas de Sosa que vieram cobrar a dívida da missão mal sucedida, ou se são apenas os rivais, os colombianos tomando o negócio agora que ele não tem mais proteção de Sosa. 



Há vários efeitos técnicos na cena bacanas, não só de tiros, como a explosão da porta, seguida pela fumaça de gelo seco. A montagem e edição da cena também é incrível, onde sempre me pergunto quantos tiros Tony tomou antes de cair. O filme termina com uma frase em dedicação ao diretor Howard Hawks, que dirigiu o Scarface original.


Sua morte é simbólica, como no primeiro filme, mas diferente. No primeiro filme, Scarface tinha a opção de se entregar mas preferia até o fim atirar na polícia e fugir, acabando morto pela polícia. No Scarface de 83, ele é morto por seu próprio egoísmo e desejo, já que ele pode escolher o tempo todo. A polícia, nunca foi um problema e sim a política. 


O próprio Scarface representa essa tentação (“Eu esperava fazer um filme mais comercial”), mas Tony também é uma lição prática sobre os efeitos isolantes e comprometedores da ganância, como se De Palma estivesse simultaneamente cedendo e lutando contra sua própria tendência de ganhar dinheiro fazendo este filme. 


Quando perguntado sobre a fortuna que George Lucas fez nos filmes de Star Wars, a resposta de De Palma foi: “Quem se importa? Depois de ganhar alguns milhões de dólares, quem se importa com mais US$ 50 milhões? Isso é o que eu acho que é a doença deste negócio. As pessoas entram nesse jogo de poder do dinheiro. E com que finalidade? Isso não os ajuda criativamente.”



De fato,  Scarface parece expressamente projetado para mostrar o que acontece quando alguém entra no “jogo do poder do dinheiro”. Embora a vida de ganância, violência e drogas de Tony seja repulsiva, pelo menos ele é franco sobre isso, ao contrário dos membros “respeitáveis” da sociedade que secretamente lucram com suas atividades ilegais e que cheiram sua cocaína a portas fechadas. Como ele diz aos clientes de classe alta no restaurante: “Você precisa de pessoas como eu para poder apontar os dedos e dizer: Esse é o cara mau”.



A hipocrisia dos clientes ricos é comparada por De Palma à hipocrisia de Hollywood, que desdenhou o filme por suas representações de uso excessivo de drogas em uma época em que tantos na comunidade cinematográfica estavam usando drogas. Como Scorsese disse na estreia de Scarface, “Hollywood vai odiar esse filme. É sobre eles.” 


De acordo com Bregman, “Scorsese estava certo. Hollywood odiou. Fomos vistos como se estivéssemos arrastando sujeira para suas salas de estar”, apesar do fato de que “havia uma tigela de pó branco quando você entrava” nas “festas em casa de alguns executivos seniores” naquela época. “Eles já tinham as pilhas de cocaína na mesa em festas que são tão grandes quanto a que Pacino [como Tony] teve”, disse De Palma.


A representação direta e hiperbólica de De Palma da violência excessiva de Tony vende e satiriza o mito do poder machista do homem provedor e da meritocracia. Quando um exército de assassinos enviado por um traficante de drogas rival enxame em torno de Tony, ele os insulta dizendo: “Diga olá ao meu amiguinho” – uma referência irônica à enorme arma entre suas pernas, o fuzil de assalto M16 com seu lançador de granadas M203., que ele atira para afastar um bando de ofensores.



Identificamo-nos com o desejo de onipotência representado pela gigantesca arma de Tony, mesmo que seu tamanho ridículo nos afaste dele, expondo-o em todo o seu absurdo machista. “Você acha que me mata com balas? Eu pego suas malditas balas!” ele se gaba, ainda de pé depois de receber várias rodadas de fogo, mas nem sua arma grande nem sua bravura podem salvá-lo das consequências autodestrutivas de sua própria ganância e violência.


De Palma pode lucrar com a violência, mas sua semelhança com Tony é contrariada por um estilo satírico que perfura as pretensões míticas de seu personagem principal e revela que seu machismo é vazio, uma mera performance de poder. É a imitação dos gangsters do cinema do início do filme, que nenhum dos dois cumpre. nem fortalece o eu contra sentimentos de vazio ou contra a vingança de rivais tão gananciosos e exagerados quanto ele. 


O estilo do filme, com suas cores neon berrantes, movimentos de câmera arrebatadores e trilha sonora eletrônica pulsante, é tão hiperbólico quanto a ganância frenética e a bravata machista de Tony. Questionado sobre a moral de Scarface, De Palma descreveu como sendo “o capitalismo funciona apenas quando temperado por uma ordem moral muito forte. 


Existem boas e más maneiras de ganhar dinheiro, e o dinheiro não é um fim em si mesmo. Esse é um tema recorrente nos meus filmes. Se você é um cineasta que lida com milhões de dólares, você tem que ser um capitalista”, admite De Palma, indicando que seus filmes devem render dinheiro, mas acrescenta que “ você tem que ser capaz de lidar com o dinheiro e, esperançosamente, manter sua estética a salvo do sistema capitalista que o afeta. Acho que vivo em um mundo muito ganancioso, mas há certas coisas que eu não faria — e sou eu que sou atacado constantemente.” 


Curiosamente, também há certas coisas que Tony não faz, apesar do fato de que os críticos o atacaram por sua violência ilimitada em nome da ganância. Na cena em que Tony deve ajudar a detonar uma bomba debaixo de um carro, ele não o fará porque o veículo contém não apenas o inimigo que é seu alvo, mas também a esposa e os filhos do homem. "O que você pensa que eu sou?" Tony pergunta a seus cúmplices e a si mesmo em um raro momento de auto reconhecimento em que olha para sua própria imagem no espelho retrovisor. “Você acha que eu mato duas crianças e uma mulher? Foda-se isso! . . . Duas crianças no carro. Isso é tão ruim." 


Essa cena lembra a definição clássica de “suspense” de Hitchcock, que ele exemplificou como um momento de filme em que há uma “bomba debaixo da mesa e o público sabe disso” e deve esperar com medo excruciante pelos personagens que ele possa explodir. Lembramos que, em seu filme Sabotage, Hitchcock fez uma bomba explodir em um ônibus, matando o menino que a carregava sem querer. Hitchcock mais tarde se arrependeu de sua decisão de fazer o menino explodir, chamando-o de “erro grave”. 


De certa forma, De Palma corrige esse erro não fazendo com que o carro-bomba matasse as crianças. Ele implanta o suspense hitchcockiano com a bomba debaixo do carro, mas decide que há certas coisas que ele mesmo não fará, como fazer as crianças explodirem, assim como Tony decide que não vai detonar a bomba com as crianças no carro. 



É um momento em que tanto De Palma quanto Tony mantêm sua moral a salvo do sistema capitalista que os cerca. Mais tarde em sua carreira, em Os Intocáveis, De Palma mostrará uma garotinha explodida por uma bomba. Como veremos, este é um filme que, embora pareça estabelecer uma distinção firme entre o bem e o mal, a linha é pouca. 


Em sua primeira aparição, Scarface não foi especialmente bem sucedido com o público ou a imprensa. Como De Palma observou, “os críticos não gostaram de Scarface porque o filme era muito cínico, brutal, violento, exagerado”. ou para “a abertura. As pessoas ficaram indignadas – você viu pessoas correndo pelo corredor. Lembro-me da festa da noite de abertura, pensei que iam me esfolar vivo.” 


Rex Reed, do New York Post, escreveu: “A violência é infinita, as palavras de quatro letras substituem a língua inglesa. . . a decadência e a perversão afogam tudo em um grunge vicioso. Quando acaba, você se sente assaltado, degradado, como se tivesse comido um molusco ruim.”


Até Pauline Kael, normalmente uma forte defensora da violência, argumentou que “as cenas são tão disformes que não sabemos em que ponto estamos pretendia rir. . . . O filme está mascateando o primitivismo machista e ao mesmo tempo tornando-o absurdo.” 


O que esses críticos de pouca memória parecem esquecer é o início do filme, que torna todo ele um filme invertido. Desprezado pelo seu país de origem por ser considerado um lumpemproletariado por seu país, ele sonha com "american way of life". Mas os Estados Unidos o consideram uma escória, produzida pelo comunismo. 


Assim, é para ser errado, é para ser trágico, pois De Palma estava explorando como a falta de cidadania e compreensão do povo e de seus anseios por parte dos governantes dos anos 80, ia levar a uma grande ruptura, onde surgiriam figuras como Tony Montana, e a sociedade não estaria preparada para lidar com eles. Por um lado, por ver os latinos sendo melhor que os americanos brancos do Norte, como o Brasil, mas principalmente por hipocrisia, de saber que Tony era um fruto da hipocrisia e vício dos Estados Unidos.



Sim, Tony é machista, lacaniano, politicamente incorreto, incestuoso e um assassino individualista. Mas todas essas características suas são imitações do que ele aprendeu com a cultura americana, principalmente o cinema. Já pensaram que mensagem contraditória seria se Tony fosse politicamente correto, ou que conseguisse se safar no final? Tony representa o engessamento e envelhecimento do arquétipo do gangster e do homem de maneira geral em filmes de ação. Ele é legal e carismático, muito devido ao incrível trabalho de corpo e de voz de Pacino, mas ele ao mesmo tempo é todo errado, um fracasso com as mulheres, sem muito papo e um escroto com família e amigos.



Agora, aquilo que geralmente é confundido é sobre o tom do filme. Talvez por ser uma grande produção, com estilo pulp e vibrante, e um grande ator e elenco; muitas pessoas podem entender que o filme é apologético a Tony, que você deve se inspirar nele e seguir seus passos. Muito pelo contrário. 


De maneira quase ofensiva, sendo um cineasta da nova Hollywood que havia feito filmes de terror trash e até eróticos, seu filme é uma alegoria mórbida dos anos 80 e seu estilo de vida superficial. Tudo no filme é trágico, torto, esquisito e mórbido. Mesmo o que é agradável, se torna desagradável pelos comentários impróprios de Tony, que nunca relaxa. Mas no final ele apenas não reproduzia o comportamento geral incentivado pelo capitalismo, como empreendedorismo, ganância, faça você mesmo e tudo mais? 



Era para ser contraditório de propósito, uma utopia, e por isso, como em Rastros de Ódio, muita gente não entendeu e torceu para o protagonista que morria no final, causando uma grande frustração para muitos o final do filme. Isso se refletiu nos lucros do filme. Uma cara produção de estúdio, o filme fez pouco mais do que recuperar seu custo inicial (US$ 25 milhões). No entanto, com o passar do tempo, o filme se tornou um enorme sucesso cult, arrecadando dinheiro no relançamento e em aluguel e vendas de vídeos. Os críticos começaram a apreciar o filme por sua representação estilizada da cultura de drogas e armas dos anos 1980, e a controvérsia sobre sua moralidade alimentou muito debate.  


Mas enquanto isso, De Palma estava preso com a sensação de que sua tentativa de um épico de gângster não havia sido um sucesso; certamente não tão bem-sucedido quanto O Poderoso Chefão de seu amigo Francis Ford Coppola(já análisado aqui). Portanto, era natural que De Palma voltasse novamente ao que ele conhecia melhor: o thriller de terror e suspense. Tendo despertado polêmica com a violência em Scarface, De Palma estava pronto para provocar indignação semelhante em relação ao sexo em Dublê de Corpo. 



História por trás do filme, produção e bastidores


Scarface começou a ser desenvolvido depois que Al Pacino viu o filme de 1932, de Howard Hawks (já analisado por mim aqui), no Tiffany Theater enquanto estava em Los Angeles. Mais tarde, ele ligou para seu empresário, o produtor Martin Bregman, e o informou de sua crença no potencial para um remake desse filme. 



Segundo o livro Brian De Palma’s Split-Screen: A Life in Film, de Douglas Keesey, Pacino originalmente queria manter o aspecto da peça de época, mas percebeu que por causa de sua natureza melodramática seria difícil de realizar. 


Sidney Lumet tornou-se um nome como possível diretor, desenvolvendo a ideia de Montana ser cubano chegando à América de barco através do porto de Mariel.


As diferenças criativas de Bregman e Lumet fizeram Lumet desistir do projeto. Lumet queria fazer uma história mais política que se concentrasse em culpar a atual administração presidencial pelo afluxo de cocaína nos Estados Unidos, mas Bregman discordou. 


Bregman o substituiu por Brian De Palma, e contratou o escritor Oliver Stone; Stone tinha visto o Scarface original de 1932 e não tinha gostado, então ele inicialmente rejeitou a oferta. Só depois de falar com Lumet foi que ele foi convencido a aceitar a oferta, já que eles concordaram em transformar o filme de uma peça de época para um filme contemporâneo, dizendo: 


"Sidney teve uma ótima ideia para pegar o filme americano de gângster da proibição dos anos 1930 e transformá-lo em um filme de gângsteres imigrantes modernos lidando com os mesmos problemas que tínhamos então, que estamos proibindo drogas em vez de álcool. Há uma proibição contra as drogas que criou a mesma classe criminosa que (a proibição do álcool) criou a Máfia." 



No livro The Oliver Stone Experience, Stone declarou: "Eu não queria fazer um filme da Máfia Italiana ... Tínhamos dúzias dessas coisas. Mas então Bregman voltou para mim e disse: Sidney tem uma ótima ideia - ele quer fazê-lo como um filme de Marielito em Miami. Eu disse, isso é interessante! A ideia de Sidney foi boa." 


Stone pesquisou o roteiro enquanto lutava contra seu próprio vício em cocaína. Ele e Bregman realizaram suas próprias pesquisas, viajando para Miami, Flórida, onde tiveram acesso a registros da Procuradoria dos EUA e do Departamento de Crime Organizado. 


Stone se mudou para Paris para escrever o roteiro, acreditando que não poderia quebrar seu vício enquanto estava nos Estados Unidos, afirmando em uma entrevista de 2003 que ele estava completamente fora das drogas na época "porque eu não acho que a cocaína ajuda a escrever. É muito destrutivo para as células cerebrais."



A fotografia foi feita por John A. Alonzo. Alonzo trabalhou como fotógrafo e como ator, com aparições em vários programas conhecidos como Twilight Zone (2ª Temporada – Episódio 12 em "Poeira") e The Alfred Hitchcock Hour. Ele aprendeu muito durante as filmagens de Os Sete Magníficos(já analisado aqui), em que Alonzo teve um pequeno papel, quando conheceu o fotografo Charles Lang. 


Este encontro inspirador, bem como a chance de colaborar brevemente com James Wong Howe alguns anos depois, finalmente deu a Alonzo o impulso de dedicar sua vida à cinematografia. 


Em meados da década de 1960, ele fotografou muitos documentários para a National Geographic e a David L. Wolper Company, e influenciando muito o inovador "Look" da Nova Hollywood que se tornou tão poderoso no final dos anos 1960 e início dos anos 1970.  Ele é lembrado principalmente por Chinatown (1974) e Scarface, quando foi indicado para um BAFTA e um Oscar. Além disso, ele foi o vencedor de um Emmy primetime por seu trabalho na adaptação televisiva de 2000 da CBS de Fail Safe.



Pacino insistiu em assumir o papel principal como Tony Montana, embora Robert De Niro tivesse sido oferecido e recusado. Pacino trabalhou com especialistas em combate a facas, treinadores e boxeador Roberto Durán para alcançar o tipo de linguagem corporal que ele queria para o papel. Durán também ajudou a inspirar o personagem, que tinha "um certo leão nele", segundo Pacino. 



A personagem imigrante de Meryl Streep em Sophie's Choice (1982) também influenciou a interpretação de Pacino de Tony Montana. Bauer e um treinador de dialetos o ajudaram a aprender aspectos da língua espanhola cubana e pronúncia. 


Segundo Pacino, seu Tony é modelado no desempenho exagerado de Paul Muni como Tony no filme de gangster original de 1932 de Scarface: “Tudo o que eu queria fazer era imitar Paul Muni. Sua atuação ultrapassou os limites do naturalismo para outro tipo de expressão. Era quase abstrato o que ele fazia. Foi quase edificante.” Embora Pacino admita que “não sou do jeito que Tony Montana é”, ele acrescenta, “mas quem não quer ser destemido?”



Pfeiffer era uma atriz desconhecida na época, e tanto Pacino quanto De Palma haviam argumentado contra sua escolha, mas Bregman lutou por sua inclusão. Glenn Close foi a escolha original para o papel, enquanto outras também foram considerados, incluindo Geena Davis, Carrie Fisher, Kelly McGillis, Rosanna Arquette, Melanie Griffith, Kim Basinger, Sharon Stone e Sigourney Weaver. 



Bauer conseguiu seu papel sem sequer fazer testes. Durante o processo de audição, o diretor de elenco Alixe Gordin viu Bauer e imediatamente notou que ele estava certo para o papel de Manny, um julgamento com o qual tanto De Palma quanto Bregman concordaram. Ele era o único cubano no elenco principal. Mas John Travolta foi considerado para o papel, pois tinha acabado de fazer o filme Blow Out com De Palma. 



Apesar do filme ter sido ambientado em Miami, grande parte do filme foi filmado em Los Angeles devido ao conselho de turismo de Miami recusar pedidos para filmar lá, pois temia que o filme impedisse o turismo para a cidade com seus temas de drogas e gângsteres. 



Mary Elizabeth Mastrantonio apareceu pela primeira vez na tela em Scarface (1983) de Brian De Palma como Gina, irmã de Tony Montana, de Al Pacino.



A opulenta mansão de Tony era em El Fureidis, uma mansão de estilo romano perto de Santa Barbara, Califórnia. A filmagem durante 24 semanas, de 22 de novembro de 1982 a 6 de maio de 1983. Em abril de 1983, no entanto, uma cena foi filmada em Fontainebleau, Miami Beach, em Miami. Os efeitos especiais foram realizados por Ken Pepiot e Stan Parks.


El Fureidis – traduzido como “Paraíso tropical”, é uma das mais famosas fazendas na região de Montecito, em Califórnia, nos Estados Unidos da América. Cheia de história, está a venda para 17,9 milhões de dólares, cerca de 60 milhões de reais. Originalmente fundada em 1906 por James Waldron Gillespie, a “Mansão de Tony” viu passar gloriosos inquilinos e memoráveis visitantes como Thomas Mann, Albert Einstein, Winston Churchill, Charlie Chaplin e John F. Kennedy.


A produção foi interrompida duas vezes por eventos climáticos severos na Califórnia. Durante a produção em março, Pacino queimou a mão esquerda na focinheira da arma que tinha acabado de ser disparada quando ele tropeçou durante uma cena de luta. A produção foi encerrada por mais de uma semana enquanto Pacino se recuperava, explicando a mão enfaixada na cena que ele Tony mata Lopez.



Uma explosão prematura de bomba também feriu dois dublês durante uma cena filmada em sua ausência. A cena do tiroteio no final do filme foi a única filmagem dirigida por Steven Spielberg, que estava visitando o set na época. 






Laxante de bebê em pó foi usado como a substância falsa para cocaína no filme. A passagem nasal de Pacino foi um pouco danificada devido grandes quantidades ao longo das filmagens.



Em vez de usar música popular do período em que o filme é ambientado, a música em Scarface foi produzida pelo produtor italiano Giorgio Moroder, vencedor do Oscar. Refletindo o estilo de Moroder, a trilha sonora consiste principalmente de new wave genérica sintetizada e música eletrônica. De Palma disse que negou repetidamente os pedidos da Universal para lançar o filme com uma partitura "pop" porque achava que a partitura de Moroder era adequada. Eles estavam certos: a trilha sonora é fantástica, vibrante e extremamente marcante.



Em 2006 foi lançado o jogo de videogame "Scarface: The World Is Yours", desenvolvido pela Radical Entertainment para PlayStation 2, Xbox e Microsoft Windows publicado pela Vivendi Games. O jogo não é uma adaptação direta do filme de 1983 dirigido por Brian De Palma, mas é uma sequência que muda o final do filme onde o protagonista morre, para que Tony Montana faça uma vingança daqueles que o expulsaram do poder, restabelecendo seu império de drogas em Miami.



Eles originalmente perguntaram a Oliver Stone, se ele estaria interessado em trabalhar no roteiro, mas quando Stone recusou, eles se aproximaram de David McKenna, escritor dos filmes American History X e Blow. Como fã do filme, McKenna queria enfatizar o humor exagerado que ele percebeu no personagem de Montana.


Comentar sobre o game é importante, pois como ele foi idealizado pela Universal, estudio do filme, é de certa forma canone a continuação, alterando o final do De Palma. E vocês, o que achariam se Tony Montana tivesse sobrevivido no final?


Veja o filme aqui, em link classificado como domínio público:





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