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Arquivo X - "Space" (1x09): Curiosidades e análise do nono episódio da primeira temporada da série




Em 1977, após a descoberta de um rosto esculpido na paisagem de Marte, o tenente-coronel Marco Aurélio Belt (Ed Lauter), um astronauta, é atormentado por flashbacks de um encontro com o rosto desencarnado durante uma caminhada espacial. Dezesseis anos depois, Fox Mulder e Scully são abordadas por Michelle Generoo (Susanna Thompson), comandante de comunicações do Controle de Missões da NASA. Ela acredita que alguém dentro da NASA está sabotando as tentativas de lançamento do foguete de uma missão espacial. Uma recente decolagem do ônibus espacial foi abortada segundos antes do início, e Generoo teme que o próximo lançamento seja igualmente comprometido. Ela também tem um interesse pessoal, já que seu noivo estará a bordo da próxima missão. Assim, os agentes são enviados para garantir o lançamento do foguete e descobrir quem está sabotando a missão

A série está disponível, completa no Star+, e passando na Rede Brasil, mas não mais as 23h de sexta, sendo seu horário agora, um mistério



Mulder e Scully viajam para a NASA e conhecem o coronel Belt, um herói de infância de Mulder. Belt, que agora gerencia o programa de ônibus espaciais, descarta as preocupações dos agentes e afirma que nada pode dar errado com a missão. Ele permite que os agentes assistam ao lançamento bem sucedido do Controle da Missão. Como os agentes estão saindo, no entanto, Generoo informa-lhes que o contato é perdido com a nave em órbita. Enquanto dirige de volta ao Controle da Missão, ela vê o rosto vir até ela através de seu para-brisa, fazendo-a bater seu carro. Os agentes conseguiram tirá-la do carro capotado e, apesar de estar ferida, ela consegue voltar para a base.


A nave se moveu para a luz solar direta e o Controle da Missão é incapaz de rodá-lo em uma posição segura, colocando a vida dos astronautas em perigo. Generoo acredita que o uplink está sendo sabotado. Belt ordena que o uplink seja cortado, permitindo que os astronautas girem a nave manualmente. Sobre as objeções de Generoo e dos agentes, ele ordena que a missão prossiga e mente para a imprensa sobre seu progresso. Belt diz a Mulder que o programa de transporte pode ser cancelado se a missão não for concluída com sucesso.



Belt volta para casa e tem outro flashback. Enquanto ele se deita na cama em agonia, uma presença astral deixa seu corpo e voa pela janela, indo para o céu. 


Os astronautas então relatam ouvir um baque fora da nave auxiliar e começam a experimentar um vazamento de oxigênio. Belt corrige a situação, mas ordena que a missão prossiga. A carga é implantada com sucesso, mas um membro da tripulação relata ter visto uma entidade fantasmagórica fora da nave. Enquanto isso, os agentes examinam os registros da NASA e encontram evidências de que Belt desempenhou um papel em outras missões fracassadas, incluindo o desastre Challenger, de 1986.



Belt se comporta irracionalmente e cai gritando enquanto ouve menção da entidade dos astronautas. Os paramédicos são chamados para atendê-lo, e encontrá-lo encolhido sob sua mesa choramingando e implorando por ajuda. 


Antes de Belt ser levado, ele diz aos agentes que a nave não sobreviverá à reentrada devido à sabotagem do "rosto", que possui seu corpo desde a caminhada espacial. A seu pedido, eles alertam a nave para mudar sua trajetória e são capazes de aterrissar com sucesso.



No hospital, Belt continua lutando com a presença, dizendo a Mulder que ele não era responsável, mas também não poderia pará-lo, pois "veio até mim, ele vive em mim". Eventualmente, em uma última luta com a entidade re-possuidora, ele pula da janela para sua morte, experimentando um longo flashback de sua última missão espacial enquanto ele cai. 


Antes de seu funeral, Mulder teoriza que, enquanto Belt foi obrigado a sabotar os lançamentos pela entidade que o possuía, ele também foi quem enviou a Generoo a evidência do que estava acontecendo. Ele elogia o sacrifício final de Belt, afirmando que no final ele deu sua vida para a missão.



História por trás do episódio e produção


"Space" foi concebido como um episódio de garrafa de baixo orçamento, devido a vários episódios anteriores terem excedido seus orçamentos. O criador da série, Chris Carter, se inspirou a escrever o episódio depois de ler sobre a notícia do "rosto em Marte" — um exemplo de pareidolia em que um monte na região da Cydonia, em Marte, foi levado a se assemelhar a um rosto humano. 



A pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e com significado. É comum ver imagens que parecem ter significado em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros tantos objetos e lugares. Ela também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se dissessem algo. 



Embora o episódio tenha feito uso de uma quantidade significativa de imagens de estoque baratas da NASA, a construção do conjunto de centro de comando estava sujeita a excessos de custos, eventualmente levando o episódio a se tornar o mais caro da primeira temporada. Carter culpa isso pela inviável inviável de mostrar os astronautas na nave atingida, exigindo exposição adicional para explicar sua situação — algo que ele descobriu que não poderia gerenciar "com um orçamento de oito dias de televisão". Carter também afirma que o episódio sofreu de ser filmado logo após o episódio piloto ser transmitido, com a equipe sobrecarregada pela entrada, observando que "tudo estava acontecendo de uma vez".



Várias cenas do episódio foram filmadas em um centro de operações da Canadian Airlines em Richmond, Colúmbia Britânica. A tripulação recebeu permissão da companhia aérea para usar seus simuladores de voo, levando à demora da produção enquanto todos tinham uma volta simulando voos sobre o Canadá. 



O problemático conjunto central de comando foi construído e filmado em um anfiteatro em Vancouver, cujas superfícies inclinadas ajudaram a sugerir terminais de computador sem precisar de muita construção, embora monitores falsos de computador foram adicionados para tiros quando eles estariam à vista. 


O ator convidado Ed Lauter já havia trabalhado com o diretor do episódio, William A. Graham, no filme Tragédia da Guiana: A História de Jim Jones. Sobre seu papel no episódio, Lauter declarou "Eu realmente não tenho muito a dizer sobre isso, exceto que eu pensei que eu fiz um bom trabalho, e que foi bom trabalhar lá em Vancouver com David Duchovny e Gillian Anderson". 



Crítica do episódio 


Primeiro, um breve comentário sobre o ocorrido na última sexta-feira (6/5/22/). Achei um grande vacilo da Rede Brasil de Televisão alterar o horário de exibição, sem avisar, de 23h para as 20h. Isso é um caos total para o trabalho que fazemos. Pois na próxima semana, vai ser exibido no horário certo ou não? Ou melhor, vai ser exibido? Como sendo o primeiro a elogiar o trabalho da emissora até agora, preciso criticar essa postura e tratamento do canal com os fãs. Ainda foi confirmado pelo canal, no mesmo dia, que o horário era 23h, parecendo que o objetivo era desinformar mesmo. Para mim, o episódio não foi exibido, pois o contrato com o espectador não foi respeitado. Esse elemento reforça, para mim, a necessidade do fã de Arquivo X pensar com a própria cabeça e procurar a ver a série em outros meios, ficando menos dependentes de certos canais. 



Já entrando no episódio, a temática do mesmo talvez seja a mais polêmica e abertamente política da temporada (explicando o porque talvez o canal tenha sabotado sua exibição). Isso porque além de uma temática que questiona o papel da NASA posteriormente à Guerra Fria, a uma forte referência política no episódio a como a ciência pode ser feita como forma de poder, controlada pelos militares e como isso poderia reproduzir um sistema sinistro, metáfora do monstro do episódio ser o próprio coordenador da pesquisa espacial.


A metáfora crítica é complexa, pois o episódio começa mostrando uma reportagem, dessas de jornal local e regional, falando sobre o fenômeno da pareidolia, e não sobre qual a pesquisa que estava sendo feita e com qual função quando fenômeno aconteceu. Isso reflete por um lado, o como UFOs, fenômenos estranhos, paranormais e fake news, despertam a atenção das pessoas para a ciência, logo cientistas e organizações de pesquisas, além de fabricar fenômenos, pode estudá-los para ter audiência dos jornais locais. 



Isso por sua vez, reflete a miséria das rotinas jornalísticas nos anos 90, onde os pseudo eventos e pseudo notícias passam a ser mais interessantes e explorados do que as próprias notícias, afinal não havia mais os comunistas para demonizar no noticiário diário, logo qualquer coisa estranha ou mazela pode ser explorada como notícia. Assim nascem os canais de notícias 24h, como a CNN mas também a RT, que refletem apenas o impacto em tempo real da sensação que as notícias e imagens causam, também impactou a criação das agencias de checagem, que passam a buscar não a verdade como jornalistas, mas sim refletem sua rotina na busca da mentira, algo que, para mim, é qualquer coisa menos jornalismo.



O episódio está se inspirando na história do engenheiro Wernher von Braun. A BBC falou do caso de Wernher em 2016, contando como o engenheiro e cientista de Hitler apresentou o programa Man In Space, série de televisão produzida por Walt Disney.  Com "camundongos animados, princesas em perigo ou cervos órfãos, e até uma", o engenheiro apresentava a imagem sobre o futuro da exploração espacial, em perspectiva que interessava à NASA. Ele chegou até mesmo a conhecer Kennedy, havendo fotos dos dois juntos. Só que 10 anos antes, Wernher von Braun estava no comando do programa de mísseis de Hitler. Eu falei melhor disso no texto da série Hunters, da Amazon,(Leia a análise clicando aqui) que abordou também o caso. 



Essa é a referência mais interessante provocante do episódio, pois é política, já que questionar um dos maiores complexos de pesquisa espacial do planeta, principalmente na atualidade, parece demais. Explico porque: é sempre preciso lembrar que, apesar de uma boa série, Arquivo X é uma série produzida pela Fox, e a Fox é republicana abertamente. Isso inclusive gerou, ao longo da série, vários problemas entre o criador Chris Carter, os atores Gillian Anderson e David Duchovny, os roteiristas e a Fox. Mas o ponto é que, hoje, com movimentos terraplanistas que afirmam como seita de fé que a terra não é redonda, criticar a NASA hoje soa ultrapassado e apenas como uma pauta republicana e conservadora para canalizar a frustração dos espectadores negacionistas do canal.



Sim, a NASA reflete um baluarte do poder dos Estados Unidos, mas como enfatizou Scully no próprio episódio, após o fim da União Soviética a NASA representa um elefante branco estatal que vários liberais americanos são a favor da privatização e do fim. É como se no auge da Guerra Fria e da tensão capitalismo/comunismo, os Estados Unidos se sentissem livres para tomar medidas de crescimento do Estado, programas de distribuição de renda e incentivo a ciência, principalmente militar e espacial. 




Porém, depois, o que fazer com isso? E essa transição é bem forte se pensarmos o que era a NASA em Arquivo X, como uma organização complexa, conspiratória e misteriosa de poder bélico, e como ela aparece na série The Big Bang Theory, onde o personagem Howard vai para o espaço, e além se ser alvo de brincadeiras dos astronautas russos que o acompanham e são seus superiores, quando ele volta simplesmente ninguém, nem amigos e nem parentes, liga para o feito. 


Outra coisa que podemos destacar do episódio, é que ele reflete que Mulder possui uma admiração pelo astronauta que é o vilão do episódio, pois ele tinha um programa de televisão que agente assistia quando criança, completando a metáfora de inspiração em Wernher von Braun e explorando certo lado infantil e ingênuo da crença de Mulder e sua vontade em acreditar.



Porém, para além disso, o episódio não é muito genial. Ele não possui uma boa continuação e nem um bom ritmo, demorando muito para engatar o plot e deixando pouco espaço para resolução. 


O episódio foi até bem dirigido, tirando leite de pedra o máximo possível, tentando focar o episódio apenas no aspecto da NASA e da divulgação científica, pois afinal as crianças que veem Arquivo X obviamente se interessam por ciência. Mas com a virada final do diretor do projeto ser mal e pior, vítima de si mesmo, vai fazer as crianças quererem sair correndo da escola ou de ler um livro ou qualquer coisa científica. Esse foi o grande erro do episódio. 



Fora que no meio de episódio ele se embola, não acontece nada, não tem ação e o próprio vilão se revela como tal. Ou seja, se repararem Mulder e Scully não serviram para nada, na verdade eles podiam nem estar ali que ia dar tudo na mesma, dando a impressão que só pensaram na premissa do episódio mas não na resolução direito. 



Assim, o episódio se torna o mais contraditório e o mais fraco até aqui, pois apesar da tentativa de ser crítica ao sistema e trazer um debate importante das relações entre ciência e política, não soube dar o nexo disso com a série, trazendo apenas a política para se opor a ciência no episódio, e dar um tom que agrade defensores do antissistema. O ponto da história de Wernher von Braun surpreendente, é como o sistema cientifico pelo ideal rígido de eficiência e precisão, pode anexar sujeitos de ideologia torpe ou nenhuma, até mesmo um nazista. Mas isso só quer dizer que a ciência não está sendo bem feita, não que toda ciência é falsa ou uma mentira. Isso só quer dizer que a ciência bem feita tem lado, e o apresenta democraticamente, não que os princípios científicos são uma farsa de poder, muito pelo contrário. 


Por hoje é isso, amigos. Até o próximo episódio!






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