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1492: A Conquista do Paraíso (1992): Épico histórico de Ridley Scott retrata "descoberta do Novo Mundo" e as contradições da figura de Colombo



"1492: A Conquista do Paraíso". Dirigido e produzido por Ridley Scott e estrelado por Gérard Depardieu, Armand Assante e Sigourney Weaver. Retrata uma versão das viagens até a América do explorador italiano Cristóvão Colombo. Colombo marcou seu nome na História da humanidade, quando partiu da Espanha com as três caravelas: la Pinta, la Niña y la Santa María. Colombo chegou em diversas regiões, mas a primeira foi a Ilha de Guanahani (depois nomeada de San Salvador). Ele também chegou em locais da América Central, Bahamas e Cuba 


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Sempre quando vemos um filme de história, para quem estuda ou estudou história, é um desafio. A maioria dos filmes não possui aquela qualidade de ambientação e muito anacronismo é feito. Muitas da vezes, até mesmo o anacronismo pode ensinar algo, sobre valores sobrepujados, mas muita das vezes acaba acostumando o senso comum com concepções históricas deturpados. 


Colombo que era genovês (um local da Península itálica da época), vemos um Colombo interpretado por um ator loiro e francês, para o americano, talvez não importa isso, mas estraga um pouco o filme para quem é da audiência europeia. Esse filme me lembra as teorias clássicas de centro da academia, em locais universitários como Columbia.


A maior exemplo disso na historiografia é o debate sobre inquisição, para o povo, e também é retratado no filme assim, a inquisição já existia desde a Idade Média, no período do mercantilismo, faz sentido já ter esse tipo de expediente em termos de autoridade real, mas na realidade, não foi a inquisição (esse erro é clássico, já que a inquisição é um fruto do refinamento moderno do aparelho de burocracias e tribunais, que data mais do século XVI XVII e XVIII do que da Idade Média (como é sempre retratado nos filmes). 



Ele teria sido preso por guardas reais por não aceitar que perderia a concessão das terras que a monarquia hispânica deu provisoriamente para Colombo. Colombo no filme foi acusado de ser retratado como um nobre visionário explorador que respeita os nativos e é contra a escravidão, ou que pelo menos, relaciona escravidão com relação ou aculturação. Claro, que os reis da época queriam a terra para o país, não importava o "aventureiro" que teria que ir lá antes. Essa ideia de chegar e desbravar é uma constante na história humana. 


Os primeiros seriam esses "lançados" na África e na América, nos novos territórios desconhecidos pela maioria dos europeus, depois veio o desbravamento do oeste, nos EUA e no Brasil também houve fenômenos similares. Ou mesmo tem a mesma vertente na história moderna, com a ideia de "ir a lua pela primeira vez" e a corrida espacial. Basicamente, existe todo o fundo filosófico que sustenta o argumento de conquista, mas temos que colocar cada coisa em seu lugar. 


Os homens que chegaram ao novo mundo eram homens degradados (expulsos da sociedade), ex prisioneiros, alguns padres que registravam tudo e enviavam cartas para a família real avisando do andamento da expedição que contava com dinheiro dos reis sob a promessa de ouro e prata. 



O filme cria então um tropo narrativo, um homem vilão chamado Adrián de Moxica, que lidera uma rebelião contra a autoridade de Colombo, na verdade, uma forma do filme simbolizar que as melhores intensões históricas são carregadas por grandes decepções. 



A aventura dos naturalistas e navegantes se torna aos poucos em um sofisticado arquipélago que aos poucos transferiu os ideais de burocracia hispânica para esses homens, que inicialmente, tiveram a tarefa de "descoberta da terra" (na verdade, apenas sabiam usar os equipamentos de orientação de longitude e latitude), o filme é polêmico por comparar essa tarefa "patrocinada pela elite (nobres)" com uma tarefa universitária, onde Colombo foi ver o debate sobre a terra ser redonda ou não. Outra coisa interessante mostrada no filme é a reação de Colombo quando soube sobre a descoberta da América do Norte, que ele havia afirmado existir pelos seus cálculos de navegação.



Esse personagem que lidera uma rebelião contra Colombo simboliza esse tropo que simboliza a transferência de poder, da visão naturalista e aventureira próxima de Marco Polo, se torna então pessimista, e a estrutura dos governos reais das províncias é criada aos poucos se transformando aos poucos depois na estrutura dos Cabildos, locais de administração pública das colônias. 


"Ciente de que o mundo é redondo, Cristóvão Colombo faz lobby para uma viagem para o oeste, para a Ásia, mas carecia de tripulação e navio. Os teólogos católicos da Universidade de Salamanca desaprovam fortemente o plano de Colombo, não gostando de ideias que vão contra os escritos de Ptolomeu (de que a terra seria redonda). Colombo é abordado por Martín Pinzón, armador de Palos, que o apresenta ao banqueiro Santángel, a quem a rainha Isabella I devia dinheiro. Colombo se encontra com a rainha, que lhe concede sua viagem em troca de sua promessa de trazer de volta quantidades suficientes de riquezas em ouro.


Colombo engana muitos tripulantes, dizendo-lhes que a viagem durará apenas sete semanas. Três navios partem. Nove semanas se passam sem sinal de terra. A tripulação fica inquieta e se aproxima de um motim. Ele tenta revigorá-los com um discurso inspirador, coincidindo com um vento forte, que incita os homens a retornarem às suas funções. À noite, Colombo percebe mosquitos no convés, indicando que a terra não está longe. De repente, em meio à névoa, eles avistam a vegetação exuberante e as praias arenosas de Guanahani.



Os europeus fazem amizade com os nativos locais, que lhes mostram o ouro que coletaram. Colombo ensina espanhol a um deles para que possam se comunicar. Ele então os informa que retornará à Espanha, ao que se seguirá a chegada de muitos outros europeus. Colombo deixa para trás um grupo para iniciar a colonização das Américas. De volta à Espanha, ele recebe uma grande homenagem da rainha e janta com o conselho. 


Eles expressam desapontamento com a pequena quantidade de ouro que ele trouxe, mas a rainha aprova seus presentes. Na segunda expedição, Colombo leva 17 navios e mais de 1.000 homens com ele para a ilha; no entanto, todos os tripulantes deixados para trás foram mortos. Quando a tribo é confrontada por Colombo e suas tropas, eles contam a ele que outra tribo veio e os matou. Colombo decide acreditar neles, mas seu comandante Moxica não está convencido. Eles começam a construir a cidade de La Isabela e, eventualmente, conseguem içar o sino da cidade em sua torre.


Quatro anos depois, os nativos estão sendo forçados a minerar ouro. Moxica pune quem não encontra ouro cortando-lhe a mão. A notícia desse ato de violência se espalha pelas tribos nativas e todos desaparecem na floresta. Columbus começa a se preocupar com uma guerra potencial, com os nativos superando-os em número. Ao voltar para casa, encontra sua casa incendiada por Moxica e seus seguidores, confirmando sua impopularidade entre uma certa facção dos colonos. Logo, as tribos chegam para lutar contra os espanhóis e a ilha fica devastada pela guerra, com o governo de Colombo sendo retribuído com ordens para que ele volte para a Espanha.


Colombo é acusado de nepotismo e de oferecimento de cargos administrativos a amigos pessoais, ferindo assim o orgulho de nobres como Moxica; ele é substituído por de Bobadilla. Colombo retorna a Castela para ser preso, mas é resgatado por seus filhos. Quando ele é convocado pela rainha, ela é relutantemente convencida a permitir que ele faça outra viagem, com a condição de que ele não leve seus irmãos nem volte para as colônias. Já velho, Colombo está praticamente esquecido na Espanha, sendo a descoberta do Novo Mundo creditada a Américo Vespúcio. O filho de Colombo, Ferdinand, pede ao pai que lhe conte sua história para que ele possa transcrevê-la."





História por trás do filme


O filme foi lançado para comemorar o 500º aniversário da viagem de Colombo. A estreia estreou menos de dois meses depois de Christopher Columbus: The Discovery de John Glen, muitas vezes levando a confusão entre os dois filmes. O filme recebeu críticas negativas, com críticas específicas voltadas para as imprecisões históricas do filme. Isso aconteceu porque o filme focou em traduzir os ideias de "homem comum" e de trabalhador para um conquistador, nessa ideia de confundir o colonizador com o o conquistador. A música do filme foi composta do Vangelis, um músico grego, que já havia trabalhado com Ridley Scott em Blade Runner. 


Isso pode ter irritado a academia que prefere atingir esse tema com um revisionismo tão nocivo quanto a visão saudosista pró colonização como um "desbravamento". Ou seja, as crítica do filme tem em parcela razão, mas em parte não, já que o filme não tem muitas discrepâncias históricas, além do erro sobre inquisição.

Em termos de historiografia, aborda muitos dos debates desde a concepção do ensino médio, para um grande público, e também alguns debates mais direto das universidades. Pensando se eu recomendo o filme, esse é aquele filme para passar para quem não sabe muito do tema e quer se familiarizar com os principais debates sobre o debate e torno da "descoberta" ou não, em relação aos aspectos que romanceavam uma relação extremamente opressiva, como também pode ser um reflexo de como os europeus estavam loucos para abandonar a Europa, ou que a própria história das chamadas "descobertas" era a história da tentativa de descobrindo novas mundos porque o antigo era muito ruim. 


Esse é com certeza um filme praticamente saída de Columbia (universidade), e dita um tipo de história mais tradicional que caiu em desuso por conta das polêmicas em torno de Colombo e do que significava a chegada na América. Recomendo o filme sim, sendo um ótimo início de debates em torno da questão da chegada dos europeus na América e todas as contradições óbvias inerentes ao tema. Apesar de todas as críticas que podemos ter ao modelo clássico, é um bom ângulo de início para uma questão que pode ser infinda e muito complexa se mensurarmos todos os ângulos possíveis. 



Comentários

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