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O Bebê de Rosemary (1968): Bruxaria, depressão pós-parto e críticas ao patriarcado na sociedade americana são temas de thriller de suspense psicológico de Polanski



O Bebê de Rosemary é um filme de terror psicológico do diretor polaco Roman Polanski. Estrelando Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy, Patsy Kelly, Angela Dorian, Clay Tanner, e no seu primeiro filme Charles Grodin. Seguimos a vida de uma jovem casada chamada Rosemary com um ator de teatro Guy, que começa a viver com o marido em um prédio de arquitetura tradicional de Manhattan que esconde um culto meio satânico, meio social democrata. Os moradores antigos do prédio ajudam Rosemary no ritual de virar mãe. Filme foi baseado na novela homônima de Ira Levin e foi indicado para duas estatuetas no Oscar. 





O casal começa vendo um apartamento e gostando de tudo, e escutam uma história de uma idosa que havia falecido durante o sono e que tinha sido uma das primeiras advogadas de New York. 



O casal comenta sobre a vida das personalidades da cidade. A moça e o rapaz começam a morar no lugar e a tentar fazer a vida lá. As colegas vizinhas combinam de descer junto na lavanderia do prédio quando forem lavar roupas. Eles tentam fazer um bebê e começam a arrumar o quarto antes dela ficar grávida. Guy Woodhouse (John Cassavetes), um ator de teatro e sua esposa, Rosemary, se mudam para Bramford, um apartamento em estilo da renascença em um prédio super luxuoso da cidade de New York.  



Eles acham que é brincadeira de seu amigo Hutch, que avisou sobre o passado negro de bruxaria e assassinato do lugar. Rosemary então conhece Terry Gionoffrio, um jovem que está se recuperando do vício em drogas e que eles conheceram através do casal mais velho Minnie (Ruth Gordon) e Roman Castevet (Sidney Blackmer), que o acolheram em uma noite. Em uma das noites, Guy fica próximo deles, mas Rosemary acha que o casal chato e enfadonho. Minnie dá o pingente para Rosemary e diz que tem 300 anos, ela dá como um gesto de boa sorte, dizendo que tem "raiz de Tannis" dentro. 



Guy é contratado quando inesperadamente o ator fica cego na série Miami Beach.  Guy começa a fazer sucesso em sua carreira, ele quer um bebê com Rosemary. Em uma noite que eles planejavam conceber o bebê, Minnie traz copos de mousse para sobremesa. Quando Rosemary reclama de ter um gosto amargo ao fundo, Guy a critica por não ser grata. Rosemary consome o doce, o mousse de chocolate (que foi feito de rato), mas depois joga o resto fora ao sentir um gosto forte. 



Ela alucina que foi estuprada por um demônio, mas era o próprio marido na vida real. Guy explica que ele não quis perder a "noite do bebê", e começa a alucinar em um sonho de estilo erótico, mas no fim o padre vem dar a benção para ela no fim do sonho. Rosemary engravida, com o bebê que era para chegar em junho. 


O casal Castevets insiste para ela ir no obstetra famoso amigo deles, Dr. Abraham Sapirstein, e ela consulta ele e não seu médico Dr. Hill. Durante o seu primeiro trimestre, Rosemary sofre de muitas dores abdominais e perde muito peso.  Ela vai ao cabelereiro e corta o cabelo curto, e Guy deprecia ela dizendo que ela não precisava ter pago pelo corte, depois ele diz que isso foi o "pior erro" que já cometeu. 




Pela época de Natal, sua aparência preocupa amigos e também Hutch, que esteve procurando a história de Bramford. Depois de compartilhar suas descobertas com Rosemary, ele cai em um coma profundo. Rosemary, sem ser capaz de aguentar a dor, insiste em ver Dr. Hill, enquanto Guy argumenta contra, dizendo que o Dr. Sapirstein ficaria ofendido com isso. Enquanto eles discutem, Rosemary sente o bebê se mover. Três meses depois, o amigo de Hutch, Grace Cardidd diz para Rosemary que Hutch está morto. 



Antes de morrer, ele fala para Rosemary sobre um livro de bruxaria chamado All of Them Witches, junto com uma mensagem codificada "O nome é anagrama". Rosemary eventualmente descobre que Roman Castevet é um anagrama por Steven Marcato, filho de um antigo do prédio Bramford e com reputação de ser satanista. Ela acha no livro ligações de Marcato, históricas dessa família que vive no prédio e ligações com o satanismo.



Ela começa a desconfiar que o Dr. Sapirstein junto com os Castevets tem uma intenção demoníaca pelo seu bebê. Morrendo de medo, ela vai até o Dr. Hill procurando por ajuda. Rosemary se tranca no apartamento, mas conseguem achar ela e prender ela. O Dr. Sapirstein coloca sedativo para acalmar Rosemary, que entra em trabalho de parto e dá a luz. 


Quando ela acorda, contam para ela que o bebê nasceu morto. Enquanto ela se recupera, ela nota que sua bomba de leite parece estar salva e não foi jogada fora. Ela para de tomar suas receitas de pílulas e fica menos sedada. Depois que Rosemary escuta um bebê chorando, Guy menciona que novos inquilinos se mudaram para o prédio com um bebê. Acreditando que seu filho está vivo, Rosemary descobre uma porta escondida que leva até o apartamento de Minnie e Roman. 



Por lá, Os Castevets, Guy, Dr. Sapirstein e outros membros do culto satânico estão juntos reunidos, enquanto Rosemary fica horrorizada e exige saber o que tem de errado com os olhos do bebê. Roman diz que a criança é filho de Adrian, o filho do diabo. Quando Guy pede para Rosemary cuidar do bebê, promete que ela não precisa se juntar no culto. Quando Guy tenta acalmá-la, ela cospe na sua cara e ele diz que eles poderiam fazer um novo filho deles. Depois de ouvir o choro do bebe, Rosemary sede aos instintos maternais e nina o bebê. 



Crítica do Filme


Roman Polanski é um nome de peso do cinema. Em 1968, ele estava casado com a famosa atriz e modelo americana, Sharon Tate. Ela estava em todas as capas de revista e comerciais, ele era o cult, dos filmes "cabeça", e ela era a garota bonita loira padrão. Mas ela não era apenas uma loira, Sharon teria uma veia para a comédia, que explorou quando pôde contracenar com Orson Welles. 


Sharon Tate estava grávida do primeiro filho, deles quando um seguidor de um culto satânico na Califórnia, um dia fez um ataque brutal que tirou sua vida e de eu filho. Pensando a força desse filme, por falar de satanismo, quando a própria morte de Sharon Tate, que foi brutalmente assassinada pelo grupo liderado por Charles Manson, muito foi colocado na conta do diretor, por ele ter esses pontos de vista mais fortes e polêmicos. O efeito Sharon Tate gerou um medo dos famosos de serem mortos ou atacados. 


Esse acontecimento serve como cenário para o filme Once Upon a Time in Hollywood de Tarantino, que busca melhorar no universo de 1969, a história do assassinato. Na visão otimista do filme, o ator doidão e seu dublê meio de direita "salvariam" a vida de Tate, e nada da famosa tragédia teria acontecido. É necessário falar disso antes de falar sobre esse filme, por ele ter um impacto visual importante para os Estados Unidos e sua cultura, como também por fazer um terror psicológico do mais alto nível, que não ignora os fatores políticos e históricos da época. 


O Bebê de Rosemary brilhou em sub tons por abordar questões como o catolicismo conservador, o cristianismo enquanto prática ortodoxa e também o tema dos direitos femininos, em uma época de grande combustão social em todo o mundo. 


Sendo lançado no ano dos protestos do chamado "Maio de 1968" na França, apoiado fortemente pelos grandes intelectuais da época, que eram reflexo da rebeldia reformista, de locais como Praga que haviam se rebelado antes com movimentos sociais de jovens em sua grande maioria. Como também aborda bruxaria e ocultismo como sub texto da paranoia da esposa Rosemary, interpretada pela jovem Mia Farrow. É considerado um dos mais brilhantes filmes de terror já feitos, e em 2014, foi selecionado pela biblioteca do congresso americano. 



Acompanhamos a trajetória da mudança de um casal padrão em um prédio muito antigo, construído ao estilo de prédios que tentavam usar da referência da renascença. Todo o filme é construído usando de influência do transe do cinema novo, de forma que a sequência do sonho é uma descrição da situação da mulher usada em um casamento, ou sem poder, que apenas imagina sua situação com distância. A estranheza que Rosemary sente é típica de uma mãe passando por depressão pós parto, mas para além disso, o comportamento bizarro (e social democrata ao mesmo tempo) de todos em volta deixa Rosemary doente, junto com os "cuidados" e tutelas diversas, como as tutelas patronais, por exemplo. 


Rosemary representa a mulher americana em 1968, presa no ápice do conservadorismo,  convivendo com um marido que repele tudo que é feminino e que parece ter "nojo" do filho. O bebê é de Rosemary por não parecer ser de mais ninguém, ou seja, uma reflexão sobre o fato da solidão materna e a falta de bons conselhos e orientações médicas, como as de Dr. Hill. No Brasil inclusive há o ditado pejorativo, "quem pariu Matheus, que o embale", algo que tem muito haver com o filme. 


Há também uma importante reflexão no filme sobre o patronato, poder de referências sindicais cruzadas. Por exemplo, o ator acaba gostando de conviver com o Roman, que seria um herdeiro de Nova Iorque, e que também era satanista (os dois eram no meio artístico, descrito no filme como um meio "satânico"). 


O obstetra famoso que é indicado e que fala que tudo natural é melhor, é uma crítica ao naturalismo cego, que por exemplo, leva a não fazer exames específicos, ou fazer cesariana no caso do parto ser ou poder ser problemático. 


O final é super enigmático, e confirma a indicação de que tudo poderia ser uma imaginação de Rosemary, que não tem ajuda para superar os traumas de gravidez do marido. A reflexão que pode estar escondida no sub tom do filme, como é um filme da Paramount (que não dá ponto sem nó quando faz um filme), demonstra uma certa familiaridade com práticas autoritárias de todos corpo da sociedade americana. Uma certa facilidade que os mais velhos teriam para mentir sobre suas histórias, suas reputações e seus costumes. 


Quando Rosemary aceita a ajuda dos vizinhos mais velhos e aceita toda leva de lendas, superstições, chás e ritos que passam como "sabedoria popular", mas que a moça por estar sofrendo com depressão e sensação de abandono por parte do marido babaca não consegue dizer não aos pedidos e conselhos dos vizinhos. Na festinha final dos moradores do prédio, o clima era de extrema educação e boas maneiras, por isso que Rosemary parecia também "histérica", como comentado pelo marido de Rosemary. 


Isso é interessante, pois os produtos do cinema americano não costumam falar sobre satanismo, mas o praticam (como dizem as lendas)... Mas isso não é uma questão de "faz mesmo" ou "não faz". É uma questão de comportamento e representação, afinal é cinema e a proposta disso estar no extracampo, torna tudo sempre assustador, como o fato do bebê nunca aparecer direito. Isso é puramente formal, cinematograficamente.


Hollywood vende, vendeu e venderá sempre uma ideologia diferente da que pratica. Isso é marketing. Ao estilo vender clássicos dos anos 1930, mas com o véu da censura que estimulou as screwball e a imaginação dos escritores, e o que gerou uma tradição de discussão de sub textos muito pesada em filmes. Ou seja, os melhores filmes e mais clássicos, foram feitos na época de mais controle dos estúdios, precarização e incoerências nos bastidores dos filmes.


Quando Rosemary descobre o outro quarto, ela descobre o "significante simbólico do outro", ela descobre um novo outro e confirma em tese sua suspeita. Quando todos estão na sala saudando o bebê, e ela se sente de fora, excluída, ela pensa que a festa é um ritual macabro. Mas a última cena, quando o bebê chora e ela atende aos instintos maternos, parece a metáfora da estranheza de se tornar mãe e de que de alguma maneira a biologia acabou superando isso. 


Então, um filme que tem todos os tons de estranheza e tragédia termina contraditoriamente com a mãe atendendo os apelos do filho (que haviam dito para ela estar morto) e aceitando toda a situação. Essa metáfora da perda da autoridade vem da própria estrutura machista tradicional dos casamentos clássicos. 


Eles se mudam para um prédio onde todos são mais velhos que eles (ou seja, aqui os velhos seriam aqueles que aceitavam ditaduras militares, guerras no Vietnã, ou, quem sabe, nazistas), e que o Guy, o marido, (que significa literalmente "cara" em inglês) adere a tudo, gosta de tudo dos velhos, quando primeiro ele que tinha alertado que não queria muito sair com eles, ele se torna então o maior defensor desses senhores mais velhos. A metáfora de ser satanista é como se fosse aquele momento que você percebe que uma pessoa pode muito bem ter sucesso na vida, na profissão e ser totalmente má e sem ética (e participante de cultos satânicos, como brinca o filme), pois ela é apenas teleguiada, e faz tudo que mandam, ou que é considerado "certo" para a tradição. 



O culto satânico aqui pode ser metáfora de deepstate, posturas patronais locais e regionais que você concorda por não ter experiência. A estranheza da mulher  e o paradigma psicológico dúbio do filme faz a gente acreditar até no fim da tragédia, por estarmos com o eu-lírico (perspectiva) da Rosemary. Tudo que ela quer é o bebê, porém, ela não tem ideia de nada sobre ser mãe. Quando ela aceita o obstetra natureba e que passa ervas no lugar de comprimidos também parece a metáfora da falsa segurança que a modernidade concede ao parto e as mulheres. Nessa época, o aborto era proibido nos Estados Unidos. Já o divórcio era muito pouco comum nos Estados Unidos ainda (e ainda proibido durante muito tempo também no Brasil). 


Onde está o culto satânico então? Tal como a teoria de Gaye Tuchman afirma, o satanismo do filme estava na rotina, obrigatória, impositiva e censuradora dos costumes supostamente normais, tradicionais ou de senso comum, algo que com o paralelo com o cristianismo obviamente quer falar sobre a elite e suas formas de segregação e poder, dentro da suposta construção daquilo que seria o "Ocidente". Eles sempre vão afirmar que o que está sendo feito contra você não é ideológico, e sim um método neutro e frio que todos devem seguir mesmo sem saber porque, mas no final por acaso você estará segregado.  


No fim, toda essa indefinição torna tudo mais aterrorizante e cinematográfico, pois tudo é apresentado dentro de um suspense, e fica aberto para interpretações. O que vale sempre notar é como o diretor contou essa história, nos impressionando visualmente, dentro de uma trama perturbadora, complexa e psicológica. 


Produção, bastidores e história por trás do filme


O diretor do filme, Roman Polanski é um blacklistado total de Hollywood, mas no geral, sua arte é admirada por fatores técnicos. Desde do filme "O Baile dos Vampiros" que ele se sentia decepcionado, com Ransohoff e com a Metro, aí ele recebeu uma proposta de um produtor da Paramount, Robert Evans. Queria ele adaptasse a novela de Ira Levin, Rosemary Baby. Polanski viajou de Paris para Nova Iorque para aceitar o convite.  A trilha sonora, sinistra e perfeita, é do grande Robert J. Walsh, que fez a trilha de vários clássicos.


Mesmo que feito sobre a cidade de Nova Iorque e seu bairro chique de Manhattan, mas a maior parte das filmagens foi feita mesmo em Los Angeles e em 1967, sendo lançado mesmo o filme em 1968 pela Paramount Pictures  e foi um sucesso de bilheteria, rendendo $30 milhões nos Estados Unidos só


O prédio onde o filme foi gravado, o Edifício Dakota, foi o mesmo local onde John Lennon foi assassinado, prédio que era sua residência desde 1973. 


Assim que tudo foi acertado, foi percebido que a obra tinha uma alta capacidade de venda baseada no livro escrito ter sido um grande best seller que vendeu mais de um milhão de meio de exemplares. Para o papel de Guy Woodhouse ele pensou em Robert Redford ou Warren Beaty, mas por fim, escolheu John Cassavetes, inspirado no fato dele conseguir atuar de maneira ambígua. Encontrar a protagonista feminina é que foi mais complicado. Pensava-se em Jane Fonda, ou Maria de Loudes Villiers. Farrow, conhecida pela série de televisão Payton Place é que acabou levando o papel. 


Há uma enorme simbologia do corte de cabelo. As dores da gravidez começam ao mesmo tempo que ela corta o cabelo. Daí a diante há a vontade da protagonista de sair das influências do antigo (o povo mais velho que tenta controlar ela no filme). O corte é muito andrógino e revolucionário. Na moda, Vidal Sassoon foi o cabeleireiro que revolucionou os penteados dos anos 50/60. Ele começou a fazer cortes curtos femininos dando liberdade para a mulher lavar o cabelo em casa e ir ao trabalho, sem precisar passar horas no cabeleireiro. Algo necessário para o estilo de vida do "swing 60s". Ele voou de Londres para Hollywood para cortar o cabelo de Mia Farrow. 


A Paramount fez várias fotografias e uma grande promoção do filme. Frank Sinatra odiou o corte e foi o começo do processo de divórcio entre eles. Este corte ficou famoso com o filme. Mulheres do mundo todo começaram a usar o estilo de corte "Bob". Até hoje mulheres usam cortes curtos como símbolo de independência e irreverência.


Pode ser visto também como uma metáfora da variação invertida do dogma cristão clássico da imaculada concepção virginal, só que ao contrário, como a concepção foi violenta, é como se fosse o batismo da "semente do diabo", como a novela e o filme são conhecidos em Portugal, por exemplo. O diretor não fala diretamente sobre o sobrenatural, mas sugere através de sua direção todos os elementos que podem indicar para o público imediato, como sons, diálogos, ruídos, portas secretas, que sugerem esse elemento de possessão demoníaca, como em seu filme Repulsa ao Sexo (Repulsion).  





Esse clima tenso, de "todos satanistas" é uma crítica muito, mas muito de esquerda mesmo para a época. Para além da vida pessoal de Roman P, dá para ver que ele tentava refletir sobre os valores engessados, congelados no tempo da sociedade americana, que cria seus valores científicos, sociais democratas e indubitáveis a partir de crendice e de tradição (que o filme chama de satanista). 



Outra leitura é que todos são satanistas mesmo. Uma terceira leitura pode demonstrar que Rosemary está com depressão pós parto e por isso ela acha que seu bebê é o "filho do diabo". A metáfora de ser estuprada pelo próprio marido confirma desde o início da paranoia da falta de controle e poder de decisão, uma encruzilhada que coloca Rosemary em dependência daqueles que mais desconfia.

 

A ideia do espírito, ou pensava através de arquétipos diversos, para parecer o que Carl Jung denominou como inconsciente coletivo, vindo de grande parte da população, e isso envolve a naturalização de práticas e tradições. O Natal cristão, por exemplo, era a noite do solstício de inverno, que servia para comemorar a Saturnália e eram realizados na Roma antiga, quando Constantino se converteu, que tinha sido a vida toda pagão. Como ele, Roma se tornou cristã, mas não perdeu em vista suas raízes pagãs. Então, a data pagã tradicional passou a representar o nascimento de cristo, de maneira contraditória. 



O que pode ser uma referência toda explícita no filme. Em 1968, os Estados Unidos começaram a desconfiar demais dos republicanos, e veio a galera democrata de Jimmy Carter nos anos de 1970 (época de intensa crise dos combustíveis, como hoje em dia). 


Os valores babyboomers dos valor da casa, da moda, do marketing, todos eles tentavam ser mantidos enquanto aparência pela elite americana, que via o fim da sociedade estatal antiga, mas tentava manter o controle patronal, mesmo que economicamente, os Estados Unidos, já fossem o país da privatização dos serviços. O pânico vivido pela garota aborda a questão também da violência obstétrica, e da domesticação das mães em certo modelo não natural, que é tornado obrigatório para quem passa pela experiência.  



O que é muito comum nos hospitais, tanto públicos, quanto particulares, a crença por parte dos médicos e funcionários, muitos cristãos, de que o sexo e a mulher devem ser punidos, que o sexo é satânico e simboliza a danação da humanidade. Todas essas crenças que foram construídas durante o período do neoplatonismo, que visou unir o dogma cristão com as ideias filosóficas gregas.


Dessa junção é que se criou a ideia de castidade, virgindade, valor do casamento, e claro, ojeriza aos dogmas e crenças que seriam "contrárias". 


Na opinião de ateu do diretor, a cultura cristã se torna dogmática em si é isso é um satanismo. Uma opinião parecida com a ideia de "História da Sexualidade" de Michel Foucault, que aborda a domesticação dos impulsos sexuais através do modelo cristão e histórico da tradição como um dos pilares da construção moderna do que conhecemos como ocidente. Também vemos o poder da rejeição masculina na figura do marido, vemos o complexo emaranhado que na visão de Rosemary era uma conspiração que envolvia todos.




O filme com certeza surpreende, e é um dos melhores trabalhos de Roman Polanski. Buscando fazer o terror pelo paradigma psicológico, é um dos filmes americanos que mais faz uso das táticas modernas e surrealistas do cinema e da chamada "Nova Hollywood", que dão todo o tom de filme filme, ao estilo "barato audiovisual". Com certeza um bom filme para debater paradigmas psicológicos e sociais. Com certeza, um filme de tese e muito mais complexo do que aparenta, se analisado em cada detalhe. 




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