Sete Homens e um Destino (1960): Visual marcante do filme renovou a linguagem dos faroestes e da TV mesmo com disputas internas pelo roteiro
Uma gangue liderada pelo bandido local, Calvera, invade periodicamente uma aldeia pobre do México, saqueando alimentos e suprimentos. Após a última invasão, durante a qual Calvera mata um morador, os líderes da aldeia decidem que já basta. Seguindo o conselho do ancião da aldeia, eles decidem lutar. Pegando seus poucos objetos de valor, três aldeões cavalgam até uma cidade perto da fronteira dos Estados Unidos na esperança de negociar por armas. Eles ficam impressionados com Chris Adams, um veterano pistoleiro, e o procuram para pedir conselhos. Chris sugere que eles contratem pistoleiros para defender a vila, já que "os homens são mais baratos do que as armas". No início concordando apenas em ajudá-los a recrutar homens, mas Chris finalmente decide liderar o grupo. Apesar do baixo pagamento oferecido, ele encontra cinco pistoleiros dispostos a fazer a missão suicida. Estrelado pelo astro da Broadway, Yul Brynner, e Steve McQueen, foi indicado na categoria de Melhor Trilha Sonora ao Oscar de 1961
Assista ao filme no final desse artigo
Eles são o pistoleiro Vin Tanner, que faliu depois de uma rodada de apostas e resiste aos esforços locais para recrutá-lo como balconista; O amigo de Chris, Harry Luck, que presume que Chris está escondendo uma recompensa muito maior pelo trabalho; o mexicano irlandês Bernardo O'Reilly, que vive tempos difíceis; Britt, uma especialista em faca e arma que se junta puramente para o desafio envolvido; e o elegante atirador em fuga Lee, atormentado por pesadelos de inimigos caídos e assombrado por ter perdido a coragem para a batalha. No caminho para a aldeia, eles são seguidos pelo cabeça quente Chico, um aspirante a pistoleiro cujas tentativas anteriores de se juntar a Chris foram rejeitadas. Impressionado com sua persistência, Chris o convida para o grupo.
Chegando à aldeia, eles trabalham com os moradores para construir fortificações e treiná-los para se defenderem.
História por trás do filme
Yul Brynner, famoso ator da Brodway que já comentei no artigo de Westworld (1973), procurou o produtor Walter Mirisch com a ideia de refazer o famoso filme, Os Sete Samurais, de Kurosawa. Mas uma vez que Mirisch adquiriu os direitos dos Toho Studios do Japão e finalizou um acordo de distribuição com a United Artists, Brynner foi processado por quebra de contrato pelo ator Anthony Quinn, que alegou que ele e Brynner desenvolveram o conceito juntos e trabalharam detalhes do filme antes de os dois se desentenderem. Quinn acabou perdendo sua reivindicação porque não havia nada escrito.
O filme foi rodado pelo diretor de fotografia Charles Lang em um formato anamórfico de 35 mm usando lentes Panavision. As filmagens em locações começaram em 1º de março de 1960, no México, onde a vila e a cidade fronteiriça dos Estados Unidos foram construídas para o filme. As filmagens foram em cidades mexicanas em Cuernavaca, Durango e Tepoztlán e nos Estúdios Churubusco.
O crédito do roteiro foi um assunto de controvérsia. O produtor associado Lou Morheim contratou Walter Bernstein, um roteirista que tinha ido parae na lista negra(blacklist), para produzir o primeiro rascunho "fiel" do roteiro original escrito por Shinobu Hashimoto, Hideo Oguni e Akira Kurosawa. Mas quando Mirisch e Brynner assumiram a produção, eles trouxeram Walter Newman, cujo roteiro é em grande parte o que está na tela.
Quando Newman não estava disponível para estar no local durante as principais fotografias do filme no México, William Roberts foi contratado, para fazer as alterações exigidas pelos censores mexicanos. Quando Roberts perguntou ao Writers Guild of America para o crédito, Newman pediu que seu nome fosse removido dos créditos.
Sturges estava ansioso para escalar Steve McQueen para o filme, tendo acabado de trabalhar com ele no filme Never So Few de 1959, mas McQueen não conseguiu a liberação do produtor Dick Powell, que controlava a série de TV de sucesso de McQueen, Wanted Dead or Alive. Seguindo o conselho de seu agente, McQueen, um experiente piloto de carros de corrida, encenou um acidente de carro e alegou que não poderia trabalhar em sua série porque havia sofrido uma lesão no pescoço e teve que usar um colar cervical. Durante o intervalo necessário para sua "recuperação", ele estava livre para aparecer em The Magnificent Seven.
James Coburn era um grande fã do filme japonês Os Sete Samurais, tendo visto 15 vezes, e foi contratado com a ajuda do co-estrela e ex- colega de classe Robert Vaughn.
Robert Vaughn, que morreu em 11 de novembro de 2016, foi o último sobrevivente dos sete; e Rosenda Monteros foi o último membro do elenco sobrevivente até sua morte em 29 de dezembro de 2018.
Durante as filmagens, houve uma tensão considerável entre Brynner e McQueen, que não gostou de seu personagem ter apenas sete linhas de diálogo no roteiro de filmagem original (Sturges disse a McQueen que "lhe daria a câmera"). Para compensar, McQueen aproveitou várias oportunidades para ofuscar Brynner e chamar a atenção para si mesmo, incluindo proteger os olhos com o chapéu, jogar uma moeda durante um dos discursos de Brynner e sacudir seus cartuchos de espingarda. Brynner, que era apenas meia polegada mais alto que McQueen, costumava construir um pequeno monte de terra para ficar em pé quando os dois atores estavam juntos na câmera, apenas para ter McQueen sub-repticiamente chutando a sujeira do lugar antes de refazer as filmagens. Quando os jornais começaram a noticiar as altercações no set entre os dois, Brynner emitiu um comunicado à imprensa, declarando: "Eu nunca brigo com atores. Eu brigo com com estúdios."
A trilha sonora do filme é de Elmer Bernstein. Junto com o tema principal do enredo, a partitura também contém alusões a obras sinfônicas do século XX, como a referência ao Concerto para Orquestra de Bartók, segundo movimento, na cena tensa e tranquila pouco antes do tiroteio. A trilha sonora original não foi lançada na época até ser reutilizada e regravada por Bernstein para a trilha sonora de Return of the Seven. Versões de guitarras elétricas de Al Caiola, nos Estados Unidos, e John Barry, no Reino Unido, tiveram sucesso nas paradas populares. Um tema vocal não escrito por Bernstein foi usado em um trailer.
Em 1994, James Sedares regeu uma regravação da partitura tocada pela Phoenix Symphony Orchestra, que também incluía uma suíte da partitura de Bernstein para The Hallelujah Trail, emitida pela Koch Records. O próprio Bernstein conduziu a Royal Scottish National Orchestra para uma apresentação lançada pela RCA em 1997, mas a trilha sonora do filme original só foi lançada no ano seguinte pela Rykodisc.
Apesar de tudo isso, o filme fracassou nas bilheterias dos Estados Unidos e na América em geral, sendo salvo pelas bilheterias da Europa, principalmente Inglaterra e França. Na União Soviética (de onde Brynner era originalmente), o filme vendeu 67 milhões de ingressos, se tornando o filme de Hollywood de maior bilheteria de todos os tempos na União Soviética (onde estava entre apenas um punhado de filmes de Hollywood a se tornar sucessos de bilheteria lá).
Leitura do filme
Uma coisa que sempre me indago em torno do conceito de cultura pop, é como traduzir a ideia para o português. Não seria cultura popular, pois o conceito remete no Brasil ao reverso do pop. Também a não tradução acaba por reificar "pop" como novo conceito, e não é essa a ideia original no inglês. Por isso, depois de muito pensar, acredito que a melhor forma de traduzir "cultura pop" seja como cultura populista. Populista não no sentido de farsa mas no sentido de algo facilitado para entrar no gosto geral das pessoas e passar a sensação de união.
Tarantino, se inspirou no filme para fazer seu Os Oito Odiados (2015). Mas mudou o polo da história no final, tornando os personagens vingativos e individualistas frios, e isso fala muito sobre o filme.
Só estou falando disso pois Sete Homens e um Destino é um western extremamente populista. Há um foco maior nos diálogos e no desenrolar da narrativa, e uma facilitação de várias situações do filme para melhor compreensão. Como quando o personagem de Brynner atira nos braços de dois homens, um em cada, com um movimento sobre humano, ou quando um deles mata 3 homens sozinho. Não digo que é ruim mas apenas um reducionismo muito grande das cenas de ação e da verossimilhança, em detrimento da história principal.
Isso influência também na dinâmica do próprio enredo. Apesar do filme querer jogar com o fato de os 7 serem heróis, pelo menos de ocasião devido a ameaça da gangue, mas soa errado homens brancos norte-americanos, virem para o México salvar os cidadãos locais e indefesos, por mais boas que fossem suas intenções. Por mais atrasado que seja o vilarejo, sempre terá o pistoleiro local.
Por vezes, a postura e fala dos caubóis refletem uma distinção estranha com os mexicanos, como se fossem selvagens de outro continente, algo que se prova estranho justamente por não existir mais nas tramas de cinema modernas.
Isso serve também para criar uma espécie de palco para vermos ritos da cultura tradicional, como danças e costumes, dando um aspecto artístico ao filme. Esse caráter reforça o que o filme tem de melhor: seu caráter coletivo. O fato de ter mais de um protagonista faz uma dinâmica de grupo ao filme, onde cada um possuí habilidade específica e logo que de fato há uma troca de experiências real acontecendo ali. Como se ao mesmo tempo que estão ali, os caubóis aprendessem com os locais.
Isso se reflete nas duas coisas que o filme tem de mais deslumbrantes: a fotografia e a trilha sonora. Para a época, a trilha era revolucionária por não mirar em um estilo tradicional, mas sim numa trilha moderna. A fotografia é quente, dando aspecto vibrante ao filme, algo similar a Rio Bravo e Johnny Guitar.
O filme, até mesmo por suas 3 continuações, parece uma série, como um protótipo das séries dramáticas modernas. A estrutura continua, que faz dos acontecimentos momentos episódicos também reforça esse caráter.
Em resumo, Sete Homens e um Destino é muito bonito e revolucionário esteticamente. A estrutura de como a trama se desenrola, de maneira linear mas devagar, prende a atenção do espectador para saber o que vai acontecer. Entretanto sendo um remake, já sabemos o que vai acontecer (pelo menos quem já viu Os Sete Samurais, 1954). Mesmo que o filme mude um pouco o final, tudo é muito previsível. Somando as brigas no elenco e entre o diretor e o roteirista, dá a sensação de que o projeto parecia mais divertido no papel do que na prática. Havia uma premissa mas ninguém sabia como encerrá-la. Isso gerou uma tensão e competição no set que fez, como as vezes acontece em novelas, que as pessoas do elenco e produção de fato entraram em confronto, como num faroeste reproduzido. Talvez disso tenha surgido a ideia de Westworld, já que parece que o grande sucesso do filme vêm de quanto o filme é "real", por de fato ter algo acontecendo ali, como uma experiência etnográfica.
O espaço livre do set, reforçando o aspecto teatral e de espetáculo do filme, criaram o clima e ambientação perfeita. Mas ao mesmo tempo, removeu o que os faroestes como os de John Ford justamente faziam de melhor: utilizar o retorno mental do faroeste para a verdadeira América, o subdesenvolvido e os mais pobres da sociedade, justamente para explicar e revisitar a História. Como em todo gênero é preciso evoluir, aderir a novas linguagens e novas formas de interagir com o público. Entretanto tomando cuidado para não descartar o elemento chave do gênero, no caso a História.
No lugar, o filme possui uma perspectiva etnográfica e antropológica, focada nos costumes, mas que, de maneira contraditória, não se relaciona com a narrativa principal, jogando no espaço sua diegese. Por outro lado, ao operar nessa linha tênue entre o cinema e outras formas de audiovisual, como a televisão, o documentário, a peça e a reportagem; o filme automaticamente sensibilizou o público pelo seu caráter pop. Brynner em seu traje de caubói é inesquecível, e entra automaticamente pro seu imaginário de maneira tão forte, que o filme Westworld não só utilizou Brynner como fez ele usar a mesma roupa de seu personagem nos Sete. Só que justamente por esse impacto visual, sonoro e estético inerentes, não notamos que o roteiro é uma colcha de retalhos, com erros e que pouco entrega enquanto obra única, sendo praticamente salvo por suas continuações (como numa série), oportunidade que poucos filmes ou diretores tem a oportunidade de fazer. Mas claro, não tão incongruente sociologicamente como Matar ou Morrer (1952).
Assista ao filme aqui:
Esse sim o melhor filme que assisti na minho joventude
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