"Literatura e Sociedade" de Antônio Cândido: A função e a evolução da literatura brasileira na sociedade - Entre a obra, o autor e a audiência
Livro publicado originalmente em 1965, é uma das grandes obras da ciência e da literatura e do pensamento social feitas no Brasil, elaborando uma síntese do trabalho do autor de 1964 - 1970. Na obra Literatura e Sociedade, Antônio Cândido, reflete sobre o papel da literatura como forma de mediação entre o mundo vivido e o mundo criado, para debater a extensão da causa e efeito das obras. Para o autor, a literatura não é um reflexo passivo da realidade, mas sim um testemunho ativo — uma forma estética de dar voz ao coletivo, ao povo, aos conflitos e às tensões sociais. Podendo ser esse o elemento que explique porque saudamos tanto o trabalho de professores sérios como foi Antônio Cândido, que faleceu em 2017
Uma matéria bem específica que tenta do início ao fim registrar essa grande obra da análise literária e sua história crítica, sem esquecer de tocar na parte da gênese da literatura e de sua formação e evolução de obra e público. Propiciando uma visão tanto global quanto local sobre a formação da literatura brasileira. Vamos ponto a ponto desvendar as belezas e as diversas citações desse clássico.
Livro tenta aplicar princípios do estruturalismo linguístico de Levi Strauss para a análise do texto e subtexto e contexto, interno e externo e as condições que colaboram com a análise de causas e consequências, além de funções da obra, e expoentes individualidade do artista.
Ele comenta sobre História, sociedade, obra e autor, como regra quanto mais complexa é a sociedade, mais há influência de diferentes classes na sua composição. Ao exemplo que ele dará depois da China, onde os mandarins eram uma classe de domínio institucional, que mandavam relatórios em formato de poesia didática. Esse estudo sendo um dos menos conhecidos trabalhos de Max Weber.
Antônio Cândido é um dos autores que eu mais admiro. Seu conhecimento sobre literatura é realmente abrangente e merece ser lido para quem gosta muito de livros. Além de debater o valor social da literatura junto a sociedade e o povo.
O livro tem uma proposta ousada, entender os propósitos gerais e explicativos do uso e entendimento, e importância da literatura em sociedade, ao citar livros e métodos de análise europeus, ele busca mostrar o exemplo do que já foi feito no ramo , ele busca livros que expliquem o propósito e criação de gêneros literários que por si já explicam o carácter fundador da literatura nas sociedades. Como o estudo de W. F Bruford sobre a fidelidade da Rússia de contos de Chekhov (Checov).
Outro estudo interessante é sobre um que levanta a crise dos intelectuais alemãs na formação da modernidade. Com o livro La crise de l' état prussien á fin du XVIII siècle).
Pertencendo segundo ele, mais ao estilo da chamada Sociologia Elementar, do que propriamente um campo da literatura. Outro livro citado por ele, é Sociologia do Gosto Literário, como um estilo de livro que aponta mais livros do que os analisa.
Mas o crítico, focado em fatores estéticos, pode tender a ignorar o contexto. O primeiro método de análise foi esse conservador, ao estilo de Sílvio Romero. Ele ainda comenta no capítulo a frente sobre o estudo dele sobre Martins Pena.
Depois de todo o conservadorismo da forma de análise da proto sociologia ainda ancorada no positivo e analítico. No século XX mudou o método, e a valorização do que seria uma análise técnica e focada na estilística e gramática triunfaram, mas logo depois do enfoque mudar antes para a análise dos fatores políticos, puxado pela Escola de Annales nos anos 1930.
Um sexto tipo de análise também citada é do tipo voltado para a investigação hipotética das origens. Mais voltado para a análise de livros e gêneros clássicos. Como um livro de Gunmere sobre as origens da poesia, ou a investigação marxista também de Christopher Caudwell, ou o estudo de George Thomson sobre as raízes da tragédia grega, por exemplo. Aqui vale dizer para acrescentar que Nietszche também fazia análises parecidas, como em seu primeiro livro que falava das origens da tragédia grega.
Assim, o papel de fator histórico sempre esteve presente em novelas. Ao exemplo do romance inglês, o esquematismo dos estudos de Taine forneceram material para Sílvio Romero estruturar suas críticos aos autores nacionais. O exemplo também do pessimismo jansenista francês com a ordem do Antigo Regime.
Desde Goethe, ou as fábulas para a cultura francesa, ou o teatro e o diálogo para as culturas lácio, com Gregório de Mattos, ou o teatro renascentista italiano, por exemplo, era cheio de peças que exaltavam a modernidade e críticas também como Mandrágora. Já o método é herdeiro de livros como Robert Escarpit La Sociologie de la littérature.
Ele propõe esse novo nível de análise entre a ideia de obra e condicionamento social. Avaliando melhor o vínculo entre obra e ambiente, depois do reino das análises estéticas triunfarem. Essa forma antiga de análise externa dos processos literários e históricos.
Argumentando que o que se considerava a priori e externo era elemento de análise interna das obras, enquanto a crítica se apega a valores de ordem estética ou técnica dos textos. Como fala de uma questão levantada por Lukács, em 1904, citando Senhora de José de Alencar, analisa a utilização altamente estilizada da poética dos diálogos de Senhora.
A crítica ao capitalismo e a desumanização operada pelo dinheiro, evidenciam a crise no patriarcado e no modo de vida burguesa, até que a rotina conjugal e o amor pudessem voltar a lógica de normalidade. Mas até isso acontecer, temos mil obstáculos por parte da heroína, que busca subjugar o amor de sua vida como se ele fosse mero objeto dela. Nesse romance, a egoísta é a mulher. Uma contradição "feminismo fora de época" de Alencar.
" O elemento histórico-social possui, em si mesmo, significado para a estrutura da obra, e em que medida?"
Tornando ao fator social, procuraríamos pensar se fatores como ambiente, costumes, traços grupais, ideais, e se isto é elemento para a consagração de uma obra de literatura como obra de arte.
Novas preocupações surgem como elementos sociais, linguísticos, religiosos. No século XVIII, Sílvio Romeno por aqui fazia na linha de Taine com os romances ingleses.
Ele cita de referência alguns clássicos desse tipo de obra como Drama and society in the age jonson L. C. Knights, Byron et le romantisme français de Edmond Estève. La Fontaine Et ses fables, de Taines.
No capítulo II, "A literatura e a vida social", ele orienta o argumento de seu estudo em tentar fugir da mera análise estética e estilística e foca nos fatores sociais da literatura e não uma espécie de teoria social geral da literatura e suas formas. Essa parte do livro já sendo parte de um material de uma conferência de 1957, na Sociedade de Psicologia, São Paulo.
Basicamente, existe uma crítica muito boa na obra de Antônio Cândido sobre o papel do crítico ou sociólogo antigo na análise de obras artísticas, já que maestros de suas disciplinas não julgavam necessário saber mais do que as ferramentas de seus próprios saberes, ignorando ás vezes a totalidade dos fenômenos artísticos.
Ele cita reduções absurdos como essa ideia do "Dai-me o meio e a raça, eu vos darei a obra". Ele comenta que a maioria dessas análises antigas ficou esquecidas pela tentativas generalistas e de encaixar em modelos de teorias do tipo deterministas ou imperialistas como ele define.
Surge essa pergunta solta, qual a influência exercida pelo meio social sobre a obra de arte? e o contrário, qual é a influência da arte nos meios, especializados ou dos leitores comuns?
A visão do autor é que seria truísmo demais confiar no papel redentor da literatura, muitos consideram algo supérfluo ou superficial, inclusive. Mas o autor nos lembra que em sua época e espaço, representasse questões com relevância histórica. Ele dá o exemplo do vínculo institucional de Voltaire, Herder com os povos.
Para a sociologia moderna, interessaria com viés literário analisar os tipos de relações e os fatos estruturais ligados á vida artística, ou como causa ou consequência ou efeito.
Cândido aborda dois polos de método, um que busca a integração, com foco no indivíduo e nas biografias, e a diferenciação, focada em análise de peculiaridades e contradições. Enquanto a comunicação e suas técnicas ensinam mais o eixo de análise: autor, obra e público. Depois a posição do artista, o aparecimento individual do artista e o papel de criador da arte.
O exemplo na gênese (início) da formação literária é da formação dos gêneros literários primordiais, como a prosa oral que contava as façanhas d'as primeiras civilizações na Grécia, em obras como "Ilíada" e "A Odisséia", muitos acreditavam não ser Homero apenas um escritor e que essas estórias eram de pose do povo grego e a poesia quando a métrica passou a ser um expoente extra de preocupação com aqueles que brincaram acima do seu nível com as facetas dos idiomas. A criação é confundido com todo a região, seriam os poemas épicos de definição primeira não apenas dos gregos, mas da própria história em si.
Outro exemplo é os irmãos Grimm que fizeram catálogo de tradições orais alemãs e franceses e registraram e modificaram as estórias de contos infantis favoritas das crianças depois de suas revisões. Outro exemplo é a literatura de pastoreio grega e suas diversas aplicações a apropriações.
Depois tivemos literatura inspirada na ideia de purgatório e apocalipse com A Divina Comédia já no início do renascimento italiano. Podemos ver essa mudança, essa clivagem do método, objeto e dos expoentes diversos das criações literárias e da formação e evolução e criação desses gêneros ao longo da história.
Pós século XIX as Paperback Novels, o romance de folhetim havia sido criação francesa de 1820, com Gustave Planche. No geral, houve interdependência da publicação em jornais em relação a tornar obras conhecidas. Isso ocorreu no Brasil do século XIX que buscou imitar a França nisso de publicações semanais e em forma de "bait" (algo que chama a atenção) como fazem as novelas. A audiência, o público passava a participar ativamente com a repercussão gerada pelas estórias que eram passadas ao público semanalmente.
Ele ainda dá exemplos diversos do processo de criação e arte nas culturas, citando o exemplo da arte de confecção de canoas por parte dos Trobianeses da Malásea na obra de Malinowski Por isso ele fala que a ideia de Levy Bruhl era tão sedutora sobre indagar sobre a hipótese mística ou chamada pré lógica.
Os técnicos de hoje já foram os sacerdotes, os clérigos ou teólogos de outrora (que na Idade Média eram pesquisadores e professores), vira o filósofo ou o cientista. Os mestres e magos de ontem e cada ofício importante e crucial pode se tornar relacionado com poder espiritual ou divino que envolve o trabalho. Um filme e livro que mostra muito bem isso é "Em Nome da Rosa".
A evolução científica não é mera quimera, mas pode ter esse caráter etéreo. Dentro da literatura, Antônio Cândido desenvolve o paralelo do respaldo histórico dentro do debate da formação dos expoentes artísticos e literários.
Por isso ele volta a discutir a função social da literatura na sociedade e levante pontos muito interessantes sobre formação histórica e surgimento dos gêneros literários como um todo. Ás vezes a literatura está presente não apenas na História, mas também nas instituições gerais, ou até mesmo em prédios.
O exemplo muito bom que ele dá é da aedos grega e das catedrais medievais. Mostrando essa forma de literatura fora da literatura e presente em todos os espaços. Esses aedos foram o princípio da forma escrita de Homero em termos de gênero e escrita representavam a saudação vigorosa de quem queria lembrar para suas novas gerações feitos de guerras e batalhas antigas.
Da página 42 da primeira edição em diante, ele começa a entrar dentro dessa ideia da dimensão de mensura os fenômenos culturais coletivos em sociedades que precedem o registro escrito. Ou fala também do erro do pesquisador que tenta entender literalmente tradição oral como forma escrita automaticamente. E também o erro do folclorista que tende a desligar a obra de seu ambiente de criação.
O exemplo das peças de teatro são ótimos, pois são representação artística junto com o texto escrito de antes da peça. Existe toda uma forma de analisar a sociedade grega, por exemplo, por seu expoente de peças de drama, como Sófocles, por exemplo.
O aviso aos navegantes de ciências sociais, para resumir o barco, é sobre respeitar os limites de análise de local. Um exemplo, um professor de história pode dar aula diretamente de judô só por saber da história do judô? Não, ele precisa respeitar a hierarquia da luta e daqueles que são mestres da luta e do dojô específico. Para dar um exemplo que pensei do que é discutido no livro.
E como que a literatura captura o coração da sociedade? Antônio Cândido, aqui na página 49, fala sobre a criação literária corresponder a necessidades de representação e visão de mundo.
Ele dá um ótimo exemplo, de uma pesquisadora inglesa Audrey Richards que estudou hábitos alimentares de uma tribo que acreditava comer ser parte de um rito mágico dentro de toda estrutura de danças e símbolos.
Depois disso, ele começa a escrever sobre a questão alimentar, sobre a prática de pintura da "natureza morta". Falando de escritores que conseguiram interpelar a condição de fome a estrutura econômica, um dos mais exemplares casos modernos é do escritor Knut Hansum.
A partir dessa parte do livro, é que começa a definição maior do significado do livro. Ele vai abordar a leva de escritores com tentativa de explicação nacional.
Como Alencar ou Jorge Amado. Já enquanto o que ele chama de literatura difícil, sô teríamos produzido Euclides da Cunha, e ele mesma se lembra de que fora recusado pelo exército e depois consagrado pelos mesmos e pelos ciclos literários. Mas a escrita da literatura nacional se mantinha em termos de escrita, para além apenas do nativismo. Ele cita várias curiosidades, fala dos jovens românticos de Niterói.
Mas é mesmo no capítulo IV, segunda parte, chamado de "O escritor e o público". É por aqui que ele mais se debruça em esmiuçará seus métodos de análise. Seu foco além de literatura e surgimento dos gêneros literários é propor a análise do tipo específico da literatura nacional.
Ele avisa que existe uma tendência de considerar uma obra literária como algo incondicionado, que existe em si e por si, que age sob as coisas com vigor próprio, mas não é bem assim.
Não é apenas a virtude criatura que circunda as obras. Analisando as chamadas "sociedades civilizadas", a literatura precisa da análise da sociologia por ser em grande parte a criação e relação entre grupos criadores e grupos receptores de vários tipos, sendo o preponderante, posso adiantar eu mesma do texto mais a frente, a relação de representação possível que era pensado e feito para agradar as elites letradas.
Já a ideia de "Papel Social" passou a ser importante, depois da burocratização do Estado, mostrando que escritores como Gonçalves Dias e Machado de Assis eram adidos potentes das máquinas burocráticas. Machado sendo comentado por ele como o expoente de literatura produzida para ser lida, que denota uma especialização de autor e público. Aqui no blog, já fizemos mil vezes de obras de Machado de Assis. A principal delas que rompeu com o universo agridoce da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas tão comentado e gostado como o auge da virada realista. Mas outras foram importantes e muito bem escritas em sua fase mais madura como Esaú e Jacó.
Apesar disso, a tradição monárquica não costumava alçar indivíduos tão bons quanto Machado, digamos que ele foi um sortudo que conseguiu "disfarçar" sua ideologia dos grandes conservadores (mas também não muito.se pensamos em seus críticos ferozes).
Essa relação foi estabelecida na época do Império, com as Escolas de Bela Arte, os Institutos Brasileiros brasileiros diversos, como o Instituto História e as Academias de Direito (Olinda-Recife e São Paulo), e também com a distribuição de prebendas (favores) para os que se destacavam com alguma forma de literatura mais nativista e propagandista. Essa questão envolve uma ideia de "massa abstrata" .
Apesar de não ter um público especializado formado, a literatura no Brasil corria para o lado de agradar mais leigos escolarizados e interessados, até ela achar o seu público junto com a evolução da audiência. O papel dos jornais ajudou a difundir a literatura escrita, já o rádio no século XX trouxe a oralidade de volta para o mundo depois de tanto tempo de primazia do escrito.
Como nosso país por ser colonizado não possuía assim uma tradição oral própria. A fase de precede a independência viu a ascensão dessa literatura de libelo dos revolucionários de 1817, que se prepararam para 1824 na cadeia com o maior esmero, cada um em sua disciplina.
Por isso Cândido se preocupada com a relação da obra e seus receptores, são esses os elementos que mostram a evolução dos fatores que constituem o universo literário de um povo. É preciso marcar o século XVIII como o fim dessa literatura com audiência em arautos públicos, sermões de padres.
Era uma literatura sem público leitor imediato, a primeira seria sermões para convencer pela oralidade, apesar de ser escrito de antes, era a pregação dos padres e jesuítas em geral. Era assentada na repetição das "ideias chaves militantes" para dizer assim. Outro assunto vem de identificar os fatores que constituem a literatura e seu valor, seria a relação de importância da literatura com o povo como um todo.
Antônio Cândido escreve sobre a "cor local" como um dos temas que passou a ser identificado a partir de um nativismo que visava através do indianismo, construir os pilares de uma literatura livre da influência europeia. A elite literária no Brasil escrita ao público restrito, visava não refinamento de gosto, mas apenas o mero interesse pelas letras. Sendo nossa literatura mais acessível do que outras.
Citando Basílio da Gama e Santa Rita Durão, que pensava o "índio como protótipo da virtude natural", isso no século XVI. Foi essa a função primordial da escola romântica literária, pensar os meandros e cenários dos sentimentos nacionalistas de autonomia.
A ideia do papel do escritor acessível e didática está mais presente em autores nacionais como Magalhães, José de Alencar, Domingos Olímpio, Bilac, Mário de Andrade e Jorge Amado. Apesar de ser uma literatura acessível e feita para um público novo médio nacional, era pouco difundida, certa consciência grupal do artista, mas não teria o refinamento artesanal, por exemplo dos russos, se posso acrescentar ao seu pensamento (página 79).
O Brasil apesar da qualidade da nossa literatura ainda penou por autonomia e renome, vejamos que o aprimoramento da boa escrita, feita para ser ser lida e com certa dificuldade é visto com o fenômeno Machado de Assis.
A ascensão das massas trabalhadoras propiciou não apenas uma utilização maior na escrita de elementos da oratória e oralidade brasileiras, como propiciou o surgimento de novas formas escritas para a língua portuguesa brasileira, criando ao longo do tempo devido a influência disso anterior da "cor local", novas palavras de outros idiomas, nações, etnias, estados que compunham o Brasil, passando a haver certo orgulho no decair das regras gramaticais de outrora, embora isso na literatura formal tenha demorado a vigorar, com o pendor girando ao lado mais da forma rígida clássica.
Os escritores passaram a escrever não apenas para desenvolver um papel social, ou em nome de uma missão, mas para tentar convencer ou comover.
V. Letras e ideia no período colonial (uma exposição didática).
O relativismo pregava pela ideia da influência do meio na literatura, e a exigência da época era o nacionalismo. Ao exemplo de Joaquim Norbeto, que chegou a imaginar uma literatura indígena. Obras como as de Antônio Vieira e José de Anchieta (1533-1597) eram religiosas mas surfavam em certo louvor ao indianismo também apesar de não ser literatura secular e nacional ainda.
A literatura brasileira se especializava sabendo-se parte da tradição lusitana, e na regionalização desse processo retratando aa adaptação da linguagem nos trópicos. O primeiro brasileiro nato a publicar um livro foi Manuel Botelho de Oliveira. A literatura aqui ainda tinha os tons não distintos do barroco e do malabarismo, passando progressivamente para as árcades (a influência do neoclássico), como de novo podemos citar Basílio da Gama ou Botelho de Oliveira.
Os livros passam a falar do louvor a natureza, fauna e flora e das belezas do abacaxi, por exemplo, uma fruta real. Livros como Frutas do Brasil (1702) Notícias curiosas e necessárias das cousas do Brasil (1668).
De livros de história, vale lembrar que ele citou História da América Portuguesa, de Sebastião da Rocha Pita (1660-1738), Já descrevendo como um livro ideológico que prega a colonização em seus moldes clássicos, o Brasil é descrito como um porto de reino de glória que converte o gentio (o não crente), expulsa o herege, e que por isso receberia as dádivas dos vegetais e do minério.
Ou mesmo para adicionar um livro que acho importante do mesmo estilo, o livro Diálogo das Grandezas do Brasil, onde Ambrósio Fernandes Brandão declarou que na nossa terra: "Tudo que planta dá", escrito por volta de 1618. Já havia o apelo de justificativa e vantagens das terras brasileiras em uma grande já propaganda de abastança e da empresa colonial.
Antônio Cândido acredita, não sei se concordo, que o período de Pombal foi benéfico para a empresa e literatura em geral brasileira (em geral, houve muitas reformas escolásticas), pois teria focado na necessidade de "bom governo", mas não sei se concordo aqui com isso exatamente.
A época pombalina teve avanços, mas teve também uma dinamização e controle maior das colônias e conseguiu sistematizar a empresa colonial e cobrar impostos exorbitantes. Se foi uma forma de controlar a monarquia governando diretamente, também efetivava o domínio sob as colônias.
Exemplo de literatura pombalina é O Uruguai, de Basílio da Gama que é sobre a expulsão dos jesuítas e o contexto das missões. Outro livro é "O Desertor", Silva Alvarenga que celebraria a reforma universitária que comemorava o fim de várias práticas escolásticas antigas em 1759.
O Brasil joanino (até 1821), vigorava uma grande influência do liberalismo inglês, aumentando essa influência com a vinda da corte portuguesa ao Brasil. Triunfando valores sociais como o culto pela natureza e pela investigação ao mundo. Até aqui experimentando o barroco e o arcadismo chega para coroar a influência liberal no país. Temas como nacionalismo e no romantismo nunca mais vão se desvencilhar, até o surgimento progressivo do realismo mais bruto.
VI. Literatura e cultura de 1900 a 1945.
(Panorama para estrangeiros)
Essa lei local da evolução da vida espiritual, regido pelo localismo e pelo cosmopolitismo, ora copiado dos europeus, ora cultivado em suas raízes locais.
Alguns conseguiram ter aquele equilíbrio entre obra e personalidade literária, como Gonçalves Dias, Machado de Assis, Mário de Andrade ou Joaquim Nabuco. Esses expoentes atuavam em um país novo, recente e com peculiaridades como o sentimento de inferioridade de ser um país tropical e largamente miscigenado. E a literatura internalizava esses paradigmas, como com o livro "O Mulato" de Aluízio de Azevedo mostra a briga entre dois grandes escritores, falando de um caso que consigo pensar mostrava essa tendência.
O modernismo e o século XX buscaram uma ruptura geral com os os padrões estéticos lineares e neoclássicos. É o fim do romantismo clássico. O simbolismo de Cruz e Souza marcava a última fase da moda romântica. Havia o regionalismo de Taunay, Alencar, Bernardo Guimarães transforma-se no estilo doconto sertanejo.
O parnasianismo tinha expoentes como Alberto de Oliveira, Raimundo Corrêa ou Vicente de Carvalho e era também uma forma tardia que louvor aos valores neoclássicos antigos.
Já os autores que escreveram no fim do século possuíam uma visão que poderia se chamar de "crítica nacionalista", com nomes como Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo, passando então ao encontro do critério de nacionalismo para ser o principal fator de interpretação.
Nomes como Madame de Stael e Schlegel, no Brasil através de Garret e Ferdinand Denis ao associar-se as filosofias naturalistas. A crítica moderna era estimulada pelo mais literário dos nossos críticos, José Veríssimo, e depois por Nestor Victor. O lançamento de uma espécie de compêndio com Ronald de Carvalho "A Pequena história da literatura brasileira".
A Primeira Guerra fez surgir uma virada espiritual e simbolista na literatura mundial. Que logo, é respondida pela futura escola dos modernistas, interessados em romper com as tradições.
A semana de 1922 foi um marco por introduzir as ideias dos modernistas de São Paulo. Nomes como Manuel Bandeiras, Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Millet ou Mário de Andrade deram nova cara aos artigos ao estilo de ensaio, as artes e a literatura como um todo. Passamos a não mais nos ver como um sentimento de ideias fora do lugar, ou de baixo autoestima, agora as tendências eram de louvor aos elementos formadores do nacional. Oliveira Vianna, em 1917 havia feito uma teoria absurda de fidalguia necessária para constituir as elites nacionais, no ano da revolução russa.
As antigas "deficiências" apontadas anteriormente se transformam em potência e agora com isso passamos a louvor o que antes desprezávamos.
O surgimento do Partido Comunista Brasileiro em Niterói em 1922, e depois a revolta tenentista da 1924 contra Artur Bernardes marca o início do fim do domínio conservador na cultura. O negro e o mulato antes ignorados ou justificados como problemas são alçados a principal elemento de inspiração dos modernos. A mestiçagem antes ignorada vira tema principal no clássico Macunaíma.
O ultra nacionalismo já observado em Policarpo Quaresma toma contornos de nativismo veemente em obras que vão para o radicalismo com Plínio Salgado e Cassiano Ricardo.
Chegamos nos anos de 1930, chegamos na tendência agravada do regionalismo que desemboca no romance popular regional, Rachel de Queiróz, José Américo de Almeida, José Lins do Rego e Jorge Amado principalmente vão mostrar as cores do popular nos tons da estética neonaturalista mostrando temas como no êxodo rural e mudanças de paradigma de produção e a luta desse novo trabalhador em cena.
Ao mesmo tempo que o conservadorismo de algumas tendências católicas, como as de Alceu Amoroso Lima e Tristão de Athaíde podem ser vistas como respostas ao modernismo.
O que ele chama de populismo literário e problemas psicológicos, socialismo e neotomismo, surrealismo e neo-realismo, laicismo e arregimentação católica, libertação nos costumes, formação da opinião política, traços todos estes dos intensos anos de 1930 (pág 115).
Agora vamos aos anos 1940, antes disso. A literatura das décadas anteriores buscavam uma certa universalidade.
Agora chegamos no modernismo regionalistas e populista. "Fogo Morto" de José Lins do Rego e "Terras do sem-fim", de Jorge Amado, "Sentimento do mundo" e "Rosa do povo" de Carlos Drummond de Andrade. Até 1945 há uma crescente produção literária. Há uma separação sem antecedente entre a preocupação estética e a preocupação político-social.
Outras questões passaram a importar, como a rádio-novela e a influência enorme agora do cinema de fora na nossa literatura. Literaturas da época como Henriqueta Lisboa, Vinicius de Morais com obras como "Cinco elegias", e Clarice Lispector, com "Perto do coração selvagem, 1944, ou "O lustre". São citados como r¹omances dessa nova tendência do enfoque psicológico e individual. Seriam os admiradores tardios de T. S. Elliot e Rilke. Ou João Cabral de Melo Neto e Wilson Figueiredo. Seriam os escritores que fariam algo parecido com Varela, Castro Alves ou Gonçalves Dias.
Uma excelente interpretação dele do caminho que seu livro faz é a ideia de literatura de incorporação que vai se transformando em literatura de depuração. Passando por essa ideia da formação de uma espécie de espírito de povo.
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