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Laranja Mecânica (1971): Revelando o verdadeiro final cortado por Kubrick e outras diferenças do livro para o filme que retratam a violência oculta da sociedade


Em uma Grã-Bretanha futurista, Alex DeLarge é o líder de uma gangue. Apesar de ainda frequentarem a escola pela manhã, todas as noites, depois de se embriagarem com leite carregado de drogas, eles atacam violentamente pessoas nas ruas e se envolvem em brigas com outras gangues que possuem o mesmo tipo de comportamento. Mas um dia, tudo sai do controle e Alex é confrontado com a outra face da sociedade


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Esse é mais um dos filmes que além de ter assistido diversas vezes, também tive a oportunidade de ler o livro, escrito por Anthony Burgess. Por isso, já vale destacar que há muitas diferentes interessantes do livro para o filme, principalmente em relação ao final e conclusão da história, onde o livro vai bem além em estabelecer um final bem detalhado e realista e o filme faz uma síntese do final, que após ler o livro passei achar questionável.


Kubrick era um grande diretor, um dos principais quando se fala em direção. Seus filmes sempre são muito visuais, buscando elementos estéticos em suas obras. Ele não tirou isso do nada. Kubrick era profundo espectador do cinema do leste europeu, como Tchecoslováquia, e do cinema soviético. Por isso essa forte presença da estética da propaganda em seus filmes. 

Só que acredito que sua proposta estética foi um pouco além em Laranja Mecânica, sendo o único filme de Kubrick que é mais estético do que preocupado em passar uma mensagem em si. 


Isso gerou um fenômeno interessante em torno de Laranja Mecânica: O filme que buscava criticar pessoas como Alex, atraiu pessoas que se identificavam com ele. Alex De Large se tornou símbolo para muitos de transgressão juvenil, alguém a se admirar e imitar, quando a proposta do livro é do filme, este último com mais ironia, é apresentar de maneira crítica um personagem que por mais carismático, é totalmente corrompido. 


Uma concepção que está explicada no livro e no filme está apenas implícito, é que Laranja Mecânica se passa em futuro distópico. Kubrick deve ter suprimido isso da trama por orçamento. Mas o principal traço disso na trama: o uso das palavras neologistas que misturam o russo soviético e o inglês. Para Burgess isso é usado como uma indício de um cenário onde a guerra fria atingiu um nível onde as culturas se misturaram, gerando uma nova geração que faz daquilo uma estética em sua cultura de rua. 


Nesse cenário distópico, gangues de rua de jovens disputam cada rua. Nesse espectro, na corrida por reputação de ser a gangue mais violenta, eles cometem todo tipo de atrocidade, como roubo, linchamento e estupro, apenas pelo poder e controle territorial. 


No meio disso tudo temo Alex DeLarge. Ele é apenas um garoto de, se não me engano, 16 anos, que mora com os pais. Seus pais são dois trabalhadores, que com muito esforço conseguiram atingir o patamar de uma família de classe média. O livro deixa mais claro que o filme que as condições financeiras apesar de instável é insipiente. 


Burgess descreve um cenário futurista, onde as pessoas são obrigadas a trabalhar ao extremo, em empregos inúteis e não produtivos; para ganhar o mínimo para sobreviver. Qualquer coisa menos que isso te torna um párea. 


Isso nos leva a um elemento que, por sua vez, foi bem representado por Kubrick: Os espaços comuns e públicos ficaram completamente abandonados. As ruas, sujas e largadas, as recepções dos prédios, depredadas. Isso porque fica implícito que as pessoas não possuem vida pessoal, só vivem a rotina como cães. 


Nesse cenário, Alex é um garoto privilegiado. Ele tem a oportunidade de estudar, tem o que comer em casa e isso não é um problema em si, o problema é que ele não reconhece a estrutura onde está.

Os drugs de Alex expressam descontentamento com pequenos crimes e querem mais igualdade e roubos de alto rendimento, mas Alex afirma sua autoridade atacando-os. Mais tarde, Alex invade a casa de uma rica "mulher-gato" e a espanca com uma escultura fálica enquanto seus colegas permanecem do lado de fora. Ao ouvir sirenes, Alex tenta fugir, mas Dim quebra uma garrafa em seu rosto, atordoando Alex e deixando-o para ser preso. 


Com Alex sob custódia, Deltoid regozija-se com a morte da mulher dos gatos, fazendo de Alex um assassino. Ele é condenado a quatorze anos de prisão.


Na cadeia, apesar do esperado Alex se adapta: ele tem o nivel de cinismo necessário para esse tipo de lugar. Ele justamente por isso se aproxima da religião e fica amigo do cardial da prisão.


Após dois anos de sentença, Alex aceita ansiosamente uma oferta para ser uma cobaia para a nova técnica Ludovico do Ministro do Interior, uma terapia experimental de aversão a violência para reabilitar criminosos dentro de duas semanas. 

É aí que vem o ápice do filme, quando Alex é amarrado em uma cadeira, seus olhos estão presos para que fiquem abertos e ele está injetado com drogas. Ele é então forçado a assistir a filmes de sexo e violência, alguns dos quais acompanhados pela música de seu compositor favorito, Ludwig van Beethoven. Alex fica nauseado com os filmes e, temendo que a técnica o deixasse doente ao ouvir Beethoven, implora o fim do tratamento. Era tarde demais: Além da aversão a violência, criou aversão ao seu músico favorito.


Aqui obviamente é uma metáfora de que a violência é algo cultural: não há como retirá-la sem mexer na cultura da pessoa ou pelo menos adaptá-la. 

 

E aí o filme passa por uma grande virada. Alex que era um ser detestável, passa a agir como cachorrinho. Então ele consegue ser solto, afinal ele além de trabalhar com o padre da prisão, está completamente controlado. 


Aqui o filme muda seu tom. Ele revisita os principais locais e ideias do inicio do filme. Mas aquela aura psicodélica, aquele furor, estão esvaziados. Isso vai para além da narrativa: o filme tem outra estética, como acordar para trabalhar depois de uma noite de pesadelo. 


Primeiro, Alex vai a casa de seus pais. Entretanto, eles agora alugaram o quarto dele para um cara estranho. Só que a relação não é apenas de inquilino: o cara está tomando café da manhã na mesa como se fosse o verdadeiro filho. Essa cena é sempre muito dupla para mim. Por um lado, somos levado pelo lado narrativo a ter pena de Alex, porém se vc lembra das atrocidades cometidas por Alex na primeira parte do filme, essa sensação de pena se torna mais cínica. Então se a ideia aqui não é ter pena, qual o motivo dessa cena? Para termos uma outra visão dos pais de Alex. 


Olhando pelo ângulo diferente de Alex e da parte inicial do filme, os pais de Alex, apesar de pessoas que aceitaram completamente o sistema, não são "maus". Eles podem não ser pais tão atenciosos, mas quem quer pais que ficam pegando no seu pé? Foi Alex que não soube aproveitar. Ele tinha tudo que precisava mas nunca estava satisfeito. Até aí tudo bem, apenas um garoto. Mas ele ainda por cima usava essa estrutura dada por seus pais para atacar e prejudicar pessoas violentamente nas ruas.

Agora, por outro lado, pelo ponto de vista da estrutura há uma critica significativa a como o dinheiro subverte todas as relações. É possível até comprar uma família para você.


Depois, ele anda pelas ruas sem rumo, frustrado e nada parece mais como antes. O detalhe é que isso é bom. A cidade que Alex curtia parecia abandonada, obscura, sem políticas públicas. Agora que as coisas parecem estar um pouco melhor para todos, isso parece um pesadelo para ele.


Então, Alex está passando pelo parque e cruza por acaso com um dos sem teto que havia espancado outrora. O morador de rua o reconhece e chama alguns colegas que começam a espancar Alex. Ele só é salvo porque dois policiais estavam passando por ali. Entretanto, para a surpresa de Alex os policiais eram seus antigos companheiros de arruaças, os seus queridos Drugs. 


Aqui é a parte mais sinistra de toda trama, pois se por um lado não sentíamos pena de Alex, ao ver que seus colegas, que eram tão depravados e maus quanto ele (até mais talvez), "venceram na vida", esta sociedade não pode ser realmente "boa" ou "normal". Se bobear, Alex se tornaria policial também se não fosse preso. 


Outro detalhe é que aqui o livro e o filme divergem. Em ambos, os drugs botam Alex na viatura, o levam para longe da cidade e espancam ele. Porém, enquanto no filme fica por aí mesmo, no livro eles abusam sexualmente de Alex. 

Por fim, ele passa pela casa do escritor que ele invadiu. Obviamente o escritor o reconhece. Um detalhe que sempre me chama atenção é que sua mulher, que foi atacada junto com ele anos antes não está mais lá. Se não lembro errado, o livro afirma que a moça se matou depois do ocorrido. O filme não explica nada, apenas coloca um guarda-costas em seu lugar. Ele decide prender Alex e se vingar dele. Não fica claro exatamente o que ele queria fazer com Alex. Como ele havia trancado Alex no sótão e ligou o som alto, imagino que ele buscava deixar Alex lá até ele morrer de fome. De qualquer maneira, fica tudo implícito e não lembro ao certo se o escritor sabia ou não que Alex sofria ao ouvir a música de Beethoven. O certo que ao ouvir aquela que já foi sua sinfonia favorita, a tortura é tão grande para Alex que ele prefere se jogar da janela.


Aqui, já indo para o final da trama, temos a cena onde o Ministro da Segurança Pública vem visitar Alex no hospital. Como perdão do Estado, o tratamento feito em Alex foi revertido, e os testes psicológicos descobrem que ele não tem mais aversão à violência e ao sexo. O Ministro chega e pede desculpas, dizendo que o governo vai ajudar ele a retomar sua vida (desde que ele não comunique tudo aos jornais, é claro). Ele se oferece para cuidar de Alex e conseguir um emprego para ele em troca de sua cooperação com a campanha eleitoral. O Ministro traz um aparelho de som tocando a Nona Sinfonia de Beethoven. Na cena final, Alex contempla imagens mentais da violência e pensa em fazer sexo com uma mulher na frente de uma plateia que aprova. Ou seja, ele não só não se curou como regozija com a ideia de cometer a violência novamente, onde com certeza para Kubrick ele vai continuar cometendo todas as atrocidades do mundo. E aqui é onde acaba o filme. 


Porém o livro tem um epílogo que é bem diferente do filme. Aqui, vemos Alex muito tempo depois. Ele realmente foi "curado" do tratamento Ludovico, e por mais que ele possa voltar a fazer suas maldades, ele não tem mais vontade. Aquilo tudo perdeu a graça para ele, como se fossem coisas da juventude. Ele se tornou um cidadão comum, igual seus pais eram. Eu considero esse final melhor que o do filme, pois aqui temos uma resposta do por qual motivo a sociedade de Laranja Mecânica parece tão permissiva e violenta, o motivo de tudo parecer estranho nas relações e até o motivo de dos drugs terem se tornado policiais: Aquilo tudo é normal para a sociedade em questão pois já aconteceu várias vezes, com várias pessoas diferentes. Alex não é especial, não é uma vítima, não é um sobrevivente nem um herói. Ele é igual todo mundo, uma sociedade violenta que escamoteia sua violência e seus crimes, fingindo viver sua aparência do "cidadão de bem". 

Isso faz pensar quem mais não teria passado por aquilo tudo. Eu acredito que os pais de Alex passaram pela mesma coisa, uma vez que eles parecem não se importar com nada. São apáticos tanto a coisas positivas como negativas. Sabem da vertente violenta do filho, mas não estão nem aí pois sabem que a sociedade irá o corrigir de qualquer maneira.


Já o final de Kubrick, apesar de parecer mais incisivo, é simples e confuso demais. Dá leve impressão quer Kubrick está dizendo que o mal sempre vence, mas ao mesmo tempo que ele gosta disso. E se tratando de Kubrick, sabemos que ele não possui os finais de filme mais populares, sendo bem criticado pela forma como escolhe encerrar a maior parte de seus filmes. 


Para concluir, preciso dizer que reassistindo esse filme hoje em dia ele impressiona bem menos. Quando se assiste esse filme, principalmente quando se é jovem e com poucos filmes assistido, ele parece chocante, impressionante. Mas revendo mais experiente, ele parece feito para chocar. Nos tempos atuais, diriam que é um filme "lacrador", que tem cenas desnecessárias demais para a trama. Apenas pelo fato de Kubrick querer chocar a sociedade da época. 


Não estou dizendo que o filme é ruim, longe disso. Apenas que para um filme que adapta um livro, Laranja Mecânica é visual demais. Aqui inclusive está sua genialidade: em sua direção, em sua estética e interpretação. O filme tem cenas marcadas por luzes e cores que são difíceis de esquecer. Como a cena onde Alex e os Drugs chegam para implicar com o morador de rua e a luz ao fundo marca a silhueta deles de maneira sombria. Sentimos desde o início uma sensação de que algo ruim vai acontecer por causa da luz. Ou na cena onde Alex encara a câmera após tomar seu leite batizado, e Malcolm McDowell atuando genialmente encara a câmera como se nos encarasse. Seu olhar denota um misto de terror e zombaria, na medida que está parece perdido, chapado. 

As alegorias visuais utilizadas em diversas partes do filme, como montagens de fundo, objetos de decoração e os figurinos são todos muito bem feitos. Até as cenas mais pesadas do filme, onde há nudez e violência explícita, são bem feitas apesar de carregarem aquela estética de falso snuff típica do Kubrick. 


O grande problema de Laranja Mecânica está em sua mensagem, em sua moral. No final, o filme parece viver daquilo que critica. Passa toda sua sua duração estabelecendo a diferença do ponto de vista do protagonista, para no final flertar com suas perspectiva, uma vez que todo "acontecimento" do filme vem de suas ações. E no final, apesar de não acreditar na remissão de Alex, não entrega nada para além do que Alex entregou com sua violência ao longo do filme. Acho que podemos dizer que McDowell roubou o filme para si, e Kubrick gostou disso.

Kubrick que era um diretor exigente, e costumava até dizer que os atores eram gado, aqui foi driblado pelo seu protagonista e no final acho que era melhor assim. O carisma de McDowell é tão grande como Alex que ele rouba o filme para si. Conseguimos sentir simpatia e repulsa por Alex devido a essa rica interpretação. Acredito que Kubrick percebeu que isso era mais forte que o próprio final do livro e optou por dar ênfase a esses elementos audiovisuais mais do que a narrativa do filme.

Assim o filme atira para os dois lados: por um lado, como o autor do livro, questiona os rumos da nossa sociedade através da delinquência, principalmente juvenil, pensando a violência latente da sociedade não através da revolta, mas de sua passividade, sua complacência. Entretanto, por outro lado, questiona como as estruturas e as instituições moldam as pessoas. Em Laranja Mecânica o dinheiro rege todos os personagens, os bons e os maus. Mas não o dinheiro pelo dinheiro, mas sim o poder que o dinheiro pode te dar, sendo isso traduzido em todas as formas de perversões. Aí, vendo essa suposta inércia da sociedade, as instituições tentam agir e pioram tudo. O tratamento, a ressocialização é tão total, extrema, que por sua vez se cria um novo tipo de dano para a sociedade e para o Estado. Alex se torna tão inofensivo que não suporta a violência da normalidade, da rotina e suas exigências impostas as pessoas comuns. 


Aqui temos claramente a teoria do risco do estado representada. Ou seja, o princípio jurídico que responsabiliza o Estado por danos causados a cidadãos em decorrência de suas atividades, mesmo sem prova de culpa, com base na ideia de que a atividade estatal cria um risco à vida e à integridade das pessoas. Logo, para não ser responsabilizado perante a opinião pública ou ter que lidar com novos danos gerados por Alex, eles se responsabilizam por ele. 


No livro, o final possui mais verossimilhança com a vida real, com a representação realista de como a sociedade funciona. Isso combina bastante com realismo, a verdade que se espera de um livro. Entretanto, talvez Kubrick sentiu que isso levaria o filme a uma mensagem final conservadora, fatalista, decidiu subverter. Afinal, se alguém até o final do filme ainda se identifica com Alex, talvez seja melhor o filme não ensinar essa pessoa a se disfarçar, a tentar ser uma pessoa comum na sociedade, mas sim levar essa pessoa a expor o seu fascismo latente. Em outras palavras, a crítica foi redimensionada pela forma como as mídia interagem com as pessoas. Burgess queria criticar o que tinha de errado em toda a sociedade, o princípio da violência na normalidade. Kubrick sabendo que os filmes, o audiovisual, inspiram as pessoas em como ser ou agir, faz um final se fim, sem respostas; sem ensinar Alex a como escapar. 


Entretanto, há muita estética de época aqui. E não estou nem pensando que a ideia de futuro dos anos 70 ficou ultrapassada, pois a excentricidade que Kubrick colocou no filme é esteticamente condizente com a estética dos tempos atuais. Mas pelos elementos audiovisuais que Kubrick tinha em mente. Ele estava pensando muito em filmes clássicos nos elementos cênicos, como luzes, jeito de usar a câmera e tudo mais. Mas também, há muito dos filmes de terror britânicos, que começavam a se popularizar na época. Há também muito da mimética exagerada da Nova Hollywood, que particularmente nesse filme não combina muito, uma vez que a tensão da trama contrasta um pouco com a loucura visual. Acho que a fidelidade representacional a obra original hoje é mais valorizada, pois pegar o livro e mexer demais no seu rumo pode parecer muito egoísta ou pretencioso por parte do diretor. Pense que nunca tivemos e provavelmente nunca teremos outra versão de Laranja Mecânica, e a que tivemos altera o material final. Algo que também aconteceu com O Iluminado, e diversas outras adaptações de Stephen King.


Então é um filme que ainda vale a pena ser visto, mas com ressalvas. Pois sua forma de representar a violência, a loucura e o cinismo, são muito diferentes para o padrão de hoje. Talvez remetendo mais aos filmes mudos até. Mas o filme é falado e colorido, fazendo talvez a pessoa que não leu o livro ficar um pouco desorientada ou desconfortável com uma trama onde o objetivo não é muito claro. É a provocação não pela ideologia, mas sim pelo simples direito de provocar. 


Curiosidades e bastidores do filme


Anthony Burgess, foi um escritor e compositor inglês. Embora Burgess tenha sido principalmente um escritor de quadrinhos, se tornou mais conhecido por seu romance "A Clockwork Orange". Seu romance distópico, foi publicado em 1962.

Burgess passou seis semanas em 1940 como um recruta do Exército britânico em Eskbank antes de se tornar um enfermeiro ordenado de classe 3 no Royal Army Medical Corps. Durante seu serviço, ele foi impopular e esteve envolvido em incidentes como derrubar um boné de cabo e polir o chão de um corredor para fazer as pessoas escorregarem. 


Em 1941, Burgess foi perseguido pela Polícia Militar Real por deserção, após prolongar sua licença da base militar de Morpeth com sua futura noiva Lynne. No ano seguinte, ele pediu para ser transferido para o Corpo Educacional do Exército e, apesar de sua aversão à autoridade, foi promovido a sargento. 

Em seu posto em Gibraltar, sobre o qual escreveu mais tarde em A Vision of Battlements, ele trabalhou como professor universitário de fala e drama, ensinando ao lado de Ann McGlinn em alemão, francês e espanhol. A ideologia comunista de McGlinn teria uma grande influência em seu romance posterior, A Clockwork Orange. Burgess desempenhou um papel fundamental no programa "The British Way and Purpose", destinado a apresentar os membros das forças armadas ao socialismo em tempos de paz dos anos do pós-guerra na Grã-Bretanha. 


Foi instrutor do Conselho Consultivo Central para a Educação das Forças do Ministério da Educação. O talento de Burgess para idiomas foi notado pela inteligência do exército e ele participou de debriefings de expatriados holandeses e franceses livres que encontraram refúgio em Gibraltar durante a guerra. Na vizinha cidade espanhola de La Línea de la Concepción, ele foi preso por insultar o general Franco, mas foi libertado da custódia logo após o incidente.


Muitos afirmam também que supostamente para escrever Laranja Mecânica, Burgess se inspirou inicialmente por um incidente durante a Blitz de Londres da Segunda Guerra Mundial, no qual sua esposa Lynne foi roubada, assaltada e violada por desertor do Exército dos EUA em Londres durante um apagão. Por isso, o livro foi um exame do livre arbítrio e da moralidade. O jovem anti-herói, Alex, capturado depois de uma curta carreira de violência e caos, passa por um curso de terapia de aversão para conter suas tendências violentas. Isso o torna indefeso contra outras pessoas e incapaz de desfrutar de algumas de suas músicas favoritas que, além da violência, foram um prazer intenso para ele. 


No livro de não ficção Flame into Being (1985), Burgess descreveu A Clockwork Orange como "um jeu d'esprit obtido por dinheiro em três semanas. Tornou-se conhecido como a matéria-prima de um filme que parecia glorificar o sexo e a violência". Ele acrescentou, "o filme tornou mais fácil para os leitores do livro entenderem mal do que se tratava, e o mal-entendido me perseguirá até que eu morra". 


Em uma entrevista de 1980 à BBC, Burgess se distanciou do romance e das adaptações cinematográficas. Quase na época da publicação, o capítulo final foi cortado da edição americana do livro. Burgess escreveu A Clockwork Orange com 21 capítulos, o que significa corresponder à maioridade. " é o símbolo da maturidade humana, ou costumava ser, já que aos 21 você votava e assumia a responsabilidade adulta", escreveu Burgess em um prefácio para uma edição de 1986. Precisando de dinheiro e pensando que o editor estava "sendo caridoso ao aceitar o trabalho", Burgess aceitou o acordo e permitiu que A Clockwork Orange fosse publicado nos Estados Unidos com o capítulo 21 omitido. A adaptação cinematográfica de Stanley Kubrick de A Clockwork Orange foi baseada na edição americana e, assim, ajudou a perpetuar a perda do último capítulo. Em 2021, a Fundação Internacional Anthony Burgess lançou uma página da web que catalogava várias produções teatrais de "Uma Laranja Mecânica" de todo o mundo.

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