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A Morta Viva (I Walked with a Zombie 1943): Considerado primeiro filme de zumbi da História do cinema ousou ao falar de colonialismo, patriarcado e religiões de terra


I Walked with a Zombie conta a história de uma enfermeira canadense que viaja para cuidar da esposa doente de um rico proprietário de plantação de açúcar no Caribe. No lugar, ela testemunha rituais de vudu e presencia "mortos-vivos", pessoas que caminham em transe. O filme já foi destacado por diversos analistas por refletir temas como da escravidão, racismo e pela sua representação pungente das religiões de diáspora africana, particularmente o vudu haitiano

Escrito por Regina Guedes e Matheus Bastos


Assista o filme ao final deste artigo 


Direção do francês Jacques Tourneur (era chamado de Jack Turner para americanizar seu nome), e com produção do novelista russo Val Lewton, conhecido por fazer temática de terror na RKO com orçamento baixo. Val Lewton fez o filme Cat People (1942)  e deu certo, abriu uma lacuna para filmes mais filmes do estilo em demanda. Também trabalhou sem crédito na escrita do roteiro de Gone With the Wind, e também fez a adaptação  do filme do clássico da literatura de Gogol, Taras Bulba


O filme foi classificado como racista por parte da crítica, que na verdade, pareceu não gostar de ver a descrição de toda um lado religioso da humanidade que o raciocínio ocidental ignora. Muitas situações no filme são contadas quase como em sussurros, a infidelidade da esposa é sugerida pelo tom repressivo na cena da mesa de jantar. Outra questão que chama atenção é a narração da enfermeira que começa o filme do lugar onde terminou, dizendo como ela teria "conhecido um zumbi" e andado lado a lado com ele, primeiro sendo alertada que alguns eram perigosos e outros  "muito engraçados", mas que desde aquele dia, ela sabia o que era. 


Mas esse "I Walked With a Zombie" é bem mais certeiro em seu alvo, muito melhor filme the Cat People (que parecia um filme de alta desconfiança dos comunistas). Logo no começo são dadas muitas informações históricas, como o fato de ser um local das 'Índias Ocidentais'.  A escravatura nas plantações de cana-de-açúcar (onde mora Paul) foi abolida em Antígua (Ilhas Barbadas, Caribe) em 1834. 


A referência história é da famosa viagem de Cristóvão Colombo, já que foi por ali que o homem branco europeu chegou na América pela primeira vez em 1492, segundo diz a história oficial. O que torna todo o filme uma aprimorada metáfora das relações entre o branco estrangeiro e povo local que sabe muito bem onde mora e quem é a minoria branca e da elite local. Outro deslocamento é esse local "racional" de garota mais moderna, mas que se apaixona pelo cara padrão, mas que aos poucos também perde esse romantismo ao perceber que a pinta de galã escondia a realidade do tradicional patriarcado e escravidão.



É interessante ver o começo da mitologia zumbi no cinema! Hoje em dia, vivemos o pós "Noite dos Mortos-vivos (1968)", pós Resident Evil, pós The Walking Dead (2010) e The Last of Us, a temática do zumbi se atualiza junto com diversos tipos de gibis que também abordam a temática, existe todo um mercado cinematográfico de efeitos práticos que vivem da observação do que seria essa "física zumbi" real, para dar os movimentos certos. 


Foi George Romero que deu esse tom mais gráfico e direto ao terror dos zumbis, explorando e revisando temáticas também abordadas pelo filme. Entretanto, zumbis já estavam presentes na literatura muito antes de serem personagens de cinema com a atual aparência que conhecemos. O zumbi antes estava sempre associado a manipulação mental de alguém que está em transe, geralmente controlado por um líder. Assim, há zumbis escravos de vampiros, como zumbis como o Frankenstein, fruto da criação e desejo do cientista (líder). 


É exatamente aqui que se insere I Walked with a Zombie, onde o zumbi não é um devorador de carne mal, mas sim uma pessoa que está em transe por fatores outros que o leva a ignorar a rotina padrão. Nesse filme, temos duas pessoas nessa situação: a esposa do proprietário e Carrefour. Não é difícil conjeturar que ambos estavam tendo um romance. A questão é no que esse romance implica. 


Por um lado é interessante por ver que é infeliz a mulher do rico e bem sucedido proprietário de empresa de cana de açúcar, que no Brasil e Caribe foi a principal monocultura a utilizar a mão de obra de escravos. Por um outro lado, significa que Carrefour também está em um transe, uma vez que está recusando o seu próprio lugar e encantado por uma trama que o remete de volta a "Casa Grande" como símbolo e orientação. 


Romero também usou a ideia de um casal interracial, já que A Noite dos Mortos vivos começa com uma garota branca que está desesperada em meio a crise zumbi, e é salva por um rapaz negro que resiste com ela dentro de uma casa. Por um lado, Romero posiciona o casal como possível uma vez que não sabemos quanto tempo eles ficaram na casa, mas principalmente colocou os "zumbis", ou seja os monstros, como as massas brancas segregacionistas, como Klu Klux Klan e etc.    


É um filme da RKO (os comunistas de Hollywood), explicando os tons mais críticos e reais, incomuns da Hollywood como um todo, por isso o filme é bom demais, com toda sinceridade. A ideia de "vestir um boneca" que a criada fala sobre a esposa é exemplar dessa crítica ao colonialismo e as práticas bizarras de "permanência da tradição" achadas pela elite, como a esposa, uma mulher sem força, incapaz de agir ou falar por conta própria e que fica na cama o tempo todo com uma "febre tropical". Quando Betsy decide usar da "macumba", da religião de terra africana local para curar a esposa do senhor das terras de cana-de-açúcar. 


O filme tem uma questão bacana nele é que a percepção "mística" dos brancos que visitam (os personagens clássicos de um filme de Hollywood), são mostrados como pessoas que os locais não gostam e fazem música sobre. Esse elemento é ouro no filme. Essa relação de crença e depois desesperança do romance. 


É um filme que sabe zombar o orientalismo tradicional de Hollywood, parecendo ser uma excelente resposta ao estilo da MGM (que acredita no glamour de certo orientalismo), em oposição com a RKO que disfarçou todo seu esquerdismo dentro de fórmulas de técnicas de cinema modernas, tiradas do sistema de rádio difusão para aperfeiçoar o cinema. 


 


Outra interessante metáfora do filme é a relação do dono das terras que a enfermeira está apaixonada e o fato dele ser inicialmente vendido como um cara legal e romântico (que fala o discurso politicamente correto), mas que por fim entrega o ódio aos locais que faz com que a moça que estava se apaixonando por ele tome uma medida diferente. O mais impressionante é que Holland, apesar da família escravocrata local tem o discurso correto contra a instituição da escravidão. A escravidão é essa metáfora de tirar a humanidade e a alma dos seres humanos, como exatamente na metáfora "zumbi". Por isso, muitos acadêmicos estudam a ideia de "zumbificação do social" como essa forma de apagamento da humanidade produzido pela exploração laboral. 


Filme sobre uma jovem que viaja com emprego de enfermeira para Antígua, no Caribe, nas antigas chamadas "Índias Orientais". Por lá, 90% da população é negra, explicando a alegoria do zumbi no filme como a óbvia metáfora de conhecer e namorar um homem negro para a jovem.


Na mitologia religiosa do Haiti (chamada também de Sévis Gine), temos um exemplo de religião entre as influências indígenas, católicas e africanas, e o candomblé brasileiro. O culto de loás, dos povos jejes e fons e maís da África Ocidental. Nessa religião, na crença popular, o vodu (como mostrado no filme com as bonequinhas) é usado para curar mazelas enquanto se cultua e oferece sacrifícios para as divindades. O vodu haitiano é considerado uma religião de cura física e espiritual da comunidade, além de cultuar e oferendar as divindades. Na cena do filme onde a enfermeira busca a cura no centro espírita e quase é hostilizada por estar com a esposa do senhorzinho, mas tudo é construído em uma visão artística.


A cena final do filme é artística e confirma as suspeitas de que "zumbi" é uma metáfora de sair da casa grande que enlouquece qualquer um. O rapaz chega na casa da moça e novamente mal tratado pelo dona da casa que finalmente mostra suas cores verdadeiras e carrega a esposa que queria fugir dele para o mar, e se ela já não estava morta de antes, confirma a sua morte, ele mergulha com ela para simbolizar a perda de sua noção de mando que se estende do território (onde todos odeiam ele por sua origem pomposa) ao falho casamento. 


Quando a enfermeira tira uma folga, ela toma um café na rua com o outro médico amigo da família e sabe mais do "passado" que deixou a esposa de cama. O que ficou parecendo na cena da briga dos dois homens é que a esposa tentava se desvencilhar do controle do marido e que um dia ela não conseguiu mais fazer isso. Vale pensar que a mesma vontade curar a esposa dele da enfermeira é a vontade de que "tudo dê certo", mostrando que o interesse romântico aqui não é real, ele é platônico e óbvio. Se a enfermeira fosse uma mulher mais burra se envolveria diretamente com o cara e substituiria a esposa e viraria ela mesma a zumbi. 


Betsy quer curar a esposa doente do homem que está apaixonada, o que é ato de benevolência, como evidenciado até por ele mesmo. Mas é muito, muito mais do que isso. Ela quer curar a esposa a todo custo, pois como ela é uma mulher inteligente sabe que no minuto que ela substituir a esposa, ela se tornará o zumbi. 


Aqui zumbi é a metáfora do controle externo, da visão do "outro" macabro, dos medos e pânicos morais, dos fantasmas de repressão sexual vitorianos (como em O Nascimento de uma Nação) que permitiam a forma "normal" como é concebida a vida em sociedade e permitiam um certo "senso comum" do pensamento extremamente racista, e claro que o cinema também obedecia esse recorte, pois as plateias, temas e agendas eram de quase total exclusividade dos brancos, com exceção de um Oscar Micheoux. 


Essa semiótica é confirmada na parte que usam vodu com a boneca que nos remente ao rito de bonecas de vodu, quase como se com isso falasse que é óbvia a "carga espiritual negativa" em cima da esposa morta-viva do cara. Glauber Rocha parece muito influenciado por filmes como esse, basta lembrar da beleza de seu primeiro filme Barravento (1962),que também abordava a religião africana de terra, só que de pescadores.  


No minuto que ela substituir a esposa e as regras de "ficar em casa o tempo todo" do casamento vão fazer ela progressivamente se tornar um zumbi, o mesmo ocorre com Carrefour, um guarda da plantação (trabalhador laboral que antes foi feito escravo), e que agora era um "zumbi", ou seja, julgado como outro, inferior ou menor, mas exatamente como a esposa do dono da plantação e a maldade semiótica toda do filme está em interpretar o roteiro como uma dimensão poética. 


Quando o "zumbi" chega na casa, ele parece querer levar a esposa do dele, o que ele não deixou, preferiu "matar" a esposa de novo. A metáfora de ser zumbi é que te joga no questionamento, se é zumbi, está morta. O morto vivo mais famoso da história é o Frankenstein, inspirado no livro de Mary Shelley. Mas muito antes disso, no Brasil, por exemplo, tivemos o nome do guerreiro Zumbi dos Palmares (Nazambi), associando o nome com o movimento negro. 


No filme, obviamente a lenda dos zumbis está explicada junto com a religião de terra ligada ao povo local. E isso tudo parecia como uma lição a jovem que estava viajando e gostando do "vento quente em sua cara", quando já avisada no barco sobre a expectativa ser melhor do que a realidade, já que ele conhece muito do local por ser da família que está lá desde o início do colonização inglesa.  



O cantor de música popular conta a vergonhosa história da família de Holland no dia de folga da enfermeira, isso incomoda eles, porém a cena é impagável, já que dá pra ver o cantor escrevendo a história em tempo real criticando as associações simbológicas e as famílias da elite local. 



O filme é vagamente baseado em um artigo homônimo de Inez Wallace, e também reinterpreta parcialmente a história de Jane Eyre de Charlotte Brontë. O filme é considerado um clássico do gênero terror e tem sido elogiado por sua cinematografia, música e performances atmosféricas.


A atriz que interpretou a Betsy Connell (Frances Dee), era muito famosa nos anos 1930-40. Ela é contratada para cuidar da esposa do dono da plantação de açúcar em Antígua, na Ilha Caribenha de Saint Sebastian,  mas acaba se apaixonando pelo marido da senhora que deveria cuidar, a esposa de Paul Holland (que é da família escravocrata que primeiro fez escravos na região), isso explica o conflito dos locais com eles, sem esse elemento caímos na armadilha da visão de "orientalismo" . 




Ele tem uma esposa Jessica, que tem uma doença rara que faz ela ficar em estado de zumbi durante parte do dia. Para tentar salvar ela eles recorrem a um ritual de vudu, o tratamento experimental não soluciona e assim perde o carinho e o coração de Paul. A esposa tem o que a enfermeira chama para ele de "doença mental". 



As metáforas de machismo e colonialismo são perfeitamente exploradas no filme de maneira muito lírica e poética. O senhor explica para ela que para onde ela vai, ela vai encarar uma realidade onde feitiçaria seria costume local, ele pergunta se sabe sobre isso, e ela ri e desconversa não entendendo o motivo do comentário do senhor. 


No barco, ao caminho do lugar, o vento morno acalmava e encantava a jovem, que é alertada por um companheiro de viagem no barco sobre o carácter "maligno" que o lugar teria. Ou seja, aqui é debatido a perspectiva culturalista de quem nunca foi, para a postura preconceituosa e racista de quem já foi e diz que "sabe do que está falando". A enfermeira pergunta o que é um zumbi e o médico responde explicando que é um morto vivo, como também uma bebida típica.



História e produção do filme


Os executivos da RKO, e não o produtor Val Lewton, escolheram o título do filme, que foi retirado de um artigo de mesmo nome escrito por Inez Wallace para a American Weekly Magazine. Considerando que o artigo detalhava a experiência de Wallace conhecendo "zumbis", com o que ela se referia não aos mortos-vivos literais, mas sim às pessoas que ela encontrou trabalhando em uma plantação no Haiti, cujas cordas vocais e habilidades cognitivas foram prejudicadas pelo trabalho bruto e constante e o uso de drogas, tornando-as eles servos obedientes que entendiam e seguiam ordens simples.


Wallace foi uma "repórter itinerante" e colunista de entretenimento do Cleveland Plain Dealer de 1920 a 1950. Ela escreveu reportagens para revistas e contos, e foi colunista de fofocas em Hollywood que entrevistou várias estrelas. Ela foi publicada na Collier's This Week e na American Weekly Magazine , esta última da qual sua história "I Walked with a Zombie" foi adaptada para o filme I Walked with a Zombie (1943). 


Wallace escreveu um romance, Shadows in Paradise, sobre a vida de Hollywood. Ela também produziu seu próprio filme, Fate's Daughter , e deu palestras em cinemas sobre a indústria cinematográfica.


Lewton perguntou aos roteiristas Curt Siodmak e Ardel Wraypara pesquisar as práticas do vodu haitiano e usar Jane Eyre de Charlotte Brontë como modelo para a estrutura narrativa,  supostamente proclamando que queria fazer uma "versão das Índias Ocidentais de Jane Eyre ". 


O rascunho inicial de Siodmak, que foi significativamente revisado por Wray e Lewton, girava em torno da esposa de um proprietário de plantação que se transforma em zumbi para evitar que ela o deixe e se mude para Paris


Anna Lee foi originalmente escalada para o papel desempenhado por Frances Dee, mas teve que desistir devido a outro compromisso. Dee recebeu US$ 6.000 por sua atuação no filme, e Darby Jones foi pago, com base em seu salário semanal de contrato de US$ 450, US$ 75 por dia, totalizando US$ 225 por seus três dias de trabalho. Dois anos depois de sua aparição como Carrefour em I Walked with a Zombie, Jones desempenhou um papel semelhante ao do zumbi Kolaga na comédia de terror de 1945, Zombies on Broadway.


A fotografia principal do filme, que Wray descreveu como tendo sido filmado com um "orçamento apertado", começou em 26 de outubro de 1942, e foi concluída menos de um mês depois, em 19 de novembro .


O historiador e autor Alexander Nemerov afirmou que I Walked with a Zombie usa a quietude como uma metáfora para a escravidão "de maneiras que se centram no Carre-Four", que, como Ti-Misery, "a figura de proa do navio negreiro, é uma figura estática e figura insensível". Ele escreveu que o personagem personifica uma ligação entre a escravidão e o conceito de zumbis, citando o antropólogo Wade Davis, que disse: "Os zumbis não falam, não podem se defender sozinhos, nem sabem seus nomes. Seu destino é a escravidão." 


Em 1983, Davis apresentou pela primeira vez sua hipótese de que o envenenamento por tetrodotoxina (TTX) poderia explicar a existência de zumbis haitianos. Esta ideia tem sido controversa e o seu livro seguinte de 1985 (A Serpente e o Arco-Íris), que elabora esta afirmação, foi criticado por conter imprecisões científicas. Uma delas é a sugestão de que os feiticeiros haitianos podem manter os "zumbis" em estado de transe induzido farmacologicamente por muitos anos. 


Como parte de suas investigações no Haiti, Davis encomendou a exumação de uma criança recentemente enterrada. (Supõe-se que o tecido humano morto faça parte do "pó de zumbi" usado pelos feiticeiros para produzir zumbis.) Isso foi criticado como uma violação da ética.


A crítica estritamente científica ao projeto zumbi de Davis concentrou-se nas afirmações sobre a composição química do "pó zumbi". Várias amostras do pó foram analisadas quanto aos níveis de TTX por especialistas em 1986. 


A bioquímica Jessika Jake observou que o bromismo também pode estar em jogo aqui. No relato de sua libertação, Clairvius Narcisse relatou que a esposa do senhor alimentou os escravizados com sal e os libertou. A administração de NaCl ajuda o corpo a excretar brometo e, portanto, é um tratamento conhecido para o bromismo. Os sintomas de bromismo incluem estupor, fala arrastada, marcha anormal e outros sintomas descritos no folclore zumbi (como "comportamento [que] pode se tornar violento, especialmente à noite", erupções cutâneas e pupilas dilatadas). Devem ser feitas investigações adicionais sobre a fonte do brometo, que pode ser tão simples quanto o uso de sais de brometo no preparo de alimentos para os escravizados.


O livro de Wade Davis, A Serpente e o Arco-Iris, foi adaptado para o cinema em 1988, por Wes Craven (Hora do Pesadelo, Pânico), em "A Maldição dos Mortos Vivos", que no inglês tem o título de "The Serpent and the Rainbow".


Numerov acrescentou que o Carrefour "sugere a subjugação violenta e o poder emergente dos negros" durante a Segunda Guerra Mundial, chamando o personagem de "um retrato simultâneo de força e vitimização", e caracterizou o retrato de Darby Jones como uma "presença monumental [...] dominante na tela" que, no contexto da guerra e do americano A campanha Double V , "igualou as atuações de atores negros muito mais famosos na representação de uma presunção carregada: o homem negro sozinho".


Numerov afirmou que tanto o Carrefour quanto o Ti-Misery "evocam o linchamento de um homem negro", apontando para a cena final do filme, que é de Ti-Misery, estabelecendo particularmente a figura de proa como uma imagem que lembra o linchamento. 


Sobre a narração da cena final, que é a única narração do filme não falada por Betsy, ele escreveu que a frase "tenha pena dos que estão mortos e deseje paz e felicidade aos vivos" é "destinada a abranger os personagens brancos [...] Mas a decisão de terminar com a escultura de Ti Misery e a voz do homem negro direciona esses sentimentos de volta para 'a miséria e a dor da escravidão'. " 


Como o filme foi lançado durante Segunda Guerra Mundial, Nemerov disse que "as palavras e a imagem finais do filme implicavam um reconhecimento da injustiça em "casa" (no próprio país), ao estilo Willkie". 


O escritor Lee Mandelo caracterizou Ti-Misery como uma representação simbólica de "brutalidade e sofrimento intenso".  Ele lamentou que o arco temático inicial do filme, que ele escreveu fez "algumas tentativas para um comentário mais sensível", foi "invertido para discutir a 'escravidão' da bela mulher branca, Jessica, que foi feita um zumbi ou é um catatônico em movimento", dizendo que foi "indutor de vacilação, pois pega o sofrimento da população negra da ilha e o entrega a uma mulher branca".


Tanto Nemerov quanto Mandelo discutiram as referências do filme aos moradores de São Sebastião, devido à história de escravidão da ilha, ainda chorando no nascimento dos filhos e rindo nos funerais. Mandelo chamou isso de “uma tradição cultural que vem de uma vida sem liberdade”. 


O escritor Jim Vorel afirmou que "Embora o cenário do filme seja uma ilha pós-escravidão de São Sebastião, os constantes motivos visuais de escravidão e servidão do filme nunca permitem que o espectador esqueça os horrores de seu passado não tão distante." Sobre o Carrefour, o escritor Vikram Murthi afirmou que "Não é seu rosto que perturba, mas sim a história sob seu rosto. Não é de admirar que nem os Hollands nem Betsy mal suportem olhar para ele; ele reflete a corrosão de seus alma coletiva."


Vorel argumentou que o filme aborda as crenças associadas às religiões da diáspora africana , particularmente o vodu haitiano , de uma maneira mais ponderada do que filmes anteriores como White Zombie (1932). Ele escreveu que I Walked with a Zombie "não apenas os retrata com surpreendente precisão e dignidade, mas considera como essas crenças poderiam ser cooptadas pelo homem branco como mais um elemento de controle sobre o vida dos habitantes da ilha."


Nemerov comparou o cenário do houmfort , com seus participantes negros e apresentações musicais, a uma boate do Harlem e notou a representação do filme de uma performance da canção do vodu haitiano "O Legba", fornecida ao filme pelo folclorista Leroy Antoine, como evidência da pesquisa realizada pelos cineastas. 


Além disso, ele escreveu que quando Alma instrui Betsy sobre como chegar ao houmfort , "sua descrição de Carre-Four como um 'deus' soa quase como 'guarda', e as duas palavras se combinam não apenas para definir seu papel no vodu , guardião da encruzilhada, mas também para afirmar a importância da sua trivialidade: como o porteiro de uma boate de verdade.


O pesquisador de vodu haitiano Laënnec Hurbon sentiu que "o diretor exibiu o vodu haitiano como uma série de práticas bizarras, entre elas a capacidade dos feiticeiros de matar pessoas e depois reanimá-las em um estado de morte em vida. A ideia floresceu". 


Assista ao filme aqui



 



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