Uma diligência carregada de ouro é atacada pelos homens de José Mendoza, conhecido como Tampico. Lasky e seus homens os surpreendem, matando a todos e roubando o saque. Mas, ao abrir o baú, Lusky descobre que ele está cheio de pedras. Sartana chega, um pistoleiro misterioso, elegantemente vestido, habilidoso com cartas e armado com uma pistola de bolso bizarra, mas certeira (uma Darringer de quatro canos). Sartana convence a gangue de que é ele quem está por trás do roubo e que escondeu o ouro, convencido de que cidadãos desavisados e respeitáveis estão envolvidos em todo o caso
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Quando Se Encontrar Sartana, Reza por Sua Morte chegou aos cinemas italianos em 1968, o faroeste europeu já vivia seu auge. Sergio Leone havia redefinido o gênero com Por um Punhado de Dólares (1964) e Três Homens em Conflito (1966), abrindo caminho para uma leva de filmes italianos cheios de cinismo, violência estilizada e heróis ambíguos. Nesse contexto, Gianfranco Parolini (creditado como Frank Kramer) apresentou ao público um novo tipo de pistoleiro: Sartana, interpretado com elegância e frieza por Gianni Garko.
A partir daí, uma cadeia de traições, disfarces e manipulações transforma a caça ao ouro em um jogo psicológico. Sartana surge no meio desse caos, sem se saber exatamente de que lado está. Ele tanto ajuda quanto sabota os outros personagens, sejam bandidos, xerife, coveiro e caçadores de recompensa.
Mais do que o ouro em si, o verdadeiro tema do filme é o domínio da astúcia sobre a moral. Em um mundo onde ninguém é inocente, o mais inteligente, e não o mais justo, é quem sobrevive.
Diferente do faroeste americano, onde o herói impõe a ordem sobre o caos, Sartana vive dentro do próprio caos, manipulando-o com frieza. Ele não é altruísta, mas também não é vilão: é uma figura ambígua que encarna o espírito da época, ou seja, o desencanto pós-guerra e guerra fria, a perda de fé em instituições e a crença de que a verdade é sempre relativa.
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Sua elegância e sua inteligência são, paradoxalmente, formas de brutalidade refinada. O filme propõe uma moral distorcida: a vitória pertence não ao justo, mas ao mais esperto, aquele que entende que o Velho Oeste é um palco de aparências.
O diretor Gianfranco Parolini constrói o filme quase como uma farsa trágica. Tudo é teatral: os figurinos escuros, as entradas súbitas de Sartana, os gadgets engenhosos, como revólveres escondidos, truques de ilusão, armas camufladas. Esse exagero não é gratuito: ele comenta a própria artificialidade do gênero.
O Velho Oeste, aqui, é uma representação do mundo moderno, um lugar em que ninguém confia em ninguém e a única lei que resta é a do espetáculo. O ouro, símbolo da riqueza e da corrupção, move as ações, mas nunca traz satisfação verdadeira.
Diferente dos anti-heróis de Leone, movidos por vingança ou ganância, Sartana é um personagem enigmático, quase sobrenatural. Ele surge do nada, vestido de preto, manipulando os acontecimentos como se fosse um xadrezista do Velho Oeste. O roteiro mistura elementos de mistério e intriga, com um roubo de ouro que envolve traições e reviravoltas. Em muitos momentos, o filme parece mais um noir disfarçado de western, com Sartana agindo como um detetive silencioso que já sabe mais do que aparenta.
Gianfranco Parolini não tinha os recursos de Leone, mas compensava com criatividade visual e ritmo. A direção aposta em closes intensos, tiroteios coreografados e truques, como o revólver oculto dentro de um livro, a pistola automática disfarçada, as armadilhas improváveis. Sartana é quase um mágico, um precursor dos pistoleiros “tecnológicos” que surgiriam depois. Essa mistura de elegância, inteligência e letalidade o transformou em uma figura distinta dentro do spaghetti western.
Gianni Garko trouxe para Sartana uma presença carismática e calculista. Diferente do sarcasmo de Franco Nero em Django ou da intensidade muda de Clint Eastwood, Garko interpreta um pistoleiro culto, metódico e teatral. Ele é o tipo de personagem que parece sempre um passo à frente de todos, o que dá ao filme um ar quase mitológico. Sua performance é o eixo que sustenta a trama e explica o sucesso que levou a várias continuações e outras produções paralelas. Gianni Garko interpreta Sartana com uma mistura de distância e ironia. Ele é o pistoleiro que parece já saber o final da história, um jogador que manipula as cartas sabendo que todos estão blefando. Sua figura é quase metafísica: um anjo da morte de terno negro, ciente de que a justiça é um teatro e que a única verdade é a morte, e sua música tema marcando suas entradas em cena, reforçam essa sensação.
Essa postura filosófica aproxima Sartana de arquétipos existenciais, ele é o homem lúcido que age num mundo sem moral, consciente da farsa coletiva e, ainda assim, parte dela.
A trilha sonora de Piero Piccioni é outro destaque. Com metais e guitarras elétricas, ela mistura tensão e ironia, reforçando o tom meio teatral da narrativa. O resultado é um filme que equilibra o humor e o grotesco, sem nunca perder o senso de estilo, marca registrada dos spaghetti westerns.
Mais do que um filme de ação, Se Encontrar Sartana, Reza por Sua Morte é uma obra que marca a transição do faroeste europeu para algo mais fantasioso e auto irônico. Sartana não é apenas um pistoleiro: é uma ideia — o símbolo de um cinema que começa a brincar com seus próprios clichês. Décadas depois, sua influência pode ser vista em personagens como Django, Sabata e até no estilo estilizado de Tarantino, que frequentemente homenageia essa era dourada do western italiano.
Se Encontrar Sartana, Reza por Sua Morte é um filme sobre a desilusão com os valores heroicos. No fim dos anos 1960, enquanto a juventude questionava as instituições e o cinema europeu mergulhava em cinismo político, o spaghetti western se tornava o espelho ideal desse ceticismo. Sartana, nesse sentido, é o símbolo do homem moderno: cético, esperto, e consciente de que a moral é apenas mais uma ferramenta no jogo de poder.
Curiosidades do filme
O filme custou 137 milhões de dólares e teve uma arrecadação bilionária e, segundo contou o diretor Aldo Addobbati, o lançou em 14 de agosto e, depois de nove dias, o filme já havia arrecadado 30 milhões de liras, o suficiente para anunciar a possível sequência Um colt para Sartana (1973). No Japão, segundo Sandro Mancori, o filme arrecadou um milhão de dólares. Parolini também aparece como um ator com o pseudônimo de John Francis Littlewords no papel de um jogador de pôquer que é morto.
O filme foi rodado, por razões econômicas, inteiramente na Itália, entre Manziana e outras áreas perto de Roma. O produtor Addobbati tinha um set do filme montado dentro do cinema Adriano em Roma, completo com galinhas e cavalos com diligência. O filme deveria ser parodiado por Franco e Ciccio Se você encontrar Franco e Ciccio reze por sua morte que foi anunciada, mas nunca filmada.
Assista abaixo ou clique aqui para saber onde assistir o filme





I love spaghetti westerns.
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