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Capitu e o Capítulo (2021): Nova adaptação de Dom Casmurro de Júlio Bressane representa Machado de Assis em seu universo de objetos e sombras

 

"Capitu e o Capítulo", dirigido e escrito por Julio Bressane, aborda de forma livre a obra de Machado de Assis, Dom Casmurro. Elenco composto por: Mariana Ximenes como Capitu, Vladimir Brichta como Bentinho e Enrique Diaz como Casmurro (narrador)


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Vamos lembrar quem é o grande Júlio Bressane, o diretor de filmes brasileiro com uma pegada extremamente autoral, ele foi assistente de direção antes também de outro cineasta, Walter Lima Jr. e ganhou notoriedade a produzir nos anos 1960 filmes com grande foco no sensorial e no espírito dos objetos. Fica essa impressão de um diretor que gosta muito do uso do texto literário e na sensação literária, junto com um estilo de produção que envolve o cinema experimental que exprime essa forma de fazer cinema dele.


Aqui do Machado de Assis, já falamos na polêmica entre o seu realismo de tipo brasileiro em oposição ao realismo puro europeu e o naturalismo tupiniquim rival de Aloísio de Azevedo.


Essa polêmica envolve a questão do racismo que escritores negros ou não brancos viveram na época do meio literário do século XIX, masculino, branco e de luvas de pelica. Também na forma que criticamos um escritor de origem mais popular. 


Infelizmente, no debate histórica da "raça" de Machado de Assis, o problema real do revisionismo da discussão e do viés ideológico dela é que os babadores de ovo mais chatos da história associaram Machado de Assis como um cara branco, grego, quando aqueles que não gostaram muito dele queriam usar da sua raça para deprecia-lo, como Silvio Romero, por exemplo, talvez o mais feroz e 'digno' crítico de Machado de Assis. 


Esse é o problema, quem gosta é elite que quer fazer dele 'branco' na marra, é uma reação de quem diz que gosta mas não gosta (em relação ao críticos desde o século XIX do trabalho de Machado), busca levantar o revisionismo da pauta para verticalizar sua crítica. A verdade é que nunca ninguém quis mesmo olhar para os registros do Machado de Assis funcionário público e apoiador discreto da pauta abolicionista. 


Em 1881, foram publicados dois importantes romances da literatura brasileira em oposição de sentido, Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, e O Mulato de Aluísio de Azevedo, simbolizavam perspectivas diferenças, um queria falar sobre o liberalismo fora do lugar dos senhores de escravos, homens da elite, outro queria falar do que seria o 'povo descamisado', nessa ideia de "problemas crônicos do povo brasileiro". 


Machado de Assis desconfiava dos brancos escravocratas e era considerado "leve" em sua crítica, ambos os livros focam em uma espécie de proposta de crítica fatalista,  quem era alvo sua crítica não eram os "os homens de cor" como na literatura naturalista brasileira,  Muito interessante que o naturalismo de Émile Zola de uma escrita humanista e socialista, que falava do problema dos preconceitos, do antisemitismo, e como isso foi invertido como influencia para um tipo de realista que ridicularizava o pobre em parte, como em O Cortiço. 


Mas para Machado, o criticável era Brás Cubas, Rufino de Quincas Borba, Bentinho em Dom Casmurro, eram homens brancos, do patriarcado patronal, de famílias abastadas e que possuíam escravos, era sobre essa elite, não era a favor dessa elite, essa era a literatura de Machado de Assis.  Alguns trabalhos de Machado tratavam diretamente do tema da escravidão, como Pai contra mãe e Relíquias da Casa Velha, de 1906, O caso da Vara, de Páginas Recolhidas, de 1899, alguns contos, e perpassa toda a revisão crítica social em seus romances (detalhadamente implícitas nas estórias, classes sociais e raça de seus protagonistas). Em estrutura, que faz a gente querer revisar os capítulos e rever o que deixou escapar. 


Bressane já fez filmes como um documentário sobre um show de Maria Bethânia e outro documentário sobre Lima Barreto e depois fez vários filmes marcantes, como o de 1969 - Matou a Família e Foi ao Cinema, e 1971 - Memórias de um Estrangulador de Loiras, ou Cinema Inocente (1980), Dias de Nietzsche em Turim 2001,sobre o período bucólico onde o autor escreveu Assim Falava Zaratustra.  


Como o diretor também já fez uma adaptação anterior da obra de Machado de Assis, uma sobre Brás Cubas de 1986, com Brás Cubas como Luiz Fernando Guimarães. Sendo também um grande obra do escritor. 


Trama que permeia a inquietude trazida pelo sentimento mais primitivo que o ser humano pode experimentar, criando e sorvendo o fantasma criado pelo ciúme, desdobrando-se em intrigas capitulares criadas por Bentinho em devaneios que o tomam sobremaneira pelo amor doentio por sua Capitu. 


No livro, a menina de olhos dissimulados e de cigana foi descrita como morena (de cabelos pretos), de olhos claros. Essa Capitu de Bressane é a primeira Capitu loira da história (realmente mudando o polo de Dom Casmurro para uma discussão mais íntima, psicológica e talvez biográfica também), e isso é muito interessante no sentido discricionário dado por Machado de Assis no seu texto, é bem certeiro na classe social de Capitu e porque ela parece ser tão dominadora para Bentinho. Aliás, me recuso a transmitir a fofoca de que Escobar seria Machado e Capitu a mulher de outro escritor famoso da academia brasileira (até porque isso é fofoca acadêmica clássica), e não vem ao caso. 


Aqui temos uma diferença muito grande da descrição de mulher que Capitu é, apesar de se vestir de maneira simples, usar vestidos de chita e de ser de uma família bem mais pobre que passou a conviver com a família Santiago como agregados depois deles perderem tudo em uma enchente. Apesar de ser de origem humilde, Capitu manda nas interações de maneira que parece que ela sempre comanda, e para os adultos, mente de maneira perfeita e palatável para desviar de assuntos comprometedores. 


Acontece que é Capitu que seduz Bentinho, ela faz tudo praticamente sem nem piscar, é da personalidade dela ser extrovertida, exatamente o oposto de Bentinho. Como ele é um garoto um ano mais velho que ela e ela tem essa característica, parece que ela é uma grande pergunta para Bentinho que fica do começo ao fim do livro nesse dilema, mas o que é marcante e é refletido pela adaptação, é esse caráter de mostrar Bentinho como sendo o cara que trai, se ela traiu ou não ainda fica na imaginação, por dizer assim, por mais que tenha cenas sugestivas, muitas coisas são "perfeitas demais", como cenas saídas da cabeça ou da imaginação de um homem doente. 


Nesse sentido, Bentinho representa uma elite que resolveu se apaixonar por alguém popular, mas que faz com que ele mesmo tenha continuado a ter preconceito com ela mesmo depois do "final feliz". A desconfiava gerava mais desconfiança, como uma grande tragédia com tons e hints de comédia, ao estilo The Merry Wives of Windsor de Shakespeare (citado em Dom Casmurro). 


O lado da comédia de costumes diz respeito a descrição do hábito mental e familiar de Bentinho, essa mentalidade de casa grande e sensala, sendo o grande motivo de Bentinho afastar todos e ser conhecido por seu mal humor, desde o primeiro capítulo, como o "senhor nervosinho", parecido com a tradução de Dom Casmurro que primeiro deu a ideia do título: "Mrs. Grumpy" (mal humorado em inglês) presente na tradução, Casmurro significa teimoso, chato e é assim que desde a primeira página somos apresentados ao mal humor e teimosia habitual de Bentinho. 

 

As estruturas de agregados, o personagem de José Dias, da mãe, o casamento de sucesso de seus pais, a entrada forçada no seminário para ser padre e a inegável desenvoltura para mentir e atuar de Capitu, que com 14 parecia ter desenvoltura de 17, como diz o livro.


A opção do filme de seguir mais a semiótica do texto mais do que o texto (que já foi adaptado milhares de vezes). Apesar das mil adaptações de Dom Casmurro e algumas sobre Brás Cubas, não chegamos a ter adaptação de outras estórias do autor para o cinema. Fica esse gap aí. 


É interessante a escolha de sentimentos e ambientes que remetem a memorabilia (relação memória e objeto), e Machado tem essa "materialidade romana" com sua escrita e textos que refletem muito também sobre costumes e cultura em geral. Machado era um escritor extremamente semiótico, tanto que esse filme se inspira nessa ligação com os objetos, derivada de uma visão  que poderia ser ao estilo do poeta Haroldo de Campos. 


Ou mesmo visto em filmes dele como "A Erva do Rato" de 2008, inspirado em "A Causa Secreta", "O Esqueleto" também de Machado de Assis, ou Educação Sentimental (2013), ou mesmo O Mandarim (1995), ou O Tabu (1982).  Bressane é o cara do cinema semiótico e literária. 


Lima Barreto não foi lido tanto como foi depois de morrer, quando Machado de Assis já foi lido muito em vida (era um bruxo que desafia as leis do cientificismo e do academicismo, e  por conta dessa "máscara social" de distanciamento romântico efetivo produzido por Machado enquanto cidadão de excelente escritor (muitos consideram o melhor que o Brasil já teve), mas que também correu com uma carreira na burocracia do estado de pouco em pouco, e influenciou como funcionário público no departamento de agricultura com questões de revisões legais de pedidos de escravos que não tinham documentos para provar que eles nasceram depois das primeiras leis abolicionistas.


Machado trabalhava tentando resolver conflitos entre esses barões do café que ele conhecia e ridicularizava tão bem em seus obras, e eles na vida real protestavam e forjaram os registros de seus escravos para recusar a liberdade a deles (algo retratado de certa maneira no último livro de Machado Memorial de Aires). Uma questão parecida é retratada no filme Harriet, que se passa na meio da guerra civil contando a história de uma mulher abolicionista. No Brasil, homens como José do Patrocínio e Luiz Gama, que eram também abolicionistas e advogados em torno dos direitos da população escravizada e recém liberta. 


Machado fez sua crítica super nativista, ao rejeitar as normas e métricas dos romances franceses e ingleses (apesar de ser influenciado em grande parte e de ter sido importante tradutor), seu realismo era de um tipo que satiriza o tipo de realismo de um Eça de Queiróz, era um realismo com características próprias, não mais uma "literatura de sogra" de sala de estar, embora a censura e os ditames familiares e morais nunca estar longe da narrativa central do romance, uma literatura que fecharia um ciclo pedante e cientificista da literatura mundial, que refletia até então um mundo pouco multicultural.


Machado passou de  funcionário público da monarquia para a república, e passou com poucos episódios de críticas a sua pessoa, conseguia sempre ajudar pelo lado abolicionista sem nunca ser exatamente partidário ou militante (apesar de ter ido na missa pró abolição), diriam sobre ele que Machado de Assis preferiria a ironia da história e dos livros do que a militância das ruas. 


Tanto que uma vez foi criticado como "monarquista leve" por alguns por ter chegado a ser ministro de Estado e funcionário público, e defendido também por republicanos que defendiam sua atuação entre a sociedade civil e as agendas importantes do dia, os senhores de escravos e os burocratas acadêmicos com quem lidava e bem, ele conseguia flutuar nesse universo e ainda escrever para O Cruzeiro e O Globo e para outras revistas.


Mas o bom para adaptar Machado seria usar a referência dos contos e estórias curtas, o inédito é toda sua obra de cronista e contador de estórias curtas, como A Missa do Galo, por exemplo, também já abordado aqui no blog como uma crônica curta excepcional feita na fase adulta do autor. A estória "Miss Dóllar" é tão divertida e nunca achei uma adaptação desse texto altamente leve e engraçado, e que para mim é a história mais fiel dessa questão das viúvas, que são capítulo a parte na literatura do século XIX no Brasil, todo mundo amava as viúvas.


Lima Barreto seguiu a tradição machadiana crítica e inaugural a crítica escrevendo no século XX, Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), publicado pelo Jornal do Comércio refletia a ascensão e queda dos ideais nacionalistas e o papel disso na política e propaganda nacional, uma visão muito aprimorada que já refletia um pouco desse "tipo ideal" nacional que Policarpo buscava. 


Nacionalismo em tese combinaria com monarquia se esta não tivesse sido geradora do problema da escravidão, prolongado com leis intermediárias que geravam problemas de fiscalização depois de em 1850 começar a haver leis de abolição do tráfico negreiro, inclusive, a mãe de Machado, foi uma mulher portuguesa, branca e lavadeira, vinda dos Açores, veio por conta dessa política oficial de substituição de mão de obra escrava para novos emigrantes, conhecendo o pai de Machado de Assis que era carpinteiro e que se casou com ela. 


Machado era em parte fruto das políticas de intervenção inglesas que visavam boicotar o lucro do mercado de escravos (não mais vantajoso para eles). Apesar de toda essa influência universal, Machado conseguiu se projetar como um escritor de renome internacional, altamente traduzido ao se falar da literatura produzida na América Latina.


A infância de Machado de Assis consistiu em ser um autodidata dos mais diversos locais, aprendeu latim com o padre, francês com o padeiro e depois com aulas que conseguiu frequentar em um colégio que era apenas de meninas, e foi apadrinhado por uma senhora, mulher de um senador. Tudo isso transformou Machado de Assis em uma espécie de mistura de Oliver Twist (que Machado de Assis fez tradução) e David Copperfield (os dois romances de Charlie Dickers), o menino que foi pobre e o escritor genial, os dois na mesma pessoa.


Policarpo Quaresma era tal qual o grande antigo mestre bruxo, Machado de Assis, são os dois nativistas, que acreditavam estar criando um novo tipo de literatura realmente brasileira e não importada de fora. 


 Policarpo e Machado estavam busca do "Brasil nativista" da estilística linguística propriamente tupiniquim, tinha sua procura pelo ideal das línguas além do português que influenciaram o português brasileiro. Buscando sempre o primor das saídas políticas políticas, econômicas, históricas e culturais, Policarpo passava seu tempo enfiado em livros, e sua vizinhança não gostava dele porque não conseguia acreditar que alguém sem titulação acadêmica pudesse possuir tantos livros, fazendo assim sua crítica ao academicismo que o enterraria para então falar dele. 


Isso é citado quando um dos personagens lê Lima Barreto e fala sobre sua condição de identidade de raça mais do que sua obra (um problema real já que na ânsia pelo revisionismo acabam falando mais dos detalhes biográficos e pessoais do que realmente a qualidade da obra dos escritores, o que é um elitismo em si), ele  é citado nesse filme como uma figura explorada pós mortem pela mesma elite que o repudiou em vida, que o recupera para colocar Lima Barreto (citado no filme) como um "escritor negro recém descoberto". Como na ideia do "morte e vida das imagens" onde entendemos que uma imagem morta é uma memória feita.


Olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade, novas e antigas percepções. Trama que permeia a inquietude trazida pelo sentimento mais primitivo que o ser humano pode experimentar, criando e sorvendo o fantasma criado pelo ciúme, desdobrando-se em intrigas capitulares criadas por Bentinho em devaneios que o tomam sobremaneira pelo amor doentio por sua Capitu, então se mulher alcançada, por conta do ciúme, ela se torna uma constante negação para o protagonista, que fica cada vez mais convencido por conta de seus próprios hábitos e convicções de que é enganado pela mulher e o amigo Escobar.


Todos conhecem o clássico e provavelmente a maioria já leu também, logo essa é a dificuldade que enfrentam as adaptações de Machado, já que ele é tão parte do imaginário brasileiro, que é difícil até mesmo adaptar o velho escritor. A mais famosa delas é Memórias Póstumas de Brás Cubas com Roberto Farias de Brás Cubas, um clássico moderno,  filme de 2001, dirigido por André Klotzel. Até agora o filme mais bem sucedido em termos de adaptação, a maior produção. Mas até hoje, Machado de Assis ainda é pouco retratado.


Não precisa dizer que Machado de Assis é o melhor escritor da história da América Latina, mais que Lhosa, Borges e Márquez, Machado é praticamente o Shakespeare latino, versado sem nunca ter saído do Brasil sobre toda a filosofia e história mundial. 


Ele tornou possível o espírito universal e perspicaz da condição humana a crítica aos valores da sociedade burguesa e ao mesmo tempo escravocrata e capturava o público leitor feminino para personagens de mulheres que valiam mais pela sua personalidade do que pela indumentária, foi a primeira marca de Machado para Jorge Amado e para as novelas clássicas.  Machado por exemplo em Memórias Póstumas, descreve a sexualidade da mulher que não é coberta de joias, diferente dos escritores de sua época que eram escravos da descrição exata de artigos de boutiques francesas.


No século XX começaram a aderir a um modelo e mulher mais real e pecaminosa (ao estilo de Gabriela), (porém mais submissa formalmente e não instruída) que os escritores pegariam tomando o exemplo das mulheres simples e realistas que só Machado conseguia escrever. Mas a extravagância de Capitu que Bentinho já tinha beijado já criança era ser essa criatura dos "olhos de cigana obliqua e dissimulada" que perseguia meio risonha e de lado as expectativas do jovem mancebo Bento Santiago. 


Seus primeiros romances como Ressurreição, A Mão e a Luva (1874) Helena (1876) Iaiá Garcia (1878), da fase sua chamada de "romântica", na verdade continha uma imensa crítica ao comportamento de "compra" em relação ao casamento, exatamente como o final cínico de A Mão e a Luva, onde a mão encaixava perfeitamente na luva por ser a metáfora de que o interesse sempre está ali, por mais que o escolhido de Guiomar tenha sido o terceiro cara, o Luís Alves, médico e não Estevam, o romântico, mas não o sobrinho querido da baronesa inglesa. 


 Sempre em tom de crítica social, em Dom Casmurro (1899), há a crítica a cultura dos escravos de ganho (pessoas escravizadas e que eram 'alugadas' em seu trabalho para pessoas que lucravam com o ganho diário de seus próprios escravos).


Acontece que já havia realismo nas obras mesmo românticas, o que para muitos tornava seus romances "não românticos", uma crítica frívola de uma sociedade que estava engendrada em um estilo meio pedante de escrita, uma mania de "descrição indumentária" provocada pela expertise de escritores como Joaquim Macedo (de livros como Escrava Isaura, Rosa). Ele foi criticado por não ser romântico e idealista em seu retrato de mulheres, mas na verdade ele estava é se livrando da necessidade da exposição da mulher como mero objeto de sala, mas eram exatamente as mulheres que mais liam Machado, fazendo dele correlato de tentativas como Proust, James Joyce, como também Henry James, literaturas que impregnam uma espécie de consciência nacional própria. 


Com Capitu, vemos uma onda de revisionismo da interpretação do texto, os americanos, como Helen Caldwell, por exemplo, reparam em como Bentinho como narrador universal não pode ser confiável, já que ele além de playboy da elite escravocrata, é o que narra os acontecimentos do livro. 


As desconfianças são fruto de sua imaginação, que imagina que o amigo Escobar pudesse ser pai de seu filho, já que Bentinho era do tipo de cara que tinha "orgias com o latim, mas ainda não tinha conhecido mulheres". O patriarcado é constantemente humilhado nas obras de Machado, não somente os divertidos resultados de (Memórias Póstumas) de Brás Cubas ou Quincas Borbas, ou em contos como " O Diplomático" já brincam com o perfil do homem médio brasileiro, geralmente branco, da elite, o tradicional perfil do patriarca. 



Essa percepção foi mudada quando conheceu Capitu, menina que classe inferior que a dele, e portanto que nunca poderia lhe querer por amor exatamente em sua mentalidade. Por fim, ela decide ir embora para o estrangeiro com o filho, e o marido tenta ainda manter as aparências, apesar de separados. 


Olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade, novas e antigas percepções, tudo isso em um filme envolvente que coloca mais uma vez alguns dos personagens mais marcantes para o imaginário da cultura brasileira, Bentinho e Capitu. 


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