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Twin Peaks: A democracia na América e a narrativa do herói postas em xeque

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A série policial Twin Peaks foi produzida e criada por David Lynch e Mark Frost  e foi transmitida no dia 08 de Abril de 1990 na emissora ABC, contando com um total de 8 episódios. A história é sobre o assassinato de Laura Palmer, garota local da cidade pequena de Twin Peaks muito amada e querida por todos, mas que possuía segredos. O caso foi inspirada em um caso de assassinato real ocorrido em 1908.  Com estética sublime e pinta de longa metragem, a série de David Lynch virou um clássico cult que rende até hoje, mesmo após o término, ocorrido na terceira, e que esperou 25 anos para ocorrer. Atacada inicialmente por críticos que a achavam uma série muito maduro para o público de massa, a série acabou rendendo frutos comerciais até hoje, com audiência inicial do primeiro episódio da série de 35 milhões de pessoas, um verdadeiro recorde. Sem Twin Peaks não teríamos séries como Sopranos, Arquivo X, ou mesmo Lost

Twin Peaks buscava fazer cinema em um formato de série e contou com uma mitologia própria e uma verdadeira lição de universo narrativo dado através de vários formatos. A narrativa gira em torno de um método agente do F.B.I que aparece meio que do nada em uma cidade pequena do interior de Washington, depois de ter trabalhado no caso de Teresa Banks, que teria morrido no ano anterior de 1989, nessa data, dia 23 de fevereiro Laura Palmer é assassinada. 
 


Os personagens da série que são muitos, servem para dar esse clima noir do jogo clássico "detetive" na série, onde em cada episódio descobrimos mais sobre os crimes da pequena cidade de Twin Peaks. O Agente Cooper aparece primeiro na série como alguém que vem investigar o assassino da adolescente Laura Palmer, sua primeira cena é na estrada, como se estivesse fazendo um diário de campo, em suas fitas ele descreve suas impressões como um cientista que vai ao campo.


As das três temporadas possuem da segunda para a terceira um pulo de 25 anos. Mas também houve o lançamento de vários livros do universo Twin Peaks, O Dossiê Final que conta basicamente a história entre a segunda temporada, e o que teria acontecido antes do começo da terceira temporada. O livro Minha vida, minhas fitas sobre os relatórios do Cooper. Ou mesmo o Diário Secreto de Laura Palmer, escrito pela filha de David Lynch. 


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A história em torno da rainha do baile que morre depois de se envolver com diversos mistérios e situações perigosas, um pouco por conta de sua personalidade, um pouco por conta de seus traumas pessoais familiares, ela não consegue ser uma "garota normal", e a narrativa explora um típico clichê do thriller policial, a loira que vai morrer na estória. Apesar desse problema inicial da série que veio antes do filme, no filme Fire Walk With Me lançado em 1992, conta a história dos "últimos dias de Laura Palmer". 


O nome do filme é inspirado em um poema que estava no diário de Laura. Esse poema repete durante toda a série durante vários episódios e serve como metáfora para toda a moral da história, o poema fala sobre dupla interpretação, e insinua a pergunta de que a resposta está em saber quando estamos no futuro, e quando estamos no passado. 



O Poema no diário que se se repete na série, "o fogo anda comigo":

 
"Essa é a água, e esse é o poço,
beba tudo e desças
o cavalo é o branco dos olhos
e a escuridão está junto 
pelo escuro do futuro-passado
O mágico anseia por ver
Um grito que ecoa entre dois mundos
O fogo anda comigo
Esse é o futuro ou esse é o passado?
Não se sabe mais pra onde se quer ir 
Explosão nuclear e o surgimento de tudo o que se choca
Os opostos nem tão opostos
Apenas se pode ter a maldade naquilo que não é puro, pois a pureza é puro tédio. "



 
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A série era para se chamar Northwest Passage, mas por fim ficou Twin Peaks, e contou com 3 temporadas, duas de 1990-1992. Depois disso, fizeram o filme do antes da série que explica os "últimos dias de Laura Palmer" (Sheryl Lee) em 1992 logo após o término das primeiras duas temporadas, e a terceira temporada que ocorreu 25 anos depois.  A série foi cancelada na segunda temporada por cair drasticamente os índices de audiência em comparação do início para o fim da temporada, sendo realizada a terceira temporada final apenas em 2017, como dizia já no fim da segunda temporada, Laura nos informou: "vejo você em 25 anos". 



E acabou sendo depois de 25 anos mesmo a volta da série cult de David Lynch e Mark Frost. Na minha opinião, a série cumpriu com o papel de segurar a qualidade das estórias, mesmo 25 anos depois, e mesmo sem muitos do elenco original, como o o Sheriff Harry, que foi substituído por seu irmão, mostrando que o cargo na delegacia é familiar em Twin Peaks. O clima do retorno da série foi de aclamação no sentido de tentar "resolver pontas soltas", mas cientificamente, o a função de intrigar foi mais interessante. 


A estrutura de realidade  em Twin Peaks é simulada, o entendimento que o próprio sonho pode ser mais real que a vida é uma premissa central para entender as alegorias que a série ilustra. E ilustra mesmo, pois David Lynch é famoso por seu trabalho subjetivo de sugestão psicológica e transcendental. O interessante da série é observar uma série que além do carácter objetivo de começo, meio e fim, se preocupa com a realidade política. Depois da segunda temporada, fica claro que a intensão é indagar sobre o F.B.I e suas tácticas, representado pelo próprio Lynch que interpreta na terceira temporada mais ativamente o papel de chefe de Cooper, que na história oficial está desaparecido, mas é visto em duas formas de identidades distintas.  


Para fazer minha crítica pessoal, preciso utilizar de Jacques Lacan e sua noção de trauma, como também o livro de Freud "A interpretação dos sonhos", que foi uma revolução dentro da modernidade por falar sobre o problema mental ter a ver com a relação do desejo representado através de objetos e sonhos.  Os acessórios e adereços são parte do objeto que seria a fantasia estimulada pela estética, onde valores históricos e projeções comportamentais moldam e domesticam as pessoas. É como no livro de Foucault História da Sexualidade, ele aborda a comida como uma forma do "uso dos prazeres", isso também é uma realidade para Twin Peaks onde a metáfora de comida como adestradora da sexualidade é latente, como na cena em que Audrey surpreende Cooper sem roupa em seu quarto, para não cair em tentação, Cooper projeta comer algo e beber umas cervejas para substituir. 


Da mesma maneira, a cena da cereja de Audrey pode ser vista também como metáfora sexual por ela tentar se infiltrar no bordel onde descobriu que seu pai é sócio para ajudar nas investigações.





O personagem, que de longe é o mais marcante de Twin Peaks teve um fim controverso, ficando em coma depois da explosão do banco na segunda temporada. Quando vemos mais de sua personalidade depois do resgate no bordel, vemos que Ben Horne, pai de Audrey tenta ser melhor pai para ela, já que ele conseguiu "uma segunda chance" ao Audrey voltar, eles ficam mais próximos, e vemos um arco de Audrey enquanto leitora de obras da ciência política, e em uma cena deletada com Window Earle, ela conversa sobre 'desobediência civil" com o serial killer, mas no fim, ele captura Annie, e leva Dale até o black lodge e depois disso, não vemos mais. Depois do final (season finale), ele desaparece e em seu lugar surge a dicotomia dos "dois" Coopers por fim da série.





 




Eis minha interpretação: os dois Coopers não tem nada a ver com o "mau" e o "bom" como em uma primeira impressão, podemos pensar. Outra ilustração de tropes no black lodge é o direcionamento narrativo dado pelas figuras do gigante e do bombeiro. O que tem documentado, sem fonte psicologista, de ficção ou investigação normalmente tem relação com os sonhos vividos pelos personagens. A realidade é que ele criou duas vidas, e que o caso de morte de Laura Palmer marcou a vida do "bom Agente Cooper", fazendo ele desaparecer para sempre, se for pensar bem sobre os sinais dados em todos os meios: livros, filmes e principalmente, baseado na ideia da série. Daí que surge o filho de Audrey com o Cooper Mau, uma história macabra do início ao fim. Igualmente é triste a interação de Cooper com Diane, que foge dele depois de, em tese, o "bom Cooper" ter acordado. 


O choque é de cenários era incrível. Na primeira temporada, a audiência se mantinha em quase 20 milhões de expectadores, na segunda temporada, Lynch e Frost foram pressionados pelo estúdio para revelar o assassino de Laura, e assim, a série entrou em um grande hiato, coma  saída da direção direta de Lynch, que não sabia o que fazer depois disso. Com a chegada de Annie que ninguém conhecia antes, e com a chegada de mais um assassino do nada, a série pareceu tirar férias, e a audiência caiu muito após o arco da revelação do assassino, para o episódio 2x15. Segundo o próprio David Lynch, a segunda temporada "sucked", foi uma merda, isso é a opinião dele sobre a série dele. 


O compasso literário da série lembra o livro do autor Ilmar Rohloff Mattos: "O Tempo Saquarema: a formação do estado imperial", o livro parece ter uma intenção parecida literária de demonstrar uma época pelo compasso do tempo e da literatura, a história em Twin Peaks é contada com o mesma "meditação" e imaginação. Outra coisa em comum além do clima do livro, é a questão da interiorização da metrópole


Alguns chegam a brincar que a abertura da série ninguém pula por isso, por ser uma forma de meditação também. Contando com uma trilha sonora bem original também. Essa é a linha por onde traçamos o mundo de Twin Peaks. Como no filme Fire Walk With Me (1992), onde David Bowie faz uma pontinha e comenta sobre isso como o Agente Philips, que quando chega no F.B.I, bifurca a realidade, e ao encontrar Cooper, ele aparece, e depois não aparece, como é explicado na mitologia da série. E ele afirma que não falará sobre Judy, uma entidade conhecida como mãe da formação dos clones. Isso ele explica através do vapor da chaleira, aparecendo apenas sua voz conversando isso com o mau Cooper, que tinha descoberto que Philips tentou matar ele. 



 

 Dentro das múltiplas pontas abertas da série, houve revezamento na direção dos episódios. Um deles, o 2x17 foi dirigido por James Foley que fez At Close Range, e o 2x15 foi dirigido por ninguém menos que Diane Keaton. Outros diretores se revezaram e na segunda temporada houve menos envolvimento de Lynch e Frost na produção da série. Alguns diretores são Tim Hunter, Lesli Linka, Caleb Deschanel (pai da Zoey Deschanel que ia criança ao set, mas era proibida de assistir a série)


Acompanhamos as aventuras do policial federal Dale Cooper, que chega na cidade de Twin Peaks animado com a cultura regional e local, como o costume das tortas e das rosquinhas. A série é cheia de personagens positivos como Audrey e seu pai, Catherine, Nadine, esposa pirata de Ed que vira adolescente no decorrer da trama e aterroriza seu marido que ser se divorciar dela para ficar com Norma, e alguns bem ruins ou aleatórios que acabam tornando em alguns momentos a narrativa enfadonha, como James, Ed, Norma, ou Annie e Donna. 


Nadine tem o sonho de conseguir inventar as cortinas mais silenciosas do mundo, vive um casamento frustrado com Ed, que a trai com Norma, sua antiga namorada, dona do R R e também irmã de Annie. Nadine passa a primeira parte da trama completamente deprimida e abandonada e sem nenhuma perspectiva. 


Na terceira temporada por exemplo, Nadine consegue na terceira temporada finalmente fazer seu negócio de cortinas silenciosas e liberta Ed do vínculo com ela, e parece que a magia de Twin Peaks ocorreu. Personagens "malucos" como a senhora do tronco, Doutor Jacoby e a própria Nadine parecem ser os que melhor se adaptaram e entendem os tempos atuais, com Doutor Jacoby possuindo um negócio local de pás que é o principal financiador de seu vlog local, onde aconselha as pessoas a "sair da merda", usando sua pá patrocinadora. Uma bela metáfora de que os negócios viraram caseiros e que o global e o regional podem se ligar em estratégia de marketing e venda. 



Lembrando que Doutor Jacoby era o psiquiatra de Laura Palmer, inspirado no Terence Mckenna, guru americano e místico do tratamento psiquiátrico com drogas como o LSD.  Contamos com Shelly, agora mais velha e sua filha com Bob Becky (Amanda Seyfried) que tem problemas com o marido. James volta e chega a tocar uma música da primeira temporada no bar bang bang, uma espécie de bar onde todos se encontram. É também nesse bar que vemos Audrey e seu atual marido Charlie, e aí ela refaz a famosa dança da Audrey. 





Na Segunda temporada, o que muda depois, quando ela tenta se matar tomando várias pílulas, mas acaba acordando achando que era adolescente, daí ela passa a frequentar a escola e a lutar no time de luta local, como também ganha vários prêmios. Em uma das cenas mais inusitadas da série, Nadine salva seu marido Ed de ser morto por Hank (marido de Norma). Depois disso Hank é preso e diz que foi "atropelado por um ônibus" para não admitir que apanhou da mulher do amante da esposa. 



 
Em uma das primeiras cenas de Harry e Cooper, eles estão perseguindo James para interrogá-lo, sabendo que quase com certeza ele não tinha nenhuma culpa, além disso, ele é um morador local, mas isso não significa nada na cena. Ao perguntar para Cooper se James teria os visto, ele demonstra uma preocupação de direitos humanos com o morador local, com a possibilidade de inocência. 


Na lógica de Cooper, que ainda mantinha Bobby (namorado de Laura, filho de Briggs) como preso para interrogatório mesmo sabendo que ele não matou a namorada, apenas por oportunismo. Nessa cena do carro, Cooper diz: "me dá uma rosquinha", como se estivesse dizendo: "não ligo a mínima". Isso aí já era um rastro de personalidade ruim no "bom Cooper". 






Catherine é a mulher mais poderosa de Twin Peaks, o que significa que ela não é boazinha, mas apenas poderosa. É casada, mas mantém um caso com o pai de Audrey, Ben Horne. Quando os planos do casal dão errado e Catherine é dada como morta no incêndio onde salva Shelly, ela fica um tempo fora e volta vestida de japonês para tirar dinheiro de Ben Horne. A cena lembra as cenas da novela brasileira Roque Santeiro, onde a viúva Porcina tem seus pés beijados por Lima Duarte. Provando que esse é o núcleo da novela da trama.




A cena onde Catherine visita vestida de japonês a delegacia para ver Ben e ele a reconhece, imediatamente admite que é inferior e que perdeu para ela a jogada.  Os personagem do plot da lanchonete de beira de estrada chamada R R, essas são as estórias que são a mais fina estampa da cultura genuína americana, de "stop by" dos anos de 1950, de  estradas e também de bar e escola, ao estilo "Happy Days",  para simbolizar esses 'baby boomers' perdidos no tempo, cujo anos 1990 foi última parada temporal, junto com o fim da União Soviética e o neoliberalismo. 


Abordando de maneira Sci Fi questões como comportamento, sociedade, doenças mentais e a relação com o jogo de expectativas sociais. O segredo da série é brincar de mostrar explicitamente aquilo que ninguém conseguiu entender.  São várias as mitologias de Twin Peaks, porém se observarmos bem, os debates da série não são diferentes do Brasil, com a situação da operação lava-jato e suscita debates sobre ética e profissão, como se a mesma situação houvesse ocorrido antes nos Estados Unidos. Afinal, o que acontece quando as máscaras sociais escondem traumas e disfarçam opressões? São vários os personagens interessantes na série, como a "Log lady" senhora do tronco, que aparece com mensagens para avisar as pessoas da cidade sobre os mistérios do porvir. 


A série aborda uma noção de nostalgia, ascensão e queda também. A cidade de Twin Peaks fica inteira chocada com o assassinato da jovem Laura Palmer, assim como todos aqueles que tinham envolvimento com Laura, como ela era uma jovem que fazia muitas atividades, até mesmo participava de uma ONG era difícil não prever comoção com sua morte, como sua melhor amiga Donna que depois de sua morte se envolve com seu antigo amante, o motoqueiro boa praça James.


 



O enredo da série inspira debates até hoje por ser aberto a interpretação. O Agente Cooper desde o primeiro episódio demonstra sua opção por "mitos de pureza", como quando anunciou que era bom ver uma cidade onde as pessoas sabem que o sinal amarelo não é sinal para aumentar a velocidade. Agente Cooper também simboliza a tradição do uso da probabilidade e dos métodos científicos para realizar suas investigações. Ao fazer uma demonstração do que já se sabia do caso Laura Palmer, ele atira uma pedra em um alvo, se alguém ali acertar o nome do suspeito com o ato de Cooper atirar a pedra, temos um vencedor probabilística, uma ótima metáfora da aleatoriedade dos métodos científicos. No caso, o suspeito da vez ela Leo Johnson, caminhoneiro local.





A série é cheia de mitologias locais que servem de metáfora política que servem para entender essas próteses narrativas. Quando por exemplo, Dale Cooper defendeu o Sheriff Harry quando ele deu um soco no Albert, dizendo que os costumes dessa pequena cidade desapareceram de outros lugares, mostrando já certo grau de conservadorismo. Afinal, como diz na série, "Corujas não são sempre o que aparentam ser", como disse o General Briggs para Cooper pegando um relatório onde o nome do Cooper aparece envolvido no relatório secreto do governo. 






Na sociedade americana moderna, várias questões podem ser contradições, como a diferença entre vida natural e vida urbana, a diferença entre campo e cidade. Principalmente, existe uma diferença entre quem acredita nos valores de progresso, e aqueles que não. Esse carácter de idealização do comportamento humano de uma maneira latente. 



Twin Peaks na primeira temporada que tinha poucos episódios possui uma elegância de começo meio e fim. Por mais que ao fim da primeira temporada, ainda não tenha a resposta para o assassinato de Laura Palmer. O difícil em analisar Twin Peaks é se deixar levar por toda uma bem construída mitologia, desde "clones", que aparecem na série como uma metáfora para múltiplas personalidades, até viagens no tempo. Dentro do Lodge, black e white está a reinvenção de tropes que parecem até teatrais que descrevem a consciência de quem está dentro do "experimento" mental. 






O efeito de vídeo de ir para frente para traz para apontar que a pessoa que fala ao Cooper no lodge está morta, ou seja, não pode existir na vida real, mas ainda assim existe.  Depois de flertes com a filha do dono do hotel Ben Horne, Cooper, nosso "herói" vazio se apaixona loucamente por uma mulher que antes de ser garçonete na lanchonete local, estava estudando para ser freira. 


Ben Horne, um mandachuva local, pai de Audrey Horne é um republicano típico que por oportunismo, sucumbiu a defesa de pautas ambientais para tentar acabar com o domínio e expansão de sua amante Catherine, que busca subjugar sua cunhada chinesa por achar que ela tivesse matado o marido dela, irmão de Catherine, a mulher mais poderosa da trama, seu irmão Andrew Packard, é o dono da Serraria que aparece na abertura da série e se casou com Josie, a senhora chinesa que depois de sua morte passou a namorar com o Sheriff Harry. Tudo que acontece no hotel The Great Northern possui um nível de atuação teatral fenomenal, onde todos os atores interpretam muito bem e que o primeiro arco da história se organiza. 







Outros personagens interessantes são o pai da Audrey, que fica maluco e começa a brincar de "reconstruir" a guerra civil para o sul ganhar, sim, ele é de direita. Para seu psicólogo esquerdista dr Lawrance Jacoby, utilizador de drogas e portado como de "esquerda", e suspeito de início por ser o psiquiatra de Laura Palmer escondido, começou a cuidar da avaliação da saúde tanto de Nadine com seu complexo de peter pan, quanto de Ben Horne, dono do the Great Northern hotel. Esse plot é bem acessório na trama e não corresponde aos principais acontecimentos que ocorrem mais no hotel The Great Northern, onde todos os atores interpretam muito bem e que o primeiro arco da história se organiza. É o plot mais "novela" e também conta com os melhores atores da trama. 


A atração por ela marca um traço sinistro de personalidade que pode denunciar as várias facetas de Dale Cooper, ele a descreve em suas fitas para Diane como alguém que teria "as respostas tão puras quanto as de uma criança", e que por coincidência, parece muito com Caroline, antiga esposa de Window Earle, o antigo Agente do F.B.I  que surtou após Cooper e sua esposa começarem a ter um affair antes da trama de twin peaks.  Dessa forma, podemos observar algo de perturbador sobre a fala de Cooper sobre Annie. 






Ao aceitar que ele não teria poder de ser "o herói" de Annie, Window Earle oferece a troca da alma de Cooper pela salvação de Annie. Nesse momento é que acontece o surgimento do "mau Cooper" na narrativa efetivamente, mesmo que os sinais de tal transformação terem aparecido antes. Ele pede para escovar os dentes, e quando fica sozinho no banheiro, se olha no espelho e vemos a imagem de Bob refletida, dizendo. 


Dessa forma, o mau Cooper sai do black lodge, e aparece então no seu quarto de hotel parecendo diferente. Annie para o hospital sangrando e quase morrendo e fica em estado catatônico. Enquanto isso, descobrimos na terceira temporada que o "mau Cooper" teve um filho com Audrey, enquanto ela estava na UTI por conta da explosão do banco estava no hospital no mesmo dia que Cooper foi visitar Annie. 

 



Ela fala para a enfermeira: "o bom Dale está no black lodge e não consegue sair". No filme de 1992, ela aparece no hospital e depois na cama de Laura, aparentemente, Annie apareceu em sonho sangrando ao lado de Laura. Vale lembrar que Laura também acredita na separação da personalidade de seu abusador, o codinome Bob e o separa de seu pai, como duas personalidades. A temática da esquizofrenia é uma temática central para explicar a brincadeira das diferentes personalidades, assim como o vendedor de sapatos, o pai de Laura, e também Cooper depois, todos desenvolvem personalidades múltiplas. 


Em uma narrativa que trouxe um abuso de incesto e que demonstra mulheres jovens sofrendo com machismo, a fala de Cooper é completamente estranha. Em uma das cenas em que estão dançando juntos, parece até mesmo que houve um erro de gravação, enquanto ela fala distante dele, parecendo que alguém segura sua fala, de tão aérea e  fora da realidade que é, que ela começa a falar com medo "Quando beijamos, não tenho medo, fico curiosa", concluindo, "não tenho medo de nada que você me faz sentir ou querer", mudando o foco direto para seu rosto quase que completamente estranhando, aí a câmera corta para o rosto dos dois em close-up, mas são interrompidos pelo "gigante" que começa a falar "não" para Copper. 



Possuindo as estratégias de construção de personagens como tropes (arquétipos) da estrutura da própria cultura e política americana , por exemplo, uma cidade pequena é uma perfeita forma de demonstrar o carácter peculiar das estruturas institucionais americanas que são fajutas e simuladas. 


David Lynch pode ser acusado de perpetrar o mito do liberalismo de um capitalismo tardio individual frente as restrições de uma sociedade patriarcal e controladora, de uma maneira que é impossível para a audiência entender que o protagonista é o vilão da série, mesmo que haja mil signos que comprovam a óbvia constatação. Então, existem duas interpretações: 1)daqueles que acreditam no "bom Agente Cooper", e 2) houve quem como o General Briggs que parece ter surtado após perceber algo de sinistro sobre o tal do "Bob" e suas encarnações, e sua relação com o Agente.









Audrey Horne é um personagem marcante, talvez a mais cultuada do universo Twin Peaks mesmo não sendo do núcleo de conhecidos mais próximos da falecida Laura, possuíam certa rixa retratada no livro da filha de David Lynch "O Diário Secreto de Laura Palmer" pelo pai de Audrey dar mais atenção para Laura do que para ela , talvez a personagem que mais foi gostada pelo público e que irou ícone da cultura pop, parece que iam fazer até um spin off de Twin Peaks com ela, mas não ocorreu. 


Ela passou como uma referência estética para os anos 1990, com até mesmo banda de rock sendo nomeada em homenagem a ela. Ao conhecer o Agente Cooper, ela se apaixona por ele, e depois declara, "seu único problema é ser perfeito demais", mas os dois não ficam juntos, mesmo depois dele ter salvo ela do sequestro no bordel. Depois disso, cada um segue seu caminho com seu romance. 
 


Audrey acaba namorando Jack, um jovem amigo de seu pai que passa uma temporada na cidade, e depois de se envolver com Audrey depois dela muito protelar suas investidas, ela resolve ficar com Jack, ele termina por fim, fugindo para o Brasil, como um bom personagem americano fugindo para o Brasil.


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Sua trilha sonora o "sleak jazz", ou como ficou conhecida a "dança da Audrey" marcava os melhores momentos noir de Twin Peaks, como também a cena da cereja foi um dos momentos mais marcantes da série, junto com seu resgate no episódio 2x05. Sua última cena, onde se acorrenta ao cofre do banco da cidade para conseguir financiamento para "salvar a floresta", que é de propriedade mesmo de seu pai, no mesmo momento, estavam tentando usar uma chave dada por Thomas Eckhardt para Catherine, que eles foram abrir no banco, era uma armadilha. Na terceira temporada e em parte dos livros, como o do Dossiê Final, vemos que aconteceu a mesma fatalidade com Annie e Audrey, elas ficaram em coma. 


Depois da entrada de Dale Cooper nos Lodges foi testemunhava de maneira onírica pela mãe de Laura, Sara Palmer, que viu ele lá, em um momento em que ela confia essa informação ao militar da cidade, que já havia pescado com Cooper, e depois disso desaparecido na floresta por algum tempo. 


Já no filme de 1992, um agente do F.B.I vem investigar em uma cidade pequena, deveria haver conflito, briga, estranhamento. O interior sociológico de Twin Peaks parece irrealista ao compararmos a investigação feita pelo Agente Desmond, que originalmente investigou o assassinato de Teresa Banks, garçonete e prostituta, amiga de Laura (mas ninguém sabia). 


Ao entrar no universo do interior e conversar com uma senhora garçonete, o Agente diferentemente de Cooper que romantizou o interior, apenas brigou, investigou de maneira "neutra" e não tentou virar amigo de ninguém. Mostrando que os métodos de Cooper de envolver "sonhos" e perspectivas de outras realidades já era realidade para ele antes de conhecer a pequena cidade. 


Minha impressão ao assistir a série pela primeira vez foi de completo desespero. Primeiro, por tudo que tinha lido e todos os spoilers que tomei procurando sobre a série e assistindo o primeiro arco, pude observar referências a intensos debates mas que parecem ao público como prótese para contestações sobre o carácter social democrata dos Estados Unidos, sua cultura ideológica, política, e religiosa, e principalmente, como funciona as forças de segurança pública em cidades do interior. 


Dale Cooper além de metódico e cercado de mistérios sobre um antigo caso onde um erro seu causou uma morte, inicialmente seu personagem quer demonstrar o triunfo da técnica do F.B.I em relação a delegacia local. Depois passamos a desconfiar de algumas atitudes do Agente Federal que poderiam ser vistas como esquisitas. Por exemplo, querer envolver fenômenos sobrenaturais para ocultar verdadeiras intensões. 


Quando no concurso de Miss Twin Peaks, Audrey faz o discurso chamando as pessoas a salvar as coisas que amam acima das leis dos homens. Depois quando Annie dá seu discurso dizendo que para salvar a floresta é preciso salvar alguns sentimentos que morrem todo dia dentro de nós", como um típico discurso vazio que remete a imagem de boa América rural e ao sentimentalismo literário que algumas pautas sociais podem possuir quando descontextualizadas, apesar disso, é claro, todos amam o discurso de Annie. Mas o triunfo de ganhar o concurso não dura muito, nosso herói perde a noção do tempo vendo Audrey e Annie discursar, e assim perde que Window Earle se veste de "mulher do tronco" e assim Annie é sequestrada por Window Earle.
Dale Cooper é um falso herói barato americano.


Mas a história tem uma delicadeza ao demonstrar isso. Ninguém pode desconfiar dele, pois ele é a maior autoridade local depois de ter "resolvido" o assassinato de Laura. Cooper se envolve com mulheres e elas acabam machucadas, como Caroline, que foi sua amante que faleceu, pois seu antigo parceiro Windom Earle era marido e descobriu a questão, segundo Cooper, acabou matando Caroline e voltaria por vingança, ameaçando três mulheres da cidade, Shelly, Donna e Audrey, assim como no primeiro dia em que ele aparece, e implementa o "toque de recolher" para jovens, pois os crimes bárbaros acontecem a noite, depois disso, no fim da segunda temporada, ele pede mais uma vez para essas três garotas escolta. Mas quem Windom Earle sequestra dessa vez é Annie, a Miss que Cooper namora na trama e que trabalha no R R, a lanchonete da "melhor" torta. 


A metáfora final é simples, por mais que a questão mitológica importe para dar o clima para a audiência menos especializada, serve como pano de fundo, e pode confundir muita gente que não entendeu o final. As cenas que mostram a verdadeira identidade de Cooper são muitas e acontecem desde o primeiro episódio. A mais aterrorizante é quando o assassino de Laura tenta se matar, ele pega na sua mão ao morrer dizendo que ele não tinha culpa, tinha sido possuído por Bob. Bob é a metáfora do abuso sexual. Outra nuance foi quando o Harry segue o Cooper mesmo sem ele ver, e observar ele sumir, e fica esperando quase 11 horas para que ele voltasse. Mas quando ele volta, ele volta "mudado", essa é a interpretação mais fácil, a que todos tiveram sobre Dale Cooper, que ele teria mudado apenas no  Black  Lodge, ao encontrar com seu antigo parceiro Window Earle.


O sherrif da cidade tem um nome curioso de um antigo presidente americano, Harry Truman, um dos considerados últimos "amigos de Franklin Delano". Depois de "resolver" o crime e não ir embora da cidade, o Agente foi punido pelo F.B.I com sua suspensão, e daí virou um policial local na delegacia de Harry Truman, o Sheriff que tinha um caso com a senhora Josie Packard e era muito apaixonado por ela, uma senhora chinesa, que foi então considerada assassina por Cooper e foi morta por ele, ao mesmo tempo, que ele já via ali o "bob". Uma curiosidade: Bob era um dos funcionários da continuidade da série, e por isso pediram para ele interpretar uma forma de distúrbio de personalidade de um dos personagens da trama.





O que significa na série, ver o Bob? Significa desde a revelação dos abusos do pai de Laura, como um espírito de abuso masculino que encarnava no Leland, e que depois vai encarar no nosso policial federal Agente Cooper. 


A atmosfera de Twin Peaks envolve corrupção, e isso atraiu o F.B.I para lá. Isso é interessante, pois na série o Agente Cooper é visto como um policial que quer demonstrar superioridade moral, no sentido cristão, religioso e até mesmo pentecostal, sua religião é o unitarismo, conhecida por um jeito de se "manter limpo" em consonância com a aversão a corrupção.  Depois disso, podemos desconfiar de boa parte de sua história, e observar que ele aplica nas pessoas o que podemos chamar de "método indutivo". 


O que quero dizer aqui, como diria o próprio David Lynch no Roda Viva, é que é possível livre interpretar sua ideia. Pensando no Brasil, e em questões como a operação lava jato, esse perfil de carácter já é muito conhecido. Pensando que Dale Cooper "se transforma" em um cara mal, através do que se chamaria da criação de um doppelganger criado a partir do oráculo das bruxas, que em troca da alma de Cooper para salvar Annie trouxe ele de volta enquanto o anti-herói, e logo o Cooper para de existir. 

Essa é a interpretação do grande público que viu menos a série. Quem acompanhou bastante a estrutura da série percebeu várias rupturas. Por exemplo, quando Cooper fala registrando como arquivo que Annie parecia que tinha "as respostas puras como as de uma criança" que ele já demonstrava esse tipo pseudo integralismo de visões como a do unitarismo cristão de Cooper. A minha interpretação é um pouco diferente. 




Percebi isso quando observei quantas pessoas ele mata pra valer antes mesmo de sua "transformação" Ele parece ter a personalidade do sociopata, que não cria vínculos, mas é perfeito em simular interação dos desconhecidos e carismático em atrair vítimas. A gente pode acreditar no poder do sobrenatural, arquivos confidenciais, aparições alienígenas como explicação do roteiro, mas é óbvio que isso é uma metáfora. Parece que o Cooper do mal, como chamam o doppelganger do Cooper é um criminoso de primeira linha. Logo percebemos, que há duas opções, ou Cooper é o assassino original de toda a história, ou a metáfora do doppelganger é sobre ele se tornar depois de resolver o assassinato de Laura uma má pessoa com autoridade "miliciana" local. Isso fica comprovado quando é suspenso e o Sherrif o chama para se tornar um policial da delegacia local.  


A meditação é realmente  uma bandeira pessoal e internacional do famoso diretor David Lynch, um dos criadores da série. Uma vez, em 2008, ele esteve no Brasil, no programa Roda Viva. David Lynch ao comentar sobre as "múltiplas possibilidades" de entendimento de seu trabalho que aborda o transcendental, disse ser totalmente possível variadas interpretações sobre sua obra. Isso é sentido em seus filmes, mas especialmente na série, onde ele produz uma sensação temporal e iconográfica marcante. Isso acontece pois David Lynch também é artista plástico e pintor nas horas vagas. 




 
Twin Peaks ficou para a história como uma das melhores séries já feitas, sendo cultuada no Reino Unido, e alguns chegaram a dizer que a Rainha Elizabeth II era muito fã também. Cheia de referências políticas e histórias, a trama começa científica e policial, e termina ao estilo Sci Fi para explicar como metáfora dentro da "sensação de sonho" que a série passa, os debates filosóficos e políticos mais profundos.  Os debates que vão desde a religião no Tibet, passando pelos casos de mistério, ou o assassinato de JFK. Utilizando da figura da mitologia tibetana da Tulpa (uma entidade milenar),  para se referir mais uma vez ao carácter de meditação que faz em sua arte, é como se a personalidade do Agente fosse uma forma de interpretação e racionalização em cima dessa contradição. A referência ao Tibet também aparece quando Cooper está comentando sobre a representação de quem era Laura Palmer para a realidade de uma cidade típica americana.






O enredo se esforça na segunda temporada para passar uma ideia mais Arquivo X, contando com a participação incrível de David Dunuvich, que interpreta a Agente do DEA Denise, uma grande personagem de ligação que volta na terceira temporada, que era o antigo amigo de Cooper Dennis. 


O ator que sempre se acostumou a fazer o galã, interpretou um personagem diferente do que normalmente fazia. A participação dele, ator da série Arquivo X marcou uma fase onde a trama começa a abandonar o thriller policial ao estilo C.S.I ,e substituir por uma proposta mais parecida com séries como Arquivo X e Fringe. Na cena onde Audrey conhece Denise, inicialmente fica com ciúmes dela, mas daí ela abstrai percebendo ser uma amiga de Cooper, aí ela pergunta espontaneamente: "Tem mulheres Agentes?", e Denise responde: "Mais ou menos". Na época a série realmente não contava com nenhuma força policial feminina, diferente da terceira temporada, onde conhecemos Tamara Preston, a Tammy, isso quase 25 anos depois. Denise também volta, agora como em posição de chefia. 








A série também possui livros do mesmo universo da série e do filme, como o do "O Dossiê Final" que explica o que aconteceu após o término da segunda temporada, como também tem o livro Loira, linda e morta: o assassinato que inspirou Twin Peaks, foi inspirado no assassinato real de Hazel Drew, que virou lenda local em NY. 





Depois disso, em 2017 houve a volta de Twin Peaks, dessa vez não mais pela ABC. A proposta não é ser uma continuação direta da ideia original, trabalha muito mais na questão das diversas vidas que uma pessoa pode seguir. A série então se torna muito mais abstrata e não linear, bem ao estilo dos filmes de David Lynch, e diferente do clima "coeso" da primeira temporada. 


No fim, fica claro aquilo que podemos ver desde o início. O poder de sugestão e indução causado pelos efeitos de objeto, significado e significante. Na cena abaixo, Daiane, antiga secretária de Cooper ironiza muito a estrutura do FBI, e parece traumatizada por conta de sua estória antiga com o bad Cooper e como ele a enganou. Depois descobrimos que nem Diane é Diane mesmo, pois todos que bad Cooper toca, ficam traumatizados.  Nessa cena, percebemos que Daiane consegue ver para além do heroísmo automático em relação ao F.B.I, por associar seu trauma pessoal com "o mau Cooper" com a hipocrisia da instituição. 
 






Não existe o "bom Cooper", pois se ele for bom (inteligente), ele é mau, e se ele for herói e bem intencionado, ele é bobo como um bobo da corte, por isso que criaram a figura do Dougie Jones, que seria uma "terceira personagem, ou uma tulpa" do nosso herói Cooper, dessa vez, bonachão e bobo, que teve sua identidade criada em 1997 e que trabalha no ramo de seguros, e depende de sua esposa para tudo, isso foi uma estratégia do mau Cooper para evitar  a saída do bom Cooper do black lodge. A ideia da série de questionar toda a narrativa utilizando de aliterações, metáforas, e de marcas temporais, de exposição, arte, semiótica de objetos para sugerir lições culturais, todo o jogo estético de Twin Peaks vale a pena enquanto uma lição sobre arte e audiovisual. 





 Laura Palmer seria o Dalai Lama para Twin Peaks.Todos na trama parecem julgar Cooper como "desaparecido", mas sabem que ele mantém seus clones, suas duas identidades, uma como um bandido perigoso que mata antes de perguntar, outra de um aparente bobo Dougie Jones, mas que se envolve em grandes plots onde querem sempre matá-lo, mesmo que ele seja "inocente", mas parece se tratar de abordar caras ao estilo os sopranos, em referência ao plot se dar em Las Vegas, para onde foi a última geração da máfia, a referência de documentos do Dougie Jones é de inicialmente 1997, ano do lançamento da zona do euro na Europa, por exemplo. 


Em tese, o "bom" Cooper acorda apenas no fim da terceira temporada, e volta mais uma vez para o caso de Laura Palmer, esse foi o caso de sua vida mesmo. Tanto que ele reifica a investigação, dessa última vez, Cooper volta no tempo, e Laura não morre, mas desaparece e vira Carrie Page, ao tentar reencontrar mãe e filha, a moradora da antiga casa de Laura diz que ninguém com o nome de Sara tinha vendido a casa.


 A cena é importante do final da série, pois demonstra que o Agente Cooper está perdido, pois está perdido em sentido de recorte e tempo. Sua tentativa de voltar ao caso Laura Palmer, é uma tentativa de voltar a ser o bom Cooper. Quando chega em uma pequena lanchonete em Odessa, alguns caras estavam assediando a garçonete, como Cooper queria o endereço de Carrie Page, antiga Laura, ele resolveu ser "mau" na interação no local, afastando tanto os assediadores, quanto colocando medo em quem estava na lanchonete. Por fim, descobrimos que quando Cooper "salva" Laura e tenta reunir mãe e filha, não acontece, pois ele está errado em termos temporais, sendo mais uma questão aberta na série. 


A série cultivou muitos fãs, que durante muitos anos encheram David Lynch com perguntas sobre a resolução da história. Depois de assistir as três temporadas, confirmei para mim mesma uma teoria pessoal da história, que pode ser ou não uma verdade em si. Mas isso essencialmente não importa. Twin Peaks foi sábia por flutuar entre gêneros. 





Uma primeira temporada focada em uma forma racional, linear e policial sobre a resolução do caso do assassinato de Laura Palmer. Cooper falha mais um vez em proteger Laura, dessa forma, ela grita em frente a sua casa. Toda a relação do final da série é sobre questionar sobre essa normalidade da expectativa nos papeis sociais, e é interessante que essa metáfora foi estendida para a sensação de nostalgia da série. O final incomoda, pois sustenta a visão avessa a narrativa do herói tradicional. Tudo parece forçado na "volta" de Cooper. 








Pensando que o Agente Cooper não conseguiu salvar ninguém, exceto a Audrey uma vez. A razão para isso seria pois ou ele é 1) vilão, extremamente inteligente, mau e calculista, 2) ou ele é o herói vazio unitarista que perdeu tempo da narrativa e não ajudou quase em nada a evitar os feminicídios da trama. 


Ou ele é mau e inteligente, sociopata, ou ele é bom, vazio e inexistente. Esse é o paradoxo dos clones na estória. O bad Cooper, mais visto na terceira temporada, é um dos personagens mais nojentos que podemos imaginar, sem absolutamente nenhuma ética. Ele é representada esteticamente com o cabelo grande e com jaqueta de couro, quando preso em presídio federal, contou para Gordon (David Lynch) e sua equipe que estava com identidade falsa por estar trabalhando infiltrado, essa era a justificação do mau Cooper. 



Na terceira temporada, entendemos que dentro da mitologia da série, a mudança no comportamento dos Coopers e a questão da falta de resolução dos casos estão envolvidas. Houve alguns clones de original Agente Cooper, um deles, Dougie Jones, controlado por fim por mister C, uma mistura dos clones, que se unifica quando o mau Cooper é morto. 

E o final da última temporada só tem uma explicação: nessa altura nada mais pode ser feito, ou você já acredita que Cooper é mau e sempre usou o caso Laura Palmer como lavagem de reputação de seus erros e crimes, ou você morrerá acreditando na sua inocência, mesmo que no fim das contas ele não tenha resolvido nada e sua jornada não levou a lugar algum. 




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