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A febre dos remakes: por que a cultura pop não está conseguindo criar novos ícones?


Nos últimos anos, Hollywood parece ter se tornado uma máquina de revisitar o próprio passado. A cada temporada, surgem novos anúncios de remakes, reboots e continuações de franquias antigas. Do retorno de Harry Potter como série à refilmagem de O Corvo e ao novo Retorno a Silent Hill, a indústria americana parece incapaz de olhar para frente sem, antes, se apoiar em algo já consagrado. Essa dependência do passado levanta uma pergunta incômoda: será que perdemos a capacidade de criar novos ícones culturais?


A resposta não é simples, mas parte dela está nas transformações do mercado. O cinema hoje compete com o streaming, com os games e com o conteúdo rápido das redes sociais. As grandes produções precisam garantir retorno financeiro em um cenário onde o público está cada vez mais fragmentado. 


Apostar em marcas conhecidas — como Star Wars, Matrix, O Exorcista ou Ghostbusters — reduz o risco. O problema é que essa lógica sufoca o novo. Se tudo precisa ser familiar, sobra pouco espaço para o inédito. O que reflete a mentalidade dos espectadores também: por qual motivo o público depende tanto de conteúdos familiares?


A questão vai além do dinheiro. Existe também um componente emocional: Hollywood aprendeu a explorar a nostalgia como produto. O público, cansado da saturação digital e da velocidade da vida moderna, encontra conforto em revisitar mundos conhecidos. Ver novamente personagens e histórias da infância desperta um sentimento de segurança, uma conexão com tempos em que tudo parecia mais simples. É uma estratégia eficaz, mas que, pouco a pouco, transforma o cinema em um espelho do passado e não uma janela para o futuro.


Curiosamente, mesmo quando tenta criar algo novo, Hollywood recorre à linguagem do remake. Filmes como Barbie e Top Gun: Maverick não são refilmagens diretas, mas revisitam universos antigos com uma camada de autorreferência e ironia. Alguns outros exemplos: O Mágico de Oz, A Loja dos Horrores, Many Saints of Newark (que tenta expandir o universo Sopranos). 

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É como se o próprio cinema americano não conseguisse se levar a sério sem rir de si mesmo, preso entre a reverência e o cinismo. Essa tendência reflete uma cultura que parece sentir falta de símbolos contemporâneos capazes de representar uma geração, algo que nos anos 1980 e 1990 acontecia com frequência.


Entretanto, isso não afeta apenas Hollywood: olhe para a febre de remakes de novelas brasileiras, como Vale Tudo que parecia mais estar debochando do conteúdo original do que melhorando ou atualizando.


Nos bastidores, roteiristas e diretores reclamam da falta de liberdade criativa. A greve dos roteiristas de 2023, por exemplo, deixou claro que o modelo industrial atual privilegia fórmulas seguras em detrimento de ideias originais. Enquanto isso, as plataformas independentes e os cinemas fora do circuito hollywoodiano continuam sendo os espaços onde as novas vozes tentam sobreviver. A ironia é que muitos dos grandes ícones do passado, de Tubarão a Matrix, nasceram justamente de apostas arriscadas que, hoje, dificilmente seriam aprovadas.


A febre dos remakes, portanto, revela mais do que um impasse criativo. É um sintoma cultural. Vivemos um tempo em que a memória virou mercadoria, e o medo do fracasso supera o desejo de inovar. Hollywood continua poderosa, mas talvez menos inspiradora. Enquanto isso, o público, dividido entre o conforto do conhecido e a curiosidade pelo novo, espera que surja novamente um filme capaz de marcar uma era não por repetir o passado, mas por ter coragem de ser diferente.

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