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Better Call Saul - "Hit and Run" (6x04): Curiosidades e análise do quarto episódio da sexta e última temporada


Episódio foi escrito por Anna Cherkis e dirigido pela própria Rhea Seehorn, a atriz da Kim Wexler. O casal Saul e Kim continua tentando sabotar a carreira do ex-sócio do irmão Chuck, Howard Hamlin. Vemos um casal misterioso andando mecanicamente de bicicleta pelas ruas do subúrbio de Albuquerque. Quanto eles voltam para sua casa, eles reclamam da casa pintada de vermelho no caminho. Agora a táctica de Saul e Kim muda, não é mais tentar incriminar Howard por uso de cocaína, eles contratam Wendy (a prostituta amiga de Jesse em Breaking Bad) para ajudar na empreitada






Um casal passeia de bicicleta seguindo todos os procedimentos para ultrapassagem, mas não tem ninguém além deles na rua. Quando voltamos e vemos o interior de sua casa vemos eles comentando sobre a casa pintada de vermelho violar o estatuto de casas do bairro. 





Eles entram em uma casa com uma super vigilância, enquanto eles criticam os vizinhos por pintar a casa da cor de vermelho, vemos homens pesadamente armados, e com metralhadoras de ponta no pescoço convivendo com eles na mesa de café da manhã. Descobrimos então se tratar de uma casa que Gus usa para negócios. Provavelmente, alugando o espaço do casal, que aceita na boa por receber milhões.

Vemos Kim e Saul agora "desfrutando" da reputação de defender legalmente o cartel. Kim acredita que está sendo perseguida e anota a placa do carro. 


Enquanto Saul se disfarça de Howard (com o terno, peruca loira e bronzeamento artificial), ele clona a chave do carro e passa com Wendy em frente a Kim e Cliff que estava almoçando enquanto ele comentava sobre o problema em vício de drogas por parte de seu filho. Howard vai no psicólogo e conta sobre um pesadelo que ele tem recorrente. 


Kim dirige Wendy de volta para o motel, onde ela paga Wendy e dá um cartão seu se oferecendo para ajudar ela no caso dela ter problemas com a lei. Quando Saul/Jimmy se disfarça de Howard e rouba seu carro para parecer que Howard jogou uma prostituta com seu carro em movimento e, ainda por cima, não teria pago a mulher.

 

Kim percebe que um carro continua seguindo ela, o que faz com ela desconfiar. Ela toma uma atitude ousada: Ela anda até o carro e anota a placa do carro e pergunta quem são, eles vão embora. 


Mike Ehrmantraut então aparece na lanchonete e explica que agora Saul, por estar na "empresa" de Gus, teria que ter vigilância constante pelo clima deles com os Salamancas (donos mexicanos do cartel) estar tenso e ter tido o maior ponto de tensão com a morte de Nacho Varga (o suicídio dele impediu um rompimento imediato entre o novo cartel (o pessoal de Gus), e o cartel antigo (ligado aos moradores mais antigos e locais da região). 


Kim reconhece Mike do emprego dele no pedágio. Mike fala para Kim que quis conversar com ela para esclarecer a segurança para eles dizendo que acha que ela é mais forte que Saul, por isso que ele estaria esclarecendo a situação. 



Saul é maltratado no fórum onde antes todos gostavam dele. A moça da secretaria exige toda papelada para remarcar uma audiência, ninguém quer cumprimentá-lo ou falar com ele. Por outro lado, quando ele vai salão de beleza (onde ele tinha uma portinha secreta para se encontrar extra oficial com os clientes). 


Agora que Saul é visto como um membro do cartel, todos os latinos e mais pobres vão até ele e Kim com suas causas. Eles descobrem que defender Lalo o tornou famoso e popular entre os locais e a senhora Nguyen o expulsa por causa disso, pelo aumento em sua clientela. É como se Saul fosse considerado membro do grupo "prerrogativas" pensando o caso brasileiro, e isso fosse ruim em termos institucionais, trouxe fama e clientes pra vida de Saul/Jimmy, ao ponto de acompanharmos sua ascensão e queda sem uma ordem cronológica exata, estimulando a imaginação dos fãs. 




Gus é visto em sua casa, ele pega o jornal, ele acena para os vizinhos e depois entra em casa, passando por várias camadas, e indo em direção ao subsolo onde vemos câmeras que notam qualquer momento na cidade de Albuquerque, e as câmeras buscam apenas um nome, Lalo, Gus tem certeza que ele está vivo. Kim fica abalada com a possibilidade de Lalo estar vivo (prevendo uma vingança por parte dele).




Produção, bastidores e história por trás do episódio


O elenco de convidados para o episódio de Ed Begley  Jr como Clifford Main. Eillen Fogarty como a senhora Nguyen, Peter Diseth como DDA Bill Oakley, e Julia Minesci as Wendy, David Ury como Spooge, Victor Rivers apareceu como psicólogo de Howard, e o casal Kirk Bovill e Joni Bovill como senhor e senhora Ryman. 


A fotografia do episódio é de Marshall Adams, edição por Joey Reinisch. A série costuma usa um tipo de câmera bem moderna, Red Epic Dragon, Call Zeiss Lenses Standard Speeds, e Arri Mater Primes & Angénieux Optim zooms.





Em entrevista, Rhea conta que essa foi a primeira vez ela dirigiu, sem ser curtas, um episódio de série onde atua como a namorada badass de Saul. Ela disse que ficou super assustada com a tarefa, e disse que as pessoas perguntaram muito se foi divertido. Ela disse que foi alegria pura misturada com muita adrenalina e terror. Falou que sim, era um desafio. 


Ver a direção dela foi interessante, parecia possuir muitas técnicas de curtas. O uso desse tipo de câmera parada em planos longos onde o movimento sugere repetição e cotidianidade como uma forma de violência, foi uma interpretação muito boa sobre o universo Breaking Bad.



Crítica do episódio


Principalmente pela série não ser o tipo de série para alguém que seria, em tese, amador. Existe aqui várias reflexões profundas que o episódio trouxe. Essa ideia ao estilo o jogo Fallout 3 out de mostrar que a social democracia do subúrbio pode esconder exatamente o "ethos criminal".






O casal que reclamava da pintura vermelha e em dois tons da casa pode soar quase como uma metáfora ao estilo cinema novo sobre não poder ter ideologia. A cor vermelha assimilada aqui no Brasil com o comunismo (portanto, uma "cor de esquerda"), nos Estados Unidos representa o Partido Republicano, o que dá margem para várias interpretações sobre a alegoria retratada na cena. 


O casal que também andava de bike na maior social democracia dos sinais e dos modelos, também estava vasculhando o lado mais "sossegado" da cidade. Ou seja, se você quer morar lá também, tem que aparar o gramado, ter um sistema de irrigação automático para isso, e claro, não pode pintar a casa ou alterar radicalmente a fechada de sua casa por ferir regras municipais. Mostrando que ás vezes a rigidez burocrática da papelada e de regras tácitas de vizinhanças podem integrar uma postura criminal


Esse episódio foi muito marcante por diversos motivos, dirigido e escrito por mulheres, os traços de política social em torno de Saul e da própria série foi transformado radicalmente de ângulo, e algumas críticas já declararam o quanto foi bom o começo dessa temporada de Better Call Saul. Esse nível de liberdade criativa foi para Rhea quase como fazer uma especialização. 


Foi legal ver o ponto de vista de Kim do mundo, como ela trabalhava organizando primeiro a mesa, como se o planejado fosse dar certo se for extremamente planejado. Interessante o Mike comentar que Kim é "made from steiner stuff" significa que ele considerada ela mais feita de aço que Jimmy, que é um cara mais sensível. 



O interessante é ressaltar no fim uma coisa interessante sobre a dinâmica de Kim e Saul/Jimmy, Kim comenta que usar o espaço do antigo salão de beleza onde ele tinha uma portinha agora para fazer um negócio seria a solução depois deles não conseguirem manter o aluguel do espaço antigo, e nem manter a secretária, por exemplo, e acabaram investindo os dois em uma atitude de pegar casos pro bono. Fazendo da série uma boa lição do estado de democracia na América atualmente. 


Essa ligação com os mais "fracos e oprimidos", junto com essa ideia de defender os "little guys", faz do negócio do Jimmy um ponto de partida político, que pode ser considerado como uma forma de retratar política e esquerda dentro das instituições e burocracias 


Casos assim podem parecer ruim de pegar, por não ser o direito das firmas consagradas de renome. Mas existem uma função política dos casos pro bonos, produzir uma rede de informação real, envolvendo funcionários, setores de serviços, pessoas populares e trabalhadoras em geral. Outra coisa de ressaltar no episódio é essa questão de Saul querer abrir essa firma mais popular e de rua, e Kim aprova no fim sendo bem amiga das escolhas dele. Até agora é difícil entender quando que ele vai ficar sozinho nesse "futuro" que vimos no passado da série. 


Outra especulação, ou notícia do multiverso Breaking Bad é que é possível um spin off contando a história de Gus Fring. Esse episódio tem toda a capacidade de já ser essa ideia incorporada. Onde percebemos politicamente de maneira semiótica, o que eles querem construir ao demonstrar o tipo de persona que é Gus Fring, que tem empregados, tanto na lanchonete, quando dos esquemas de negócios ilegítimos. Nesse episódio, um casal que trabalha para Fring se coloca como um casal social democrata, seguidor de "leis de bairro", e brincando aqui, será que eles apagariam uma pessoa apenas por usar a cor vermelha? Parece uma piada com aquele filme "Um Estranho sem Nome". 


Gus vem do Chile, um local onde nem mesmo os governos de esquerda eram muito de esquerda, apesar do governo de Michelle Bachelet. Gus era um fugitivo do Chile e muito de sua história não foi contada na série, mas parece ter a ver com as ditaduras da América do Sul, por isso que ele seria rival dos Salamanca (Hector matou o químico de renome que fazia as fórmulas pra Gus das drogas nos anos 1980, seu namorado Maximino Arciniega por homofobia muitos anos antes). Ele construiu um império e vigia a vida de todos para antecipar o movimento de seus inimigos, os contatos e o poder de Gus Fringe pareciam em Breaking Bad e em Better Call Saul muito altos. Ele conseguiu enganar metade da cidade e operar mulas e sistemas de lavagem de dinheiro e repetição, mas a veia "empreendedora" e weberiana de Gus é talvez a piada mais mortal das duas séries. 



Gus sempre foi muito profissional, andava colete o tempo todo e fez Walter ter que matar ele com uma grande explosão. Se Breaking Bad era sobre debater o ponto de vista de Gus e Walter, Breaking Bad achava Gus mais herói, enquanto Saul era visto com "safado" e advogado de porta de cadeia, mas a piada de Better Call Saul é que mentir não necessariamente se torna mau, ás vezes é uma táctica narrativa, política e de proteção. 


Talvez no spin off, nós iremos saber o que tinha de tão secreto na vida de Gus. Ele tinha mudado de identidade ao fugir do Chile durante os anos de 1980 de Pinochet, quando Hank Schrader menciona isso, mas Gus se defende dizendo que os registros de lá não são confiáveis (por ser uma ditadura). Aí a história conta que eles abriram a cadeia de fast food "Los Polos Hermanos" e aí Gus se tornou um grande traficante que conseguiu realmente lucrar e desenvolver uma ideia de cadeia de restaurantes, ele se tornou comerciante local e doador ao mesmo tempo do DEA. 


Se Breaking Bad era sobre dar errado por ser sobre pessoas sem ética e mais inclinadas ao lado da direita política, como Walter White, Better Call Saul pode parece passar a mensagem ao contrário, e acaba lembrando que apesar de representar legalmente o cartel, eles não são bandidos por isso. Lembro de assistir The Good Wife (uma série totalmente sobre a elite da estirpe das grandes faculdades de direito americanas), e nessa série a firma de Alicia cuidava de casos envolvendo traficantes e ninguém nunca chamou ela de "bandida" ou que "faz crimes" como algumas pessoas pensam sobre eles. Isso faz pensar sobre o carácter do profissionalismo das coisas. 


No caso de Saul, como ele é humilde, veio de uma faculdade tipo EAD (a Universidade de Samoa) as pessoas tentam humilhar ele, enquanto ele servia ao patronato dos velhinhos, as pessoas gostaram que a prática dele soava "cafajeste" o suficiente para se manter entre o lícito e o ilícito, mas isso não cola mais, e agora ele é meio que "expulso da direita", da própria social democracia institucional da cidade. 


Episódio interessante, muito bem dirigido e cheio de curiosidade e momentos marcantes que dá para viajar bastante e puxar varias teses. 


Comentários

  1. ADorei a critica entendi muitas das cosas que no me quedaban claras,Gracias y VIVA SAUL!!!

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