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Topázio (1969): Clima de anticomunismo da Guerra Fria inspirou trama de espionagem de Hitchcock

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Topázio é filme do grande Hitchcock. Adaptação vinda do romance "Topaz", de Leon Uris. Na trama de espionagem, acompanhamos as aventuras de um agente francês, que trabalha para os americanos infiltrado na Cuba comunista. O filme retrata a crise dos mísseis de 1962, onde o agente tenta conseguir uma foto dos mísseis, em paralelo que vive um romance com uma jovem cubana. Mas suas escolhas podem ter graves consequências


Em Copenhague, em 1962, um oficial de inteligência soviético de alto escalão , Boris Kusenov (Per-Axel Arosenius), desertou para o Ocidente. Isso faz com que ele se torne um alvo de uma tentativa de assassinato.


Procurando ele mesmo se safar, ele conta ao agente da CIA, Mike Nordstrom (John Forsythe) que mísseis soviéticos com ogivas nucleares serão colocados em Cuba, para em eventual confronto atacar os Estados Unidos.


Precisando de provas físicas, Nordstrom revela o nome de Kusenov ao agente francês André Devereaux (Frederick Stafford) e pede que ele suborne Luis Uribe (Donald Randolph), membro da delegação cubana da ONU, para fornecer fotos de documentos que confirmem as bases de mísseis em Cuba. Devereaux decide acompanhar sua filha, Michèle (Claude Jade), em sua lua de mel para Nova York com seu genro, François Picard (Michel Subor)., 


Andre entra em contato com um agente franco-martinicano, Philippe Dubois (Roscoe Lee Browne), e faz ele ir em seu lugar para entrar em contato com Uribe, que é secretário do oficial cubano Rico Parra (John Vernon), que está hospedado no Hotel Theresa, no Harlem, para mostrar solidariedade com a comunidade negra. Esse evento aconteceu na realidade, e foi o famoso encontro de Fidel com Malcolm X.


Dubois entra furtivamente no hotel e suborna Uribe para tirar os documentos do escritório de Parra para fotografar. Parra pega Dubois fotografando os documentos. 


Dubois pula pela janela, Rico atira, e Dubois cai no toldo. Por um segundo, pela montagem, achamos que ele morreu. Mas ele levanta e corre, e intencionalmente esbarra em Devereaux, que está assistindo os eventos do outro lado da rua, e desliza a câmera para ele. 


Um guarda cubano ruivo esbarra em Andre, e ajuda Devereaux a se levantar, o encarando nos olhos. Dubois foge para a multidão ao redor do hotel.


As fotos de Dubois confirmam que os soviéticos estão colocando mísseis em Cuba. Devereaux, apesar das acusações de infidelidade de sua esposa, voa para Cuba, deixando sua esposa decepcionada.


Sua amante, Juanita de Córdoba (Karin Dor), era viúva de um "herói da Revolução", Andre usa isso para criar contatos na resistência. 


Após sua chegada, Devereaux encontra Parra, outra de suas amantes, deixando a mansão de Juanita. Devereaux pede a Juanita para tirar fotos dos mísseis. Os leais funcionários domésticos de Juanita, Carlotta e Pablo Mendoza, se deafarçam como pessoas que fazem piquenique e fotografam os mísseis. Mas o próprio disfarce vai contra eles quando gaivotas se interessam pelo piquenique, chamando a atenção doa guardas.


Perseguidos, os dois escondem o filme incriminador antes de serem capturados, torturados e mortos. 


Durante uma grande discurso de Fidel Castro, cena retirada de arquivos, o ruivo guarda cubano reconhece o rosto de Devereaux do incidente em Nova York.


Parra ouviu da torturada Carlotta Mendoza que Juanita é a líder. Ele a abraça e a mata com um tiro.


Produção do filme e polêmicas


Topázio foi um filme muito mal recebido tanto pelo público, quanto pela crítica especializada, que não souberam ver a genialidade e a singularidade do filme. 


feito com artistas de vários países do mundo, uma verdadeira produção internacional, nas palavras do próprio Hitchcock sobre Topázio, os artistas vieram da Alemanha, Dinamarca, Suíça, França, Itália, Estados Unidos. Para ele, isso prejudicou a divulgação do filme, por não ter nenhuma sequência de casting posterior o corte final do filme. 


Ou seja, como cada um estava fazendo uma coisa. O script pensado não foi feito de maneira total. Mesmo assim, o filme tem estilo próprio, contendo cenas gravadas quase no improviso, pois foram linhas escritas apenas horas antes. 


A fotografia foi de Jack Hildyard, com direção de arte de John Austin e Música de Maurice Jarre, e foi distribuído pela Universal Studios. 


O filme foi criticado e esquecido no hall de pérolas de Hitchcock, mas é genial e merece ser entendido em sua extensão.


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Todas as pistas estavam ali, os funcionários da União Soviética e seus técnicos inundavam a costa de Cuba e "assustaram" os americanos. Uma leva de viagens e espiões acabaram criando um universo de especulação sobre as ações bilaterais entre esses dois países na época. Aparecer os documentos do evento da Crise de Mísseis no jornal, sugere que todas as intrigas e especulações do filme eram falsa premissa, na medida que o Khrushchev, presidente da época da União Soviética decidiu cancelar o programa de bases. 


Era uma falta de comunicação unida com uma grande paranoia. Pensando em uma livre comparação, o jornalista Fernando Morais escreveu o livro "Os Últimos Soldados da Guerra Fria: A história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita dos Estados Unidos", e que virou filme recentemente. 


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Não havia nem mesmo muita prova, mas havia convicção. É assim que lembram da Crise dos Mísseis, um incidente que inspirou vários filmes pelo carácter neurótico do tipo de diplomacia que fez surgir a paranoia anticomunista por parte dos Estados Unidos. No filme, os americanos estão tentando proteger um desertor comunista, só o que eles não sabiam era que o russo era agente duplo. No filme são usados vídeos reais de arquivo, o que é incrível pela sensação de assistir sobre comunista dentro da perspectiva de um dos mestres do cinema clássico que é a figura do Hitchcock.


O nome do filme e do livro é uma referência ao chamado grupo Topázio (Topaz), que é um grupo de espiões comunistas de alto padrão que estão infiltrados na elite francesa, assim como o agente duplo do filme é um francês que trabalha pra França e para os Estados Unidos.


 A reflexão profunda do filme é sobre as distinções de classe e castas dentro da própria esquerda que impediam um comunismo internacional. A corrupção dos próprios agentes do poder, e na visão de um indivíduo que não está exatamente na frente da investigação, mas envolvido em si e pessoalmente. Sendo uma forma de questionamento da corrupção, autoridade e poder de ambos os lados. 


Essa forma adulta que Hitchcock tratou de um assunto ideológico demonstra sua diferença para o autor do livro original, que via os franceses e os cubanos como golpistas e vilões. 


Outra polêmica foi os finais do filme. Como o diretor teve uma emergência familiar e não pôde filmar o seu final, o estúdio pediu mais de uma vez para que ele recriasse, pois o teste de audiência mostrava que as pessoas não entenderam o final do jeito que ele projetou. O final que era para ser em um estádio francês de futebol, mas acabou sendo outros 3 no final, sendo o final britânico o que mais se assemelha do que Hitchcock queria.


Em determinado momento do filme, o próprio governo francês quer saber o motivo da lealdade maior aos interesses dos Estados Unidos do que da França. No romance a importância de ser um agente francês demonstra que é preciso intercâmbio com certos setores de profissional e certas nacionalidades e raças, para chegar até os comunistas. No filme eles são retratados como homens brancos, de olhos claros, uma referência cruzada, acho que proposital de Hitchcock. 


André Devereaux reporta suas descobertas e ninguém faz nada, e aí ele vira alvo de uma tentativa de assassinato, mas depois descobre que a extensão de seus inimigos é maior, desconfiando de seus amigos como "comunistas infiltrados".  A história real veio a público apenas alguns anos mais tarde, na revista Life em 1968, o amigo de Vosjoli, Leon Uris fez sua versão disso em Topaz. 



A história por trás do filme


É baseado livremente no escândalo Martel (também conhecido como Sapphire affair), ocorrido na França, no início de 1962. Envolvia um detrator soviético Anatoliy Golitsyn, ligado ao gabinete de Charles de Gaulle, que indicou que teriam espiões da KGB no governo francês. Em 1963, o autor do livro virou amigo desse agente depois de se mudar para os Estados Unidos. Para dar nome ao agente duplo, chamaram ele de "Martel".


Anatoliy Golitsyn tinha fugido para os Estados Unidos em 1961, a questão foi comentada por Kennedy em mensagem ao gabinete de Charles de Gaulle, que acreditava que tudo era mentira dos americanos. O incidente pareceu nada, mas fez com que a França perdesse seu lugar no NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O que fez a zona do acordo ficar sem funcionalidade por um ano, e em uma perda de três anos de compartilhamento das inteligências americanas e francesas. Para ter uma ideia da gravidade da situação relatada, o ministro da cultura da época da França, Andre Malraux quis proibir qualquer gravação na França por achar que o filme era contrário ao governo De Gaulle.


Em 1962 ocorreu o episódio da Crise dos Mísseis, os efeitos aconteceram entre 16 e 28 de outubro, o que terminou com a descoberta de dois modelos, R.12, e R.14, ambos mísseis de fabricação soviética e instalados em solo cuba, gerando assim, a pior crise da época da Guerra Fria. No livro o carácter de vilão do Agente André. Hitchcock contratou o escritor da novela para adaptá-la, mas acabou discordando da perspectiva fechada anticomunista do autor original. Hitchcock aparece anos 28 minutos do filme em uma cadeira de rodas. Coisa que ele sempre fazia nos filmes. 


Apesar de ser um filme excelente, é um dos filmes menos gostados de Hitchcock por falar sobre Guerra-Fria, um assunto tabu após a prática de blacklist (censura) dos filmes. alguns elementos saltam aos olhos, como o elemento dos pássaros que passam em determinado momento carregando mensagens, isso passa a ser controlado e ordeiro, enquanto os pássaros do filme The Birds (pássaros) eram a própria narrativa do caos. Aqui os pássaros são figuras que anunciam a tragédia final do final, onde quase todos da "resistência" contra Cuba morreram. 


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A inteligência americana e francesa estão conectados, e em certo momento do filme, descobrimos que existem vários infiltrados e agentes duplos no filme. Os chefes da inteligência são o André Devereaux e o agente Michael Nordstrom da  aliança  NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte)


Para a missão que envolvia tentar entrar em contato com a comitiva cubana que estava no Harlem (evento que realmente ocorreu na vida real no bairro negro). Então um jornalista é chamado para ser o elo entre os agentes americanos e os cubanos. Os americanos estão atrás de uma pasta vermelha com documentos. 


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Do lado de fora do hotel onde ficaram os cubanos estava montada a operação. Ali o agente francês é reconhecido pelos cubanos, mas mesmo assim mantém sua viagem final, por terem pedido isso para ele. 


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Apesar do clima do filme sugerir um tipo de filme de espionagem, a genialidade desse foi questionar a ideia de mocinho e vilão tradicional, como pensado na narrativa americana. 


A impressão do filme é que são todos vilões, mas a intenção do livro era portar os cubanos pior que os americanos. Entretanto, de alguma maneira, no filme Andre parace um babaca.


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A mulher de Devereaux, por exemplo, aparece como uma personagem diferente, a esposa francesa, não como uma pixe qualquer (perfeitinha modelo). Ela descobre o caso de seu marido com a cubana, e imediatamente tenta abandoná-lo, pois seu marido jamais perderá o tipo de vida a lá "intriga internacional". No fim, tudo funciona para Devereaux. Isso funciona como uma metáfora política perfeita, onde a mulher significa a corrupção em si. Mulher seria = corrupção.


Ele se livra de Cuba, representado pela mulher cubana e sua esposa volta para ele no final do filme. A única novidade é que descobrimos que os próprios chefes dele são parte do tal grupo de comunistas infiltrados no governo, como uma forma de teoria de 'deep state', só que envolvendo De Gaulle e os comunistas. Como também Rico Parra (Fidel Castro) na vida real também foi casado com uma mulher membro da alta sociedade, chamada Díaz-Balart, e gostava enquanto jovem de curtir Nova Iorque onde montou seu primeiro escritório revolucionário, e dava discursos públicos no Central Park também.


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A visão de que o problema do multiculturalismo e da vida intensa dos revolucionários bebiam da mesma fonte daqueles ligados com a extrema direita, e esse estreito sendo caminhado através dos costumes. A vida internacional, ter várias mulheres, alguns são os sinais que Hitchcock queria brincar um pouco com o comportamento daqueles que gostavam se viver uma novelinha e que usavam dos contatos políticos para tal.

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Uma forma de entendimento de certa maneira Foucaultiana de que o poder em si mesmo corrompe, não seria o caso do  um "jogo de bat beg",  para o poder não importa ser bom ou mau. Como por exemplo a cena que Rico Parra (colocado no filme como Fidel Castro) acaba atirando em Juanita de Córdoba, uma esposa de um antigo revolucionário da Revolução Cubana, e que teria um papel na espionagem contrário ao regime cubano, mas na verdade, ela era só amante do detetive francês mesmo.


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 Ao descobrir a traição de Juanita de Córdoba, Rico Parra mata a amiga por ter se envolvido com o espião pró Estados Unidos. A situação foi tão caótica, que o próprio governo da França pediu para que ele não ferisse a pátria natal, mas não deu certo. É nítido a fidelidade dele ao governo americano. 


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O poder no fim é uma coisa em si. Apenas para sondar e obter informações daquilo que nem realmente existiu mesmo enquanto problema, os agentes do grupo de Juanita são assassinados ao se disfarçarem de camponeses em um piquenique para tirar fotos da cooperação entre União Soviética e Cuba. 


A sensação que dá é que eles morreram sem motivo, usados por Andre para montar uma notícia, que hoje, como sabemos não deu em nada, uma falsa polêmica, que como indicou o jornal do final do filme, só virou capa de jornal para depois ir parar no lixo.



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Destaque para a intenção de colocar os revolucionários cubanos como homens brancos, ruivos e de olhos azuis. 


No filme, tantos os Estados Unidos, quanto a União Soviética são bons países, errados são os usos privados que as pessoas fazem das ideologias. Vemos isso com o enfoque narrativo na figura de um agente francês, com diversos negócios em Cuba. Ou seria um agente cubano infiltrado nos Estados Unidos? Nunca saberemos. 


Sendo evidentemente um sabotador a serviço dos americanos, é impressionante quanto tempo demorou ainda para ser pego. Quando o detetive é pego no hotel no Harlem espionando a comitiva cubana, ele ainda assim, viaja uma última vez e é reconhecido pelas autoridades cubanas. 


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 O filme é maldoso por mostrar que parte de seu envolvimento com os grupos paramilitares contra Cuba ser apenas parte de uma rotina sem razões ou motivos reais. Uma aventura fora do casamento, é assim que Hitchcock resume o interesse mútuo entre os comunistas e os americanos, em um jogo de oposições consentidas. 


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