Pular para o conteúdo principal

Anônimo (Nobody - 2021): Dirigido pelo vocalista da banda Biting Elbows, filme traz Bob Odenkirk de Better Call Saul irreconhecível



Hutch Mansell (Bob Odenkirk) é um cara comum. Ele mora com dois filhos com sua esposa Becca trabalha no escritório da empresa de fabricação de metal de seu sogro, Eddie. Seu casamento está tenso, e sua vida profissional parece tediosa. Uma noite, um homem e uma mulher armados invadem sua casa, e seu filho adolescente, Blake, ataca um deles. Hutch está relutante em intervir e implora ao filho para libertar o homem, que soca o garoto. Os ladrões saem. O incidente faz com que todos pensem que ele é um fracasso. Hutch entra em contato com seu irmão Harry em um rádio escondido em seu escritório e explica que ele se segurou porque os assaltantes estavam desesperados, assustados e usando uma arma descarregada, ensejando que ele poderia reagir e não é exatamente quem parece ser




Mais tarde naquele dia, sua filha, Sammy, pede ajuda para encontrar seu bracelete de gatinho desaparecido. Sem uma palavra, ele sai para ver seu pai David (interpretado pelo genial Christopher Lloyd) e pega emprestado seu antigo distintivo e arma do FBI para localizar os assaltantes. Ele encontra o apartamento deles e os ameaça, mas quando descobre o bebê doente do casal, ele vai embora. 




No caminho, bandidos param o ônibus que ele leva para casa e Hutch, procurando uma oportunidade para liberar sua frustração, bate neles sob o pretexto de proteger uma jovem de assédio sexual. Em casa, ele percebe que não tem se comunicado com sua família e tenta se reconectar com eles.




Harry o convence a ver "O Barbeiro", que fornece a Hutch informações sobre uma de suas vítimas: ele é o irmão mais novo de Yulian Kuznetsov, um senhor do crime russo. Em retribuição, Yulian envia uma grupo liderado por seu braço direito, Pavel, para capturar Hutch em casa. Hutch esconde sua família e mata a maioria dos agressores antes que Pavel o capture. 




Encontrando um extintor de incêndio no porta-malas de um carro em que ele está trancado, Hutch o usa para cegar o motorista causando o acidente do carro, matando Pavel e sua tripulação restante. Hutch envia sua família para a segurança antes de incendiar sua casa para destruir qualquer evidência.


Hutch é, na verdade, um ex "auditor" ("o último cara que qualquer organização quer ver em sua porta"), um assassino empregado por agências de inteligência.




História por trás do filme


O filme foi dirigido por Ilya Naishuller. Ele é o fundador da banda russa de indie rock, Biting Elbows, e da produtora Versus Pictures. Ele também é conhecido por dirigir o filme Hardcore Henry de 2015 e o clipe Serj Tankian, Elasticity.




Já a trilha sonora foi feita por David Buckley. Em 2006, Buckley mudou-se para Los Angeles para colaborar em uma série de partituras de Harry Gregson-Williams, e participu de filmes como Shrek, Medo da Verdade, Por água abaixoOperação PresentePríncipe da Pérsia - As Areias do Tempo e The Number 23. Além de seu trabalho para Gregson-Williams, ele escreveu música adicional para Danny Elfman em filmes como American Hustle, Big Eyes e todos os filmes da série Cinquenta Tons (incluindo a peça coral "Bliss"), além de trabalhar para Hans Zimmer e Rupert Gregson-Williams em Winter's Tale e Wonder Woman. Ele também trabalhou com cineastas como Ridley e Tony Scott, Ben Affleck, Joel Schumacher, Rob Minkoff, Luc Besson e Taylor Hackford. Notáveis trilhas sonoras de filmes incluem The Town, Jason Bourne, Papillon, The Forbidden Kingdom e Angel Has Fallen. Ele também é o compositor da trilha da aclamada série de televisão The Good Wife, produzida pela imprensa Scott Free, e seu spinoff The Good Fight. Sua música de The Good Wife foi destaque no filme Joy, de David O. Russell, de 2015.


Em 2013, Naishuller apareceu no vídeo do single "Bad Motherfucker", além de também dirigir o videoclipe. O vídeo, em estilo amador e em primeira pessoa, passou a ser um sucesso viral online com mais de 20 milhões de visualizações e foi, entre outros, elogiado até pelo diretor Darren Aronofsky.




Sendo alguém do humor, Bob Odenkirk, chegou ao "Nobody" com uma missão. "Eu queria fazer isso direito, e eu queria que talvez destruísse minha carreira", disse ele em entrevista ao Guardian.


Embora ele tenha construído sua carreira como escritor e intérprete cômico, seu papel que roubou a cena como o advogado viscoso Saul Goodman em Breaking Bad abriu uma nova pista em sua carreira. Além do brilhante spinoff de Breaking Bad, Better Call Saul, Odenkirk apareceu mais recentemente em filmes de prestígio como The Post, de Steven Spielberg, e "Little Women", de Greta Gerwig.




Mas de longe, o maior e mais arriscado papel que ele fez até agora foi "Nobody". Odenkirk interpreta Hutch Mansell, um homem de família de meia-idade que vive uma vida de desespero silencioso nos subúrbios. Quando um casal de ladrões invadem sua casa, uma sequência de eventos revela que o aparentemente educado Hutch abriga um passado sombrio no qual ele era um assassino eficiente.


Nobody é a grande chance de Odenkirk se tornar uma estrela de ação, e ele não tinha a intenção de desperdiçá-la. 




A próxima temporada de Better Call Saul será a última, trazendo um fim a um personagem que ele já interpretou por mais de uma década. Ele afirma que não sabe como vai terminar a série:

 

"E eu tento não descobrir essas coisas. Gosto de ser surpreendido como um espectador da história. Eu tenho minhas próprias teorias, mas elas são basicamente teorias de fãs." Então, enquanto ele não sabe o destino de Kim Wexler ele tem uma teoria. "Acho que ela não morre", diz ele. "Eu acho que ela está em Albuquerque, e ela ainda está praticando direito. Ele ainda está cruzando caminhos com ela. Para mim, isso alimentaria seu desejo de estar em outdoors em todos os lugares, porque ele quer que ela o veja".


Com Breaking Bad e Better Call Saul, Odenkirk participou de dois das maiores séries já feitas. Mas ele também tem uma reputação como escritor do Saturday Night Live, um período que, ao que todos os relatos, ele não gostou, e como co-criador da ainda inigualável série de esquetes dos anos 1990, Mr. Show. Ele revela que está atualmente no processo de edição de um livro de memórias, intitulado Comedy Comedy Comedy Drama, que se concentrará fortemente nesta parte de sua carreira.


"Pensei em escrevê-lo mais cedo", diz ele. "Estou ciente da rapidez com que a cultura pop se move hoje em dia. Muitas das coisas que fiz em um nível mais culto serão esquecidas em um curto espaço de tempo. Coisas como o Sr. Show, do qual estou super orgulhoso, até as coisas que escrevi no Saturday Night Live, está tudo muito perto de ser completamente esquecido. A verdade é que até mesmo um show como Breaking Bad, em alguns anos eu provavelmente vou ter que lembrar as pessoas do que é."


"Lembro-me de receber um folheto pelo correio para uma celebração de M*A*S*H, o programa de TV. E eu me lembro de pensar, 'Uau, quem se lembra de M*A*S*H?' Tente contar a um jovem de 25 anos sobre M*A*S*H. Eles não saberão do que está falando. Foi a maior coisa por 10 anos, e simplesmente desapareceu completamente





Leitura e crítica do filme


Este é com certeza um filme interessante, mas em um muitos aspectos contraditório. Uma das primeiras coisas a ser analisada e questionada é as datas de produção e de lançamento do filme, que mudam bastante a mensagem para época em que a ideia foi elaborada e o período de lançamento do filme.


Quero aqui junto com vocês, tentar interpretar sobre o que é o filme e qual a mensagem que podemos interpretar dele. A grande metáfora que parece se esconder no filme é que não se meche com um cara comum, pois justamente por ser comum ele pode se revoltar. Até mais: o quanto da nossa tediosa cultura da América não é calcada em rotinas de preparo e guerra? Inclusive, acredito que o filme perdeu muito por entregar que o cara era de fato um assassino para agências de inteligência. É engraçado essa relação de troca de identidade, pois é exatamente o que acontece em Better Call Saul com o protagonista, parecendo quase uma continuação da série. Só que acho que perde a graça do filme, que seria nunca descobrirmos de fato quem ele era, ou seja, que ele de fato fosse "ninguém". Mas no caso ele é "alguém", deslegitimando o nome do próprio filme.




Há também a interpretação do aspecto sócio-político e como esse se relaciona com a forma do filme. O filme se inicia com uma sequência do tempo passando em atos e rotinas repetitivas, ensejando que o protagonista está frustrado com sua vida e a rotina na socialdemocracia suburbana dos Estados Unidos da América. Algo meio bobo se pararmos para pensar na real, pois parece problema de cara rico ou de classe média que não gosta da família e busca uma aventura.




Só que no caso, o problema vem até ele. Só que também o filme não é sobre isso, afinal ao ver que os latinos tem família, percebeu que eles são parecidos com ele. 


Então temos a cena do ônibus. Não sei vocês, mas não lembra a cena do ônibus de Shang Chi? Em termos técnicos e estéticos, a cena é bem interessante e trás um certo tipo de violência explícita e realista, porém sutil, sem muitos exageros. Entretanto, em termos de representação e sentido do roteiro, é cheia de problemas. Primeiro, pelo fato de que ele já estava ali no ônibus, triste e frustrado com outras coisas. E ao ver a oportunidade de extravasar seu ódio, usa seu conhecimento para quebrar os caras, como um pai de família que se revolta contra a criminalidade urbana por estar frustrado em sua vida. A única forma de interpretar essa cena, é pensando que ela significa que, como interpretado por alguém do humor, o cara que faz aquilo e briga no ônibus daquele jeito é um palhaço. Além disso, ela não tem nada haver com o sentido geral do filme, é só um alívio dos seus próprios problemas. Bem problemático.




Aí, por acaso e de repente, mais uma vez nada tendo haver com a origem do filme, assassinos da máfia russa decidem se vingar. Mas então o filme não deveria ser sobre isso? Sobre o quê é o filme então? Depois de refletir um pouco, a resposta mais lógica que cheguei foi que o filme é sobre o governo Biden, mesmo que talvez essa não fosse a ideia original do filme. 


O filme parece ser sobre como o governo dos Democratas trás uma certa estabilidade "entediante", onde o pai de família comum não se sente mais necessário para nada, tendo que provar de alguma forma que é útil para alguma coisa, desenvolvendo uma mentalidade anti-comunista, anti-russos e contra imigrantes. Nisso, sua paranoia com a segurança pública aumenta, afinal sua casa foi invadida, liberando o seu ódio contra os "invasores russos". Mas ele próprio tem um passado comprometedor com agências de segurança. Parece a metáfora perfeita de como democratas se convertem em conservadores piores que os próprios republicanos com sua neurose com segurança. As cenas do rádio, reforçam bastante isso. 


Porém, a metáfora não é perfeita pois no final a história muda de rumo completamente e somos levados a gostar do protagonista e no final isso estimula a crer que ele merece um final feliz. Então não fica claro se o filme é uma sátira com filmes de ação e super herói, onde na verdade essas narrativas de "brucutu" são para pais de família se sentirem mais importantes e necessários, podendo se converter em um assassino meio miliciano, ou se o filme na verdade quer que você goste do cara pois ele só é "ninguém". Uma trama que parecia ser uma metáfora satírica e crítica ao establishment americano, que na verdade se tornou elogioso ao status quo no final por entender que era mais fácil (ou porque o estúdio mandou!). 




É claro, podemos identificar que a metáfora é sobre o diretor, que é russo e judeu. Na América devem sempre desconfiar de um diretor de cinema russo, mas na realidade ele é judeu também, ou seja, tem muito mais a cultura e o habitus do local do que esperam. A cena do LP que pega fogo e incendeia a casa, também parece uma referência do diretor, que apesar de ter reconhecimento por seus trabalhos, é a praticamente desconhecido por seu trabalho musical. 




Entretanto, a ideia poderia ter sido melhor trabalhada pelo diretor de maneira formal, principalmente no final. Há também um vício de colocar coisas e objetos estranhos em cena sem contextualizá-los, apenas para provocar, algo que soa meio amador. Mas é preciso admitir que em termos de técnica de direção, o filme é bastante interessante, principalmente nas cenas de ação. A coreografia é muito bem feita, não sendo do tipo de filme que você vê o protagonista lutar com noventa caras e não tomar um soco.


A trilha sonora é confusa. Tem momentos vibrantes onde combina bastante, mas tem outros onde ela é meio "zoadinha", querendo fazer lampejos e brincadeiras com o ritmo do filme que destoam da proposta. Parece que só porque o ator veio do humor, há uma constante tentativa de fazer "gracinhas" no som, que na real ficaram meio pastelonas.




Porém o que obviamente mais brilha no filme é a atuação de Odenkirk. Para alguém do humor, conhecido nas séries, interpretar o protagonista de um filme de ação no cinema é um grande desafio. Mas que ele resolveu e maestrou de maneira total. É sempre muito ruim ver em filmes de ação e luta que o senso de humor e a ironia desaparecem completamente, como se o gênero do filme impedisse a humanidade de seus personagens. Assim, o jeito atrapalhado e bobo de Odenkirk de atuar tornam o filme mais realista, principalmente em momentos cotidianos e de violência. Christopher Lloyd, eterno doutor Brown de De Volta Para o Futuro, também está incrível no filme.


No final, é um filme mediano, com uma ideia original bem interessante, mas que foi mal aproveitada e executada. Entretanto, marca a carreira do ator como um ponto fora da curva positivo, onde o ator marcado por um gênero tenta se aventurar em outro gênero, e no caso com sucesso, demonstrando que podemos esperar ainda muitos conteúdos bem interpretados pelo ator. 


Disponível no Appel TV, no Looke e no Google Play 




  

Comentários

Em Alta no Momento:

Os Desajustados (The Misfits, 1961): Um faroeste com Marilyn Monroe e Clark Gable sobre imperfeição da obra do artista e o fim fantasmagórico da Era de Ouro do Cinema Americano

Rastros de Ódio (The Searchers, 1956): Clássico de John Ford é o maior faroeste de todos os tempos e eu posso provar

Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989): Filme suavizou livro de Stephen King mas é a melhor adaptação da obra até hoje. Confira as diferenças do livro para o filme

"1883" (2021): Análise e curiosidades da série histórica de western da Paramount



Curta nossa página: