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As 10 regras mais estranhas do Código de Censura da Hollywood Clássica



Quem não ouviu falar que "não se faz mais filme como antigamente". Mas quando pensamos nos filmes de 1930 a 1968 da famosa era clássica do cinema de Hollywood pensamos nos maiores clássicos do cinema, da era do cinema mudo ao cinema falado e também vivenciou o começo da era colorida do cinema. Apesar de ser uma época gloriosa do cinema, onde era o cinema que orientava toda uma vertente da cultura popular americana e mundial, mas nem tudo são flores, e a prova disso é o Motion Picture Prodution Code, mais conhecido como "Hays Code". 


O Hays Code  era um conjunto de regras morais, pensadas para orientar as audiências do cinemas e teatros em geral, foi criado como orientação em 1931 -1934, e como obrigação para os estúdios, a partir de 1937.


Depois da Grande Depressão, a ida aos cinemas caiu aos poucos em até 40%, fechando certa de 1/4 das salas de cinema americanas. Alguns arcebispos da Philadelphia pediram para boicotar as produções de Hollywood de todos "os cristãos". 


Em 1930 "Madame Satã" chocou Hollywood, um filme de Cecil B. DeMille mostrava atores nus em poses sugestivas, e isso foi motivo de estopim em uma reunião de produtores de Hollywood, que temiam sofrer uma lei nacional se eles mesmo não se censurassem. 


Os antigos escândalos da era de ouro (anos 1920) e o clima abusivo dos estúdios, o lugar da "Tinseltown" como local de festas geraram certa má fama a Hollywood. No início, os códigos visavam apenas direcionar alguns detalhes dos filmes, mas acabaram impedindo mais de 100 filmes de serem feitos no fim das contas. 


O Ambiente em Hollywood começou a ser visto como imoral na época dos anos 1920, com filmes como "Foolish Wives (1922)" de Erich von Stroheim. que foram imensamente cortados e censurados. Outro fato que marcou Hollywood foi o julgamento por assassinato do ator Fatty Arbuckle. 


Essa era a onda de preocupação com as faixas etárias e outras regras específica para a produção cinematográfica da época. Mas o que era o Hays Code, inspirado no nome do presbiteriano Will H. Hays, ele desenvolveu 11 "não faça (don't), e 25 "fique de olho" (be careful) para orientar as diretrizes dos scripts. Apesar de algumas regras serem mais ou menos compreensíveis, mas não fazem o menor sentido e soam completamente preconceituosas e fora de época. Depois de elaborar esse "guia", a associação dos católicos, através do reverendo Martin Quigley e Daniel A. Lord.


Os mandachuva da indústria passaram a obedecer certas normas veladas, e claro, algumas diretores tentaram fazer uma proposta para fora do Hays Code, como Frank Capra, ou John Ford, ou George Cukor.  É interessante pensar como que os códigos de censura mudaram a estrutura dos filmes. 


James Stewart, Gary Grant e Katherine Hepburn em "Núpcias de Escândalo", onde a protagonista está em dúvida em três amores.  


Manter um pé no chão nas cenas na cama 


Quando se tratava da retratação de homens e mulheres, o Hays Code ofereceu para cineastas duas opções, o homem e a mulher podiam dormir em camas gêmeas de solteiro, ou sempre deixar os personagens com um pé fora da cama, para frear a intimidade. Isso fez surgir o gênero das screwball comedies (comédias sexuais sem sexo), onde as metáforas e a imaginação corriam soltas para contornar as regras. 


"It Happened One Night (1934)"


Sem escravidão branca


Essa regra é curiosa, já que não há nenhuma menção a proibição de retratação de escravidão de nenhuma raça, exceto a branca. No filme italiano "As Escravas de Cartago (1956)", vemos um filme sério, quase religioso que fala da escravidão de Roma antes de Roma tornar o cristianismo a religião hegemônica, apenas 100 anos depois de cristo, os cristãos ainda eram muito perseguidos. 


Ou seja, nesse exemplo, vemos um excelente filme e inclusive religioso que não seria gostado segundo as regra do Hays Code. Outra exemplo de produção que desagradaria o Hays Code seria "A Escrava Isaura", de Bernardo Guimarães, adaptado pela Globo e mais recentemente pela Record. 

Bernardo Guimarães

Sem silhueta e nudez 






Nudez sempre foi coibido e cerceado. Mas na época de poder do código de censura, nenhuma pele extra poderia ser mostrado mesmo. O código proibia até mesmo a transparência nas roupas e materiais que deixavam a silhueta á mostra, chegando a dizer que a insinuação e a transparência era pior ainda do que a coisa toda revelada. Além disso, tirar a roupa era proibido em cena, sendo permitido se apenas for "muito essencial ao plot (estória)"


Proibição de glamorização de assaltos a banco 


Aqui a ideia era simples, se o cinema era assistido pelo povo pobre que ia para se distrair, não poderia ser "estimulado" a ter ideias anti sistêmicas como assaltos a bancos ou outras violações da lei que estimulassem imitação por parte da audiência. Essa é engraçada, pois temos já exemplos de filmes que não respeitam essa regra, como no filme American Madness (1932) 


American Madness (1932), de Frank Capra


Proibição de retratação de relacionamentos entre pessoas de etnias diferentes


(Katharine Houghton e Sidney Poitier no filme de 1967 "Guess Who is coming do dinner")


Outro filme que violou essa regra do Hays Code foi "The Bitter Tea of General Yen" de Frank Capra. Apesar de ser um ator europeu, o filme abordava uma aproximação de romance entre um general chinês e uma moça presbiteriana (Barbara Stanwick). 



O código em geral não envelheceu bem, e tem até mesmo uma série nova do Ryan Murphy sobre essa época e o Hays Code com Jim Parsons (The Big Bang Theory) e Darren Criss (Glee) e é focado também em mostrar a cultura do assédio em Hollywood e a formação das estrelas, como em A Star is Born


Coisas simples da vida como dançar ou beijar eram vistas como incitação ao sexo pela dança representar movimentos similares, ou seja, movimentos de dança como o samba, ou as aparições de Carmen Miranda (como showgirl brasileira) eram vistas como ameaças pelo mesmo motivo. 


Sem Beijos muito prolongados


Podemos ver como que o beijo no cinema na era clássica era comedido em muitos sentidos, não poderia ter língua e nada disso. Mas ao mesmo tempo, mesmo com a advertência, não há nada específico em relação ao proibição do tipo de beijo.



Nada de caricatura com figuras religiosas


Quem caiu nessa regra e teve o filme todo censurado foi Frankenstein (1931), de James Whale, em uma das cenas do filme, era pra ser utilizada uma cruz, mas foi vetado. Nenhuma forma de retratação negativa poderia ser feita sobre padres, freiras e afins. Essa regra era mais contra os filmes de terror.


Proibido marcar animais e mulheres


Para não achar as regras apenas preconceituosas, esquisitas e sem motivo real, aqui nós vemos uma boa regra de censura, uma que protege os animais. Outra regra era a proibição da venda de mulheres e a venda de "sua virtude" em tela.  Também era proibido fazer uso desrespeitoso de bandeiras nacionais, com receio de ofender qualquer país e nacionalidade e ir contra a diplomacia de Hollywood. 


Nenhuma doença venérea


O nosso incrível filme "Limite (1931)" já quebra essa regra ao retratar um drama épico onde a garota tem a marca social que a distingue dos outros e fica "a deriva" , no barco por isso.  




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