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Better Call Saul - "Black and Blue" (6x05): Curiosidades e análise do quinto episódio da sexta e última temporada



Kim Wexler ainda está abalada com a notícia de que Lalo Salamanca está vivo, mas esconde isso de Saul. Gus Fring também está abalado com a notícia de Lalo estar vivo, sendo distraído em seu local de trabalho pela memória de uma ponta solta que pode ser seguida por Lalo. Cliff confronta Howard sobre seu suposto uso de drogas e prostitutas. Howard percebe que Jimmy o está sabotando e decide se vingar.

Assista Better Call Saul na Netflix

Veja aqui a análise do episódio anterior, 6x04



Crítica e explicação do episódio


Esse foi um episódio mais lento que os anteriores. Normal, afinal séries tem o famoso "meio de temporada", onde a série dá uma desacelerada mesmo. Mas, ainda assim, a série foi cheia de detalhes e referências muito interessantes para a série. 


Cerca de nove minutos do episódio "Black and Blue", há uma cena enigmática para muitos, que parece ter pouco a ver com o resto do episódio. 


Gus Fring está trabalhando em um de seus locais Los Pollos Hermanos, como ele gosta de fazer. Ele parece estar um pouco tenso, pois ele sabe que Lalo está lá fora planejando sua morte. Talvez para se distrair, Gus decide fazer um dos registros e ajudar um cliente a pedir um delicioso frango frito.


Para aqueles que não se lembram, Gus visitou Houston no episódio 7 da 5ª temporada, "JMM", para se encontrar com Madrigal Electromotive GmbH, os patrocinadores corporativos de seus interesses comerciais, tanto legítimos quanto ilegais. 


Introduzido pela primeira vez em Breaking Bad, a Madrigal é o um enorme conglomerado alemão que possui Los Pollos Hermanos e vai fornecer os equipamentos para Walter White fazer a metanfetamina, que crescendo para ser a maior produção de drogas dos Estados Unidos. 



Ao visitar Madrigal em "JMM", Gus os apresenta ao seu novo item do menu. Então, quando em Black and Blue, Gus conta ao cliente sobre as especiarias disponíveis na lanchonete, ele lembra da existência da empresa alemã. Então, sendo o homem brilhante que ele é, ele também percebe qual será o próximo passo de Lalo Salamanca: fazer uma visita a alguém ligado a empresa na Alemanha.



A parte final de "Black and Blue" revela que Lalo realmente foi para a Alemanha para investigar o que Gus está tramando. Em vez de visitar o Madrigal Electromotive, no entanto, Lalo segue a única pista que ele tem: Werner Ziegler. 


Para quem não lembra, Werner Ziegler foi um engenheiro alemão contratado em segredo por Gus para projetar e criar seu enorme laboratório de metanfetamina subterrânea para Walter White trabalhar.



Quando Lalo descobriu que Gus estava tramando algo e descobriu o nome de Werner, Gus fez Mike matar o pobre engenheiro alemão. 


Ainda assim, o dano tinha sido feito. Lalo sabe tanto o nome quanto o endereço da viúva de Werner, Margarethe, quando ele investigou sua transferência na 4ª temporada. Mas notem um detalhe: estranhamente, Lalo não faz nada contra ela, mostrando que ele não é o psicopata que pintam. Ele se aproxima dela em um bar. Margarethe acredita que Werner morreu em um acidente, e que salvou sua tripulação, a quem chamou de "meninos". Ela pondera por que todos eles deram seus cartões, mas nenhum deles foi ao funeral de Werner. Lalo invade a casa dela no final do episódio, e roubam uma estátua, que apaga seus rastros com Werner.



Esse xadrez entre Lalo e Gus é super interessante, pelo fato de que, apesar de já sabermos que Gus vai perder e morrer no final, não sabemos quem vai assumir o Cartel, já que Walter que o matou, também morre no final. Meu palpite? Está óbvio que Lalo vai assumir. Mas o que não era óbvio é que o outro lado de Breaking Bad.


Better Call Saul destruiu a concepção de que Walter White conseguiu chegar até onde chegou, porque era mais inteligente e conseguiu superar Gus em maldade e inteligência. Na verdade, como estamos vendo agora, Gus só aceitou os absurdos de White, pois Lalo estava o encurralando e cada vez mais e fechando seu horizonte, abalando seu psicológico e decisões. 


Ele já não estava bem quando lidava com Walter, e nunca supôs que sua intenção era matá-lo e tomar seu negócio. Isso pois foi a coisa mais burra que um mero professor de química e cozinheiro de meta poderia fazer, resultando em seu fim derradeiro.


As cenas de Gus, desde o início da temporada, parecem estar em uma estética meio CSI de investigação. Eu estava me questionando o motivo, até esse episódio. Meu palpite: Gus está investigando sua própria morte. Esposito está colocando na linguagem de seu personagem nessa temporada, um certo estranhamento bretchiano para marcar não só que seu fim está chegando e algo ruim vai acontecer, mas também para questionar o motivo de sua própria morte em Breaking Bad. 



Logo suas cenas parecem estar revisitando, revendo, em cada passo, quando foi que ele perdeu para Walter White, pois é isso que todos os fãs estão se perguntando. 


Já no plot de Kim e Saul, eu preciso dizer: está se usando uma técnica de "quente e frio" muito chata para a série. Jimmy continua a atrair uma grande clientela de direito penal e convence Francesca Liddy, sua secretária em Breaking Bad, a começar a trabalhar como sua assistente administrativa.



Eu amei o último episódio (4), a direção de Rhea Seehorn e como o plot de Kim e Saul, apesar de prometer uma "vingança" a Howard, foi muito mais uma pegadinha, mas nem foi pesado ou causou dano, soando mais como alerta. Também o fato de mostrar que Kim e Saul estão com mais clientes e sendo visto como pessoas mais "populares", a favor dos imigrantes e do povo. 


Isso pode ser visto na cena que Kim se encontra com Viola Goto, sua ex-assistente, para se desculpar por ter deixado abruptamente a Schweikart & Cokely. Viola diz a Kim o quanto ela admira o trabalho pro bono de Kim.



A questão de Gus e de seu disfarce na social democracia também foi bem legal. Mas esse episódio (5) não soube entregar.


De novo voltamos ao pessimismo em torno do final de Kim, algo que havia sido totalmente abandonado no episódio anterior. Parece que estão intercalando: em um episódio uma equipe da produção, direção e roteirista defende bom final para Kim e Saul, e no outro episódio a outra equipe critica as atitudes do casal e tentam flertar com um final caótico para os dois. 



Entretanto, como vimos com Kim nesse último episódio, eles não colocaram nada para ela fazer, e ainda colocaram uma cena ridícula e sem sentido de Saul lutando boxe com Howard. Como se a disputa deles fosse uma coisa dos "machos", e que Kim é uma iludida e usada por Saul, ou pior, que ela nunca estará satisfeita de sua vingança e que Saul é obrigado a fazer seu jogo. Nada disso simplesmente fez sentido com a sequência dos episódios da série.


Howard nunca entraria em uma luta com Saul. Ele é todo certinho, coxinha. E Saul, por sua vez, nunca aceitaria por paranoia de aquilo ser algum tipo de truque. Pareceu que ele é mais parceiro de Howard do que de Kim, que está sozinha a maior parte do episódio para criar uma tensão de que Lalo pode visitá-la, como fez com a viúva do engenheiro alemão.



Eu não acredito nisso pois não faz o perfil de Lalo e mais: ele já pode matar Kim. É claro, isso foi antes da tentativa de assassinato a Lalo, liderada por Varga. Mas nada indica para Lalo que o advogado e sua esposa tem envolvimento com isso. 



Na verdade, o único motivo para Kim estar se sentido desolada é que essa é uma vida de merda, estressante, onde apesar de eles saberem que são inimputáveis, e nem polícia e nem o cartel querem os pegar, faz questionar: porque ela e Saul fazem isso? Eles já tem dinheiro, eles já se gostam, para que arriscar-se e ter tantos estresses resolvendo o problema dos outros? 



Acredito que essa é a reflexão profunda de Better Call Saul: há um vazio na sociedade contemporânea, uma falta de destino compartilhado, onde sentimos que é simplesmente possível ou errado, dar um passo para trás, desacelerar e tentar apenas ser feliz. Achamos, principalmente com redes sociais, que devemos provar alguma coisa para alguém o tempo todo, e isso pode fazer certas pessoas pirarem, se desiludirem e etc. Talvez por isso, Kim e Saul acreditem que devem ajudar pessoas.


Acho que é um pouco nessa verdade que caminhará o final da série, em uma visão mais existencialista onde o crime não compensa, mas não haverá castigo, pois afinal, tudo o que Kim e Saul fizeram foi seu trabalho, afinal todos merecem ter um advogado. Bom, mas isso é só uma aposta.  


Um episódio mediano, bem mais fracos que os quatro primeiros, sem muitos acontecimentos marcantes ou relevantes para a trama como um todo. Mas ainda assim, como toda a série Better Call Saul, de muito boa qualidade, com um plot que cava a memória dos fãs para o elemento do engenheiro, que aconteceu há bastante tempo na série. Agora acredito que estamos bem próximos de ver a aparição de Walter White na série.



História por trás do episódio, bastidores e produção


O episódio foi dirigido por Melissa Bernstein, que é produtora e diretora de Breaking Bad e Better Call Saul. Ela pode ser vista em um ônibus durante o piloto de Breaking Bad. Devido à falta de orçamento, não foi possível contratar extras adicionais para encher o ônibus escolar visto durante a cena onde Walter acompanha Hank em uma apreensão de drogas. Ela também pode ser vista no ônibus quando Walter Jr. chega da escola no último episódio de Breaking Bad, Felina.



Na abertura, um homem não identificado cria um bloco. Ele grava "Em Liebe... Deine Jungs" (Com amor ... seus meninos), aplica um rótulo de fabricante com o nome Voelker e coloca a escultura finalizada em uma caixa forrada de veludo. A cena de abertura mostrando a criação de acrílico foi criada pela equipe de produção examinando o processo de acrílico real e, em seguida, desenvolvendo tomadas que simulavam esse processo na vida real. 



A cena do boxe foi realmente interpretada por Odenkirk e Fabian. A produção inicialmente elaborou os detalhes da luta com o coordenador de dublês Al Goto e o ator e dublê Luis Moncada (que interpreta Marco Salamanca, um dos primos). 



Sabendo das limitações que os atores teriam. Odenkirk e Fabian foram então treinados sobre os movimentos mais apropriados. A diretora Melissa Bernstein estava preocupada que o treinamento de Odenkirk de seu filme "Nobody" (que já analisamos aqui) afetaria sua performance. Mas Odenkirk tirou de letra. 



Durante uma entrevista à Variety, o ator Patrick Fabian, de Howard Hamlin, admitiu que nem ele viu esse tipo de cena voltando na 1ª temporada. "É merecido, é meio absurdo, mas não faz sentido", disse Fabian. "Chegou a explodir, onde literalmente Howard tem sido o saco de pancadas para Jimmy todo esse tempo. Então é ótimo virar o jogo."


Fabian revelou posteriormente que Luis Moncada, o ator que interpreta Marco Salamanca, tem experiência em boxe e o treinou antes do episódio ser filmado. Ele também admitiu que o treinamento utilizava músculos que ele nunca tinha usado conscientemente antes. "Treinamos por cerca de duas ou três semanas fora", disse Fabian. "Se você nunca lutou boxe antes, a primeira coisa que você descobre é que no dia seguinte ao treino, você tem músculos todo o caminho para cima e para baixo na parte inferior das costas que você não sabia que tinha."



As cenas na casa de Margarethe foram filmadas em uma casa de Albuquerque, com exteriores e interiores que a equipe de produção achou razoavelmente europeu. 


Já o escritório de Werner teve que ser criado no set para parecer que se encaixava naquela casa.




O quinto episódio de Better Call Saul Season 6 viu Jimmy McGill (Bob Odenkirk) se mudar para novas estalações. Como Saul Goodman, ele começou a ter mais clientes (barra pesada) antes mesmo de colocar móveis no escritório, ou remover algumas das coisas antigas. No episódio, Francesca (Tina Parker) questionou o banheiro no chão do escritório de Jimmy. Essa foi a ideia do co-criador de Better Call Saul, Vince Gilligan, inspirado em uma experiência de juventude de um amigo seu, que morou em um apartamento que tinha uma privada na sala. 


Bom, é isso amigos. Até o próximo episódio!





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