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O Massacre da Serra Elétrica (1974): Como a crise do petróleo devorou a juventude da América

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Dirigido por Tobe Hooper, The Texas Chain Saw Massacre, é um filme de 1974, escrito e co-produzido por Hooper e Kim Henkel. Sally Hardesty e seu irmão, que é paraplégico, Franklin, e seus amigos, Jerry, Kirk e Pam visitam o túmulo do avô dos Hardesty para investigar relatos de vandalismo e roubo. Inspirado no assassino real conhecido como "o açougueiro de Plainfield", "O massacre da serra elétrica" foi proibido em vários países, inclusive no Brasil, vários cinemas pararam de exibir o filme em resposta às reclamações sobre sua violência


Primeiro que isso de ir investigar você mesmo dano a um túmulo é estranho. Quem eles pensam que são, Scooby-Doo? 


Depois, eles decidem visitar a antiga casa da família Hardesty. No caminho, Franklin dá uma grande pista ao dizer que sua família era proprietária dos matadouros locais.


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Eles dão carona para um estranho, que fala sobre sua família que trabalhava no antigo matadouro. 


Ele pega emprestado o canivete de Franklin e se corta, depois tira uma única foto Polaroid de Franklin, pela qual exige dinheiro. Quando eles se recusam a pagar, ele queima a foto e corta o braço esquerdo de Franklin com uma navalha. O grupo o força a sair da van. 


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Eles param em um posto de gasolina para reabastecer seu veículo, mas o proprietário diz a eles que as bombas estão vazias, não há gasolina: outro sinal.


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Eles compram churrasco e continuam em direção à propriedade, com a intenção de retornar ao posto de gasolina. Quando eles chegam na casa, vai cada um para um canto e ninguém ajuda Franklin, ignorando sua condição, o que prova que eles são meio babacas. Franklin entra e Kirk e Pam perguntam sobre um lago local, e o casal vai procurá-lo. 


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Chegando lá, o lago secou, outro sinal. Eles avistam então uma casa próxima, e Kirk vai lá pedir por gasolina. Ele comete um dos maiores erros, entrando sem autorização pela porta destrancada, enquanto Pam espera do lado de fora. 


Kirk bate de frente com Leatherface, um grande homem usando uma máscara feita de pele humana, e bate em Kirk com um martelo. 


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Pam entra logo depois e encontra móveis feitos de ossos humanos. Ela tenta fugir, mas Leatherface a pega e a empala em um gancho de carne, fazendo-a assistir enquanto ele abate Kirk com uma serra elétrica. Essa cena foi acusada por alguns de exagerar e ser um pouco misógina, já que a mulher é tratada como um pedaço de carne. Ao mesmo tempo, se tornou uma das sequências mais famosas do filme.


Jerry sai para procurar Pam e Kirk ao pôr do sol. Ele vê a casa e encontra Pam, ainda viva, dentro de um freezer. Antes que ele possa reagir, Leatherface o mata.


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A noite cai. Sally e Franklin, desesperados, saem em busca de seus amigos. Quando eles se aproximam da casa vizinha e gritam, Leatherface salta da escuridão e mata Franklin com uma serra elétrica. 


Sally corre em direção à casa e encontra os restos desidratados de um casal de idosos no andar de cima. Ela escapa de Leatherface pulando por uma janela do segundo andar e foge para o posto de gasolina. O proprietário a acalma com ofertas de ajuda, mas então ele a amarra, amordaça e a força a entrar em seu caminhão, revelando fazer parte do esquema. Ele dirige para a casa, chegando ao mesmo tempo que o carona, agora revelado como irmão de Leatherface e também parte do esquema.


Os homens atormentam Sally amarrada e amordaçada enquanto Leatherface, agora vestido de mulher, serve o jantar.


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Leatherface e o caroneiro trazem um dos corpos ressecados do andar de cima, o de seu avô. Ele revela estar vivo quando suga o sangue de um corte no dedo de Sally. Eles decidem que o vovô, o melhor assassino do antigo matadouro (sinal), deve matar Sally. 


Ele tenta acertá-la com um martelo, mas está muito fraco. Ela se liberta, salta por uma janela e foge para a estrada. Leatherface e o irmão a perseguem, mas o último é atropelado e morto por um caminhão que passava. Leatherface ataca o caminhão com sua motosserra. O motorista foge e Sally escapa na traseira de uma caminhonete que passa, enquanto Leatherface agita maniacamente sua motosserra no ar com raiva.


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História por trás do filme 


O conceito de The Texas Chain Saw Massacre surgiu no início dos anos 1970, enquanto Tobe Hooper trabalhava como assistente de direção de cinema na Universidade do Texas em Austin e como cinegrafista de documentário. 


Ele já havia desenvolvido uma história envolvendo os elementos de isolamento, floresta e escuridão. Ele creditou a cobertura gráfica da violência pelos meios de comunicação de San Antonio como uma inspiração para o filme baseou elementos da trama no assassino Ed Gein , que cometeu seus crimes em 1950 em Wisconsin. Gein inspirou outros filmes de terror, como Psycho(1960) e O Silêncio dos Inocentes (1991), por usar a pele de suas vítimas para fazer roupas e até móveis.


Hooper citou mudanças na paisagem cultural e política como influências centrais no filme. Sua desinformação intencional, de que o "filme que você está prestes a ver é verdadeiro", foi uma resposta a "mentiras do governo sobre coisas que estavam acontecendo em todo o mundo", incluindo Watergate , a crise do petróleo de 1973 e " os massacres e atrocidades na Guerra do Vietnam.


Hooper notou enquanto assistia ao noticiário local, que a cobertura denuncista era gráfica e era resumida por "mostrar cérebros espalhados por toda a estrada", levando à sua crença de que "o homem era o verdadeiro monstro aqui, apenas usando um rosto diferente. 


A ideia de usar uma motosserra como arma do crime veio a Hooper enquanto ele estava na seção de ferragens de uma loja movimentada, pensando em como abrir caminho através da multidão.


A produção excedeu seu orçamento original de $ 60.000 (cerca de $ 315.000 ajustados pela inflação) durante a edição . As fontes divergem quanto ao custo final do filme, oferecendo valores entre $ 93.000 (cerca de $ 488.000 ajustados pela inflação) e $ 300.000 (cerca de $ 1.600.000 ajustados pela inflação). Ou seja, foi feito com grana de um salgado.


O Texas Chain Saw Massacre foi filmado principalmente com uma câmera Eclair NPR 16mm, com filme de baixa velocidade e granulação fina que exigia quatro vezes mais luz do que as câmeras digitais modernas.


O local de filmagem principal foi uma casa de fazenda do início de 1900 localizada em Quick Hill Road perto de Round Rock, Texas, onde o empreendimento La Frontera está localizado agora. O elenco e a equipe técnica encontraram condições difíceis, já que as temperaturas atingiram um pico de 43°C. 


O sangue na tela foi real em alguns casos. Na cena em que Leatherface alimentou "Vovô". A equipe teve dificuldade para fazer o sangue do tubo, então o dedo indicador de Burns foi cortado de verdade com uma navalha.


Na cena em que Leatherface mata Kirk com uma motosserra, o ator William Vail (Kirk) se moveu e a motosserra quase atingiu seu rosto. 


Na festa de encerramento do filme, o diretor Hooper notou que todos os membros do elenco haviam obtido algum nível de lesão. Ele afirmou que "todos me odiavam no final da produção" e que "demorou anos para eles me perdoarem".


Filme pronto. Só faltava uma coisa: distribuir o filme. E aí, veio o problema: nenhum estúdio quis distribuir o filme por seu teor de violência. Warren Skaaren, então chefe da Texas Film Commission ajudou a garantir o acordo de distribuição com a Bryanston Distributing Company.


Em 28 de agosto de 1974, Louis Peraino de Bryanston concordou em distribuir o filme em todo o mundo, do qual Bozman e Skaaren receberiam $ 225.000 (cerca de $ 1.200.000 ajustados pela inflação) e 35% dos lucros. Anos depois, Bozman declarou: "Fizemos um acordo com o diabo, [suspiro], e acho que, de certa forma, recebemos o que merecíamos."


Os produtores tiveram que processar a Bryanston por não pagar a eles sua porcentagem total dos lucros de bilheteria. Uma decisão judicial instruiu a Bryanston a pagar aos cineastas US $ 500.000 (cerca de US $ 2.600.000 ajustados pela inflação), mas a essa altura a empresa havia declarado falência. Em 1983, a New Line Cinema adquiriu os direitos de distribuição de Bryanston e deu aos produtores uma parcela maior dos lucros. 


Leituras e análises do filme


O crítico de cinema, Christopher Sharrett argumenta que desde que Alfred Hitchcock fez Psicose (1960) e Os Pássaros (1963), o filme de terror americano foi definido pelas perguntas que ela representa "sobre a validade fundamental do processo civilizatório americano", preocupação intensificada durante a década de 1970 pela "deslegitimação das autoridades na esteira do Vietnã e Watergate ". Isso explicaria a proliferação de filmes de terror nesse período. Sharrett afirma que The Texas Chain Saw Massacre "leva essa exploração a uma conclusão lógica, abordando muitas das questões do filme de Hitchcock enquanto recusa um encerramento reconfortante".


Robin Wood caracteriza Leatherface e sua família como vítimas do capitalismo industrial, seus empregos como trabalhadores em matadouros tornaram-se obsoletos devido aos avanços tecnológicos. 


Naomi Merritt explora a representação do "capitalismo canibal" no filme, referência a teoria do tabu e transgressão de Georges Bataille . Ela desenvolve a análise de Wood, afirmando que os valores da família Sawyer "refletem, ou correspondem a, instituições americanas estabelecidas e interdependentes".


Na opinião de Kim Newman, a apresentação de Hooper da família Sawyer durante a cena do jantar parodia uma típica família dos seriados sitcom americanos, o dono do posto de gasolina é a figura paterna ganhadora do pão; o assassino Leatherface é retratado como uma dona de casa burguesa; o carona age como o adolescente rebelde. Isabel Cristina Pinedo, autora de Terror recreativo: Mulheres e os prazeres da exibição de filmes de terror , afirma: "O gênero de terror deve manter o terror e a comédia em tensão se quiser trilhar com sucesso a linha tênue que o separa do terrorismo e da paródia ... este equilíbrio delicado é alcançado em The Texas Chainsaw Massacre, um exemplo é o cadáver em decomposição do vovô, que não apenas incorpora efeitos horríveis e humorísticos, mas na verdade usa um para exacerbar o outro. " 


Minha leitura do filme


Na verdade, dessa vez a interpretação não é tão difícil porque o próprio diretor entregou a pista: a crise mundial do petróleo, que não só tornou o preço mais caro como também o próprio produto se tornou escasso. Ou seja, a explicação para Massacre da Serra é histórica. 


A crise do petróleo foi desencadeada num contexto de déficit de oferta, com o início do processo de nacionalizações e de uma série de conflitos envolvendo os produtores árabes da OPEP, como a guerra dos Seis Dias (1967), a guerra do Yom Kipur (1973), a revolução islâmica no Irã (1979) e a guerra Irã-Iraque (a partir de 1980), além de uma excessiva especulação financeira. Os preços do barril de petróleo atingiram valores altíssimos, chegando a aumentar até 400% em cinco meses (17 de outubro de 1973, 18 de março de 1974, época do filme), o que provocou prolongada recessão nos Estados Unidos e na Europa e desestabilizou a economia mundial.


A explicação que vê família como vítimas do capitalismo industrial, que perderam seus empregos como trabalhadores em matadouros pois tornaram-se obsoletos devido aos avanços tecnológicos, é a tese mais correta para mim, e vou expor algumas pistas da narrativa que deixam isso para gente implícito e que eu não vi nenhum crítico comentar.


Primeiro, logo no inicio do filme Franklin dá duas informações importantes: seus pais eram donos do abatedouro local e das terras locais. Por outro lado, os membros da família falam que o vovô trabalhava no abatedouro, assim como Leatherface. O segundo filme da trilogia original, eles afirmam que o vovô perdeu o emprego e nunca mais foi ao abatedouro, o que foi em suas palavras "uma vergonha".


O grupo obviamente é formado por hippies, incluindo os dois irmãos. Entretanto ao saber da notícia de túmulos afanados, eles tomam uma atitude patrimonialista de verificar se aquilo atingia o túmulo de sua família, algo que só pessoas com maior condição financeira podem fazer ou condições de se preocupar, já que envolve a memória da família. Chegando no cemitério eles não chegam logo, mas sim pedem informações a locais que aparentemente conhecem sua família, ensejando que a família deles é conhecida na região. 


Meu palpite: o Vovô monstro era funcionário do abatedouro da família de Franklin e Sally. Quando o negócio foi pro espaço com a morte de seus pais, já que seus filhos hippies não tinham nem a capacidade e nem o interesse de continuar o negócio. Isso fez com que Leatherface, um funcionário ultracapacitado para o trabalho ficasse louco, assim como sua família. Notem que Leatherface sempre usa terno, gravata e avental, comuns no mundo trabalho.


Isso é reforçado pelo fato de eles estarem sendo observados desde o início, já que o caroneiro e o cara do posto sempre estiveram de maldade, logo sempre souberam quem eles eram. A prova disso é que quando eles vão no posto, o cara lava o carro mas deixa o sangue sujo na lateral kombi. Aah e sim, quando eles compraram churrasco eles comeram carne humana.


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Eles foram induzidos o tempo todo. Kirk e a namorada, o mais suscetíveis, foram os primeiros a morrer por isso. 


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A falta de gasolina é uma metáfora tanto da crise, que prende as pessoas no interior e em costumes ultrapassados, como para a crise gerada pelo fim do abatedouro local.


Já a cena do jantar com os loucos e ápice icônico do filme, representa para mim como eles tentam reproduzir sempre uma estrutura de sociedade e família típica do pós Segunda Guerra e que não existia mais. Uma crítica aos conservadores, que como em uma sitcom, vão tentar sempre defender os valores da família, mesmo que seja uma relação psicótica. De certa maneira, uma crítica existencial a como os valor da "democracia na América" foram introjetados "na marra" na juventude pela guerra do Vietnã e pela crise, que literalmente massacram a geração dos anos 70 dos EUA. É significativo que no Brasil o governo militar tenha censurado o filme.


A cena dos carros fora da casa da família, todos parados em baixo de um toldo, é uma metáfora que, por um lado, a família já teve várias vítimas, por outro, da crise do petróleo.


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Enquanto Hooper tramava sua narrativa, Nixon ganhou sua reeleição com uma vitória esmagadora no mês anterior, mas às sombras de escândalo do Watergate, que saiu meses antes. Bob Woodward e Carl Bernstein geraram uma crise, forçando muitos americanos a perceberem que seu comandante-chefe era um duas caras: o líder e o mentiroso, o potentado e o canalha. Mas ele tinha um álibi: os norte-vietnamitas, que hesitaram em assinar um acordo de paz. Então Nixon ordenou os bombardeios de Natal em Hanói e Haiphong, com dezenas de aviadores americanos se tornando vítimas, captores ou desaparecidos.


Em janeiro de 1973, logo após sua segunda posse, Nixon anunciou no rádio e na televisão que ele e Henry Kissinger traçaram um plano de “paz com honra” para encerrar a Guerra do Vietnã. O discurso foi curto, direto ao ponto, e chocante para muitos na imprensa que esperavam algo mais terrível. Apesar do cinismo dos cabeças da mídia, esta provou ser a última jogada de poder presidencial de Nixon, o último momento para o presidente salvar a face antes que um dilúvio de sujeira começasse a vazar do Salão Oval para o jornal. Por isso, como afirma o escritor Joseph Lanza em The Texas Chain Saw Massacre: The Film That Terrified a Rattled Nation, é preciso notar que os anos 70 eram tempos violentos e por isso a violência tomou as telas do cinema, como Massacre da Serra-Elétrica.

A fotografia e a montagem do filme são bem geniais, ainda mais sabendo da baixa qualidade do equipamento. O efeito Kulechov é utilizado muitas vezes, como na cena da navalhada, e de maneira simples e genial. 


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Além disso, para mim o principal mérito do filme é romper com a estrutura das narrativas intelectuais e propor uma estrutura sensorial, renovando o gênero de terror americano. Você sente o desespero nos olhos de Sally. Utilizar essa linguagem, que era muito mais comum ao cinema soviético e aos documentários, mas voltar isso ao terror foi uma sacada genial do diretor.


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