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The Boys From Brazil (1978): A fuga de Josef Mengele, médico de Hitler, para a América Latina é o tema da adaptação de livro de Ira Levin



Suspense e drama dirigido por Franklin J. Schaffner, com roteiro de Heywood Gould, baseado no livro do autor Ira Levin, "The Boys From Brazil" ou Os Meninos do Brasil, o mesmo autor de Rosemary's Baby. Ezra Lieberman (Laurence Olivier) é um veterano jornalista judeu que tem um amigo correspondente no Paraguai, Barry Kohler, que acaba de encontrar evidências de uma conspiração nazista. Ele coloca uma escuta na reunião de Josef Mengele (Gregory Peck), que buscava formar um novo exército ariano na região. 

Ele consegue gravar, mas é pego pelo grupo que percebeu que uma das crianças nativas tinha ajudado o jornalista a grampear a reunião. Antes do jornalista jovem desaparecer, ele estava dando as informações pelo telefone para Ezra, que já havia comentado que o que ele estava fazendo ele se colocar em risco demais. Ezra pega as informações sobre a encomenda de morte de Mengele, de homens não judeus, e logo fica intrigado com a informação, e vai atrás dos nomes junto com sua esposa, Esther (Lilli Palmer) sobre os garotos adotados.  



O jovem Barry Kohler (Steve Guttenberg) encontra uma organização secreta do terceiro reich, onde criminosos de guerra formam uma reunião ultra secreta de neo-nazis. Ezra Lieberman (Laurence Olivier),que recebe notícias de seu paradeiro, é um caçador de nazistas famoso que vive em Vienna, Austria. 


Mesmo que inicialmente de forma cética, Ezra havia alertado Kohler sobre a gravidade do que estava fazendo. 
Kohler clonou a frequência da estação de rádio local, aproveitando para dar um rádio de presente para um garoto local que o ajudou a colocar a escuta na casa de Mengele. 

Os dois são descobertos, logo que a estação de música que o menino ouviu dá estática e demonstra o áudio de dentro da sala de Mengele, o que um de seus funcionários (submissos) observar e já denuncia. 





Lieberman segue os rastros de Kohler e começa a viajar para confirmar a existência da possível morte de "homens funcionários públicos", todos acima de 65 anos. 

Ele encontra várias viúvas e fica impressionado em perceber que todos os filhos dessas famílias são adotados, todos com cabelo liso bem preto, e olhos azuis, todos eles, garotos, muito parecidos entre si. 



Enquanto os homens tinham mais que 65 anos e eram dominadores, suas mulheres tinham por volta de 42 anos. Liebermen consegue a informação com uma prisioneira de guerra, Frieda Maloneu (Uta Hagen), uma antiga guarda de campo de concentração que havia se tornado representante de uma agência de adoção depois da guerra. 

Ele se encontra com o médico Professor Bruckner (Bruno Ganz) a verdade genética absurda por trás do plano de Mengele e percebe a extensão do plano nazista de controle biológico. 


Durante os anos de 1960, Mengele havia feito diversos experimentos em mães brasileiras como mães provetas, descartando seus materiais genéticos originais e colocando o material genética de ninguém menos que Adolf Hitler. 

Lá, ele implantou os zigotos que tinha guardado e gerou 94 clones idênticos. O plano de morte dos pais das crianças, era uma forma de imitar a biografia das crianças para parecer com a biografia original de Hitler.  

Enquanto Liebermen investiga e começa a ser visado por Mengele que quer matá-lo a todo custo. Mengele se encontra com um dos agentes que foi dado para ele a tarefa de matar um dos pais de seu projeto. 

Quando vê que ele não obedeceu as suas ordens, Eduardo Seibert (James Mason) que seu plano foi vetado pelos seus superiores na hierarquia por Ezra estar muito perto de descobrir a verdade. 


Mengele foge para os Estados Unidos ao Condado Rural de Lancaster, Pensilvânia, onde um dos garotos mora com a família (que é notavelmente 'whitetrash'). Mengele consegue chegar antes que Ezra no lugar, fingindo ser ele. Mengele encontra o pai desse menino, que comenta uma frase racista contra pessoas negras, mas antes de morrer, diz que nem liga para judeus. 

Quando Ezra chega na casa, os cachorros do homem que morreu estão latindo sem parar, ele percebe que tem algo de errado enquanto entra na casa, daí ele acha Mengele e o reconhece imediatamente. 

Toda o seu pacifismo e "jeitinho de velhinho" e simpático de Ezra são pausados na hora, e mesmo tomando um primeiro tiro de Mengele, ele parte para cima dele que nem louco, sabendo muito bem quem ele era. Eles brigam de maneira muito acirrada, mas é Mengele que está usando arma.
 

Quando uma das crianças adotadas, Bobby Wheelock (Jeremy Black) chega percebe que está algo errado, ele tenta convencer que foi Ezra que o atacou, mas o jovem reconhece atitude hostil dos cachorros com quem atacou o seu pai (John Dehner)

A cena é marcante, pois quem pode salvar Ezra é uma das crianças do projeto maluco genético de Mengele

Mengele tenta convencer o garoto de seu plano, mas acaba encontrando apenas um garoto impactado pela cultura de massa, que o acha maluco, e que tinha acabado de descobrir que ele tinha matado seu "pai". 

Os cachorros avançam em Mengele a mando de Bobby que pede para Ezra não contar que foi ele que soltou os cachorros em Mengele até a morte. 


Ezra, quase morrendo, não acredita que sobreviveu. Depois, quando está se recuperando de seus ferimentos no hospital, David Bennet (John Rubinstein) vai visitar ele no hospital, e quer a lista dos nomes das crianças, pois planeja matá-las. Ezra nega, e diz que as crianças não são Hitler, ou culpadas pelo plano de Mengele, e que ele ia denunciar ele e sua "organização" (a organização dos jovens judeus) se eles matassem as crianças do projeto. Ezra queima a lista que havia pego do corpo de Mengele antes de desmaiar. 


No livro, a cena inicial é descrita como uma reunião de três homens, que foram do avião para uma limusine. Eles vão do aeroporto de Congonhas para as ruas da São Paulo central em meio de seus arranha-céus. Eles param em um restaurante japonês Sakai, um restaurante que parecia um templo. 


Um homem vestido em trajes de gala, diz que seu nome é Aspiazu, falando em um português com sotaque levemente alemão. A cena descrita no livro é sobre uma reunião secreta em São Paulo.  A mudança aqui do livro para o filme é gigante e importante. Acredito que não tenham conseguido filmar em São Paulo, por isso filmar o Paraguai, talvez também, era uma tentativa de apontar o ditador paraguaio da época como nazista (tem também esse ângulo). 

Mas o principal continua o mesmo. A reunião no livro continha um homem da Argentina, um do Rio de Janeiro, outro de Porto Alegre e o japonês. 


No filme, é uma reunião que seria na casa de Mengele no Paraguai. Mas o que não mudou foi a questão principal narrativa da história. 94 homens que teriam que morrer dentro de certas datas específicas, nos próximos dois anos de meio. 16 deles estão na Alemanha ocidental, 14 na Suíça, 13 na Inglaterra, 12 nos Estados Unidos, 10 na Noruega, 9 na Áustria, 8 na Holanda, 6 na Dinamarca e no Canadá.  O jornalista que foi pego no filme com uma escuta na casa de Mengele conseguiu passar a informação para Ezra antes de ser pego. 


A mudança feita no filme é que o jornalista que investiga a situação está no Paraguai, e não no Brasil, o que torna o título do filme um pouco off. Mas acho que seria muito frontal contar a história real e macabra, de um dos homens mais monstruosos que o mundo já viu, e que teve sua acolhida no Brasil, o nosso país. Temos que refletir o por quê disso. 


Crítica do Filme


Afinal, quem foi Josef Mengele na vida real? Essa é uma pergunta importante para começar a entender a mitologia e o enredo desse filme. 

O bom velhinho, o jornalista Ezra Liebermen, parece em muito com o famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal, que foi prisioneiro de um campo de concentração na Segunda Guerra, e que depois trabalhou para educação em torno da questão da memória do holocausto, focando em uma visão mais pedagógica do tema, seria esse o homem que inspirou o personagem de Ezra.



Josef Mengele era um médico nazista (com doutorado em antropologia e medicina pela Universidade pública de Munique), ele trabalhou nos campos de concentração Auschwitz, selecionando quem ia morrer primeiro nas câmaras de gás, onde ele fez experimentos cruéis com os prisioneiros. 

Depois da guerra e da perda do eixo, ele fugiu para a América Latina junto com alguns membros da antiga SS. Ele inicialmente viveu na Argentina, depois no Paraguai, e depois no Brasil nos anos de 1960.  Ganhou em janeiro de 1937, seu PhD em antropologia na Universidade de Munique. No mesmo ano, ele se uniu ao Instituto de Biologia e Higiene Racial em Frankfurt. Enquanto ele trabalhava para Otmar Freiherr von Verschuer, um geneticista alemão, com interesse em pesquisar gêmeos. 


Vários eram aqueles que tentaram capturar Mengele e trazer ele para a justiça. Operações do governo de Israel, da agência Mossad, foram acionadas para tentar capturar Mengele. 

Mengele morreu em 1979 (um ano depois do filme), de um infarto enquanto nadava na costa de Bertioga, e foi enterrado sob o falso nome de Wolfgang Gerhard. Seus restos mortais foram identificados através de perícia forense nos ossos em 1985. 


O livro de Ira Levi foi escrito 1976, dois anos antes do filme. Aborda a conspiração neonazista, e começa no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. 

Isso é bem diferente da estória do filme, que começa no Paraguai, como se fosse o Josef Mengele o líder de um movimento que funcionasse junto com a elite do Paraguai, como se fossem do mesmo grupo dos políticos locais, Alfredo Stroessner (ditador no Paraguai até 1989).  

Durante o el stronato, o ditador governou sem respeito aos direitos humanos, e colaborou com as outras ditaduras do cone-sul, como Brasil. 


Nesse sentido, podemos entender o filme como uma grande metáfora de que o autoritarismo de Estado (o maior que existiu sendo o nazismo), se manteve em forma de práticas de violação dos direitos humanos e da democracia em locais de fraca tradição democrática, como a América Latina, e que foi por aqui também que nazistas como Josef Mengele (o chamado 'anjo da morte') se estabeleceram e continuaram seus experimentos e sandices absurdas. 

Josef Mengele teria se estabelecido na cidade de Cândido Godói, uma cidade no Rio Grande do Sul, que possui 10 vezes mais o índice de nascimento de gêmeos para a média nacional. 


A cidade ficou conhecida por isso como a "cidade dos gêmeos". Além disso, Mengele não escolheu o lugar no Brasil á toa. A cidade já foi alvo de uma série de reportagens de jornais e tv. 

Esse lado mais de "direita" do nosso país é o lugar meio "A Fita Branca (2009)", onde existem muitos descendentes de alemães, e que se fala inclusive um dialeto alemão minoritário conhecido como "die Neikolonie (Neukolonie)", originários de antigas colônias alemãs, povoadas da época da imigração do século XIX, as "die Altkolonie" no leste do estado. 

O filme faz uma forte reflexão sobre como as aparências, o naturalismo tropical e a visão implícita de práticas científicas, podem corroborar justamente para o contrário: o abandono da racionalidade, através do automatismo de se "fazer o que é necessário". 


Todos sabem sobre o nazismo no sul do Brasil. Inclusive, sabemos disso em termos de ideologia política. A lava-jato, por exemplo veio do Paraná, local também do Sul, e seu discurso de corrupção que vende uma "pátria corrompida" e "podre" que precisa ser restaurada, algo bem similar aos discursos de Hitler sobre a Alemanha da época. Apesar da também muito longa tradição de esquerda e centro em locais como o Rio Grande do Sul, células de extrema direita, racialistas de grupos neonazismo são realidades para esse lado do país.  



O filme é bom, mas o livro é ainda melhor. Ira Levin é um gênio do suspense. Ele havia comentado sobre ter influência na moda do ocultismo e satanismo por conta de "O bebê de Rosemary", mas ele esmo brincou que isso foi uma "moda", e que não captura em essência o que ele realmente queria dizer com a estória. A questão mais importante do filme está na fala final de Ezra Liberman, ele demonstra para nós uma grande lição que foi demonizada no filme sem motivo, sendo um final bem realista e humanista. 


A ideia do grupo dos jovens judeus radicais era de vingar a morte de Kohler e também fazer uma "restituição histórica". Mas para isso, eles teriam que matar 94 crianças. 

O problema é que o médico ao clonar a genética das crianças não criou Hitler, ele queria criar, ele imaginava que o material genético faz a pessoa. Ou seja, na mentalidade de "ter que matar" os garotos, o grupo de jovens judeus viaja e concorda completamente com a paranoia do médico maluco. Ao assumir que você é "culpado" pela sua genética.  

A pergunta filosófica eu já tinha feito antes mesmo que ver o filme. Se você viajasse no tempo e pudesse matar Hitler enquanto bebê, isso teria evitado o surgimento do nazismo? É uma pergunta macabra, pois tendemos a pessoalizar e biografa, e recusamos as análises históricas e focamos nos grandes feitos, nas grandes obras. Mas se pensarmos bem, o nazismo aconteceu pela imensa ignorância geral da própria história da humanidade, o nazismo marcou a morte do humanismo. 

Foucault chamava o nazismo de estado "bio político" por excelência, uma política que decide qual vida pode ser vivida e qual vida não. Onde a ideia do "fazer morrer" é similar a do "deixar viver" em como é regida pela doutrina do estado. Ao estilo "cpf cancelado" e "bandido bom é bandido morto", isso era a propaganda e a regra geral da sociedade. Acreditar também que o "gene de Hitler" geraria alguém como ele, já é entrar no pensamento racista de que a genética influencia o comportamento e a predisposição da pessoa. 



O filme The boys From Brazil ficou bem marcado na cultura popular pelo seu debate científico e histórico de alto nível, foi citado em um episódio de CSI Las Vegas pelo personagem de Ted Dawson D.B, como também foi inspiração para o episódio "1x11: Eve" de Arquivo X também. A ideia de genética e ética então precisam andar de mãos dadas. Caso contrário, há uma violação aos direitos humanos básicos. Outra referência é o filme documentário "Os gémeos de Mengele" que passa ás vezes no National Geographic, o filme "Aldeia dos Malditos" (1960), como também o remake desse filme de John Carpenter (1995). 



É uma ideia de que o "Estado de exceção" de Agambem, tenha virado norma e regularidade na sociedade alemã com os campos de concentração, a sociedade alemã, viu o nazismo sair de ser uma doutrina sectária, para ser governo e ditadura que regia todas as esferas da sociedade civil e militar. 

Um debate filosófico se criva em torno de pensar, se matássemos Hitler enquanto este era um bebê, teríamos evitado o nazismo? Ou o nazismo é fruto não de indivíduos propriamente ditos e cujos feitos são aumentados e diminuídos aqui e ali, mas sim, o nazismo é fruto de CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS! O que pode fazer repetir o nazismo é a ignorância da história. Por exemplo, no Brasil, não houve comissões da verdade para investigar a infiltração de nazistas. 

O que ocorreu no mundo inteiro. Existe uma teoria da conspiração, por exemplo, que diz que Hitler morreu na Argentina, outra que ele morreu no Brasil. As lendas são infinitas. Fica aquela impressão clichê, que o Brasil é aquele lugar sem polícia, sem jurisprudência aonde você vai quando você quer se isolar do mundo, tanto o Brasil, quanto a América Latina, um antigo clichê de diversos filmes e séries que sempre apontam o Brasil como essa "fuga" do mundo. Mas que Mengele morreu no Brasil, isso é fato.


O fato de ser histórico é um dos motivos que nos acalenta e consola, pois a repetição histórica exige o esquecimento em torno do tema.  Por isso que não adiantaria nada "matar Hitler", ou seus clones genéticos, já que estes não estão morando em uma República de Weimer destruída pela Primeira Guerra mundial. 

Esse detalhe da novela e do filme são muito bons, pois insere a necessidade de história, quando a maioria dos produtos culturais tende a negar a história geral. 

Hegel foi um desses primeiros autores a achar que a "história se repete" (de maneira cíclica), ele dizia pelo menos duas vezes. Já Marx acrescentou ao dito de Hegel: "A primeira vez a história se repete como tragédia, a segunda enquanto farsa". 

Uma grande lição da necessidade do entendimento dos fatores históricos e sociológicos que geraram o nazismo é não repeti-los. Isso ajuda a tirar o debate em torno dos nomes, pessoas e biografias. Liebermen no fim toma a postura de um humanista, ao perceber que a genética não é assim tão importante na formação do caráter humano, pois se for tão importante assim, é como se o próprio pensamento lombrosiano antigo, ou mesmo o pensamento racista de Mengele tivesse razão, e não tem, portanto, a posição de negar Mengele é também negar sua paranoia e seus "planos". 


Seus livros viraram filmes famosos. Percebo algumas singularidades tanto do filme, quanto do livro. Primeiro, a estória original de Ira Levin se passa em São Paulo, mostrando o papel de brasileiros ativos do movimento neo-nazi. 

Por questões de logística, o filme foi filmado como se fosse no Paraguai, mas na verdade, em Lisboa, Portugal. 

Os críticos caem de pau em cima do filme, não gostam mesmo. Dando a justificativa boba de não ser uma história real, já que no final da trama Mengele morre e na vida real ele só morreu anos depois. 

Só que o que a crítica rasa elimina, é que é uma história parcialmente real sim, já que Josef Mengele fugiu para a Argentina, depois Brasil, e depois Paraguai. Isso tudo é verdade. Ou seja, apesar da aparência meio "Arquivo x" do enredo do filme, é bem mais real do que parece. Essa ideia do "exército de garotos iguais a Hitler" foi a ideia pensada na cabeça do autor do livro. 

Entretanto, acredito que inclusive pelo início da trama, o diretor escolheu não aderir a tom de denúncia, mas sim de suspense. O diretor, vale lembrar, é Franklin J. Schaffner, mesmo do clássico Planeta dos Macacos de 1968. Para quem viu os dois filmes, fica clara uma certa relação entre os filmes, onde se o primeiro parecia ser uma metáfora sobre ciência e política mais alegórica, aqui ele explica o primeiro filme focando seu debate em torno de autoritarismo implícitos que aderem na sociedade por senso comum e não nos perguntamos as origens.

Era uma metáfora política muito óbvia, para um autor com tons políticos muito bem ocultados em seu sentido literário geral. Ele queria dizer de certa maneira, que o autoritarismo de estado como da Alemanha nazista não desapareceu do mundo, e que muitos foram aqueles nazistas que foram assimilados, como foram alguns assimilados como funcionários da NASA, por exemplo, como mostrado na série Hunters, por exemplo. Alguns críticos especializados apontaram os altos debates do filme como sendo a questão do controle genético, e do direito individual a esse controle. 

No Brasil, onde ainda não teve uma investigação série sobre o poderio e extensão das células neo-nazis espalhadas pelo Brasil. Por mais incrível que possa parecer, nosso pais, o mais étnico e misturado geneticamente do mundo, também é o país com a maior colônia de descendentes de alemãs fora da Alemanha (assim acontece com os japoneses também).
 

A história fica como lembrete e um pouco como lenda, mas é real, o que é mais sinistro ainda por isso, o tema da clonagem é sensível, exatamente pela atuação impune de indivíduos monstros como doutor Mengele, que nunca foi punido pelos seus crimes. Por isso a cena de sua morte no filme é tão impactante, por ele ter vivido quase 10 anos depois da cena do filme! A clonagem no Brasil foi proibida pela lei 8.974 de janeiro de 1995, como uma lei fundamental de biossegurança. 


O filme brilha por mostrar em linguagem cinematográfica os debates mais importantes sobre genética, ética e ilustra muito bem os debates em torno da neurociência moderna. Tem até mesmo historiador que tem coragem de vir a público e dizer que Mengele não atuou na cidade brasileiro, mas "apenas na Alemanha". 


Apesar de toda essa "polêmica" narrativa em torno do livro, é impressionante que um indivíduo como Mengele tenha conseguido viver até o fim de sua vida sem a necessária punição para seus crimes bárbaros. Os moradores da cidade parecem ter ficado aterrorizados com a perspectiva de ser cobaia dos nazistas, o que fez eles pedirem testes genéticos para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 


A explicação não seria a influência do médico nazista, mas o "saudável" hábito de casar entre irmãos e primos de "8 famílias alemãs originárias". O Holocausto foi o extermínio de judeus, homossexuais, e ciganos que ocorreu na Alemanha, como também na Polônia durante a ocupação nazista dos territórios adjacentes a Alemanha. 


Alguns negam as evidências do holocausto, esse fenômeno é conhecido como negacionismo, o Brasil, apesar de ter participado do grupo dos aliados após 1942. Muitos tentaram esconder o holocausto em cima de estudos revisionistas. Nos documentos da época da burocracia nazista, toda menção a assassinato de judeus era oculta e disfarçada com palavras neutras. Aktion (Ação), ou "Reassentamento para o leste" significava operações violentas contra os judeus e outros grupos perseguidos, como também a deportação forçada de judeus para centros de extermínio na Polônia. 


Vale lembrar que o assunto é muito debatido até hoje, e muito como aqueles que negam a fuga de altos oficiais nazistas para locais como os Estados Unidos e aqui também na América Latina, vale lembrar que o negacionismo é antigo. Era a táctica dos nazistas que contavam com a maioria silenciosa e com o ceticismo das pessoas para ocultar seus crimes de guerra. 

Como naquele filme "The Stranger (1946)" de Orson Welles. Vários nazistas se infiltraram na sociedade do pós guerra e viveram vidas normais! Essa é a reflexão, muitas vezes chamada de teoria da conspiração, mas que tem embasamento em muitos casos para ser só narrativa. Como o cientista alemão Werner Von Braun, que teve até em programa infantil nos Estados Unidos. 

A lição do livro e do filme que ficam para a posteridade é de aprender que após o fim do nazismo enquanto governo na Alemanha, alguma parte reminiscente da ideologia pode ter se infiltrado em centros de pesquisa, universidades, cidades de interior. Isso justifica a falta de sentido e o jeito punitivo que muitas pautas e soluções são tomadas, mas ao mesmo tempo, nos insta refletir sobre paradigmas éticos entre justiça, reparação histórica e vingança. Vale muito a pena. 




Bastidores e história por trás do filme


O livro foi lançado em 1976, pelo escritor formado em inglês, Ira Levin. Os produtores foram Robert Fryer, Martin Richards, Mary Lee Johnson e James Cresson. 


De acordo com os produtores, Martin Richards, Robert Mulligan foi originalmente oferecido para ser o diretor do filme. Em maio de 1977, foi anunciado Laurence Olivier no filme. 

Aí que foi contratado Franklin Shaffner como diretor final. Gregory Peck, estrela de The Big Country, se juntou ao filme em julho. Para se preparar para ser um "clone" com sotaque alemão, Jeremy Black foi mandado para um estúdio de fonoaudiologia para falar com ambos os sotaques, de inglês e alemão. 


O produtor Fryer falou que a essência do filme não era exatamente os nazis. Mas sim, levantar o debate sobre ética biológica e clonagem e sobre o ódio de dois homens, um pelo outro. Apesar do filme ser sobre a América Latina, era impossível logisticamente filmar lá, decidiram por filmar em Lisboa, em Portugal. A filmagem começou em outubro de 1977, com filmagens adicionais em Londres, Vienna, Kölnbrein Dam na Áustria, Lancaster, Pensilvânia. As cenas em Massachusetts foram filmadas em Londres.

A cena de briga entre Lieberman e Mengele demorou 4 dias para ser filmada devido a saúde de Olivier na época. Peck e Olivier, atores consagrados na indústria de Hollywood, riram de ter que filmar uma cena tão enfática de briga (porrada) entre os personagens dos dois, quando os dois eram dois velhinhos em idade avançada. 



A cena final foi estendida adicionada alguns anos depois, Bobby aparece em uma sala escura de revelação de fotografia, onde ele revela a cena de briga entre Lieberman e Mengele. O filme teve um corte de 25 minutos da versão que foi ao ar na Alemanha Ocidental, como nos teatros de exibição, como também na televisão, e em alguns lançamentos de DVD também. 

Apenas em 1999, que o filme foi liberado em uma versão sem cortes Lionsgate Home Entertainment. Lew Grade, que financiou parcialmente o filme, não ficou feliz com o resultado final, sentindo que o final do filme era muito sinistro. Ele protestou junto ao diretor Franklin J. Schaffner, mas perdeu na batalha pra ele. Em 2015, Shout! Factory lançou o Blu-ray do filme. 

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