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O Olho do Diabo (1960): Bergman faz uma sátira sedutora sobre a moralidade em seu filme mais divertido


The Devil's Eye (do sueco Djävulens öga) é um filme de 1960 de fantasia e comédia, dirigido e escrito por Ingmar Bergman. Uma comédia de costumes clássica, onde o diabo está com um terçol no olho e acha que é por causa da jovem Britt-Marie. Ele envia então Don Juan, apenas para provar que não existe inocência real na terra. Ele vai atrás dela apenas para corromper sua inocência e provar que a terra está perdida. Uma comédia que levanta questionamentos entre a moralidade, a tentação e o amor



Eu sei que para cinéfilo raiz é quase impossível dizer qual é o seu cineasta favorito, mas Bergman é meu cineasta favorito (da gringa e dos clássicos também), porque se for no nacional meu favorito é Glauber Rocha mesmo. Mas se eu fosse escolher dentro da sessão de diretores da história do cinema mundial, escolheria Bergman, o amor e o uso do teatro em filmes filmes, como O Sétimo Selo, um filme incrível que já fizemos aqui, como também Persona - Quando Duas Mulheres Pecam. Nesse filme, sedução e moralidade são discutidos juntos com a ideia de romance e rotina. 



A música do filme é uma performance da quarta esposa de Bergman (Käbi Laretei) interpretando a música de Domenico Scarlatti, um compositor italiano. Bibi Andersson que também fez Persona, Jarl Kulle aparece o como Don Juan e Stig Järrel como Satan, Nils Poppe como o vigário, Gertrud Fridh como Renata e Sture Lagerwall como Pablo, Georg Funkquist como o Conde Armand de Rochefoucauld, Gunnar Sjöberg como Marques Giuseppe Maria de Macopanza e Gunnar Björnstrand como O Ator.


Certamente o par dialético desse filme é o filme também de 1960 The Virgin Spring, que não tem nada de comédia, é outro gênero, um filme realmente de arrancar os cabelos. O Sétimo Selo era incrível porque já que discute a teoria  historiográfica da "dança da morte", uma lenda ocorrida na Europa medieval. O profundo filme Morangos Silvestres é uma obra prima, ou a peça filmada de 1975, "A Flauta Mágica". São vários os lindos e perfeitos filmes do cara que é um maestro da estética do teatro e da narrativa clássica oriunda das adaptações literárias. Bergman foi ligado ao Royal Dramatic Theatre (Dramaten) em Stockholm, onde era diretor de teatro. 




Vemos nesse filme, essa batalha eterna entre o bem e o mal é vista com a ideia do Don Juan conquistador, além do mais, é uma forma clássica de expor arquétipos de comportamento, entre o conquistador e conquistada, entre a má e a boa mulher. Apesar de não conseguir "desviar" a moça, ela chega a "mentir um pouquinho". É uma comédia muito humana que busca dizer que apesar de sempre esperarmos o pior de todos, as pessoas não seriam tão ruins assim, deixando para o diabo o papel de ser vencido, por mais que isso signifique que nem todos são muito bons e nem muito maus também. 



O gato do filme é sensacional, ele parece até o verdadeiro protagonista de tudo, já que é através dele que vários detalhes da trama se dão. O gato participou ativamente da divulgação do filme durante entrevistas com o elenco fazendo vários behind the scenes com o gato. Nos filmes de Bergman, os gatos também fazem parte da moral da estória, e carrega em si significado simbólico, uma ideia de sobrenatural na interação com os personagens.




De acordo com um provérbio irlandês inventado por Bergman, uma mulher casta é como se fosse um terçol no olho do diabo, Satã acredita que a dor que ele sente em seus olhos é causado por uma virgem, a última da terra honesta e sua tarefa é provar contrário da sua inocência. A moça Britt-Marie em questão tem 20 anos e está noiva, logo, o diabo coloca Don Juan para seduzir Britt-Marie, noiva de um tecnocrata do petróleo e da carne. Ele não consegue seduzir ela totalmente, mas consegue beijar ela. Mas antes de qualquer coisa acontecer demais, um demônio aparece para dizer que o o show tinha acabado e a mulher automaticamente desaparece. 


A trama faz você questionar essa questão dos desejos. A aproximação real entre o Don Juan e a moça se dá porque ambos são fixados em uma ideia, no caso do Don Juan de sedução em todos os casos, e da moça da recusa em todos os casos. A reflexão sobre o casal da Renata e Pablo, o casal antigo que reflete no lado entedioso da rotina de casal, que é o sonho em tese da moça Britt-Marie ter por sua vez. Vale lembrar que todas as interações "não tão nobres" são viajadas pelo diabo através da vigia do gato, sempre o gato tem importância aqui na trama. Não é um filme engraçado expressamente, ele tem camadas de ironia refinadas que no conjunto da obra faz você rir muito, mas não é um filme exatamente simples de ser entendido. 



Satã promete a Don Juan que ele poderá voltar a terra se seduzir a moça e que ele poderia obter um alívio de uma punição eterna.  Don Juan aceita o desafio enquanto é acompanhado por seu seu criado Pablo, entrando na casa do Vigário da igreja anglicana, um bom bobo e ingênuo, dá em cima da esposa do cara, Renata. Por fim, Dom Juan tinha apaixonado pela moça, e é obrigado a dormir e sonhar com o amor, uma punição terrível para o diabo, o diabo tem então uma "pequena vitória", mas a moralidade se mantém. 



Bergman concordou em fazer o filme com a SF Studios porque estava antes, ele queria apoio para seu projeto The Virgin Spring (um filme com a temática muito mais dramática, apesar do enredo parecer com esse filme, e com data de lançamento em seu país no mesmo ano desse filme 1960), ou seja, queriam que ele filmasse uma grande comédia dark de costumes e ele queria um profundo questionamento filosófico e nada nostálgico sobre os princípios da moralidade religiosa. Bergman ficou intrigado com a popularidade do personagem do Don Juan, e o provérbio irlandês que Bergman suscita no filme, aparentemente foi inventado pelo próprio Bergman. 





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