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Na Época do Ragtime (1981): Racismo, opinião pública, feminismo e os primórdios do cinema na Era Progressista, são temas de filme histórico de Milos Forman



Dirigido pelo diretor Miloš Forman, com roteiro de Michael Weller, produzido por Dino De Laurentiis e distribuído pela Paramount. Baseado no romance "Ragtime", de E. L. Doctorow. Histórias se cruzam no início do século XX. O comissário Waldo, o vendedor Tateh (Mandy Patinkin) que vira cineasta e o pianista Coalhouse Walker Jr.(Howard E. Rollins Jr.) que vira um líder de piquetes em um movimento contra o racismo. Além do arquiteto Stanford White (Norman Mailer), que fez uma escultura de mulher nua, muito parecida com Evelyn Nesbit  (Elizabeth McGovern), mulher do milionário Harry Thaw (Robert Joy), que um dia se revolta com a semelhança da estátua e decide tomar uma atitude.


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Crítica do Filme


O primeiro ápice do filme é quando Thaw entra em um salão lotado da elite de Nova Iorque, aponta uma arma para o antigo amante de sua esposa. A mãe de Thaw quer que Evelyn participe de um armação no tribunal, para que ele seja declarado insano para se livrar da acusação de assassinato.  



Outro detalhe, é que quando um bebê negro é achado em uma plantação pela mãe (Mary Steenburgen) da casa, logo acham a mãe biológica, Sarah (Debbie Allen), que iria presa sem a intervenção da mãe da casa. 


Evelyn passa pelo bairro judeu e vê Tateh e sua filha. No livro, ela é descrita como hebreia, com olhos e cabelos escuros, mas no filme ela é retratada como uma garota loirinha. Na próxima cena, vemos Coalhouse Walker Jr. (Howard E. Rollins Jr.) passar em uma audição para uma banda no Harlem. 



A Esposa do líder dos motins, tenta falar com o vice presidente Fairbanks sobre os boicotes liderados por seu marido, mas acabou sendo morta, deixando o bebê órfão. 


Alguns críticos argumentam que Ragtime tem uma força superior em termos de descrição da História americana superior a qualquer possível adaptação literária. Como Guerra e Paz, por exemplo, também tem essa superioridade literária. 


Várias tramas paralelas se cruzam para retratar a história de personagens, como a corista Evelyn Nesbit (Elizabeth McGovern), uma beldade da época que fazia cinema, ela se projeta se casando com um milionário Thaw (Robert Joy) que atira em Stanford White (Norman Mailer) por achar que ele havia feito o modelo da estátua nua do corpo de sua mulher


Por fim, ela fica famosa por fazer os filmes de Tateh, que termina o filme, diferente do livro, junto com a mulher da família que adotou o bebê. 


Quando Harry vai tomar satisfações com Stanford, que estava com vários amigos em uma "festinha", ele o ameaça dizendo que vai contar para a polícia o que acontece ali. White diz que poderia contar tudo para Rheinlander Waldo (James Cagney), um comissário de polícia que participava dos "festejos". Thaw sai do salão indignado, mas estava claro que o problema não tinha sido resolvido e algo muito grave ainda iria acontecer. (em uma cena que não está presente no livro original que inspirou o filme). 


A mãe fica frustrada por aturar um marido que a trata de forma fria (e que não queria ficar com o bebê negro que ela adotou), como um objeto, e o irmão dela, um fabricante de fogos de artifício, que fica totalmente apaixonado por Evelyn e depois participa do movimento negro (se sentindo um deles por ser excluído da sociedade também). 



Além disto há Tateh (Mandy Patinkin), ser um modesto vendedor que um dia descobre a infidelidade de sua esposa e foge de casa junto com sua filha. Ele abandona o bairro e a sua banca de camelô de imagens e fotos e se torna um diretor de cinema, provocando a paixão de uma esposa conservadora (que havia adotado o bebê).



A vida de um pianista, Coalhouse Walker Jr. (Howard E. Rollins Jr.), um afro-americano, também é afetada após sofrer humilhações e ter seus direitos ignorados pela polícia por ser negro, Coalhouse decide então fazer justiça com as próprias mãos.



Alguns dizem que o poder maior da estória está no romance original, mas a adaptação de Milos Forman tem suas vantagens estéticas. Dono de um estilo único, ele maestrou sua técnica em "Um Estranho no Ninho", mas o filme Ragtime, sobre os Estados Unidos, usou a técnica de temáticas sociais em comum entre os dois países (Estados Unidos e Tchecoslováquia). Em Ragtime, Forman utiliza de uma ideia mais focada no carácter satírico.



Milos Forman já tinha em seu estilo, em toda aquela pegada tradicional de ironia transcendental de Forman, vista em "Baile dos Bombeiros", mas agora não como uma crítica ao comunismo soviético burocrático e imperialista, mas agora vendo "traços em comum", traços populistas no tratamento político dos Estados Unidos. No caso do filme, os bombeiros eram piores do que os bombeiros lá do "Baile dos Bombeiros". Como eram "voluntários", suas ações poderiam ser vigilância ao estilo milícia de rua, o que explica o motivo do racismo deles com o pianista, que desencadeia toda o filme. 


Quando o pianista sai de seu carro para falar com o policial, o grupo dos bombeiros defeca em seu carro, deixando Coalhouse completamente arrasado com a falta de respeito. Isso faz com que ele adie seu casamento, e depois, Sarah, sua companheira, mãe do neném, é morta em um conserto do vice presidente. Como em uma metáfora de que não se pode acreditar na política como esfera de representação dos interesses públicos.



O arquiteto famoso é real, Stanford White que ajudou a popularizar o estilo "renascimento americano" foi interpretado por um dos autores do novo jornalismo e novelista Norman Mailer. Em 1906, ele foi realmente morto com tiros na Madison Square por Harry Kendall Thaw, ele tinha ficado obcecado com a história de que quando ela tinha apenas 16 anos, ele teria a estuprado e depois se envolvido com ela. Ele era obcecado nessa ideia. 


Quando ele mata o arquiteto, a família arruma um jeito de declarar ele incapaz em um julgamento chamado na época de "o julgamento do século". 


O triunfal início de século presenciou o fim de antigos impérios, como o Turco-otomano, o começo da Primeira Guerra, fruto desses nacionalismos radicalizados, tudo isso ocorrendo  o início do século XX, como também foi a época da chamada era progressista, do tumulto em Tulsa. 


Também a época que inspirou o jornalista Walter Lippmann em "Public Opinion" (Opinião Pública), de 1922, definiu a imprensa e a opinião pública como um sistema falho, pelo qual o povo apenas conhece o mundo de maneira indireta, através de certas imagens que se formam em suas cabeças. Principalmente com suas bandeiras, desfiles públicos, comícios, ideologias, visões mundo e adereços diversos. 




A ideia de "manufaturar o consenso" (Chomsky) fazia parte de uma ideia de desconfiança da democracia e a confiança em um sistema fechado em si. Era uma desconfiança da ideia antiga de democracia como florescimento do bom coração do ser humano. A ideia de opinião pública é o que é usado por parte da família rica do rapaz que matou o arquiteto. Eles queriam inutilizar o poder dele. 



Nesse sentido, foi uma armação sensacionalista usando da raiva do rapaz, para tirar todo seu poder e patrimônio. Ou seja, não adianta ter se livrado da acusação de assassinato do arquiteto, ele não conseguiu se livrar do preconceito que reclamava. O que tornou Evelyn famosa, já que o escândalo não saia dos jornais e da boca do povo, fazendo-a famosa através da notícia sensacionalista . 


Apesar de podermos concordar ou não com Walter Lippman, ele também não era neutro. Tinha lado, trabalhando para Woodrow Wilson, já no fim da Era Progressista.


A eleição que elegeu Woodrow Wilson foi vencendo Theodore Roosevelt e William Howard Taft. O filme aborda um período anterior, o começo mesmo do século XX, já que a esposa de Coalhouse morre em um comício do vice presidente Charles Warren Fairbanks.



A cena que Harry K.Thaw entra ameaçando não tinha no livro. Outro detalhe normalmente ignorado, é que é mencionado sua a viagem para o polo norte junto a Robert Peary. Não é mostrado a parte do livro da colonização de Eskimós pelos brancos ocidentais, Peary e um homem negro Mathew Henson. 


Outra situação do filme complicada de analisar é o abandono do bebê negro, e depois a descoberta de Sarah(Debbie Allen), uma mulher negra que havia dado a luz. Ela não fala inicialmente, e a polícia queria mandar o bebê para a Pig House (orfanato). 



Essa parte da intercessão da mãe (Mary Steenburgen) e esposa da casa pelo bebê achado e pela Sarah foi importante, já que a polícia queria prender a mãe do menino por abandono em cima de "preceitos cristãos". A polícia tenta levar o bebê da mãe e quer que ela assine um papel aceitando deixar o bebê com eles. O que é mais interessante é que a mãe da família conservadora, no fim, fica com o cineasta judeu, em uma grande nova família moderna. 



O irmão mais novo tenta ajudar Coalhouse, mas o pai orienta ele que não. Ele vai até Coalhouse e sugere fazer bombas para eles. No livro, o grupo dos homens negros havia feito ele raspar a cabeça e pintar a cara preto. O que não ocorre igual no filme, onde ele apenas pinta a cara. 




No livro, ele morre no México e há toda uma transformação de personalidade dele se tornando revolucionário, até se tornar membro do grupo de Emiliano Zapata. Enquanto que no filme, seu destino não é remitido ou comentado. O filme é uma referência ao gênero musical norte-americano que era muito popular entre os anos de 1897-1918. 


O livro começa em 1902, quando o pai constrói uma casa na Broadview Avenue hill em New Rochelle, Nova Iorque, tomando conta da casa em um dia ensolarado de junho. Vemos bandeiras, fogos de artifício, sentimento de nacionalismo efervescente. Era a época do governo de Teddy Roosevelt, e era uma época de alto senso de patriotismo e de começo de políticas populistas. Absolutamente tudo parece ter nascido enquanto tradição nessa época, era a época de "ouro".


O estilo tcheco de Milos Forman tem essa dimensão de caricatura e sátira, necessárias para abordar temáticas históricas pesadas com leveza, tornando-o um clássico de maneira que pudesse ser extraído o máximo dele. 


Esse livro é bem histórico para os EUA, uma forma de "Casa Grande e Senzala" para nós. Alguns desses fatores históricos são provavelmente desconhecidos pela grande maioria dos próprios americanos. Era a era dos teatros de Vandeville, das pescarias públicas, desfiles e piquenique eram comuns nos Estados Unidos dos anos de 1900. 



Musicalmente, o ritmo do ragtime também é quase como o choro para o brasileiro. É aquele ritmo nacionalista que tem tanto a influência negra, quanto a influência erudita. Sendo nos Estados Unidos o que gerou uma espécie de ritmo padrão em todos os musicais americanos. 



O ragtime se espalhou para outro ritmos, como o foxtrot, que é essencialmente, a dança de salão americana, que teve seu ápice nos anos 1940 (com a questão da "boa vizinhança" e da guerra, e da cultura da "marinha"). Mas isso veio de uma herança da positividade que sentia-se no início do século XX. Uma época de grande desenvolvimento econômico e de enterro de grandes tradições e nações antigas. Os vestidos perdiam o comprimento, junto com a moralidade geral. Era uma nova época de códigos de conduta e de aceitação social. 



Já o Ragtime, um tipo de ritmo característico nacional americano, dominado pelos músicos negros que passou a representar o tipo de cafeteria e bar onde pertenciam rodas de danças onde músicos negros, em sua maioria, tocavam um tipo de música, usando referências de banjo e também linhas de músicas clássicas mais rápidas. Nomes como Scott Joplin e James Scott, Buddy Bolden, Ernest Hogan, Robert Allen “Bob” Cole,  já dominavam o ritmo antes da era do Jazz e Blues. 


A questão do debate aqui é que o ragtime ás vezes vinha carregado de doses de entretenimento de arquétipo, ao estilo "coon", como nas músicas de Ernest Hogan La Pas Ma La" and "All Coons Look Alike to Me". 


O músico do filme, com uma pegada mais séria e gangster clássico, lembra a lenda do ragtime e do pianista James Price Johnson, talvez, uma das inspiração para o personagem de Coalhouse. Outra referência aqui é o blackface feito por um dos membros do grupo, que estava ajudando na condição de também estar exilado da sociedade. O que fazia com que ele participasse do movimento negro como um igual entre eles. 



Um dos personagem que não estão no filme é Houdini que aparece muito pouco, cuja existência é crucial para a narrativa do livro. É citado Morgan e Ford como grandes pioneiros da cultura capitalista. Outra ausência é a descrição da socialista Emma Goldman. Sua cena chegou a ser gravada, com Emma tacando uma pedra na janela de Tateh, após ele descobrir a traição da mulher e a expulsar. No seu discurso, Emma fala que sua mulher erro, mas apenas pelo fato de ser pobre. A cena ficou ambígua demais, afinal como Tateh já é engraçado, não sabemos se a sequência é na verdade um escárnio com o feminismo socialista, sendo a cena encontrada apenas nos extras do DVD. 


Depois, Goldman ainda salvava Evelyn da polícia e a levava para sua casa, falando um discurso sobre feminismo mas tudo que a moça conseguia entender era "fama" de seu discurso, afinal ela não possui consciência. No final da cena, elas descobrem um homem escondido ouvindo e vendo toda a conversa, ao que Evelyn entende como sendo uma armação de Goldman, algum tipo de perversão. Uma metáfora talvez sobre o feminismo para garotas bobas poder servir como uma forma de as expor para os homens. Realmente uma pena que toda a sequência tenha sido excluída.





Outros personagens deixados de foram Carl Jung, Sigmund Freud, Franz Ferdinand, Jacob Riis (jornalista muckraking), e claro, Emiliano Zapata. 




O interessante do salto de Houdini é o simbolismo em torno dessa era urbana de grandes riscos, circulação urbana e de cultura cotidiana de trabalho. Um clima aproveitada pelos performances e mágicos que entretinham a audiência de metrópoles urbanas contemporâneas. Mas enquanto ele faz seu espetáculo, as pessoas nem olham distraídas com a notícia do começo da guerra. 


Na categoria de "filme histórico" o filme é muito bom tecnicamente. Os ambientes, as roupas, penteados e debates, são muito bons em ilustrar uma visão de época. A fotografia é boa também. Mas o destaque vão para os atores, que entraram no clima de história e escárnio da trama, para a edição que soube dispor bem os melhores momentos do filme em suas sucessão. Muitos momentos do filme foram filmados e cortados da edição final. Porém o destaque principal vai para a produção, que deu o tom épico para o filme, e para a direção de Milos Forman, que soube misturar bem as tramas em situações psicológicas e históricas muito interessantes. Perfeito para quem gostou de Bridgerton ou The Gilden Age.


História por trás do filme


O filme não é uma adaptação fiel ao livro que foi inspirado. O romance de Edgar Lawrence Doctorow, lançado em 1975, 6 anos antes da produção do filme históricos; entremeia a história de três famílias fictícias que vivem em Nova York e seus arredores com diversas figuras e fatos reais importantes da história americana, ocorridos entre 1901 e 1917. A sensação literária de ler Ragtime é como as músicas do ritmo histórico americano, rápido, e em capítulos entrecruzados. Em toda a américa, morte e sexo eram mal distinguidas. 


O autor, Doctorow, não participou muito do desenvolvimento do roteiro, acreditando que a extensão da sua obra não poderia ser adaptada fielmente dando justiça a todos os elementos. O primeiro corte do filme chegou a quase 3 horas, mas depois foi reduzido em 30 minutos. Então, o filme possui muitas cenas deletadas que davam maior sentido ao clima de crônicas separadas que Ragtime tem. 


Milos Forman era tcheco, e perdeu os dois pais na Segunda Guerra em campos de concentração, então ele foi criado por amigos e familiares. Ele estudou roteiro (escrita) na Prague Film School (FAMU) de 1950 a 1955, se formou antes da turma da "New Wave" tcheca . Produzido pelos estúdio de Dino De Laurentiis (produtor dos filmes de David Lynch e Manhunter, por exemplo).


As técnicas de Forman são as mesmas de Baile dos Bombeiros, uso de vários atores e atrizes não profissionais, estilo de improvisação e diálogo, tudo para contar o dia-a-dia da vida da classe trabalhadora. Se no Baile dos Bombeiros os bombeiros voluntários são a representação perfeita da decadência da burocracia soviética. Essa incompetência da burocracia comunista mostrava de maneira bem óbvia essa dimensão crítica ao modelo de concursos de beleza, sorteios e festas institucionais. 



O elenco contava com Hoolihand Burke, Norman Chancer, Edwin Cooper, Jeff Daniels, Fran Drescher, Frankie Faison, Hal Galili, Alan Gifford, Richard Griffiths, Samuel L. Jackson, Michael Jeter, James Cagney, Brad Dourif, Moses Gunn, Elizabeth McGovern, Kenneth McMillan, Pat O'Brien, Donald O'Connor, James Olson, Mandy Patinkin, Howard E. Rollins Jr., Mary Steenburgen, Debbie Allen, Jeffrey DeMunn, Robert Joy, Norman Mailer, Bruce Boa, e surpreendentemente, Samuel L. Jackson no papel do grupo do movimento negro que se reunia na biblioteca. Ele aparece na cena onde o grupo está em negociação com o governo e com a polícia. 


Já James Cagney, antes do papel, estava há 20 anos sem atuar no cinema. Ele exigiu de Forman que ele pudesse ter liberdade total e desistir de fazer o papel mesmo 3 dias antes de começar o papel. Mas Forman, nunca informou ao produtor que Cagney poderia desistir 3 dias antes, tendo tudo dado certo por sorte. A questão é que Cagney tinha problemas no ciático, e nessa época já atuava com dor.



O livro foi mandado originalmente para Forman na Tchecoslováquia, como um possível projeto que seria feito por Kirk Douglas e produzido por Saul Zaentz. Os filmes de Forman passaram a ser um certo louvor a cultura americana, pelo menos a forma em si de se fazer cinema.  Um Estranho no Ninho mostrou um Estados Unidos que tranca as pessoas que são indesejadas para a sociedade. Baile dos Bombeiros mostrou o lado arcaico da burocracia comunista. Estranho no Ninho mostra o lado obscuro das instituições totais do capitalismo (prisão, escola, manicômio). 


Nos Estados Unidos, também é a época do começo do sufrágio que incluía as mulheres, que foi uma luta em nível federal que incluía greves de fome, prisões, boicotes e piquetes. O movimento sufragista foi o primeiro movimento coletivo feminino, era muito mal visto pelo público em geral, como também o começo dos movimentos de resistência urbana (que depois viraram grupos como os Panteras Negras). 



Forman gosta muito da cultura americana em Ragtime, mas não muito em Um Estranho no Ninho. Era cotado para dirigir o filme antes o diretor Robert Altman, sendo tirado no último minuto por Dino De Laurentiis. Muitos criticam essa mudança, mas isso tornou possível o enfoque política na história do homem negro, o pianista Coalhouse Walker, que é apenas mais uma história dentro da novela original. 


Ragtime foi basicamente gravado na área do Reino Unido. Depois desse filme, Milos Forman volta para a Europa para fazer Amadeus e Valmont (1989). Para Forman, que era considerado um crítico do regime, que depois voltou a ser interpretado como porta-voz, de maneira contraditória, do leste europeu russo e suas antigas Repúblicas Soviéticas. 


Ele também estabeleceu diálogos sobre intelectualidade crítica e cinema com Vera Chytova que era mais crítica e afiada que ele, e ele dizia que não era muito da intelectualidade, preferindo "contar estórias", sendo um cinema de inspiração mais fílmica, visual,  sentida em termos de ter influência de cinema mudo. Ele gostava de fazer uma mistura de Chaplin e Disney.



 Esse filme tem uma sutileza de perceber o clima da chamada Era de Ouro, ou mesmo Era progressista, e seu início na área de Nova Iorque, antes da Primeira Guerra. O livro é mais político e melhor do que filme por focar no papel das minorias e a ascensão de temáticas sociais mais profundas e de sua representação junto ao corpo social. 



Milos Forman queria "zuar", fazer seu melhor gênero de sátira, mais os personagem, então usou de muitos arquétipos e clichês para falar sobre. O início do filme é todo uma lição de resistência ao capitalismo e suas estruturas antigas e dominantes. O filme consegue se impor no início por uma excelente ambientação histórica usando imagens de arquivo para dar a imersão. Isso faz com que o filme seja considerado uma importante peça para retratar a questão dos imigrantes na américa. 



O vendedor de rua, Tateh. No livro personagem no livro possui ligação com atividades do partido trabalhista radical, como também seus esforços para trabalhar em uma mina, e seu relacionamento com Evelyn Nesbit.



O livro também mostra a transformação de uma sociedade antiga em uma sociedade nova. Henry Ford e seu T Ford democratizou o uso de carros para pessoas  em geral, quando antes apenas os super ricos tinham carros. Ford se torna um grande monopolista símbolo da vida moderna, onde a linha de trabalho visava substituir aos poucos a necessidade de muitas pessoas em muitas funções ao mesmo tempo, pela ideia de "linha de montagem", onde cada um tinha uma função específica na fábrica. 


Outra situação complicada é que os bombeiros voluntários (referência ao 'Baile dos Bombeiros'). Um dos caras do grupo de bombeiros não consegue aguentar o fato de que um homem negro tenha um carro tão bonito, então quando o pianista vai chamar a polícia, um dos membros do grupo defeca em seu carro, o que gera a raiva do personagem, que quer uma restituição moral que ninguém dá para ele, nem mesmo os membros do movimento negro, que achariam sua causa "simples demais", um grande debate essa situação gera. 


Já que não temos com tirar a razão de Coalhouse Walker, que sofreu muito preconceito por ser um homem negro que teria dinheiro e talento. Enquanto faz o seu grupo, seu filho fica aos cuidados da mãe de família. O pai da família tradicional perde sua esposa por não se adequar aos novos tempos, e apenas assiste pela janela. 



Depois da morte da esposa no comício, em resposta, ele cria um grupo de homens negros para fazer boicotes e pequenos ataques contra os pontos dos bombeiros voluntários (que eram mais um grupo de milícia local sem ligação com os estados e nem com as prefeituras).  Até que o presidente Conklin deveria ser entregue para ele. 


É bem legal o detalhe da venda do caderninho que gera a imagem em movimento, uma bela metáfora do início do cinema e da ideia de "movimento". Como é legal o filme terminar em um dos truques de Houdini (Jeffrey Demunn), o grande mágico que chocou o século XX, e houve matérias na época que sugeriram que ele seria grande parte do filme, mas acabou aparecendo enquanto arquivo no início do filme, e no fim. 
















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