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Army Of The Dead (2021) demostra riscos da ganância em época de pandemia

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O mais novo filme de Zack Snyder aborda temática já presente na carreira do diretor: Zumbis. Em uma realidade onde Las Vegas foi tomada por zumbis. É então que uma equipe patrocinada por um empresário japonês quer invadir um cassino abandonado para roubar o dinheiro do cofre. Era um missão simples, entrar, arrombar o cofre, pegar e helicóptero e adeus. Mas a situação da atual Las Vegas é mais complexa do que eles esperavam 


Originalmente da Warner Bros Pictures, o filme foi anunciado em 2007 com Matthijs van Heijningen Jr. como diretor. No entanto, o filme passou por um inferno de desenvolvimento antes que a Netflix adquirisse os direitos de distribuição em 2019. Com um orçamento de produção de $90 milhões, Zack Snyder foi chamado para "salvar o filme", atuando como diretor e diretor de fotografia, as filmagens ocorreram em Nova Jersey, Novo México, Nevada e Los Angeles em meados de 2019. 


O filme foi refilmado em agosto de 2020, depois que várias acusações de má conduta sexual foram feitas contra o membro do elenco Chris D'Elia, que era o piloto originalmente. Ele foi substituído por Notaro usando telas verdes , parceiros de atuação e CGI .


Primeiro, destaque para a introdução. A sequência em câmera lenta, mostrando o caos dos zumbis ao som de "Viva Las Vegas", deu um zombeteiro sensacional a intro. Interessante também o filme se preocupar em mostrar a origem da infecção zumbi, algo que a maioria dos filmes do gênero esquece de fazer.


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A trama se dá em torno do dono do cassino, Bly Tanaka, e seu segurança Martin abordam o ex-mercenário Scott Ward sobre um trabalho para recuperar US $ 200 milhões de seu cofre de cassino em Las Vegas antes que os militares implantem um ataque nuclear tático na cidade. Ward concorda e recruta seus ex-companheiros de equipe Maria Cruz e Vanderohe, junto com o piloto de helicóptero Marianne Peters, o arrombador de cofres alemão Ludwig Dieter e o atirador de elite chicano Mikey Guzman, que traz consigo seu associado Chambers. O chefe da segurança de Tanaka, Martin se junta à equipe para dar-lhes acesso ao cassino. Aí eu pergunto pra você: para que você leva o segurança do empresário que te contratou com você? 


A cena da exposição do plano tem muita ironia. Além de ser exposto por Tanaka de maneira exageradamente coesa e fácil, no final quando um parceiro de Guzman escuta o plano, ele fala aquilo que eu estava pensando: "Zumbis?! Vocês não mencionaram zumbis. Tô fora, vocês vão todos morrer". Confesso que gargalhei nessa hora pela obviedade.


A filha  que é afastada de Ward, Kate, trabalha em um campo de refugiados em quarentena. Achei esse um elemento simples é ótimo a narrativa, pois assim pode-se inserir uma questão real: os refugiados e imigrantes ilegais que vão para os EUA buscando oportunidades, mas na verdade acabam presos nesses campos de concentração. Aqui o filme me deu a pista: zumbis pode ser metáfora para pobreza e subalternidade.


Ela os direciona para a "Coiote", nome geralmente dado um atravessador de imigrantes ilegais. Ela é familiarizada com a cidade. Ela, por sua vez, recruta Burt Cummings, um guarda de segurança do campo. 


Quando Kate descobre que a Coiote escoltou sua amiga Geeta até Vegas, Kate insiste em se juntar à equipe apesar das objeções de seu pai. E preciso dizer: essa sequência não fez sentido. Primeiro, Ward apareceu entrando em contato com a filha, obviamente objetivando recrutá-la, (levar sua filha para um apocalipse zumbi? Que bom pai, hein). Maria chega a comentar a situação com Ward entregando sua motivação: ele queria se reaproximar da filha. Depois magicamente, ele não quer que a filha vá. Outro detalhe, que mal feita ficou a cena de Ward matando sua esposa que virou zumbi. Era para ser a cena de uma recordação, mas ficou bem mal feita esteticamente. E se zumbis são uma metáfora, ele então é um feminicida. 


Eles entram na cidade, e após um encontro com um tigre zumbi chamado Valentine ( animal muito foda!). Coiote fere o guarda Cummings, e explica que um grupo de zumbis inteligentes conhecido como os "Alfas" só permitirá uma passagem segura em troca de um sacrifício humano. 


Uma zumbi Alfa conhecida como Rainha leva Cummings para o cassino Olympus, onde o líder Alfa Zeus o infecta. Coiote conduz a equipe a um prédio cheio de zumbis normais em hibernação. 


Ward cria um caminho através dos zumbis com bastões luminosos. Quando a Chambers acusa o chefe da segurança Martin de segundas intenções, ele a desvia do caminho e ela acorda os zumbis. Em outras palavras, o cara era realmente um maldito. Depois que ela é cercada e mordida, Guzman atira na lata de gasolina em suas costas, destruindo-a e aos zumbis ao redor.


De repente, e de maneira mal continuada, todos se separam. No cassino de Bly, Ward e Kate ligam a energia, Peters prepara um helicóptero no telhado, enquanto Dieter trabalha no cofre. Martin e a Coiote ficam do lado de fora sob o pretexto de vigiar, mas, em vez disso, atraem a Rainha zumbi para o campo aberto. Martin a decapita e leva sua cabeça, pois a cabeça da zumbi Alfa valia mais do qualquer dinheiro. O zumbi Zeus descobre seu corpo e a leva de volta ao cassino Olympus, revelando que a Rainha estava grávida de um feto zumbi. Essas características mostram que os zumbis se constituem como uma sociedade, logo que raciocinam, fortalecendo a tese dos zumbis como metáfora da pobreza.


Enfurecido, Zeus direciona os Alfas ao cassino de Bly. Uma reportagem revela que o governo precipitou o ataque nuclear, dando à equipe aproximadamente uma hora. Enquanto Dieter abre o cofre, Ward descobre que Kate saiu para procurar Geeta. Como Ward e Cruz estão prestes a procurá-la, Alphas aparecem e matam Cruz.


Martin prende a equipe no porão, explicando que Bly se preocupa apenas com a cabeça do zumbi, que pode criar um exército de zumbis para o governo e vale mais do que o dinheiro no cofre. 


Quando ele sai, ele descobre que a Coiote roubou a cabeça da Rainha, e tem um encontro mortal com Valentine. Vanderohe tenta lutar contra Zeus, mas é facilmente derrotado. Dieter se sacrifica para colocar Vanderohe no cofre com segurança. Ward, Lily e Guzman chegam ao saguão, onde zumbis os atacam Guzman. Guzman detona suas granadas, matando os zumbis e destruindo o dinheiro que carregava. Zeus os confronta no telhado. Coiote o distrai com a cabeça da Rainha enquanto Ward e Peters escapam. Zeus empala Coiote, que destrói a cabeça ao deixá-la cair do telhado. Que sequência horrivelmente mal feita. Coiote me lança a frase "vai eu sei o que eu tô fazendo" e morre. Qualquer coisa teria sido melhor.


Peters leva Ward ao cassino Olympus para resgatar Kate. Dentro, Kate encontra Geeta e mata Cummings. Zeus os encurrala, mas Ward o distrai com um lançador de granadas. Porque não atirar a granada direto no peito do zumbi, eu não sei. 


Geeta, Kate e Ward chegam ao telhado, mas o encontram vazio; Peters reaparece assim que Zeus chega ao telhado. Todos os três saltam a bordo do helicóptero, assim como Zeus, que domina Ward e o morde. Kate distrai Zeus antes que Ward o mate. 


Enquanto isso, o míssil nuclear destrói Vegas, a onda de choque faz com que o helicóptero caia, matando Peters e Geeta. Kate sobrevive e encontra Ward, que a dá dinheiro para começar uma nova vida antes de começar a se transformar em um zumbi. Kate é obrigada a matar o próprio pai.


Vanderohe sai do cofre com o dinheiro restante. Ele dirige até Utah e aluga um avião particular para levá-lo à Cidade do México, mas no vôo, ele descobre que foi mordido. Em outras palavras, morreu todo mundo, ninguém pegou a grana, seu Tanaka fez papel de panaca e Kate, pior personagem, é a única a sobrevive.


Análise


Minha leitura do filme. A trama de zumbis é uma metáfora da pandemia de Covid-19. Os mercenários representam pessoas individualistas que fazem qualquer coisa por dinheiro na pandemia, até mesmo se por em risco. E mercenário bonzinho não existe, mesmo que ele queira fundar o foodtruck.


Las Vegas é os Estados Unidos em crise, com imigrantes, refugiados e muita gente pobre. E se existe alguém interessado em um "novo normal" em 2021, esse é o Japão (Tanaka), obviamente por causa das olimpíadas. 


O final trágico constrói muito bem a mensagem contra o negacionismo da Covid-19, ao mostrar que a ganância, a vontade de sair e voltar tudo ao normal podem custar a sua vida.


O filme foi gravado com câmeras "Red Monstro" feitas sob medida que podiam usar as lentes rangefinder Canon 50mm f /0.95 dos anos 60 que Snyder já possuía, dando o filme o que ele descreveu como "imagens de sonho, fora de foco" com "uma aparência suave e orgânica". Deu certo, a fotografia é perfeita. 

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As atuações não são das melhores, mas levando em consideração que o filme foi um parto para ser filmado, a gente entende. 


Os personagens são um pouco estereotipados, mas dado o fato que não é pro público de fato gostar de nenhum deles, eles funcionam perfeitamente. Meu favorito, o tigre. Tirando ele, Vanderohe e a piloto são muito bons.


A edição ficou ó: um lixo. Cena jogada, cena mal feita. Como que o zumbi Zeus está no alto do prédio com Ward e a Coiote, e na cena seguinte já está no Olympus tentando pegar Kate? Há partes em que há saltos muito grandes, como quando Coiote e Martin estão com todos dentro do Cassino, e logo em seguida já estão lá fora de novo. 


O roteiro é onde o filme brilha. Gostei bastante da história e as inovações ao universo dos zumbis. Nunca tinha visto um tigre zumbi! 


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O zumbi se chamar Zeus e morar no Olympus é ótimo elemento para apontar para mitologias. 


Entretanto, sei que a morte deles é um elemento que estraga para alguns. Principalmente, que a ideia foi aquela de botar cadáveres usando as roupas dos personagens e ainda alternando com imagens dos rostos dos personagens. Sério, que a ideia péssima foi essa? Entrega o filme e  não faz nenhum sentido para a história.


Dito tudo isso, acredito que Army of The Dead é um filme que diverte e empolga, mas é cheio de pequenas falhas que estragam um pouco sua fruição, perdendo o potencial de se tornar um clássico de Snyder, como Madrugada dos Mortos é. A trama é atual e se encaixa como uma luva no mundo de hoje, de pandemia, mercenários, crise e ganância.


Disponível na Netflix.


Atualização


Um artigo escrito por Laísa Trojaike ao Canaltech pode trazer novas informações sobre a cena "sem sentido" deles já mortos na porta do cofre.


Além da prequela, Army of Thieves, já ter sido confirmada pela Netflix e Znyder, com uma trama focada em Dieter (Matthias Schweighöfer), existe a possibilidade de outros filmes surgirem para dar conta das demandas do público(aí sim!). A nova teoria explora a possibilidade de que o monólogo de Vanderohe (Omari Hardwick) não seja apenas para brincar com Dieter, mas sim uma verdade sobre a qual poucos personagens teriam consciência.


Entretanto o artigo ainda destaca que Vanderohe é o filósofo. Até Zack Snyder fez questão de comentar essa característica do personagem. Mas também existe a possibilidade de que a teoria seja, na verdade, uma metáfora.


A teoria do eterno retorno de Friedrich Nietzsche ou as variações encontradas em outros autores podem servir ao pensamento ético de um personagem que se vê diante de certos dilemas. A teoria serve tanto para refletirmos sobre nossas ações (ao imaginarmos que elas podem se repetir por toda a eternidade), quanto para pensar que o mundo funciona ciclicamente e que tudo se repete constantemente.


Ou seja, podemos ver novos filmes da saga, ou pode ser apenas uma metáfora da filosofia.



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