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Viva o México (2023): Filme reflete a herança da Revolução Mexicana e questiona o "novo normal" dos padrões de sucesso


Viva México é um filme mexicano de comédia e sátira política de 2023 dirigido por Luis Estrada e escrito por Estrada e Jaime Sampietro. Estrelando Alfonso Herrera (conhecido pela novela e grupo RBD),Pancho é um homem de classe média que viaja com sua esposa (Ana de la Reguera) e seus filhos para a sua cidade natal, La Prosperidad, onde espera receber a herança do seu avô falecido. Porém, ao chegar lá, ele se depara com uma família pobre e numerosa que disputa a todo custo a herança e legado do patriarca. Entre conflitos, preconceitos e ressentimentos, Pancho terá que enfrentar a realidade do seu passado e do seu país. O filme teve críticas mistas e contraditórias devido ao seu cunho de sátira política. 



"Pancho Reyes, é um pai de família da classe média, que se esforça todos os dias para realizar as aspirações de sua esposa Mari e de seus dois filhos e vive uma vida de comercial de margarina, até que recebe uma ligação de seu pai, que liga para ele para dizer que seu avô morreu e para ler o testamento, pedindo para ele vir no enterro para ler o testamento do avô Vargas. Pancho não quer saber nada sobre sua pobre família, que abandonou em busca de um futuro melhor, mas sua esposa o incentiva a ir saber se deixou uma herança para eles... sem saber que isso mudará drasticamente suas vidas quando o avô Vargas deixa uma herança para Pancho."



O que pode significar em relação aos acontecimentos do filme? Afinal, é um longa de 3 horas de piadas muito rápidas e históricas que poucos vão pegar ou entender de primeira. Então, é claro que muito do abordado no filme vai passar batido pela maioria das pessoas. 


O título original mexicano do filme é o mesmo que remete ao antigo projeto não acabado de Sergei Eisenstein sobre a cultura do México das civilizações pré-colombiana (pré-hispânicas) até a época da revolução mexicana. Um projeto que foi financiado por um americano chamado Upton Sinclair. Como a produção foi complicada, eles filmaram alguns rituais culturais locais, mas nunca chegaram a terminar o filme, que foi completamente montado apenas em 1979. De certa maneira, impossível não associar os dois filmes, já que todos conhecem quem foi Sergei Eisenstein, o cineasta russo comunista por trás de "Encouraçado Potekim", e "A Grave", e também de "Outubro". 


Definindo inicialmente com poucas palavras, é uma crítica de esquerda para com a esquerda, para com a classe média em ascensão fascista que se esconde no meio da esquerda. Logo no início, Pancho tem um sonho de seu pai e seu avô praticando tiro ao alvo com ele por vingança dele ter se afastado na família, e isso mostra o nível de tensão e horror da classe média em relação aos pobres, mesmo que eles forem sua família.



 "Viva o México" é um desse filmes muito sintomáticos e nefrálgicos em relação ao momento atual do mundo, muito necessário filmes com viés de politização. Questiona as pressões sociais exercidas nas pessoas, a mania de apontar fracasso e sucesso e que isso é relativo, já que se você "cresceu na vida"  e veio de um contexto pobre, ou você vai aceitar o fascismo do patrão e da vida dos ricos privilegiados, ou você não vai entrar nessa vida.  



Se você aceita o fascismo do patrão e corta pessoal, fazendo o seu trabalho, um dia vi acontecer com você, como reflete o fim do filme, onde o personagem que fez ascensão social volta a trabalhar na fábrica como faxineiro, já que a sua própria profissão também estava nos cortes do patrão. Uma ótima lição para quem amou,  engoliu ou defendeu a normalidade de países que estão enveredando pela "mexicanização".  



Esse filme gerou polêmica por abordar questões sobre história do México que alguns consideram passadas ou batidas. Por exemplo, eu como socióloga escrevi na minha monografia exatamente sobre o fenômeno de repetição dos padrões políticos como um reflexo de uma cultura em comum popular que reflete seu poder, como também tem suas teses sequestradas ás vezes por movimentos de direita ou de classe média que começam a reclamar de corrupção, por exemplo. Ora, se é assim, eu também fui "conservadora" em minha monografia que é exatamente sobre a história política de países da América, latina e do Norte, no caso do México. Na minha conclusão de curso, o meu trabalho foi  para quem quiser ler, "A SOCIOLOGIA DO POPULISMO: DE SUA DEFINIÇÃO À INFLUÊNCIA NA PERCEPÇÃO DAS DEMOCRACIAS E NO PENSAMENTO SOCIAL AMERICANO". No filme, a vila que Pancho cresceu chama-se "La Prosperidad" (A Prosperidade), o que já é em grande parte já essa ironia, como locais como o "Paraíso" serem na verdade um inferno. 



Vale lembrar que o que estamos debatendo é a falência do "populismo clássico", ou seja da formação original do PRI, e do nosso PTB (que virou de extrema direita), e o PRI que sempre esteve com certa razão no poder no México foi cada vez mais se refugiar-se nas políticas chamadas de "pragmáticas", mas que eram apenas uma forma de concordância com o capitalismo dos Estados Unidos, um país influente por sua proximidade com o México. O que estamos analisando aqui não é o discurso maniqueísta de que Cuba e Venezuela são "países populistas que não sabem o que estão fazendo", a minha reflexão como a do filme é exatamente o contrário, como que o modelo "democrata", da nova classe média instruída e o discurso vindo do próprio México com suas novelas da Televisa que reproduzem a ideologia das classes dominantes  e impõe esse processo cultural na população. Tanto que a atriz da mãe de Pancho no filme é uma que está sempre nas novelas mexicanas, assim como muitos dos atores da trama, muito deles figurinhas carimbadas na teledramaturgia. 



Um deles é o problema da corrupção endêmica dos sistema institucionais municipais (o que desagradou muito o presidente mexicano). Isso foi visto nas cenas de um dos parentes que virou político da região e que é padrinho de Pancho, o protagonista. A esposa de Pancho, Mari é interpretada pela atriz Ana de la Reguera, uma atriz conhecida no meio, que já até mesmo participou do filme do Zack Snyder: Army of the Dead e o Alfonso Herrera, que disse que não vai voltar para os shows de reunião da banda, ele vai fazer o novo filme do Zack Snyder "Rebel Moon" também, mostrando que o querido ator de Miguel não vai voltar para a reunião do grupo RBD por um bom motivo, ele está bombando como ator latino maistreaming. 


Luis Estrada foi chamado de conservador pelo presidente apenas pelo motivo de abordar a história dos partidos políticos no México. Ele fez o filme 'La Dictadura Perfecta'(2014), outra importante sátira política que busca abordar a venda das imagens dos políticos pelos produtores de televisão, além de ter sido a segunda maior bilheteria no México em 2014, ultrapassando 4 milhões de telespectadores. 


Em uma das cenas do filme, a avó porreta que pega os óculos Fendi da esposa patricinha de Pancho, fala uma grande verdade no fim do filme 

"Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos.", quando vê que a mina da família tinha sido vendida para os americanos, mais uma vez na história. 


O que as pessoas podem não saber é que essa frase fatídica é uma frase que foi cunhada por Porfírio Diaz, político que moveu seu exército contra o imperador Maximiliano I em 1867 e depois estabeleceu o chamado Porfiriato, um regime político que durou mais de três décadas. Todos sabem que foi um ditador cruel, mas também conhecido por sua "modernização" que iniciou um período de "paz social". Uma piada pronta história com a repetição e o populismo, já que os principais partidos políticos surgiram enquanto mensagem e iconografia durante o período da Revolução Mexicana. 


Quem lembra aqui do clássico de Glauber Rocha "Terra em Transe", onde Porfirio Diaz era o político conservador que mandava no jornalista de esquerda Paulo, ao estilo de Pancho nesse filme. Aqui a referência aos clássicos como "El Topo" (um filme de um diretor chileno) mas produzido pelo México. Podemos lembrar que como lição histórica de Maximiliano I da tentativa frustrada de manter o "Império do México" logrou ao México uma posição de disputa entre potências europeias e os Estados Unidos depois que os franceses desistiram de tentar influenciar na região.  


Esse carácter irônico da repetição histórica repudia o processo de "mexicanização" (é exatamente como os estudos do trabalho chamam esse fenômeno), chamado assim por ter sido um processo de flexibilização ocorrida em países asiáticos e em países como o Brasil e México que cortou a economia por anos e acabou com a indústria nacional desses países. Exatamente como é abordado no início do filme, quando Pancho como gerente da fábrica de tecidos é obrigado por seu patrão conservador e babaca a demitir mais de 40 funcionários "para cortar custos". O modelo de Pancho brinca com um dos principais revolucionários da Revolução mexicana, Pancho Villa, para querer dizer que ele seria o modelo da educação e de sucesso. 


O PRI é um partido clássico, surgiu em 1929 de uma confederação de modelos de esquerda que brigavam por espaço dentro da política mexicana. Podemos comparar o PRI com o nosso velho PTB (que "também se perdeu do trabalhismo"), como acusa o filme o PRI de ter perdido sua característica de esquerda ao imitar o governo e o estilo do PAN(conservadores e ambientalistas em geral) e do Morena (tipo PSDB de lá, o partido dos empresários). 


A acusação de perda da áurea na ideologia é muito pertinente ao tipo de cultura política instável que sempre marcou o México, que por conta da influência estrangeira, sempre perdeu suas riquezas, assim como a marcha ao oeste dos americanos foi uma marcha para conquistar territórios dos mexicanos no século XIX. 



No fim do filme, quem leva o minério da pedreira da 'família Vargas" é os americanos que comprando o político local da família conseguiram vender os bens deixados pelo velho depois que Pancho se decepciona com sua família e resolve vender todos os bens por vingança do que eles fizeram com ele, já que ele foi parar na cadeia por matar o marido de uma de suas primas, que também era cafetão e odiado por todos. Acontece é que esse processo aconteceu porque a família de Pancho e ele não conseguiram se entender e no fim refletimos que o problema de tudo é a burrice e a ganância, por parte de Pancho e sua família classe média padrão, por querer tudo para si sem dividir com os mais pobres da família.  



Como também é um problema de inveja em relação a quem conseguiu "estudar e vencer na vida", como uma teoria absoluta de valor onde é impossível mudar de classe social, e essa é cada vez mais a realidade de países considerados de segundo ou "terceiro mundo". Ao chegar no povoado onde cresceu o estranhamento mútuo é nítido, a família de classe média de Pancho é totalmente babaca, de modo que você quase não liga quando eles se dão mal. Quando o testamento é lido e Pancho é o herdeiro único do avô, porque "estudou e venceu na vida", temos a ironia suprem do filme, onde quem estudou, estudou apenas para ganhar um clientelismo, o que brinca com os padrões de sucesso e crescimento que temos na sociedade atual. 


Na cena onde o parente prefeito fala que era pró PRI (Partido da centro-esquerda), e que mudou para o Pan (os conservadores), já que "tudo a mesma coisa" como ele falou. O filme sabe muito bem brincar com os valores do fim do real discurso político. Não é uma crítica podre a esquerda, muito mais que isso, é uma crítica da esquerda para com a própria esquerda, isso que doeu no presidente mexicano, que apesar de esquerda, relativizou a pandemia e não está conseguindo fomentar a economia para lidar com o problema da evasão nas fronteiras (seria essa a acusação do filme).


 Não sou do México, não creio que posso opinar, mas conheço a história política do México, e como brinca o filme, é um local com a capacidade da história se repetir uma vez como tragédia, a segunda vez como farsa, frase de Karl Marx do 18 Brumário e que é uma lição sempre para a história e as ciências sociais. O que faz para mim o filme soar como uma sátira política ao estilo "A Odisséia dos Tontos", mas mais direto ao ponto.



Ás vezes, tudo muda para permanecer no lugar, como na independência do Brasil, ou na República Velha, ou como também na revogação dos direitos clássicos trabalhistas, estes direitos ganhos na Argentina com Peron, no Brasil de Getúlio Vargas e no México de Cárdenas. Hoje em dia, essa mesma classe média instruída que diz se importar com a educação, apenas se importa com aquilo que a educação pode servir aos interesses de permanência da tradição e da conservação. Por isso que ascender na vida não é visto por ninguém como ato de aumentar e expandir seus horizontes e conhecimentos, a educação nada mais é do mais uma ferramenta de exclusão das elites que "molda o caráter" ou melhor dizendo destrói  para nascer no lugar o homem médio padrão simbolizado por Pancho, o homem médio que repudia sua família, e depois disso, é destruído primeiro por sua ganância, depois pela sua própria família. 


História por trás do filme


Após o desentendimento, Estrada decidiu comprar os direitos de seu filme para lançá-lo na maioria dos cinemas com outro distribuidor. Em 2 de fevereiro de 2023, Estrada anunciou que havia fechado um acordo com a Sony Pictures para um amplo lançamento nos cinemas. Por fim, o filme foi lançado em 23 de março de 2023, no México, Estados Unidos e outros países, para depois estrear em 11 de maio na Netflix. O filme bombou demais nas redes devido ao revival em alguns países de Rebelde em parte, entrando no top 10 em 23 países, incluindo o Brasil. 19,4 milhões de horas assistidas na Netflix. Inclusive o SBT parece que vai voltar a passar.


Quando o filme foi lançado, dividiu público e crítica, sendo criticado por "denegrir o país". Entre seus críticos estão Juan Osorio Ortiz, produtor de televisão mexicano, e Andrés Manuel López Obrador,  presidente do México, que chamou o diretor do filme de "sinalizador virtual progressivo", classista e racista. Após a crítica de López Obrador, Luis Estrada respondeu lembrando que o presidente, em vez de se preocupar com um filme que nem viu, deveria se concentrar em questões mais relevantes para o país. Quem é Luis Estrada e porque ele foi atacado pelo presidente mexicano? 


O que é mais engraçado sobre essa crítica, é que o personagem principal do filme, o único de sua família de que pode estudar e subir na vida é fã de Obrador e assiste aos seus discursos em tom de aprovação, mesmo que sua esposa seja uma dessas dondodas da elite anti "governos populistas" que vemos tanto por aí, como falado no filme, porque "ouviu no clube que eles eram muito ruins". 


Essa é a cena onde a esposa acusa o presidente dizendo frase da elite decadência como "isso aqui vai virar Venezuela" e coisas assim, ou seja o filme acusa que essa elite, classe média instruída é exatamente aquela que vai fazer o clássico discurso de "isso aqui vai virar uma Venezuela", algo que é extremamente colocado como irracional e absurdo no filme, então não entendo o ódio do presidente, já que o filme o defende da crítica clássica dos conservadores em relação a governos de esquerda. 


 

Luis Estrada estudou na famosa UNAM (universidade mexicana), mas não se formou, e sua concepção de mundo não está errada em lembrar da falta de identidade de muitos partidos com heranças de esquerda. Por exemplo, o PTB de Getúlio Vargas nasceu de dentro do Ministério do Trabalho para ser o Partido de esquerda do governo em potencial, hoje em dia, ele está nas mãos de Roberto Jefferson (um maluco de direita) e o novo Partido Trabalhista é o PT (Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras). 


Ou seja, Luis Estrada não está errado, precisamos ter muito cuidado. Vale lembrar também que o PRI significa em sua sigla "Partido Revolucionário Institucional", o que é um pouco satírico em si, lembrando que o PRI nasceu em 1929 como necessidade de parar os conflitos entre as esquerdas em busca de um mesmo projeto político (porque antes a política era somente morte e conflito).


Esse filme me lembrou muito do espírito rebelde de filmes como "Don't Look Up" (que brincam com a certeza científica, porque a ciência em si é dúvida e método) e também como já falei em cima de "A Odisseia dos Tontos" (que aborda o roubo da direita na Argentina com as poupanças em 2001), filmes rebeldes por inovar na forma, conteúdo, gênero e na mensagem principal do filme. 


Terminamos "Viva o México" com gosto amargo, mas o filme não exagera em retratar como os ricos veem os pobres (muito mal), ou seja, cumpre sua mensagem de transmitir uma vontade de regulamentação e de políticas públicas melhores para o povo mais pobre. Exemplo prático, porque tantas famílias querem se mudar para os Estados Unidos? Será que os programas de auxílio e renda mínima no México estão tão avançados como estão no Brasil? Porque o cenário que o filme retrata é de fome, e o presidente apesar de ser de esquerda, escorregou muito a puxar por um "novo normal" muito cedo. 


 Digo isso, pois foi nesse filme que se teve a coragem de se debater essa opinião média ao estilo João Dória, que se diz contra o autoritarismo de governantes de esquerda, mas odeia pessoas mais humildes e só vive na riqueza cega do crédito fiduciário. É uma caricatura de pessoas burguesas que ganham o clientelismo da esquerda e que depois passam a falar mal da própria esquerda. Fico com a impressão de que precisamos muito de sátira políticas construtivas que façam com que todos nós voltemos osso interesse para a forma como as democracias modernas foram construídas, em nome de que, com que influência, em qual jurisprudência.  


Se pegar a ideia de Octávio Ianni ele disse por exemplo, que o colapso do populismo ocorreu na ditadura militar, já que populismo era uma mediação discursiva e cultural dentro da democracia, o que ninguém entendeu. Por isso a importância dos líderes do New Deal e do estudo sobre o ciclo dos anos de 1930 (o inicio do ciclo do chamado populismo clássico), isso porque foi aqui que o mundo passou a utilizar ideias heterodoxas de economia para fugir das crises certas e cíclicas do capitalismo financeiros das grandes bolsas de valores. Sem direitos trabalhistas, não há mais espaço para o pacto de classes, logo todos se odeiam e se matam, como no início do ciclo revolucionário. Ou seja, nada mudou porque tudo mudou! 


Não é à toa  que no filme, o avô que deixa a herança para o neto favorito Pancho ("Pancho Villa") que estudou e seu avô tem o sobrenome de Vargas, clara referência a Getúlio Vargas e ao ciclo do "populismo clássico". Pancho recebe um cofre, e do nada, descobre 20 barras de ouro, mas é claro que sua alegria dura pouco e descobrem que ele está escondendo o jogo de sua família.



Afinal, concordo com o dito que diz que estamos condenados a repetir a história, especialmente se nos esquecemos dela. Dessa forma, acontece o pior dos cenários, aquele que nós enquanto povo não aprendemos com nosso erros, o exemplo mais claro foi quando Bolsonaro foi eleito, mesmo depois que seu grupo político já havia destruído o Brasil com Fernando Collor. Ou seja, há aqui uma denúncia, quando estudiosos falam sobre populismo eles querem falar sobre Hugo Chávez e Maduro, mas esquecem que o populismo chamado de Neopopulismo (populismo moderno), ou mesmo a recente "blue wave" que substituiu a Pink tide (onda progressista) desde os anos de 1990 são sobre governos de direita ou extrema direita, como o ditador Alfredo Stroessner, o ex presidente Fernando Collor.

 

Mas não querem dizer que os chamados populistas, com o discurso da direita de certa ala das ciências sociais,  com o estamento da classe média , e com seu discurso em torno da neutralidade, da corrupção ajudaram a fomentar a visão dominante em torno da necessidade de  suplantar as leis trabalhistas antigas em nome de uma pseudo modernização, que na verdade é uma "mexicanização"(ocorrida no México em 2012) do trabalho, ou seja, do fim das leis trabalhistas clássicas. Afinal, como Pancho relativizou a perda de direitos para com seus companheiros de fábrica, no fim, ele mesmo perde seu posto de trabalho. 



Quem fez esse processo no Brasil e acabou com qualquer possibilidade de capitalismo natural no Brasil foi Michel Temer (o pior presidente da história do Brasil, aquele que na democracia não foi eleito e pior que Bolsonaro), no México quem fez isso foi Enrique Peña Nieto, presidente da época do México em 2012, advogado filiado ao clássico PRI (Partido que participou de todo o processo que regulamentou as leis trabalhistas), e a maior sátira política não está no filme, está no próprio México, que teve suas leis trabalhistas abolidas por alguém do MESMO PARTIDO que as instituiu a leis clássicas de trabalho, com o governo do popular Cárdenas. 


Quando o povo esquece a herança de seus marcos, de seus políticos de sus historias contadas de vila em vila, de barbearia em barbearia, a classe média aproveita e importa um discurso de "precisamos nos livrar de governos populistas e precisamos 'modernizar' as relações de trabalho", esse é o discurso que vem antes de qualquer golpe ou crise braba. 


A única coisa errada com o filme, é que concordo com sua perspectiva pessimista, onde se aponta que não existe "ascensão social", apenas uma submissão a uma ordem exploratório que você só vai ser incluindo se você for tão ruim quanto o seu patrão (tiver os mesmos valores), ou seja, o capitalismo moderno está condenado, mas o filme é de comédia e bem divertido, faz piada com situações e questões que são simplesmente ignoradas.  


Ou seja, esse filme é uma ótima pedida para quem também fica indignado com fenômenos como privatizações, terceirizações, fim da regulamentação trabalhista, "uberização". É uma sátira muito atual que busca refletir sobre a esquizofrenia do capitalismo na sociedade moderna, especialmente nas sociedades "latinas", já que pros EUA, o México é latino pelo idioma que falam, o espanhol e não uma referência ao território, que é a América do Norte. Um ótimo filme para quem gosta de história, política e humor. 


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