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À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964): Zé do Caixão, moralidade e o contexto sombrio do golpe de 64



Zé do Caixão é o coveiro local de uma cidade o interior do Brasil sem nome. Soturno, ele desdenha da religião e da emoção. Ele acredita que a única coisa que importa é a "continuidade do sangue" (especificamente o seu), está à procura da "mulher perfeita" para lhe dar uma criança superior que será imortal. Como sua esposa Lenita não consegue ter filhos, Zé começa a fazer avanços com Terezinha, noiva do amigo de Zé, Antônio. Terezinha o repreende dizendo que Antonio é o único homem em sua vida. Durante um feriado católico, Zé, descontente com sua infertilidade, mata sua esposa Lenita amarrando-a e colocando uma aranha venenosa mordê-la. As autoridades locais não podem encontrar uma pista para prendê-lo e ele continua livre para fazer o que quiser. Assim, Zé do Caixão vê o caminho livre para realizar seu plano e aterrorizar os moradores da cidade. O filme já foi mencionado como referência de diversos cineastas, como Scorsese e Spielberg, e filmes de horror trash, se tornando um clássico cult do cinema brasileiro


Crítica e explicação do filme


À Meia-Noite Levarei Sua Alma é um filme histórico. Politica e semioticamente muito forte e relevante para a cinematografia brasileira e mundial. Apesar disso, poucas análises realmente adentraram em detalhes do filme e seus valores simbólicos. 


Há até artigos e textos que associam o filme com o contexto político do golpe de 1964, mas que pouco articulam isso na análise do filme, seu texto e suas relações sociológicas. Por isso, farei a análise aqui desses detalhes pouco destacados e que sempre me chamaram atenção do filme, vamos lá.


Primeiro, a semiótica. Antes de começar a trama exatamente do filme, há uma apresentação, primeiro do Zé do Caixão em tom profético, depois de uma mulher que parece ser uma cigana, dando tons de que a trama tem contornos, mesmo que apenas retóricos, de lenda popular e historia oral. Aparece inclusive nessa sequencia, a imagem de uma coruja, associada ao final do filme. 



Depois, vemos um plano geral do cemitério, com uma cidade ao fundo, algo que já entrega que vai se falar de uma cidade. Depois, uma cova com um caixão sendo colocado nela. 


Aqui já é muito importante refletir um detalhe esquecido por quase todos: que entre todos os arquétipos de trabalhadores possíveis, Zé Mojica escolheu um coveiro para representar. Por quê exatamente um coveiro, não é mesmo? 



Um dos romances mais famosos da literatura, escrito por Barbara Paul, foi intitulado First Gravedigger. O trabalho de coveiro é frequentemente usado como tema na ficção criminal e detetive. Gravedigger Jones é um dos dois detetives apresentados no conjunto de romances "Harlem Cycle", escritos por Chester Himes. Seu parceiro nos romances é Coffin Ed Johnson e a dupla muitas vezes se envolve em confrontos violentos.


Em função de sua associação com a morte, os coveiros têm aparições notáveis em obras literárias, afinal podemos dizer que eles vivem da morte, algo que deve torna o trabalho deles um pouco infeliz e maçante. 


Talvez a cena mais famosa seja a do Ato 5, Cena 1 em Hamlet, de Shakespeare, na qual Hamlet e Horatio dialogam com um coveiro que está abrindo a cova de Ofélia. Depois de dialogar com o coveiro, a cena termina com um monólogo de Hamlet sobre o ciclo da vida após a descoberta do crânio de seu querido bobo da corte, Yorick, desencavado pelo coveiro.


Na Índia, tradicionalmente, os coveiros pertencem à casta dos intocáveis. No Japão feudal, abrir covas era uma das profissões "impuras" historicamente atribuídas à classe dos burakumin. Outros exemplos podem ser encontrados no Egito antigo.


Na terminologia marxista, uma classe revolucionária ascendente está destinada a suplantar a classe dominante anterior é frequentemente referida como "coveira" da classe anterior. Assim, o papel histórico da burguesia segundo Marx era ser "coveira do feudalismo", tendo depois criado uma vasta e explorada classe trabalhadora, destinada a organizar e a promover uma revolução, teria feito com que a burguesia inevitavelmente criasse sua própria "coveira". 


Este uso metafórico de "coveiro", além de atestado nos escritos de Karl Marx, teve continuidade no mesmo sentido por Lênin, Trotsky e muitos outros líderes e teóricos marxistas. Talvez isso explique a censura a Mojica...


O Zé do Caixão vai então para casa, depois de mais um velório. Na sua casa, a decoração acompanha seu estilo extravagante: Quando ele lava as mão, dá para ver que os pendurados de sua casa são de mãos humanas, claro, de manequins, mas algo que se tornaria popular depois, principalmente em conteúdos como a Família Adams. Ele diz que está cansado e que não se sente valorizado em seu trabalho, e que ficou com muita fome de realizar o velório. Mas para piorar sua situação, como é sexta-feira santa, sua mulher não preparou nenhuma carne junto com a comida. A crendice da mulher revolta Zé do Caixão, claro. 



Depois Zé arruma sua carne para comer, mas faz questão de a comer na janela perante a procissão, em uma cena que a técnica impressiona, já que o fundo com a imagem da procissão é obviamente montado. 



Outra cena marcante, é quando Zé vai no bar, uma típica birosca de interior. Ele entra em uma mesa de aposta, e ganha com uma incrível quadra de azes. Mas quando o perdedor decide enrrustir o dinheiro, ele decepa o dedo do cara com uma garrafa, após afirmar que admirava a coragem do homem. Depois, ele afirma que pagará pelo tratamento do dedo do homem. Não suficiente, ele oferece carne para outro homem, que não quer por medo dele, mas ele força o homem a comer carne na marra. E quando um dos caras tenta espancá-lo, Zé chicoteia o homem, em uma cena bem similar a cena do chicote em "Estranho sem Nome". 



Quando ele mata sua mulher, obviamente há ali uma metáfora de masculinidade tóxica, afinal ele ao matar a mulher se torna um feminicida, ainda mais pelo motívo: biológico. Mas, em termos de estética, é genialmente inteligente como foi filmada a cena. Além de haver ali alguma referência estética clara ao BDSM, sadomasoquismo e lady in distrass. O mesmo vale para a cena do estupro. 



O elemento da aranha também é inteligente, um elemento meio biologista que parece ter influenciado muitos filmes e séries. 


Logo em seguida, vem a cena do pai maltratando uma criança, algo que Zé não aceita ver, pois ele contraditoriamente ama as crianças. Esse aspecto é eticamente interessante, pois leva as pessoas a refletir que nem mesmo o vilão consegue fazer mal as crianças. Mas o mais interessante dessa sequência é como a estrutura de seu filme se pensa enquanto uma linguagem episódica, tal como uma série ou televisão. 



Ele vai no bar, vai num enterro, fala com a moça uma, duas vezes. Toda essa estrutura de repetição, gira em uma técnica muito interessante de aproximação e pessoalismo. O plano detalhe dos olhos de Zé é um bom exemplo disso, onde o recurso audiovisual é utilizado magistralmente na linguagem do filme, marcando as transições.



Já se avizinhando do final, a cigana fala para Zé que o "canto da coruja" marcará a hora que vão vir buscar sua alma, algo que lembra muito Twin Peaks, série do diretor David Lynch(a qual já fizemos um podcast aqui no blog), que tinha em sua trama a frase "as corujas não são o que parecem". 


Ainda por cima, Zé rouba dinheiro e vinho de um despacho. Para quem não é brasileiro isso pode ser uma "malandragem". Mas no Brasil é considerado culturalmente o contrário: um carma. Se você não passa necessidades, roubar do despacho é considerado um desrespeito, um sacrilégio, que soma-se a conta de Zé.



Por último, um elemento que é pouco discutido deve ser pensado sobre o final. Já pararam para pensar que nada especificamente acontece com Zé do Caixão, que não é mostrado o que atacou e como ele foi parar naquele estado do final do filme? Ele estava na sala com pessoas mortas, logo o filme corta para a população chegando ao local, afirmando ter ouvido gritos e quando chegam lá, Zé já está em seu estado final. 


Tudo fica no extracampo, o que além de genial em termos de linguagem cinematográfica, já que não é preciso necessariamente mostrar e encenar uma cena, como também em termos de história abre para possíveis interpretações. O final não é aberto, mas sim subjetivo. Se nada o atacou, o que pegou Zé foi a culpa, o peso na consciência. Como se o fato de ter que viver com o fato de ter matado pessoas perto dele, mulher, amigos e quem ele mais gostava. Sem perceber, Zé matou e feriu todos aqueles que ele poderia, talvez, chamar de amigos. Toda a culpa e contradição de seu personagem parece refletir profundamente o sobre a cultura brasileira, o povo brasileiros e suas atitudes e pensamentos contraditórios. 



Analisando em um contexto geral, Zé do Caixão parece uma metáfora do moralismo e do conservadorismo, que veio desde a época democrática nos anos 50, até o golpe militar de 1964, quando essa moralidade se torna um arquétipo: o do Zé do Caixão. 


É preciso entender que A Meia-Noite Levarei Sua Alma possui elementos de "virada", como o horário e a questão de uma busca a se realizar, que são mais presentes em faroestes e filmes mais políticos. Temos que pensar que para José Mojica, ele já era um perseguido desde Sina do Aventureiro (já analisado aqui), um filme lançado na época de JK. Ele contava que seu filme havia sido censurado, considerado um filme violento e transgressor, fazendo sucesso de público, mas apagado pelo governo. 


Tanto Jânio quanto Jango herdaram de Juscelino Kubitschek (JK) uma economia em grande modernização, mas desequilibrada, e não conseguiram superar as dificuldades econômicas brasileiras do início dos anos 60, especialmente o crescimento da inflação e do déficit da balança de pagamentos. 


A inflação subiu de 30,5% em 1960 a 79,9% em 1963 e 92,1% em 1964. O Produto Interno Bruto cresceu 8,6% em 1961 e apenas 0,6% em 1963. Tanto a classe média quanto os trabalhadores estavam preocupados com a corrosão de seus salários. O fracasso em superar a crise econômica deveu-se em parte à pressão de grupos de interesse domésticos (trabalhadores e empresários) e externos.


O aumento do custo de vida impulsionava a organização e atividade do sindicalismo. Ocorreram 430 greves em 1961-1963, contra 180 em 1958-1960. 


O anticomunismo é considerado elemento fundamental do golpe tanto em estudos quanto entre os militares.[99] O período 1961-1964 foi um ponto alto do sentimento anticomunista no país. Ele estava associado à Guerra Fria, com os anticomunistas brasileiros, em sua maioria, sendo favoráveis aos americanos e considerando o comunismo como obra do imperialismo soviético. Por isso a ideia de um coveiro anti-herói parecia tão transgressora e foi tão censurada pela ditadura.



Então, para José Mojica, a ditadura começou no moralismo e conservadorismo dos costumes. De pensamentos meio dogmáticos e supersticiosos, como não poder ir ao cinema ou assistir muitos filmes, pois seria uma degeneração ou "algo do demônio", que para Mojica surgia o início de um pensamento ditatorial, de um certo controle moral da sociedade que não permitiria criação. 


Assim, todo esse moralismo da política e dos governos, mesmo que de democráticos e "progressistas", vai moldando os "Zés", onde o Zé do Caixão só representa os moralismos que as pessoas vão aderindo aos poucos. 


Por exemplo, na cena onde ele dá uma garrafada na mão do cara no carteado, pode ser uma metáfora de briga por jogo, ou por qualquer coisa onde as pessoas se matam por dinheiro. Ou na cena do estupro, onde se parece uma metáfora de não respeitar mais as mulheres como antes, nos anos 30 e 40, onde chegamos a ter várias mulheres diretoras de cinema. Mas as crianças ele protege, pois afinal essa é a opinião da maioria do povo brasileiro. 



Zé do Caixão é a representação perfeita do tipo ideal do brasileiro médio e sua opinião. Ele está farto com o trabalho, não se sente reconhecido, está frustrado em seu casamento, briga no bar, aposta, quer arrumar uma amante, é abusivo, gosta de crianças e no final parece ser derrotado por sua própria moral. A única coisa parece contraditório, é que como pode o personagem que mais representa o Brasil ser tão mórbido? 


Diferente da visão do estrangeiro, que vende o Brasil como local apenas de praia, futebol, mulher e cerveja, na época o país ainda era visto como um elefante dos trópicos, por ser um país latino altamente industrial. Então, apesar de ser conhecido como um país tropical seja legal, eramos conhecidos como tropicais e "cults". Quem já assistiu Limite e percebeu a atmosfera de filme de suspense e terro, pode entender. Havia um profundo impacto de um país, até então majoritariamente rural, a partir dos anos 30 e 40, ter se tornando tão moderno e industrializado. Essa contradição podia ser vista, inclusive, na diferença entre a pobreza na cidade, como em Orfeu Negro, e a pobreza no campo, como em o Pagador de Promessas. 



Essa dualidade define bem Zé do Caixão, pois afinal ele não é herói, mas também não é "o vilão", já que no final ele também se torna uma vítima no filme. Como pessoas que apoiavam a ditadura militar por ter confiança no exército e acreditar que o país estava realmente passando por uma ameaça, do comunismo ou do diabo. Esse "Zé" é vítima de sua própria moralidade, de seus próprios desejos e pensamentos.


Quando chega a meia-noite e sua alma é levada, parece a metáfora do golpe militar, que segundo algumas fontes, foi dado a meia-noite do dia 1 de abril. Logo, toda a latência de maldade se volta diretamente contra ele, algo perfeito em termos de alegoria política, transformando eu um jogo cultural de cenas, representações e sensações psicológicas o que tinha sido o golpe militar, tornando pedagógico para as pessoas com menos entendimento o clima político e a sensação de conspiração e terror da época. A única coisa que talvez possa ser criticada, é o seu uso do tom moral para passar uma mensagem, tornando-o facilmente alvo de interpretações equivocadas e moralistas, dais quais o próprio Mojica sadicamente riria. 



O filme, em termos técnicos, é de baixo orçamento. As atuações, tirando a de Zé que atua muito, são simples, bem ao estilo filmes de terror trash. Mas o que foi feito com esse filme em termos de linguagem e efeitos, práticos e de edição, é genial. A ambientação, a fotografia, a maquiagem e demais efeitos são bem legais para a simplicidade e baixo orçamento da produção. Mas o que mais impressiona são os efeitos e a linguagem do filme, como quando Zé tem uma visão de uma mulher morta rindo dele, ou quando um zumbi do homem que ele assassinou vem o oferecer fogo para ascender seu fumo, ou quando a coruja aparece. São técnicas simples, que se aproveitam do efeito Kuleshov da transição de quadros simples com enigmáticos, mas muito bem pensadas e montadas, dentro e fora de cena. Isso parece uma influencia direta de Hitchcock no cinema de Mojica.



Isso faz do cinema de José Mojica, próprio, criativo e sintético de sua época. Onde as alegorias políticas são representadas facilmente em jogos de arquétipo e valores. É muito subestimado o valor que essa contribuição teve ao cinema. 


Zé do Caixão parece não só ter inspirado Antônio das Mortes de Glauber Rocha, como o fato de ser inspirado em um pesadelo, parece a inspiração para Hora do Pesadelo. Na verdade, vários filmes trash e de terror parecem diretamente inspirados por esse filme, como Jaws (1975), Bebê de Rosemary (1968), Night of Living e outros de George Romero, e vários personagens e situações dos filmes de Martin Scorsese. Isso torna, o filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma e o personagem Zé do Caixão, um dos mais icônicos e inspiradores da história do cinema.



História por trás do filme 


Em entrevista ao programa Sala de Cinema, o diretor do filme e criador do personagem Zé do Caixão, José Mojica Marins, atribuiu a ideia para o personagem aos seus medos de infância. Ele afirmava ter nascido em berço de ouro. Seu pai tomava conta de um cinema, e logo ele cresceu vendo filmes através da cabine de projeção. 


Ele atribuiu muitas de suas ideias a cine jornais e documentários que mostravam doenças venéreas e outras doenças estranhas. E como alguém do interior, as crianças e mais jovens puxavam seu saco para ter acesso grátis a sessões de cinema. Assim também que Marins os usou como seus primeiros espectadores e audiência. Contraditoriamente, porém, José Mojica tinha medo do escuro no início da vida, algo que só foi perder já adulto, quando casou com sua primeira esposa. 



Cinéfilo como era quando criança, ele viu tais temas sendo discutidos nos filmes que via quando pequeno, mas mesmo assim, sua capacidade de reproduzir tais coisas de maneira única é coisa de gênio. Aliás, a melhor palavra para defini-lo é autodidata. Ele comprou uma câmera 16 mm com apenas dezesseis anos e criou sua companhia de teatro amador com dezessete, onde explorava os medos das pessoas através da interação dessas com insetos. 


Mojica realizou o primeiro western brasileiro, Sina de aventureiro, em 1958, tendo criado um Cinemascope próprio, a Gigantela, isso sem nunca ter estudado cinema, mas apenas com a vontade de que seu faroeste tivesse um aspecto de imagem próximo aos filmes desse gênero realizados nos EUA. Tudo que Mojica aprendeu foi sozinho, assistindo filmes e reproduzindo aquilo que via, mas de maneira excepcional e única.


o personagem do Zé do Caixão foi criado a partir de um pesadelo que o diretor teve, no qual um homem de capa preta o arrastou para dentro de um túmulo, com seu nome e data de morte – se a visão deste pesadelo lhe deixou curioso, assista à seqüência deste filme, Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver (1967) – segundo relatos do diretor, o personagem seria interpretado por outro ator, que desistiu na última hora, e depois de vários testes, nenhum satisfatório, Mojica decidiu interpretá-lo, mas havia um porém, o diretor havia deixado a barba e a unha do polegar crescer por causa de uma promessa – tais características físicas se tornaram marca registrada do personagem.



Em 1964, À Meia-Noite Levarei Sua Alma foi um grande marco para o cinema nacional, serviu de influência para vários jovens cineastas em sua época – e ainda é –, contribuiu para a criação de uma indústria cinematográfica auto-sustentável em São Paulo, o movimento chamado “Boca do Lixo”, que teve seu auge durante a década de 70, e seu declínio nos anos 80. Infelizmente este movimento é menosprezado por fãs de cinema preconceituosos, teve várias de suas obras perdidas para sempre, as distribuidoras não têm interesse em relançar, e a região onde este cinema floresceu – no centro de São Paulo, próximo à estação de trem e à antiga rodoviária – hoje é ponto de prostituição e venda de crack. Segundo o próprio Mojica, o cinema nacional só existe hoje graças à Boca do Lixo.


Zé do Caixão possui as unhas semelhantes ao Nosferatu de Murnau (1922), e vestimentas típicas de Caligari e Cesare em O Gabinete do Dr. Caligari de Robert Wiene (1919). Visualmente, o personagem criado por Mojica também se assemelha a Béla Lugosi em Drácula (1931) e Chaney em London After Midnight (1927), ambos os filmes, de Tod Browning.



Os filmes de Mojica aparentemente ingênuos, analisado, por muitos como películas que apenas exibem um sangue barato, conseguiram por diversas vezes, burlar a censura de um país que vivia intensamente um período de ditadura militar, apresentando cenas de violência e nudez. Em plena repressão, À Meia-Noite Levarei sua Alma expõe um personagem anárquico, Zé do Caixão é um homem que não respeitava nada e menosprezava as autoridades da cidade e a instituições da sociedade como religião e família.



À época, foi o suficiente para provocar uma certa febre de interesse em torno do personagem, inclusive no exterior, onde é conhecido como Coffin Joe. Entre seus fãs notáveis está gente como Mike Patton (ex-Faith No More), Robbie Zombie e os cineastas Roger Corman (A Loja dos Horrores) e Tim Burton. Na época, o filme foi vencedor de prêmios como  L’Ecran Fantastique e Tiers Monde, o fantástico filme de José Mojica é um ícone do terror nacional e internacional.


Ao que me consta, o filme é domínio público, então dá pra ver no Youtube:






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