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Breaking Bad - Piloto (1x01): Análise e curiosidades do primeiro episódio da série


Walter White é um professor de química do ensino médio em Albuquerque, Novo México, vivendo com sua esposa, Skyler, que está grávida e seu filho adolescente Walter Jr., que tem paralisia. Ele está fortemente insatisfeito com sua vida, sentindo-se deprimido por ser um superqualificado mas dar aula no ensino médio, além de fazer um trabalho degradante de meio período em um lava-jato. Pouco depois de seu aniversário de 50, Walt desmaia no lava-jato e é levado para o hospital, onde é informado que está com câncer de pulmão e tem, na melhor das hipóteses, dois anos de vida. Depois de ver uma reportagem mostrando grandes quantidades de dinheiro recuperadas de uma das apreensões de drogas de Hank, Walt aceita uma oferta anterior para ir a uma batida em um laboratório de metanfetamina. Enquanto agentes da DEA limpam a casa, Walt observa seu ex-aluno, Jesse Pinkman fugindo, a quem mais tarde ele rastreia e chantageia para ajudá-lo em seu plano: produzir metanfetamina.

Breaking Bad está na Netflix e sendo exibido na Band todo domingo, às 22:30h, após o programa Perrengue



Crítica do episódio

 

Começamos com clássica sequência das calças. O som das viaturas ao fundo nos sugerem que se ele está fugindo, provavelmente é da policia.

 

Só não entendemos porque ele está sem calça, um elemento meio cômico que trás um clima meio Simpsons para o início da série, já que como veremos, nessa primeira temporada Walter era tipo Homer Simpsons.


O pôster de premio Nobel na parede de Walter, é uma coisa que só percebi dessa vez, demonstrando que Walter tem muito mais conhecimento do que aparenta. Esse é um elemento que não é abordado na série novamente direito.



Muitas coisas eram diferentes. Por exemplo, apesar do clima americano médio, Skyler aparentava ser boa esposa nesse início da série. Walter Junior também parecia feliz com o clima familiar. O problema é White, que não consegue gostar do ambiente familiar americano. Não sei porque algo me diz nessa cena que é porque os americanos não sabem se alimentar e cozinhar como os brasileiros, e por isso se frustram consigo e os momentos em família, algo evidenciado pelo foco da câmera no prato do White.



Temos então a cena da festa surpresa para White, a qual ele não faz a cara mais feliz do mundo. Aqui vamos conhecer melhor a família de White e seus amigos. Detalhes para a sequência: vários extras como amigos de Walter que nunca mais veremos. E aqui vemos uma hierarquia meio machista, onde as esposas ficam de cantinho enquanto os homens que estão na sala ficam brincando com a pistola de Hank


Cena que ridiculariza Hank por sinal, mostrando que ele é um policial bobão e vislumbrado, já que um policial profissional e treinado nunca deixaria seus familiares pegarem na sua arma para evitar acidentes, pois seu dever é prover a segurança. Se você assistiu Breaking Bad e achou que Hank era um herói ético ou vítima, assistiu errado. Para confirmar isso, depois da cena da arma todos se reúnem para ver Hank falar na televisão local, tipo essas reportagens policiais de telejornal local sensacionalista, onde Hank se orgulha de reprimir o uso as drogas, parecendo um bolsonarista bobão e médio que não percebe que aparecer na tv, se torna um alvo.



O caráter mais babaca da cena é que Hank rouba a cena para si do aniversário de Walter, criando um sistema de competição e hierarquia onde supostamente Walter é inferior, mesmo que ali ele seja na verdade um gênio da química. 


A sequência é muito crítica e quer mostrar que nesse sistema da social democracia, do senso médio e normalização de todos os debates, pessoas com diplomas de graduação, que realmente se dedicaram e se esforçaram para pensar e produzir algo novo e relevante cientificamente para a sociedade, são inferiorizadas perante pessoas que falam o que todo mundo quer ouvir, o obvio, apenas para sair no jornal. É notável que Hank também dá praticamente o mesmo tratamento para Mary que dá para seu parceiro, Gomez.




Depois, temos a cena deprimente da punhetinha de Skyler em Walter, cena deprimente já que ela faz isso enquanto tenta garantir reservas na internet, demonstrando que as coisas não vão muito bem também sexualmente.



Pula para o Lava Jato, pois afinal a série tem esse detalhe: além de professor de ensino médio de química na escola local, ele trabalha em um lava rápido. Ele vê uma mulher gostosa em um carro, e assim que olha para a bunda dela, tem um desmaio.





Na cena da ambulância vemos que Walter não quer ir pro hospital pois não tem bom plano de saúde e nem dinheiro para pagar, mas como o enfermeiro o obriga, ele acaba fazendo exames com o médico, e descobre que Walter tem câncer de pulmão, cena que usa bem o efeito do zumbido para demonstrar seu choque. Ele então decide não contar a Skyler e largar o emprego no Lava-jato depois que seu chefe, que é um imigrante do leste europeu, o pede tarefas estafantes. Bem engraçada a cena que Walter manda ele chupar, ótima atuação.



Agora ele não sabe da onde vai tirar dinheiro para o tratamento. Coisa de EUA, já que no Brasil era só ele dar entrada no SUS que o tratamento seria de graça e não teria série.


Depois disso, Walter decide aceitar o convite de Hank para observar uma operação, oferta feita pelo cunhado na festa com o objetivo de dar alguma adrenalina a vida de White. A cena da batida policial, com a música ao fundo é muito bem feita, trazendo uma boa adrenalina de filme de ação a série, que nesse início combina muito bem os tons cômicos de ação. 



Ridículo ver Hank e Gomez, que é latino, apostando que o bandido preso era latino, totalmente comédia. Ele vê então Jesse, seu ex-aluno da escola, de cuequinha vermelha pulando a janela da cena do crime. 



Revendo, é estranho o olhar de Walter para Jesse, parecendo até que se apaixonou pela primeira vista. Engraçado Walter lembrar de Jesse, e sinistro ele falar que a escola mantém uma ficha de seus alunos, com endereço. Walter tem a ideia e sugere para Jesse para eles fazerem meta. Mais que isso: ele obriga Jesse a aceitar ou entregar ele para a polícia. 



Vemos então em uma cena de Skyler com Mary, que Skyler escreve e queria escrever um conto ou coleção de contos, algo totalmente esquecido depois na série. 


Walter precisa de equipamentos para começar a fazer a droga. Ele decide pegar tudo que precisa na escola que trabalha, em uma cena com um reggae ("Mango Walk", do grupo In-Crowd) muito legal de trilha sonora, com Walter surripiando os elementos. 


Jesse revela então que na época da escola Walter reprovou ele, expondo como tudo ali é meio forçado e artificial, já que além de não gostar de Jesse, ele nem lembra direito quem ele era.


Elemento interessante: quando Walter vai sacar o dinheiro para pagar o trailer, Walter vai até o Banco Mesa, que vai ser melhor mostrado em Better Call Saul. Interessante dessa cena que depois, quando fomos ver a história do trailer (que fica mal contada no piloto, já que ele só aparece na cena), pois vemos que Jesse só queria dar a volta em Walter, achando ele maluco até aqui.



Vamos para a cena onde vemos que Walter Jr. está tentando experimentar calças novas, e Walter além de ajudar ele, dá uma prensa em uns babacas que estão implicando com seu filho pela sua condição de deficiência. Essa cena reflete, que apesar da moral duvidosa, Walter era uma boa pessoa no início, principalmente com covardia e pessoas indefesas. Uma coisa que mudou muito desse início para o decorrer da série. 



Walter tem então a incrível ideia de cozinhar de cueca, para não deixar cheiro na sua roupa. Acontece, que como o próprio Jesse zoa, a cena parece assim ganhar uma conotação meio gay. A montagem da cena de Walter cozinhando é bem legal. A série tinha uma montagem bem criativa no início, na pegada meio clipe, com músicas bem marcantes na transição das cenas. 



Na cena que Jesse vai tentar negociar com o primo de Emílio, e vermos Crazy 8 treinando o cachorro de maneira selvagem, já sabemos que vai dar merda. Obviamente Jesse, um low life, não pode ter uma droga de melhor fonte que os caras ligados ao Cartel. Obvio que ia dar merda e eles foram garotos de não perceber isso. Detalhe para um erro da cena: assim que Jesse mostra a droga, a música que está tocando na cena some do nada, mas Crazy 8 nem mexeu no controle.



Crazy 8 e Emílio até iam fazer negócio com eles, mas quando Emílio reconhece Walter da batida do DEA com Hank, ele é visto como "estando com a polícia". Eles vão então, rapidamente, para a condição de reféns dos caras, provando como eles são amadores e deviam desistir de tudo aquilo, afinal é até meio racista dois caras brancos americanos, se rebelando e matando os latinos para tomar seu dinheiro de negócio de droga. Totalmente uma moral errada na vida real. 


Vemos a cena foda de Walter fazendo a explosão de químicos, produzindo uma fumaça tão tóxica que apaga os caras, uma cena ao estilo Macgyver.


Assim, a situação do início do episódio é explicada de maneira tão épica, que simpatizamos completamente pela série. Aquela loucura do início do episódio se fecha e na verdade têm todo o sentido para a perspectiva narrativa da série, onde Walter, apenas de cueca, segura a pistola na estrada. Digno de roteiro de filme de Tarantino.



Detalhe para essa cena: Walter é tão desesperado e inconstante psicologicamente que mira arma contra sua cabeça e dispara tentando se matar. A arma estava carregada, só não disparou dizimando sua vida, pois estava com a trava de segurança, algo totalmente sinistro de se pensar sobre seu plano, escolhas e personalidade. 




O episódio encerra com Walter secando o dinheiro, em uma metáfora literal de "lavagem de dinheiro", e deitando na cama com a mulher. Skyler percebe tudo, e o otário do Walter ao invés de contar logo, se faz de fingido e eles transam. Aproveitem, pois isso não vai acontecer mais tão cedo.



Um piloto muito interessante, agradável e divertido. É impossível não assistir o episódio e não querer saber mais do que vai acontecer. Essas pinceladas iniciais de humor é bem explorada com uma linguagem muito interessante de jogo de câmeras, que se movem sempre e com ângulos bem sugestivos, que se refazem pela perspectiva dos personagens, tinha um tom muito realista e provocante, meio The Office  mas com um tom mais pulp, que sempre dá nostalgia de rever. 


A série começa de maneira eletrizante, personagens instigante, com plots que fazem a gente refletir sobre temáticas muito importantes, como saúde, educação, mundo do trabalho, família, relações entre homem e mulher, entre pai e filho, a questão da desvalorização da ciência na América e tudo mais. Simplesmente um dos melhores pilotos das séries contemporâneas por abordar uma visão totalmente nova sobre o homem médio americano (uma visão de derrota pós crise de 2008). 



História por trás do episódio e da série


Breaking Bad foi criada pelo roteirista de televisão Vince Gilligan, com o cerne da série sendo a jornada e conversão do protagonista em um antagonista. Notando como os programas de televisão geralmente mantinham seu personagem principal no mesmo estado para prolongar a série, Gilligan disse que queria fazer um programa servindo como um "impulso fundamental" para a mudança. 


Ele acrescentou que seu objetivo com Walter White era transformá-lo do Senhor Cabeça de Batatas em Scarface


O conceito de Walt como um negociante de metanfetamina se concretizou quando Gilligan estava conversando com seu colega escritor Thomas Schnauz, e eles brincaram sobre seu desemprego e que a única solução parecia dirigir um trailer e cozinhar metanfetamina.


Gilligan escalou Bryan Cranston para o papel de Walter White baseado em ter trabalhado com ele em "Drive", um episódio da sexta temporada da série de ficção científica Arquivo X, onde Gilligan trabalhou como escritor. Cranston interpretou um antissemita com uma doença terminal que tomou Fox Mulder (David Duchovny) como refém. Gilligan disse que o personagem tinha que ser simultaneamente repugnante e simpático, e que apenas Cranston poderia desempenhar o papel de funcionários da AMC foram cautelosos em lançar Cranston, devido a ele ser mais conhecido por seu papel cômico como Hal na série Malcolm in the Middle. 



Os executivos ofereceram o papel a John Cusack e Matthew Broderick, que ambos recusaram. Depois de ver Cranston no episódio X-Files, os executivos foram convencidos a lançá-lo. 


Para seu papel, Cranston se reuniu frequentemente com um professor de química para aprender sobre o assunto, ganhou quinze quilos para refletir o declínio pessoal do personagem, e teve seu cabelo tingido de marrom para mascarar seus destaques vermelhos naturais.



Vários atores fizeram testes para o papel de Jesse Pinkman, incluindo Reid Scott, Colin Hanks e Penn Badgley. No entanto, a audição de Aaron Paul para o personagem, que ele mesmo disse ser "horrível", chamou a atenção de Gilligan e da diretora de elenco Dawn Steinberg. 


Quando a Sony se recusou a contratar Paul, com base em ele não parecer um traficante de metanfetamina, Gilligan disse-lhes que ele não faria o show se Paul não fosse escolhido para o papel. 


Para o papel de Hank Schrader, Gilligan falou com um agente real da DEA para saber mais informações sobre o personagem. 



Dean Norris, que tinha um histórico de ser datilografado como agentes da lei e personagens do tipo militar, afirmou que "eu acho que você tem um certo olhar, é uma espécie de olhar autoritário da aplicação da lei, e esse olhar é certamente a primeira coisa que as pessoas lançam você antes de você ter a chance de fazer alguma atuação." 


O roteiro foi originalmente ambientado em Riverside, Califórnia, mas por sugestão da Sony, que estava produzindo o piloto, Albuquerque foi escolhido para a produção pelas condições financeiras favoráveis oferecidas pelo estado do Novo México a produções audiovisuais. 


As filmagens do episódio começaram em 6 de março de 2007, terminando após várias semanas em 21 de março. 


O episódio piloto de Breaking Bad recebeu críticas positivas, com Barry Garron do The Hollywood Reporter elogiando a estreia por seu suspense, e Jonathan Storm, do The Philadelphia Inquirer, achando imprevisível. 


Enquanto isso, Robert Bianco, do USA Today, focou na performance de Bryan Cranston, que ele disse ser "fascinante e notável", e a jornalista do Clube A.V. Donna Bowman escreveu uma crítica positiva, dando ao episódio uma nota de classificação de um "A-", e citando o desempenho "hipnotizante", "niilista" de Cranston e "hulking ainda impotente" além de elogiar o roteiro de Vince Gilligan. 


Além disso, a crítica de televisão do Chicago Tribune, Maureen Ryan, elogiou o papel de Cranston, e observou a estreia como um "slam dunk" em comparação com os dois episódios seguintes. Após o término da série, The Ringer ficou em 6º lugar entre todos os 62 episódios de Breaking Bad, onde Alison Harman observou que "o gancho viciante do piloto ajudou os espectadores através das duas temporadas que levou para Breaking Bad atingir seu passo".


Então é isso, pessoal. Até o próximo episódio!


Cenas mais marcantes do episódio:





















Comentários

  1. Que análise bem escrita. Realmente foi uma das melhores que já li sobre breaking bad

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  2. Sensacional! Mandou bem demais em toda a análise

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