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Johnny Guitar (1954): O "faroeste de violão" de Joan Crawford e as mudanças em Hollywood durante a era do macartismo


Johnny Guitar é um filme de faroeste de 1954, dirigido por Nicholas Ray, e que estrela a atriz da Hollywood clássica, Joan CrawfordNos arredores de uma cidade que produz gado no Arizona, ela interpreta uma forte e carismática dona de um saloon chamada Vienna. O saloon mantém uma relação instável com os pecuaristas locais e os habitantes da cidade. Ela não só apoia a ferrovia que está sendo colocada nas proximidades (os pecuaristas se opõem a ela), como permite que Dancin' Kid (Scott Brady) e os outros membros de seu bando frequentem seu saloon. Isso até a chegada do violeiro Johnny Guitar, com quem Vienna vive um relacionamento de amor e ódio  

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Os locais conservadores (ligados a associação pecuarista), odeiam o saloon de Vienna. Eles são liderados por John McIver Emma Small (antiga rival de Vienna em relação ao Dancin Kid), esses desentendimentos forçam Vienna a sair da cidade. 


Quando incriminam  Dancin' Kid, se desenha uma situação perfeita para se acirrar as diferenças, já que eles são amigos. 



Vienna os expulsa com ajuda do misterioso Johnny Guitar, que depois é contratado para defender Vienna, seu antigo amor. McIvers intima Vienna, Johnny Guitar e Dancin' Kid a sair da cidade em 24 horas. 


Descobrimos que Johnny era na verdade, o antigo namorado de Vienna, e pistoleiro cujo nome real era Johnny Logan. Vienna enfrenta os locais com determinação, com a ajuda do recém chegado e misterioso violeiro Johnny Guitar, com quem tem um relacionamento de amor e ódio (já que ele também é ex da senhora conservadora). 



Dancin' Kid e sua gangue roubam o banco da cidade para fugir para a California, mas o caminho foi bloqueado por  um grupo da ferrovia que dinamitaram um pedaço de terra. Ema Small convence os moradores da cidade que Vienna teve participação do roubo ao banco, por ela estar lá no dia, o que o bancário diz que não aconteceu, já que ela tentou convencer o ex a não roubar o banco, Emma argumenta que era de caso pensado e convence todos a irem até o saloon, estimulando o linchamento contra o lugar.  


 

Os moradores colocam fogo no bar de Vienna e ela foge muito triste de ter que ir embora da cidade e largar seu saloon. 


Vienna foge com Johnny Guitar e encontra o grupo de Kid em um refúgio deles fora da cidade. Porém uma ofensiva final da cidade contra ela, resulta em um final inesperado.  



Crítica do Filme


A personagem de Vienna é um como porto no filme. Como uma senhora dona de um saloon (bar) cheia de carisma e influência, ela representa para a cidade um princípio de neutralidade e alívio. 


Ela é ex do bandido, mas agora está enamorada do forasteiro que parece não gostar de violência, enquanto isso, o elemento da população local e a cultura do linchamento.



Emma Small convence os moradores da cidade que Vienna é culpada como os outros, e ele vão até lá para afugentar Vienna. 


Aqui, a ideia de poder feminino é debatido entre o feminismo conservador de Emma, e o feminismo liberal de Vienna, que parece curtir a vida mais que Emma, que parece se ruma carola mal amada, que nunca esquece seu antigo namorado bandido (o "Dancin' Kid"), por isso ela quer tanto acabar com Vienna. 



Os filmes de faroeste talvez sejam os tipos de filmes mais democráticos e acessíveis para pessoas com origens de classe e financeira diversas por sua simples elaboração e disseminação, sendo um dos gêneros que fala sobre política, desenvolvimento social e regional, como também, debate o papel da violência no processo de formação das sociedades. 


Os  chamados "faroestes de violão", aqueles focados mais em outras temáticas que não o gado, o cavalo e a arma, tem uma característica de debater a concepção de segurança pública da sociedade. Apesar de Johnny Guitar usar um violão para entreter, é exímio atirador, mas não quer usar armas, acredita que armas apenas trazem violência. Mas isso pode ser um eufemismo, já que na realidade do velho oeste, é óbvio que todos andavam armados nos Estados Unidos. 



Principalmente a partir do século XIX. Dentro da cultura americana, o gênero de filme que utiliza do violão para a venda do carisma do herói cowboy podem ser acusados de levantar a pistola sem levantar a pistola. 


Como diz a própria Vienna em parte do filme, "garotos que brincam com armas, devem aprender a morrer também como homens", parecendo assim referenciar o debate sobre violência e consciência. 



Como assim? O namorado bandido de Vienna foi a opção que ela escolheu depois de ter terminado com Johnny Guitar da primeira vez, mas que ela também terminou, ou seja, terminou com os dois tipos de relacionamento, com o cowboy violeiro, e o cowboy bandido mais violento. Uma pergunta esse filme suscita, qual é a relação de um estabelecimento local com as ilegalidades e ilegalismos que acontecem em volta dele. 


Os habitantes da cidade passam a culpar Vienna pelos crimes de alguém que ela namorou no passado, com Emma tentando convencer a todos que Vienna sabe dos crimes de Kid. O debate é interessante. Apesar de estarem em conflito, os dois perfis de ex namorados, um é bandido, fora da lei, e o outro recusa a pistola, usando a viola por ser pacifista, e os dois querem salvar Vienna, são como tropos narrativos, os dois lados possíveis de cowboys. 



O diretor de Shane, por exemplo, não gostava muito dessa moda, se dizendo contra a estilística "light" para retratar westerns, algo que poderia retirar o elemento de política e consciência de classe que faroestes como Shane possuem. 


Em Johnny Guitar, abraçamos o Foucault, o feminismo liberal ocidental, pelo filme também defender uma postura de combate ao macartismo padrão que estava acontecendo nessa época dos anos 1950. Os amigos do Dancin' Kid são constantemente acusados de assaltar a diligência (stagecoach), e por isso a população local se insurge contra eles de maneira autoritária.

 


O filme foi feito pelo estúdio Republic, que fez filmes memoráveis como o Macbeth de 1948, dirigido e estrelado por Orson Welles, que gerenciou a carreira de John Wayne, Gene Autry, e Roy Rogers (o cowboy mais famoso de todos tempos da televisão americana), todos esses produtos erma visões "positivas" "progressistas" do imaginário do cowboy americana, entre violões e guitarras, como também está inserido o contexto do filme Johnny Guitar, um faroeste que ironicamente, é nomeado homenageando a figura do forasteiro, cowboy recém chegado, que apesar de saber atirar muito bem, não gosta de andar armado e prefere a companhia de uma viola, um arquétipo clássico dos faroestes. 


A acusação dos faroestes mais sérios seria que esse tipo de pautas internacionais transversais, de revolução do corpo estariam rivalizando com o tipo de faroeste de tese, com consciência, que buscavam debater o poder do estímulo a autoridade e a violência como cultura. A associação dos pecuaristas é a grande maioria da cidade (isso é mais explicado no livro da obra). 



Os violões foram substituídos pelas calibres.45 sendo naturalizadas como brincadeiras banais pelas crianças americanas que cresceram sob essa influência da imagem dos filmes de bang bang. 


A maioria dos filmes do Republic eram em preto e branco, mas não Johnny Guitar. O filme foi marcante para a cultura popular, sendo um desses faroestes "lights", ao estilo spaghetti western que usam da ideia romântica para debater sujeito e sociedade. 



Emma consegue convencer a todos que Vienna tinha parte de culpa do roubo de seu antigo namorado (que também namorou Emma no passado). Eles tentam enforcar Vienna e Turkey e queimar o salloon, e é salva no último momento por Johnny Guitar. Vienna e Johnny escapam e encontram refúgio um canto secreto do Dancin' Kid. 



Os dois últimos homens do bando de Kid são mortos em um tiroteio. Emma desafia Vienna para um duelo e atira nela no ombro, Dancin' Kid chama Emma, mas é morto por ela com um tiro na cabeça dado por ela. Em resposta, Vienna atira na cabeça de Emma. Johnny e Vienna fogem e veem eles indo embora. 


Um faroeste diferenciado, meio fora da caixa. O fato de ser centrado em uma figura feminina é muito interessante e provocante, trazendo todo um universo de perspectivas e debates sobre representações. O filme em si é divertido, relaxante e com certeza se legitima como um grande faroeste clássico, independente de sua proposta de inovação de época. Um filme que além de recomendar acho super importante de ser mais conhecido para afastar a noção preconceituosa de que faroestes são "filmes violentos de macho", e perceber que ao falar em faroeste e western, estamos falando sobre todo o passado histórico e o processo de civilização, desenvolvimento e subdesenvolvimento da América, onde diversas perspectivas precisam ser interpretadas para tentarmos, talvez, reconstruir melhor o passado histórico em sua totalidade e complexidade, onde obviamente as mulheres não eram agentes completamente passíveis do processo histórico.



História por trás do filme


Crawford e Nick Ray estavam querendo fazer um filme que se chamaria "Lisbon" na Paramount, mas o roteiro não foi aprovado. Crawford, que detinha os direitos do livro Johnny Guitar, pois o autor Roy Chanslor dedicou para ela, trazendo o roteiro para a produção da Republic, e contratou Ray para dirigir a adaptação.  Nick Ray foi um diretor que influenciou muito a nova Hollywood, Já Crawford, era uma diva da era clássica do cinema americano, com filmes como "They Live by Night" e "Rebel Without a Cause". 


Crawford queria Bette Davis ou Barbara Stanwyck para o papel de Emma Small, mas elas eram caras demais para a produção do filme, pensaram também em Claire Trevor, mas ela estava enrolada na produção de outro filme. Finalmente Nicholas Ray trouxe McCambridge. A maioria do elenco e produção descreveram o comportamento de Crawford como gentil, apesar de alguns problemas entre Crawford e  McCambridge, Ray disse que foi maravilhoso, por reencenar na vida real a rivalidade que era esperada das personagens. As razões na vida real, dizem, é que Crawford já havia namorado o  marido de McCambridge, Fletcher Markle. 


Outro motivo seria que Crawford estaria namorando Ray (que estava resolvendo os problemas de produção do filme como diretor). Parece que Crawford durante uma das discussões jogou o figurino de McCambridge na rua, Ray disse também que Joan gostava muito de beber e ela gostava de brigar também. 



Em setembro de 2016, foi lançado a versão do filme em DVD Blu-Ray como parte de um relançamento de um arquivo com comentários de Geoff Andrews e diversas outras participações especiais, feitas por ação de arquivo de Martin Scorsese. Durante seu lançamento inicial, o filme arrecadou $2.5 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos. François Truffaut disse que o filme parecia um sonho, quase um delírio. Alguns acusaram o filme de focar em clichês clássicos do gênero western. 


Segundo Scorsese, a audiência e o público americano moderno não sabia o que fazer com esse tipo de filme, se ignoravam ou se rirem disso. Já a audiência europeia, por outro lado, gostaram muito do filme, e viram um intenso, não convencional e estiloso filme de faroeste revisionista, e extremamente moderno em seus temas, sendo gostado também por Jean-Luc Godard, que na época escreviam para a clássica revista "Cahiers du Cinéma". Truffaut também chamou de "a bela e a fera dos faroestes, um sonho de faroeste". 



Em 1988 no filme Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos, filme de Pedro Almodóvar que prestou uma homenagem ao clássico. O roteiro foi adaptado do livro homônimo de Roy Chanslor. Em 2008, o filme foi selecionada para preservação na biblioteca do congresso pelo seu valor cultural.  Produzido e distribuído pela "Republic Pictures". Também foi citado em filme de François Truffaut de 1969 "Mississippi Mermaid", com Catherine Deneuve e Jean-Paul Belmondo, eles discutem no filme em uma das cenas na rua sobre o filme. 


Em Bonanza, episódio 12.1 "The Night Virginia City Died", vemos um bar queimado. Esse tipo de cena é utilizada em diversos faroestes. Também é mencionado pelo heroi principal do filme "Pierrot Le Fou" (1965), de Jean-Luc Godard, como também foi citado por Henri, personagem de "La Chinoise", que é expulso do grupo revolucionário por defender o filme. Imagens do filme foram usadas no livro de Guy Debord "A Sociedade do Espetáculo". O título da música é escutada através de Mojave Wasteland, no famoso jogo Fallout: New Vegas.


Comentários

  1. Gosto muito desse filme clássico sendo um dos dez westerns preferidos junto com Shane,Matar ou Morrer,O Matador,Winchester 73

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  2. Com certeza, um belo filme. Já o assisti muitas vezes e ainda quero assistir outras tantas.

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