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Better Call Saul - "Nippy" (6x10): Um dia na vida de Gene?



Em um flashforward para 2010, em Omaha, Nebraska, a cadeira motorizada de uma idosa chamada Marion fica presa na neve. Jimmy McGill, sob o disfarce de Gene Takavic, aparece e oferece sua ajuda, furtivamente cortando os cabos de energia da cadeira, e, posteriormente, oferecendo-se para empurrá-la para sua casa. Ele faz amizade com ela com histórias de seu cão perdido inexistente, Nippy. Marion é revelada como a mãe de Jeff, o taxista que reconheceu Gene como Saul Goodman. Jeff chega em casa e questiona os motivos de Gene. Gene oferece a Jeff a chance de entrar no "jogo" roubando uma loja de departamentos no shopping onde Gene trabalha


 Assista Better Call Saul na Netflix


Veja aqui a análise do episódio anterior, "Fun and Game" (6x09)



Crítica do episódio


"Nippy" é de longe o episódio mais diferente da proposta original até agora. Isso é interessante pois abre nosso horizonte de expectativas em relação ao universo Breaking Bad. Mas isso não é tão simples como parece. Várias pessoas odiaram a proposta do episódio, taxando como o pior episódio da série até agora em alguns grupos e fóruns. Uma coisa interessante do episódio, para quem acompanha a televisão americana, é a participação de Carol Burnet, uma clássica comediante da teve CBS por anos um programa muito famoso na tv americana pela NBC depois). 



Bom, isso acontece pois o episódio é muito subjetivo. Estamos quase no final da série e eles abrem todo um universo e realidade em apenas um episódio, que não segue diretamente o arco do que assistimos na série, algo bem parecido com o que aconteceu com o episódio de Breaking Bad "A Mosca" na época de seu lançamento. Hoje, o episódio é referência e sabe-se agora que ele tem grande ligação com o episódio 6x8, "Point and Shoot", de Better Call Saul. Isso quer dizer que o episódio dessa semana foi ruim? Não, muito pelo contrário. 


Nesse episódio, acompanhamos exclusivamente a vida de Gene. Quem é Gene? Bom, esse é um dos problemas. Para quem viu Breaking Bad inteira e junta um mais um, sabe que Gene é a identidade que Jimmy vai assumir depois de ser Saul e, provavelmente, ter seu esquema desmontado, sendo preso ou tendo que fugir e mudar de identidade para escapar da lei. Ou seja, seria sua terceira identidade.



A questão é que além de introduzir personagens completamente novos quase do zero, a produção do episódio ainda teve que trocar um dos atores. Resultado: muita gente chiou dizendo que atrapalha. Para mim, bobagem pois eu nem tinha notado, sendo bem sincero.



O episódio também possui um tom cômico mais sombrio, como piadas de humor negro, não muito comum a série, lembrando bastante Twin Peaks ou Arquivo X, principalmente em momentos mais "monster of the week". Isso se explica um pouco pelo fato de o episódio ser dirigido por Michelle MacLaren, que dirigiu The X-Files, Better Call Saul, Breaking Bad, The Walking Dead, Game of Thrones, and Westworld. Como diretora e produtora, ela foi mais fixa em Arquivo X e Breaking Bad, sendo seus episódios sempre de grande destaque nas séries por pensar formas mais fora da caixa de representar o roteiro. 



Foi isso que vimos nesse episódio e que salvou o roteiro de Nippy completamente. Poderia ser só mais um episódio rotineiro da série sobre Gene. Mas a forma como a diretora utilizou os recursos audiovisuais tornaram o episódio quase um filme isolado. 


Primeiro, na técnica do preto e branco e linguagem do episódio, fazendo ele parecer que foi filmado com o celular, com vários planos muito criativos no seu posicionamento e ordem de relevância. Segundo, por dar um incrível destaque a pequenos detalhes, como o relógio, o olhar, o doce e tudo mais, dando foco incrível a percepção dialética de cada interação, já que joga com uma certa perspectiva de quem está enganando quem dentro do caminho pelo qual o episódio passa.



Em termos da trama do episódio, tentarei analisar e simplificar o máximo possível. A questão que está por trás do episódio, é que por mais que mude de identidade, culturalmente o comportamento de Jimmy não mudou. Ele continua dando golpes e querendo se dar bem, não por precisar, apenas porque ele pode. Como se algo em Jimmy o estimulasse a sempre querer confrontar o sistema, ideologia talvez. 


Ou seja, vimos um dia na vida de Gene ou mais um dia na vida de Saul? Mas isso é muito contraditório, já que o que estamos vendo ao longo dessa temporada um trabalho de desconstrução do Jimmy que conhecemos nas primeiras temporadas. Ele era como tal pois tinha sido explorado por Chuck, personagem que para sentirmos pena somos obrigados a acreditar em sua teoria paranoica, estilo Arquivo X, de que ele era alérgico a eletricidade. Mentira pura, já que depois ele simplesmente superou sua condição, como se Saul nunca tivesse o ajudado


Então, por um lado o episódio entrega que Saul possui certo vício em ludibriar e se dar bem. Por outro lado, torna completamente bobo os crimes de Jimmy. É como se o episódio focasse que suas transgressões são como uma brincadeira, um exercício para ele testar sua inteligência perante a dos outros e se sentir um pouco menos inferior, e isso desde a primeira temporada. 


Quando ele chora com o segurança no final do episódio, invejando o fato de ele ter uma família e ele não ter, ele está sendo Gene ou está sendo Jimmy, ou seja, ele mesmo? Afinal, ele está sem a Kim...


A cena da camisa foi realmente simbólica, representando que apesar de ele roubar ternos caríssimos, sente falta de seus ternos baratos e chamativos de Saul Goodman. Ou seja, ele sente falta de ser Saul.


Assim, é um episódio perfeito para vender a ideia em geral da série e todos os seus contornos, mas é um episódio que dentro do sentido arco da série, como anterior, desmotivam e desanimam um pouco. Vale lembrar que Breaking Bad é considerado um seriado "neowestern" ou novo faroeste, e que aplica uma tese, uma visão de mundo sobre a temática. Já Better Call Saul tem uma forte caráter de "revisão", melhorando certas perspectivas da série clássica, como machismo, mas também fazendo um final bem menos eletrizante do que de Breaking Bad.



Em Breaking Bad 5°temporada, todo episódio era incrível, tocante e dava a incrível vontade de saber o que vai acontecer no próximo episódio. Em Better Call, torcemos para não acabar e cada vez ficamos mais tristes com final da série. O episódio da 6x08, dirigido por Vince Gilligan foi incrível, mas outros não convencem tanto na continuidade da série, parecendo trabalho em grupo de faculdade, onde cada um dá uma ideia diferente e aí se tenta fazer uma mistura de todas as ideias, mas parece que cada um está falando uma coisa diferente sobre a tese e a sua perspectiva sobre a série, esquecendo do fator entretenimento. 


É o episódio mais fora da caixa e contraditório de Better Call Saul até aqui. Com uma ótima direção e fotografia, eu gostei bastante do episódio, parecendo, como disse antes, um filme. Mas não veria um spin off sobre a vida de Gene, sendo totalmente um "buzz kill" para quem está curioso com o final da série. 





História por trás do episódio


"Nippy" é o terceiro episódio de Better Call Saul a ser dirigido por Michelle MacLaren após dirigir um episódio da primeira temporada e "Breathe", da quarta temporada. 


Foi escrito pela produtora executiva Alison Tatlock. Bob Odenkirk, que interpreta Jimmy, é o único ator listado nos créditos estrelados. O taxista Jeff, que já havia sido interpretado por Don Harvey, foi reformulado para Pat Healy devido a um conflito de trabalho com Harvey. 


Carol Burnett foi escalada como Marion, mãe de Jeff. Burnett já havia aparecido no The Larry Sanders Show com Odenkirk, mas os dois não compartilharam nenhuma cena sobre essa série. Burnett foi notado como sendo um fã de Breaking Bad e Better Call Saul antes de sua aparição. 


A loja de departamentos onde o assalto acontece era um espaço vazio no shopping onde o episódio foi filmado. 


O designer de produção e o departamento de arte construíram o interior e cada item da loja foi criado, comprado ou trazido.


"Nippy" marca uma série de estreias para Better Call Saul. É o primeiro episódio a ser inteiramente em preto e branco e o primeiro a acontecer completamente depois de Breaking Bad. 



É também o primeiro da sexta temporada a não seguir o esquema de nomeação "X e Y", e marcou uma mudança nos créditos do título. Tradicionalmente, os créditos do título do décimo episódio de cada temporada apresentavam a caneca "Maior Advogado do Mundo" de Saul Goodman caindo de sua mesa e quebrando no chão. 


No entanto, neste episódio, a imagem do título para prematuramente e é substituída por uma tela azul, recriando os efeitos de uma gravação de vídeo caseiro em um videocassete. A música "Jim on the Move", de Lalo Schifrin, da série de televisão Mission: Impossible, de 1966, está incluída na trilha sonora do episódio.


O episódio foi dirigido por Michelle MacLaren, que dirigiu 11 episódios de Breaking Bad, entre eles, "Gliding Over All" e "To'hajiilee". Mas ela não dirigiu muitos episódios da série, sendo a terceira direção dela em Better Call Saul.


Ao longo das seis temporadas da produção, a abertura fica mais tremida e perde as cores. Porém, em "Nippy," a introdução é interrompida como se fosse uma fita cassete sendo removida do vídeo cassete e a tela fica azul completamente, apenas com o título da série em branco. Uma metáfora do fim da linha de tempo que se baseou toda a série e a entrada na nova linha do tempo, com o presente e futuro do universo Breaking Bad.


Este é o primeiro episódio da série em que Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian e Michael Mando não são creditados. Na verdade, Bob Odenkirk é o único regular da série que aparece nos créditos e também no episódio. Isso também marca apenas a 2ª vez, depois de "Five-O", que Rhea Seehorn estava ausente de um episódio de Better Call Saul.


No açougue do supermercado, Marion é oferecida uma amostra de "cheddar Wisconsin extra-afiado". A embalagem diz que este queijo vem das fazendas Schnauz, um easter egg relacionado a Thomas Schnauz, um dos principais produtores do universo Breaking Bad.


Cinnabon treinou Bob Odenkirk para preparar seus pãezinhos de canela e bebidas. 


Para quem testou telefonar para o número que está no resgate do cachorro Nippy, recebe uma mensagem de mais de 1 minuto com a voz de Odenkirk falando sobre o cão.


Gene conta a Jeff a história de um professor de química do ensino médio que passou de falido a ter uma pilha de dinheiro do tamanho de um Volkswagen em menos de um ano, que é uma referência, óbvia, a Walter White de Breaking Bad.




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