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Bravura Indômita (True Grit, 1969): Um faroeste clássico sobre vingança tão impactante que ganhou sequências e um remake

 

Bravura Indômita de 1969 é dirigido por Henry Hathaway e estrelado por John Wayne como Rooster Cogburn. Uma Tomboy (Kim Darby) que não aceita as etiquetas femininas impostas pela sociedade e que sabe tudo sobre cavalos, quer vingar a morte de seu pai que foi assassinado. Para localizar o assassino ela contrata Cogburn, embarcando com ele em uma aventura. É uma adaptação de um livro de 1968 com o mesmo nome


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 Em 1880, que mostra a procura pelo assassino de Frank Ross, descrito como o homem mais honrado que já viveu com uma simples educação presbiteriana. Outra parte do livro muito inspiradora é a descrição das cidades que a garota vê pela primeira vez em Fort Smith em oposição a Little Rock. 

 

Vemos o personagem mais citado no livro que é Yarnell Poindexter, um homem negro que tinha sido sequestrado como escravo e levado para a a área onde a família de Mattie mora e que era contratado pelo pai de Mattie, é ele que cuidava da família enquanto o pai fazia negócios e ele mesmo teve um negócio próprio de pintura em Memphis, Tennessee. No livro, ela defende ele em certo momento quando o condutor da viagem quer gritar com ele chamando ele de nomes.


Enquanto isso, seu assassino Chaney junto com "Lucky" Ned Pepper se refugiam em território indígena para evitar a sua captura. É muito interessante ver essa recusa de Mattie de se inserir na perspectiva passiva obrigatória de uma mulher no mundo do faroeste que é extremamente masculino, restando para as mulheres o papel de prostitutas ou de namoradas, na maioria das vezes, com exceção de filmes como Johnny Guitar ou Jane Calamidade, Rio Bravo. O filme tem temática feminina, mas ao mesmo tempo tem John Wayne, sendo tão impactante que logrou ao John Wayne uma estatueta do Oscar.


O livro tem essa característica de olhar para atrás na sua memória e relembrar que quando prometeu ir embora de casa aos 14 anos para vingar o assassinato de seu pai (um plot clássico masculino de faroeste), todos estranharam por ela ser uma garota e sair de casa com apenas 150 dólares nos bolsos junto com duas moedas de ouro californianas escondidas na roupa de baixo, normalmente, o faroeste seria um lugar hostil e ela relata essa dificuldade no primeiro parágrafo do livro. 


Em 1969, o mundo vivia o desencanto com a a guerra do Vietnã e a ordem padrão americana, transformando radicalmente os costumes americanos, True Grit foi visto como uma homenagem aos clássicos do faroeste com um toque de sensibilidade moderna com o tema feminina, como uma forma de resposta conservadora e progressista ao mesmo tempo com essas mudanças de tempo, essa ideia diferente da moça ser feminista por gostar e admirar o pai que morreu molda todo o carácter dela como protagonista, nessa busca por vingança e respeito. Possuindo certo olhar nostálgico para a época e valores antigos, mas sem perder a noção de certo e errado históricos. 


O roteiro de Marguerite Roberts ajuda a ambientar essa perspectiva feminina da estória. Mas no geral, o filme passa essa sensação mais nostálgica para quem gosta da cultura dos faroestes, os cavalos, as perseguições e tocais, tudo isso de clássico o filme possui, como também tem uma figura diferente do cowboy coming to age, sendo uma cowgirl então vivenciando esse enredo  de vendeta clássico.


True Grit apareceu pela primeira vez escrita como folhetim no Saturday Evening Post, antes de ser completamente publicado pela editora  Simon & Schuster mais tarde naquele ano, isso com uma garota adolescente como protagonista e é inspirado em estórias que leu de correspondentes mulheres que trabalharam nas montanhas Ozarks (no limite da fronteira) e que o autor fazia a edição desses textos e por isso que se inspirou em parte da prosa para compor seu livro. 


Como por exemplo quando o La Boeuf, personagem do cara do Texas Ranger (antigo soldado confederado) querer casar com Mattie sem nem mesmo perguntar seu consentimento como se fosse óbvia que uma mulher precisasse ser "dominada", o que não acontece quando ele morre, por ideal romântico, ela reflete que era era uma "boa pessoa" lamentando sua morte, mas de qualquer maneira ele morre, refletindo esse fim de certos arquétipos do faroeste, como o romantismo que não pergunta a opinião feminina, por exemplo. 


A trajetória da personagem através de uma espécie de altivez honrada é muito bem visto no filme como no livro. Tem uma espécie de sensação "coming to age" mais no livro que no filme, mas também dá para sentir nas aventuras que vemos de Mattie. Para começar, vemos a maneira como ela se veste, com um vestido, mas com blusa por debaixo, e fala que nunca vai se casar, é uma graça a menina Mattie, especialmente suas ligações com os animais e sua destreza com os negócios, como foi ensinado por seu pai. 





No livro, a estória é contata cinquenta anos antes do tempo narrado, mostrando quando ela enquanto jovem se aventurou para caçar o assassino do pai. Possuindo essa particularidade de época de abordar um faroeste quase no fim da era dos grandes faroestes, mostrando uma nova consciência feminina  e feminista emergindo dentro do próprio tradicional do establishment americano ocidental, simbolizando o fim do conservadorismo radical em caminho para os anos 1970, a era Jimmy Carter e uma certa flexibilização dos costumes e com a volta política da esquerda na nos EUA. 


Um filme diferente de faroeste, um com uma perspectiva feminina do processo. Acompanhamos a história de Mattie, uma menina muito esperta que quando o pai morre é obrigada não apenas a ir atrás de seu assassino como também ir cobrar do vendedor que estava retendo os cavalos de seu pai e ela consegue negociar com o cara que ficou com os pertences roubados de seu pai, ameaçando chamar seu advogado Daggett Dardanelle quando ele não queria negociar de maneira justa os pôneis e o cavalo do pai.


 

O diretor Hathaway disse que queria fazer um filme como um conto de fadas, mas feito de uma maneira mais realista possível. Alguns acreditam que Cogburn é inspirado no delegado Heck Thomas, que era conhecido por prender os bandidos mais durões do Velho Oeste. A música do filme por Campbell também ganhou uma indicação ao Oscar. Teve um remake com mesmo nome de 2010 também dos irmãos Joel e Ethan Coen. 


Depois de contratar Wayne, Mattie vê como ele vive em meio ao seu gato (o general) e seu amigo chinês apenas, já que a mulher o abandonou. Quando eles vão procurar pelo assassino nas terras indígenas que ele está escondido, um jovem cara Texas Ranger que havia pedido Mattie em casamento) e que morre no fim, provocando até algumas lágrimas da menina, eles juntam forças com Rooster para ir atrás do homem. 



Eles decidem deixar a garota para trás, mas ela vai junto de qualquer maneira ao nadar no rio junto com seu cavalo em uma das cenas mais bonitas que já vi. Nessa cena, o personagem de Wayne comenta "ela parece comigo" pela ligação com o cavalo. 



A produção do filme e as filmagens ocorreram principalmente no condado de Ouray, Colorado, nas proximidades de Ridgway(agora sede do True Grit Cafe), próximo à cidade de Montrose (no condado de Montrose) e na cidade de Ouray.  (O roteiro mantém as referências do romance a nomes de lugares em Arkansas e Oklahoma, em dramático contraste com a topografia do Colorado.) As cenas do tribunal foram filmadas no Tribunal do Condado de Ouray, em Ouray.


O roteiro foi escrito por Marguerite Roberts, fazendo John Wayne ganhar um Oscar e a ter um outro filme de sequência revivendo o personagem em outro filme de 1975 de Wayne, Rooster Cogburn, que usa um tapa-olho marcante, que é o nome do filme de Stuart Millar também inspirado na obra de Charles Portis. Wayne chamou o roteiro de Marguerite Roberts de "o melhor roteiro que ele já leu" e foi fundamental para que seu roteiro fosse aprovado e creditado em seu nome depois que Roberts foi colocado na lista negra por supostas afiliações esquerdistas anos antes. 



Isso ocorreu apesar dos próprios ideais conservadores de Wayne. Ele gostou particularmente da cena com Darby, onde Rooster conta a Mattie sobre sua vida em Illinois (onde ele tem um restaurante, sua esposa Nola o abandona por causa de seus amigos degenerados e tem um filho desajeitado chamado Horace), chamando-a de "sobre a melhor cena" eu já fiz".


As cenas que acontecem no "abrigo" e ao longo do riacho onde Quincy e Moon são mortos, bem como a cena em que Galo carrega Mattie em seu cavalo Little Blackie após a picada de cobra, foram filmadas em Hot Creek no lado leste do Sierra Nevada, perto da cidade de Mammoth Lakes, Califórnia. O Monte Morrison e a Laurel Mountain formam o pano de fundo acima do riacho. Este local também foi usado no norte do Alasca. As filmagens foram feitas de setembro a dezembro de 1968. 


Mia Farrow foi originalmente escalada como Mattie e estava interessada no papel. Porém, antes das filmagens, ela fez um filme na Inglaterra com Robert Mitchum, que a aconselhou a não trabalhar com o diretor Henry Hathaway porque ele era "rabugento". Farrow pediu ao produtor Hal B. Wallis para substituir Hathaway por Roman Polanski, que havia dirigido Farrow em Rosemary's Baby, mas Wallis recusou. Farrow desistiu do filme, que foi então oferecido a Michele Carey, Sondra Locke e Tuesday Weld, mas as três estavam sob contrato para outro filme. 


Wayne também fez lobby para que sua filha Aissa ganhasse o papel. Wallis também ofereceu o papel a Olivia Hussey, mas a oferta foi rescindida depois que ela disse que "não conseguia se ver com Wayne" e disse que ele "não pode atuar" . 


O papel foi para Kim Darby, que virou professora de atuação mais velha e que apareceu em muitos filmes e séries marcantes, como em uma aparição recente em um episódio de Arquivo X chamado Sein und Zeit, e participou também de um episódio da série clássica da CBS "The Fugitive" e da série de drama americana  "Police Story" da NBC, como fez a outlaw Jane Calamidade no filme  de televião This Is the West That Was e o super filme Enola Gay: The Men, the Mission, the Atomic Bomb, um filme sobre a bomba atômica.


Elvis Presley foi a escolha original para LaBoeuf, mas os produtores recusaram quando seu agente exigiu o faturamento superior a Wayne e Darby. Glen Campbell foi então escalado. Em várias entrevistas, Campbell afirmou que Wayne, junto com sua filha, o abordou nos bastidores de seu show e perguntou se ele gostaria de participar de um filme. Wayne começou a fazer lobby para o papel de Rooster Cogburn depois de ler o romance de Charles Portis.


Garry Wills observa em seu livro John Wayne's America: The Politics of Celebrity, que a atuação de Wayne como Rooster Cogburn tem grande semelhança com a maneira como Wallace Beery retratou personagens semelhantes nas décadas de 1930 e 1940, uma escolha inspirada, embora surpreendente, da parte de Wayne. Wills comenta que é difícil para um ator imitar outro durante toda a duração de um filme e que os maneirismos de Beery desaparecem temporariamente durante a cena mencionada em que Cogburn discute sua esposa e filho.


O dublê do veterano John Wayne, Tom Gosnell, faz a acrobacia na campina, onde "Bo" cai, em seu cavalo de longa data, Twinkle Toes. Na última cena, Mattie dá a Galo a arma do pai. Ela comenta que ele conseguiu um cavalo alto, como ela esperava. Ele observa que seu novo cavalo pode pular uma cerca de quatro trilhos. 


Então ela o adverte: "Você é velho e gordo demais para andar em cavalos de salto". Galo responde com um sorriso, dizendo: "Bem, venha ver um velho gordo algum dia", e salta com seu novo cavalo por cima de uma cerca de quatro grades. Embora muitas das acrobacias de Wayne ao longo dos anos tenham sido feitas por Hayward e Chuck Roberson, é Wayne em Twinkle Toes pulando a cerca. Essa façanha foi deixada para a última tentativa, pois Wayne queria fazer isso sozinho e, após sua cirurgia pulmonar em 1965, nem Hathaway nem Wayne tinham certeza de que conseguiria dar o salto. As acrobacias de Darby foram feitas por Polly Burson.


O cavalo mostrado durante a cena final de True Grit (antes de pular a cerca em Twinkle Toes) era Dollor, um cavalo castrado castanho de dois anos (em 1969). Dollor ('Ol Dollor) foi o cavalo favorito de Wayne por 10 anos. Wayne se apaixonou pelo cavalo, o que o levou a vários outros faroestes, incluindo seu último filme, The Shootist (O Último Pistoleiro), que já fizemos aqui no blog.







John Wayne interpreta um assassino de aluguel famoso chamado Marshal Rooster Cogburn, que também é o nome  que a filha do homem que foi morto queria contratar para matar quem matou seu pai, todo o mote do filme. Wayne incluiu Dollor no roteiro de The Shootist por causa de seu amor pelo cavalo; era uma condição para ele trabalhar no projeto. Wayne não deixaria ninguém ri.


Dois dias depois, eles acham os ladrões de cavalo e Cogburn interroga dois homens, Moon toma um tiro na perna, Cogburn então atira Quincy e o mata, isso na cabana onde eles estavam escondidos. Rooster and La Boeuf fazem uma armadilha, eles junto com Mattie , que não quer fizer no McAlester enquanto eles fazem campanha. 


Em um dos dias que Mattie estava sozinha em uma manhã pegando água, ela encontra com Chaney, o assassino de seu pai e ela atira nele, mas ele toma ela como refém, antes de Pepper e sua gangue chegar, ele finge ir embora e decepciona Mattie, mas depois volta e consegue ajudar a resgatá-la depois de ele a encontra perto de um buraco cheio de cobras, onde ela quase morre. 



Cogburn e La Boeuf voltam. La Boeuf encontra e assume o comando de Mattie, e eles assistem de um alto blefe enquanto Cogburn confronta Pepper e sua gangue de três. Cogburn dá a Pepper a escolha entre ser morto agora ou se render e ser enforcado em Fort Smith. Pepper começa a zombar de Cogburn.


Enfurecido, Cogburn ataca os bandidos, com armas em punho, e consegue acertar Ned no peito. Cogburn eventualmente mata os irmãos Parmalee, com "Dirty Bob" fugindo. Gravemente ferido, Ned tem força suficiente para atirar no cavalo do Galo, prendendo a perna do Galo sob ele enquanto Bo cai. Pepper se prepara para matar Rooster, mas La Boeuf dá um tiro longo com seu rifle, matando Ned.


Quando La Boeuf e Mattie retornam ao acampamento de Pepper, Chaney sai de trás de uma árvore e atinge La Boeuf com uma pedra, deixando-o inconsciente. Mattie atira em Chaney novamente, mas o recuo da arma a joga de volta em um poço de cobras. Seu braço se quebra na queda e ela fica presa em um buraco, chamando a atenção de uma cascavel. Cogburn aparece e atira em Chaney, que cai na cova, morto. Cogburn desce na cova para resgatar Mattie, que é mordido pela cobra antes de atirar e matá-la. La Boeuf os ajuda a sair da cova antes de morrer.


Cogburn é forçado a deixar La Boeuf para trás enquanto ele e Mattie correm para conseguir ajuda para o pônei de Mattie, que cai de exaustão, forçando Cogburn a requisitar uma carroça para levar Mattie a um médico no território. Mais tarde, o advogado de Mattie, J. Noble Dagget, conhece Cogburn em Fort Smith. Em nome de Mattie, Daggett paga a Cogburn o restante de seus honorários pela captura de Chaney, além de um bônus de US$ 200 por salvar sua vida. Cogburn se oferece para apostar o dinheiro em uma aposta de que Mattie se recuperará perfeitamente, uma aposta que Daggett recusa.


Mattie, com o braço na tipoia, está de volta em casa se recuperando dos ferimentos. Ela promete a Cogburn que ele será enterrado ao lado dela no terreno da família Ross após sua morte. Cogburn aceita sua oferta e vai embora, pulando uma cerca em seu novo cavalo para refutar seu golpe bem-humorado de que ele era velho e gordo demais para passar por uma cerca de quatro grades.


Um faroeste cru, realista, que se preocupa em representar o lado duro do Velho Oeste. Não é uma trama "bonitinha", mas se preocupa que a mulher também pode ser forte. Por isso, nesse filme a inteligência também é uma arma. Um clássico do faroeste indispensável.




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