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Megalópolis (2024): Coppola usa História romana para tecer críticas aos Estados Unidos e o Império Americano em decadência


No futuro, em um lugar nomeado como Nova Roma, um arquiteto idealista, Cesár Catilina (Adam Driver), desafia o status quo em busca de uma utopia, a cidade e a legitimidade do povo junto aos seus governantes. A paixão pessoal se cruza com consumismo, desordem e elitismo de uma sociedade de espetáculo. Megalópolis pensa a queda do Império Romano como o futuro dos EUA moderno e decadente. Giancarlo Esposito interpreta o seu inimigo político, Franklyn Cicero, e pai de sua futura esposa, inspirando-se no debate Cícero x Catilina 


Clique aqui para ver onde o filme está disponível


Francis Ford Coppola imaginou Megalopolis desde os anos 1980 como um épico que transporia a queda de Roma para o que poderia ser o futuro dos EUA. Ele financiou o filme com o próprio bolso em um orçamento de 120 milhões. A moça Julia, filha de Cicero se envolve com Cesar e é descrita como uma garota mimada mas que quer ser levada a sério e que já havia cursado um ano de medicina e largado. 


A filmagem enfrentou diversos desafios técnicos , precisando migrar da avançada tecnologia de OSVP para a tela verde simples devido ao alto custo do filme que foi feito no Trilith Studios na Geórgia e acontecem desde 2022. O filme teve certo problema mesmo pensando em alguns detalhes e erros de produção que custaram a recepção morna do filme apesar de ser um filme de um dos grandes diretores americanos. Diversos profissionais efeitos visuais abandonaram o projeto e até mesmo um documentário foi produzido sobre isso. 


Mas Adam Driver considerou uma experiência como uma das melhores da vida. O filme teve pouco lucro,  cerca de US$ 14,3 milhões mundialmente, o que representa um fracasso de bilheteria diante do alto custo de produção. 


Para dar nova vida ao material, Coppola está transformando o filme em uma graphic novel, escrita por Chris Ryall e ilustrada por Jacob Phillips, a ser lançada em outubro pela Abrams ComicArts.



Um César hoje em dia ou na história? O material revolucionário Megalon que busca então reconstruir a velha glória de Nova Roma. Uma metáfora de qualquer grande cidade cosmopolita e gentrifricada do mundo moderno. 


Adam Driver interpreta Cesar Catilina, um arquiteto visionário que busca reconstruir Nova Roma com um material revolucionário chamado “Megalon”. Este protagonista reflete a figura histórica de Catilina, e Driver presencia sua ascensão ao poder através da inovação e do progresso que desafiaria o conservadorismo legalista de Cicero que o denuncia como apóstata e falso apóstolo. Essa ideia de insurgências carismáticas sustentadas em jovens ignorantes que não conseguiram se rebelar contra o sistema.


A república romana e certo conservadorismo é o presente na figura de Cicero, grande autor, político mas que morreu depois de inúmeras revoltas. As forças de povos estrangeiros invadiram Roma no que foi conhecido como a Segunda Revolta de Catilina, uma tentativa de golpe de Estado para suprimir a república.  



A elite senatorial conservadora (se chamava optimates)  e brigavam contra os populares e descontentes em 60 a.C. O Primeiro Triunvirato veio depois desse conflito abordado no filme. Surgiu então um acordo  informal entre Júlio César, Pompeu e Crasso. Por fim, por conta das brigas pessoais, o Senado romano perde relevância frente a cultura de generais poderosos. Há uma Guerra civil entre César e Pompeu, César toma Roma. Pompeu é derrotado e morto. César se torna ditador vitalício. 


Aqui o personagem se Adam Drive representa é o inimigo de Cicero. Cicero era inimigo também de Marco Antônio. Resumindo, um defendia uma ideia de aristocracia perdida, dos valores de ouro, e outro buscava a ordem pela res pública (coisa pública) e por isso chegavam até as vias da violência para tal, mas mesmo assim foi um período conhecido por avanços. Quando Otávio Augusto (herdeiro de Cesár) derrota Marco Antônio e Cleópatra, encerra-se assim o período republicano de Roma. 




O senado que antes apenas tinha patrícios (ricos e bem nascidos) abria agora espaço para plebeus enriquecidos. A antiga Roma da época ainda dos Etruscos era substituída por um corpo burocrático muito mais complexo. Era a época da criação de cargos como cônsules (sempre em par) e dos tributos da plebe que tinham como tarefa exercer influência junto aos patrícios representa as demandas populares. 



Julia Cicero (Nathalie Emmanuel) está entre ambos sua ligação amorosa com Cesar representa o choque entre dos mundos que se chocam e se fundam em um só. Como aconteceu quando Cesar (Imperador de Roma) se casou com Julia, filha de Pompeu mas mesmo assim brigaram os dois gerando os períodos de ditadura. 


É bem válido apontar que o império romano viria a cair séculos depois. Mas alguns sentem que o período de dominação total do império ocorreu na época da pax romana, onde o poder de Roma chegava no mundo inteiro. Era o tempo de "paz interna" pelo excedente de riqueza e acumulação. Ali naquela época Roma se fundava como maior Império da História da humanidade e até pouco tempo, era os EUA a que parecia mais inspirada por esses ideais na modernidade. Até mesmo a referência de show como no coliseu ou das virgens vestais está presente no filme. Parece aqui como as referências de Jogos Vorazes. 


A estória do filme soube usar história factual para criar a fantasia de distopia futura, onde a estória é contada quase linha a linha por uma história vinda do passado fundador do ocidente. Mas os atores, além do Adam Drive não pareciam estar muito contentes com a produção e o filme carrega grandes falhas de elaboração. É sem dúvidas um filme falho. Mas sem dúvida um filme com temática original e que exerce a imaginação brincando com algumas metáforas interessantes. A boate e a cultura de socialite é colocado como ipsi litteris como uma cultura romana. As falsas virgens para espetáculos públicos mostra a herança pagã  da época das expiações usadas em nome da "prosperidade social",  também brinca com essa ideia de "sociedade do espetáculo" em todos os níveis.  

 


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