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Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo (1968) de Eric Hobsbawm: Livro discute a ascensão e queda do laissez-faire



O título do livro original em inglês é  "Industry and Empire" e foi publicado pela primeira vez em 1968, impresso pela editora Forense Universitária, e aborda a construção dos 200 anos da industrialização inglesa, desde 1750. Sendo uma leitura garantida dos cursos de história econômica, o jeito didático e informativo das fontes de Hobsbawm tornam esse livro único, onde aborda os principais marcos sobre a construção do imperialismo, e ao mesmo tempo, a construção do trabalhismo simbológico do labor party e o fim do laissez-faire liberal clássico (de 1820-1850) devido a necessidade história, e o nascimento da tradição do profissional liberal pós 1880


Capítulo 1 - Grã-Bretanha em 1750


O livro fala sobre o começo da revolução industrial e os motivos do pioneirismo inglês; A revolução industrial começou em 1750 na Grã-Bretanha, a primeira grande oficina aberta da história da humanidade. Desembarcando em Dover ou Harwich, dava para ver todo o agito correspondente ao momento histórico.


O turista que visitasse Londres nessa época se assustaria com quase 750 mil de população local. Nenhuma outra cidade tinha mais de 50 mil habitantes na Inglaterra. Como diria o Abade Le Blanc, "multiplicavam-se os homens e diminuíra a labuta exercita por eles". Também pudera, já que as jornadas de trabalho individuais nessa época podiam chegar a quase 16 a 18 horas por dia. Outra característica do desenvolvimento inglês foi o lugar onde rapidamente a classe média tomou o poder com maior facilidade, além de ter sido um dos primeiros locais do mundo a abolir o campesinato, depois da privatização dos campos. 


Os principais recortes do livro, o primeiro deles é de 1750,  vemos também o fim do laissez-faire liberal clássico (de 1820-1850) devido a necessidade história,  e o nascimento da tradição do profissional liberal individual pós 1880.  As cidades portuárias do século XVIII se orgulhavam de relativa opulência, que contrastava com a brutalidade dos bares e bordeis próximos aos portos. Também o comércio de escravos estimulado pela próxima Inglaterra que viria depois boicotar a prática, também foi um dos motivos de riqueza acumulativa. Também era a época do começo da alta qualidade e da troca comercial sem fim com os produtos coloniais. As minas de carvão de New Castle já sustentavam em combustível o arcabouço fabril inglês que crescia a cada dia. 


A Inglaterra clássica e sua monarquia consistia-se em um sistema de aproximadamente 200 famílias que dividiam o poder, eles eram a elite pós revolucionária, pós Cromwell fazia guerras e intervenções comerciais através da necessidade de se manter no poder e manter os privilégios comerciais da Commonwealth inglesa, mesmo os Whigs (os perucas/liberais anti sistema) sabiam da necessidade de guerras por motivos comerciais. 


Capítulo 02 - "A Origem da Revolução Industrial" 


O capítulo explora mais os fatores políticos e não geográficos ou climatológicos que poderiam ter ajudado a impulsionar a revolução, argumentando, por exemplo que mesmo Lancashire sendo úmido e propício para cultivo de algodão, isso não explica porque teve concentração apenas ali e não em outras áreas. Tinha acumulado capital mesmo antes da expansão ferroviária no país. 


Zona de fábricas de Lancashire, Inglaterra.


O desenvolvimento do mercado interno foi uma das consequências dessa acumulação de bens e serviços, isso se realizou muito mais do que apenas por fatores ou climáticos ou econômicos. Em 1750 já não havia campesinato dono das próprias terras, por exemplo. Ele exemplifica dizendo que os fatores que geraram a revolução industrial existiam enquanto tese desde o século XVII, mas apenas um século depois o mercado interno nacional estava totalmente formado, e outra curiosidade, é que quando ele se formou completamente foi em cima de pesadas interferências estatais. Outro fator importante,  é a aceleração da produção em massa, disposta a criar pelo baratear dos produtos um novo mercado consumidor, o maior exemplo disso já no século XX foi o T-Ford de Henry Ford que fez do carro popular: 


"A produção em série de artigos baratos pode multiplicar seus mercados (p.38)". Em termos de mudanças no seio da população, temos o levantamento de três perguntas básicas: O que aconteceu com a população britânica? e Por quê? Qual o efeito dessas mudanças da população sobre a economia? Qual efeito tiveram sob  a estrutura do Império Britânico?  Antes de 1840, praticamente não havia registros formais de nascimentos e óbitos. A informação que temos é que após 1750 a população britânica apenas aumentou de tamanho, com o fim por exemplo da morte de nascituros e o começo do uso de assepsia em cirurgias em geral, isso no século XIX, com o médico Joseph Lister. A população inglesa duplicou em apenas 50 anos, por exemplo. 


Mas tudo isso não teve a importância da Segunda Revolução Industrial. Em 1700, a maioria do mercado de ferro ainda era sustentado por partes de peças feitas ainda para o arado e outras peças do dispensário  de economia rural, a indústria do ferro, metal de grande valor para a revolução industrial, ainda era fraco perante a economia do carvão no século XII. Hobsbawm apostava na questão da integração de poder regional britânica como fator de explicação. 


A produção de algodão foi a primeira a se intensificar e vinha seus insumos em grande maioria, da economia ultramarina das colônias inglesas. Isso aplica as estratégias inglesas de sabotagem economia e economia de monopólio, obtidas através de interferências e guerras. Vale lembrar que a marinha da ilha ainda era a maior naval do planeta até então. 


Esse é o começo das importações de produtos associados a modernidade, vindos tanto da Ásia, quanto das Américas, como café, cânhamo, fumo e açúcar aumentaram da faixa de 17,5% para 56% nos fins do século XVII (mostrando o aumento do consumo de produtos tropicais por parte dos britânicos). Ele cita as Plantations (lavoura agro exportadoras) no Brasil e a escravidão na América, com a presença de 7 milhões de pessoas que foram escravizadas e trazidas de seu continente de origem (P.49). Outra informação de ouro é a comparação do nosso país com o México em termos de ter vivido uma espécie de "restauração monárquica" ideológica e tardia que mirou assaltar o estado. Os produtos vindos da chamadas Índias Orientais eram essencialmente pimenta. Mas Abade Raynal, por exemplo já escrevia sobre o que os ingleses deviam moralmente e economicamente a Índia.  


Capítulo 3 - "A Revolução Industrial (1780-1840)"


fala um pouco sobre as inovações tecnológicas do período em termos de maquinário. A única fabricação de algodão puro conhecida na Europa no início do século XVIII era na Índia e enfrentava uma concorrência pesada da produção local inglesa. Mas é no século XVIII que começa a competição da produção de algodão com as plantations americanas do Sul dos Estados Unidos, que passaram depois de 1790 a enfrentar diretamente o mercado inglês. 


Isso significa em palavras simples que o maior centro de produção de produtos capitalistas da época cresceu e prosperou graças ao trabalho escravo nos Estados Unidos. O fim do monopólio de exportação de tecidos veio com o fim da primeira guerra, quando japoneses, indianos e chineses resolveram produzir suas próprias roupas e assim pararam de depender da produção inglesa. 


"Como se sabe, o problema técnico que determinou a natureza da mecanização na fabricação do algodão foi o desiquilíbrio entre a eficiência da fiação e da tecelagem. A roca de fiar, o mecanismo muito menos produtivo que o tear manual, principalmente, aquele acelerado pela "lançadeira volante (flying shuttle)", inventada e disseminada em 1760, não supria os tecelões com fios com quantidade suficiente." (P.55).  Já o tear mecânico veio depois em 1787. 


"a lançadeira volante (flying shuttle),  foi uma invenção de John Kay de 1735, que revolucionou a indústria têxtil aumentando sua produção e permitindo a as tramas multicoloridas.


Aí que tivemos o advento de 3 importantes invenções que moldaram a história da produção mundial, o "filatório" (spinning jenny) de James Hargreaves.



Essa invenção foi que permitiu os artesãos trabalharem com vários fios aos mesmo tempo na produção, também teve o tear movido a força hidráulica (water frame), de 1768, colocando em prática a ideia de fiar com uma combinação de rolos e fusos, fez surgiu a "mula" da década de 1780, e que logo foi aplicada a energia a vapor, formando uma grande evolução do processo de produção de fios. Vale lembrar que em termos de invenção, muitos eram os roubos. O próprio Kay foi empregado de Richard Arkwright, e pretendiam aprimorar as máquinas em benefício da maior eficiência de custo de produção da indústria. 



A spinning frame, de Richard Arkwright, 1764


Como era muito grande para ser operado em mãos, a 'spinning frame' precisava de uma nova fonte de energia, Arkwright experimentou com cavalos, mas decidiu usar a energia hidráulica.


A revolução no campo da química foi imensa nessa época. Em 1786, era sugerido a James Watt de que o cloro fosse usado para descoramento, também foi dele o protótipo do primeiro motor a vapor. Foi o surgimento de nomes intermediários novos ricos como o Barão Robert Peel. Foi nessa época que começou as atividades sindicais que antes não tinham representação ou organização específica, criando uma tradição de sindicatos subordinado.



James Watt e a seu modelo Máquina à Vapor



As indústrias também absorviam o modernismo geral, agora no início do século XX já haviam as primeiras fábricas iluminadas com luz a gás. Entre 1778 e 1830 já havia os "verdadeiros trabalhadores" do sistema. E várias das rebeliões eram patrocinadas por fazendeiros locais. Nomes como Robert Owen que escreveu "The Effect on the Manufacturing System" rejeitavam a ideia de que todo esse avanço técnico era por exemplo fruto puro do capitalismo, separando revolução industrial de apologia ao capitalismo, que nessa visão seriam os responsáveis pelo pauperismo e pela exploração em geral.


"A fábrica era realmente uma forma revolucionária de trabalho, com seu fluxo lógico de processos, cada qual uma máquina especializada a cargo de um "braço" especializado, todos ligados pelo ritmo constante e desumano do motor. Em 1838, apenas 23% dos trabalhadores da "indústria doméstica" eram de homens adultos, tinham preferência pela contratação de mulheres e crianças, pois assim podiam pagar salários mais baixos. 




Isso antes das leis básicas de regulação do trabalho e jornada de trabalho. Nenhum período da história da Inglaterra foi tão conturbado e cheio de mudanças quanto esse. Entre 1829-46 os trabalhadores já não conseguiam comer com o salário das fábricas e logo veio a Reforma Parlamentar; O movimento cartista pedia a greve geral,  a classe média já queria outras coisas, como o lock out. A impressão é que os empresários da época morriam de medo de qualquer redução em seus lucros. 


O debate econômico da época era intenso e acalorado, todos tinham uma teoria política favorita para debater que seria melhor para o sistema. Em 1813, o comitê da Câmara dos Comuns recomendou não admitir grãos do estrangeiro até que o grão doméstico alcançasse 80 xelins por quarto de centena. O economista Thomas Malthus acreditava que era perigosa essa dependência, enquanto David Ricardo acreditava no livre comércio.


Após as guerras napoleônicas, os preços dos grãos voltaram a cair e o Conde de Liverpool aprovou a Lei do Trigo (corn law) em 1815, isso levou ao Massacre de Peterloo em Manchester, assa manifestação foi uma antecipação da crescente corrente radical que foi reprimida por medidas posteriores tais como as "Six Acts" foram responsáveis por evitar uma verdadeira revolução na Inglaterra que passou por distúrbios violentos na época.  


Pintura do Massacre de Peterloo, onde 18 pessoas foram mortas e 600 ficaram feridas, em 1815, publicado por Richard Carlile, em 1819.


Capítulo 4 - Os Resultados Humanos da Revolução Industrial, 1750-1850 


O capítulo começa com o argumento da importância da aritmética para a revolução industrial. O debate central em termos humanos e sociológicos é pensar quais são as consequências práticas da revolução industrial e seu advento progressivo. Esses cálculos simples eram a base do pensamento de indivíduos como Jeremy Benthan, onde as políticas públicas de governo eram objetivadas para provocar o resultado da "felicidade".


Uma espécie de "cálculo felicífico" nas palavras do próprio autor. Ao exemplo da Inglaterra vitoriana, desde 1840, o advento das escolas públicas era novidade até então no mundo, "a fim de civilizar os pobres". As profissões cada vez mais corruptas e entorpecidas demonstravam seu poder através das universidades inglesas e da igreja, acomodadas em suas rendas e privilégios se tornavam cada vez mais reacionárias. Os funcionários públicos e advogados em geral eram incorrigíveis. Esse foi o período que muitos banqueiros entraram para a política e para a elite na Inglaterra. Como a classe média crescia vertiginosamente, nem todos eram assimilados. Alguns núcleos de esquerda começaram a surgir contestando as leis da época, como a Liga Contra a Lei do Trigo. 


Já a primeira das chamadas "Leis dos Pobres" eram compensações desejadas para a normalidade não ser interrompida toda hora com revoltas e motins, segundo a classe média as associações anônimas (guildas), seguros proto sindicais já eram um bom sistema dos pobres para os pobres de auxílio, tudo isso surgido após 1815, mas a classe média não entendia a atenção especial aos funerais e ritos fúnebres que possuíam os mais pobres, que se endividavam para patrocinar e pagar enterros, sendo daí que saiu o primeiro tipo de auxílio ao trabalhador, o auxílio funeral. Poucos estatutos foram tão nocivos quanto a Lei dos Pobres de 1834, que tornava qualquer benefício social incompatível com os salários diretos, constituindo a base do sistema social de proteção social aos ingleses até quase a Primeira Guerra mundial, a experiência britânica de pouca previdência social foi o legado que vemos nos romances de Charles Dickers, como também na percepção do que Charlie Chaplin retrataria em filmes como Tempos Modernos.  


Até 1850, 10% da população britânica era composta apenas por indigentes (mendigos). Os sindicatos começaram no século XVIII através de reuniões de "barganhas coletivas" ministradas na porta de fábrica de maneira esporádicas e foram cada vez mais se especializando, entre mineiros, tecelões e embarcadiços, além dos tricotadores (p.84). Os historiadores tem debatido acaloradamente em torno do tema do aumento da riqueza ou não. Alguns argumentam que a riqueza veio acompanhada de extrema pobreza, outros que fazia parte de um processo natural de acumulação de capital. 


As fases de ênfase de agitações políticas foi de 1829- até 1835 assistiu ao começo dos sindicatos gerais (berço da unicidade sindical). Um viajante prussiano observaria o alto nível de poluição que corria solta, mas ao mesmo tempo, todos em volta eram muito bem nutridos, a partir de 1830, ninguém realista poderia falar a mesma coisa, ainda mais depois da famigerada "Lei dos Pobres" que restringia muitos direitos dos trabalhadores.  O viajante americano Colman, por sua vez observou que por nada nesse mundo queria ser um trabalhador com família na Inglaterra, indagando se os frutos indesejados dessa revolução industrial nas futuras gerações não levantariam questionamentos dos resultados desse capitalismo ao qual eles eram submetidos. (p.89). 


Capítulo 5  - "A Agricultura", 1750-1850


O capítulo começa com uma informação importante,  desde 1850 que a agricultura não representava para a Inglaterra o que significava para os outros países da época, mostrando a ascensão de um novo modo de produção econômico. Para entrar na alta roda da política britânica era necessário ser proprietário de terras, isso praticamente garantia um lugar no parlamento. 


O cercamento dos campos (enclosure acts) expulsou os camponeses de suas casas em propriedades que eram públicas, onde trabalhavam e moravam, isso acelerou vertiginosamente a procura por casas insalubres nos grandes centros urbanos, também próximos aos novos empregos típicos da revolução industrial. 



Uma análise minha sobre o que Hobsbawm quis dizer com essas informações duplas de valor em relação a Lei dos Pobres de 1834, é que pode-se traçar um início de uma política injusta, já que condiciona o recebimento do salário a não receber benefícios nenhum extra dentro de um espaço urbano, mas tentava compensar e manter nos espaços rurais os trabalhadores desempregados que não queriam que fossem para as grandes cidades. Essa medida compensatória condicionou também opinião política e os trabalhadores em uma corda bamba de direitos, já que os campos haviam sido privatizados e havia uma forte opinião de ressentimento de muitos pobres rurais em relação ao governo inglês. Formando laços de uma relação social de oligarquias rurais. 

 

Esse processo casado com a Lei dos Pobres aumentou o nível de pobreza do britânico comum em ampla escala, era o fim do campesinato e do pequeno produtor rural, ele seria expulso paulatinamente de sua terra, ou por força, por lei ou por falta de dinheiro para manter os impostos. Antes era permitido jogar futebol e depois apenas se você pedisse licença podia jogar com seus amigos sendo alguém pobre ou popular. O que fez surgir o sistema Speenhamland, para manter os desempregados rurais em suas casas para não abarrotar ainda mais as cidades. 


A mudança técnica em nível da agricultura foi vista com algumas invenções chave, como o tubo de escoamento cilíndrico de barro, os fertilizantes novos como o superfosfato foram patenteados em 1842, por exemplo. Uma forma de "agricultura adiantada (High Farm)" e especializada que começou a ser realizada. Já na década de 1850, houve um certo aumento no no nível até do mais miserável trabalhador devido ao aumento das estradas, criação de ferrovias e aumento das técnicas de agricultura provocaram também um relativo aumento nos salários, também devido ao êxodo rural. As Leis do Trigo foram abolidas em 1846, abrindo o mercado interno britânico pela primeira vez em  30 anos. Já no fim do século XVIII, toda a nobreza abandonara a ideia de possuir grandes espaços de terra. 


Capítulo 6 - Industrialização: A Segunda Fase (1840-1895) 


É nessa segunda fase que fica clara a potência da química pesada, a utilização de minérios, como o petróleo e o começo da luz elétrica. Os motores de combustão interna alteraram para a sempre a forma de produção e a indústria como um todo. 




A primeira fase da industrialização compreende de 1750 até 1840, e a segunda de 1840 até 1895.  em nenhuma época da história da humanidade as exportações britânicas foram tão impressionantes e em tão ampla escala. Havendo dois momentos de crescente no quesito de novas estradas de ferro, a pequena mania ferroviária durou de 1835-37, e a gigantesca febre de ferrovias posterior de 1845-47, chegando em 1850 com a maioria das básicas estradas de ferro construídas. A locomotiva, máquina a vapor foi uma das grandes invenções da história da humanidade. As estradas de ferro foram as principais responsáveis reais por um grande aumento de produção em dobro. No fim do século XIX, a Alemanha e os Estados Unidos já despontavam como novas grandes potências industriais para competir com os ingleses. 


Ao fim da década de 1867, a legislação fabril de fábricas como no setor têxtil foram levadas para outras partes da produção industrial pela primeira vez. A lei de 1833, e depois a Lei de 1844, e finalmente, a lei das 10 horas de 1º de maio de 1848, reconhecido por todos no mundo internacionalmente, como o dia internacional do trabalho. 


As leis de 1871, e 1875 tornaram os sindicatos muito livros, portanto agentes conservadores procuram vetar essa liberdade toda concedida as organizações sindicais. Mas a principal reforma de todas foi a reforma política, a chamada Reforma de 1867, que concedeu pela primeira vez o voto da classe trabalhadora na história da Grã-Bretanha. Depois disso, o liberalismo econômico clássico inglês foi acentuado e perdeu seu brilho com a perda de postos na competição mundial para a Alemanha e os Estados Unidos, esse período compreende o fim do século XIX até a Primeira Guerra. 


Digamos que é a depressão ao estilo "titanic" do império desmoronando em sua perspectiva de dominação total, ao estilo "ter sempre um sol nascendo como solo inglês", e outros princípios da dominação colonial. Essa é a ligação com essa chamada "grande depressão", um período de perda de inspiração e de fim da grande hegemonia britânica no mundo, a chegada do padrão dólar, diversas mudanças reais e significativas em termos de sociedade. Dessa sanha e "depressão" surgiu a ideia de neo colonização da África, essa ideia de "partilha". 


Capítulo 7 - A Grã-Bretanha na Economia Mundial (P.124)


O país produzia 2/3 do carvão mundial, 5/7  de aço do mundo. Já em termos de mercadoria, apenas 1/3 das manufaturas do mundo. Começando perdendo para os Estados Unidos.  Com exceção do carvão, não havia muita abundância de produtos, explicando a necessidade inglesa absoluta de "manter suas colônias" e áreas de influência em geral.  


O resultado do imperialismo seria como resultado a formação de toda um circuito de economias que fossem dependentes da economia britânica. Eles possuíam um amplo leque de clientes fixos, como o algodão nos Estados Unidos, ou vinho em Portugal, onde eram os ingleses os principais compradores. 


Em 1870, começa um intenso comércio internacional de comida, como carnes e trigo, vindos principalmente de países como Argentina, e países como Nova Zelândia já despontavam na área de laticínios, e depois mais o Brasil. A primeira parada do escoamento das mercadorias britânicas foi a América Latina no período pós crise de 1870, o segundo mercado eram as Índias Orientais nome antigo para  as ilhas de Antilhas e Bahamas. Sendo a Ásia a região que mais "salvou" a economia britânica no período posterior. 


Capítulo 8 - Padrão de vida, 1850-1914  


A ideia de imperialismo e dominação foi substituída para sobreviver o sistema inglês por uma diplomacia de "esferas de influência" no mundo. Hobsbawm nos lembra que essa noção romântica sobre o padrão inglês foi construída ao longo do tempo, reparando que 77% da população do fim do século XIX na Inglaterra era composta por trabalhadores comuns, que só puderam votar na década de 1867 para frente. Os mineiros em 1871 ganharam o direito de descanso no fim de semana.


Os salários médios aumentaram em cerca de 40% para depois estagnar durante um bom tempo. Mesmo durante esses anos de "depressão" e estagnação dos salários, que compreende o início do século XX até a Primeira Guerra.  Nesse sentido que Hobsbawm se refere ao aos celebrados como "anos áureos" não eram tão áureos assim, nas palavras do autor. Em 1890. dava para comprar uma bicicleta ou máquina de costura apenas por 4 libras. A lei do Seguro Nacional de 1914 simbolizou um marco importe regulatório para a formação da previdência social inglesa. Mesmo com esse valor baixo da bicicleta, os baixos salários tornavam esse meio de transporte não disponível aos mais pobres. A mudança em termos de transporte público foi o início da circulação de bondes, para atender a demanda de circulação de ida e vinda desses novos trabalhadores. (P.152). 




Em 1885 ocorre a profissionalização do esporte, e com o tempo, o futebol se tornaria a sólida instituição que é na Inglaterra. A formação do "estilo" tradicional dessa classe trabalhada tão celebrada na moda Beatles e nos programas de televisão dos anos 1950 não era tão antiga assim, na verdade, esse alcance da maioria ao Estado de bem-estar social era um advento fruto do século XX. Surgindo a Grã-Bretanha mítica dos cartazes de turismo e calendários do Times e de uma propaganda oficial de país.


Capítulo 9 - O Começo do Declínio 


A indústria americana toma a dianteira da produção, em termos de armas e outros bens de consumo duráveis. Também é o começo da ideia de organização científica nos processos de produção de fábricas, como também é o século que descobriu e dominou a eletricidade com a invenção da lâmpada. 


Hobsbawm conclui que a Grã-Bretanha exportou seu modelo de desenvolvimento e de suas estrutura de capitais para empreendimentos no mundo inteiro. Esses foram os anos da súbita emergência do Partido dos Trabalhadores (Labour Party), mesmo que o impulso radical-liberal sobrevivendo a revelia. 


O partido conservador tinha sobrevivido sendo o refúgio de nobres após a adoção do Livre Comércio depois de 1870. Na contra mão,  industrial e imperialista Joseph Chamberlain, que se converteu em advogado do protecionismo. Os banqueiros da "ortodoxia do Tesouro" britânica era um quixotismo dos economistas que acreditavam que a "oferta criaria sua própria demanda", sendo um dos principais elementos da crítica ao liberalismo ortodoxo e na criação de um arcabouço heterodoxo, quando teve a crise de 1929 e provou o ponto da superprodução como errado. Uma curiosidade extra é que Joseph Chamberlain é pai do primeiro ministro Neville Chamberlain, que governo o Reino Unido de 1937 até 1940, sendo conhecido por ter assinado o "acordo de Munique". 



Capítulo 10 - A Terra, 1850-1960


Em 1930, a agricultura não representava mais nem 5% da receita britânica. Até 1885, os proprietários de terra não constituíam ainda a maioria do parlamento.


"No regime de Livre Comércio, a agricultura refletiu o triunfo da economia de intervencionismo estatal de meados do século XX, a agricultura demonstrou as possibilidades de modernização econômica de maneira mais convincente que a indústria."


A agricultura britânica sofreu uma grande revolução em técnicas e modernizações durante o século XIX e no XX, algumas práticas de controle estatal em períodos de crise nos fazem duvidar da ideia de laissez-faire real nas estruturas fundadoras de economia e governo. A agricultura sempre vai sofrer com algumka forma de ordenamento por parte do estado. 


Na guerra, os britânicos tinham (a la 1984), "Comitês Agrícolas de Guerras", que operavam no território ao nível dos condados e lembravam os planos agrícolas soviéticos, semelhantes as 'Estações de Máquinas e Tratores'. Em 1960, a produção agrícola britânica por conta dessa herança da guerra, ostentava o lugar de maior produtora da Europa. A agricultura não era mais como uma ideia de "meio de vida". Com a privatização dos campos, a agricultura moderna e "eficiente" britânica se tornava uma empresa. 

 

Capítulo 11 - Entre as Guerras 


Após 1930 a Inglaterra sofreu com um aumento desenfreado no desemprego deu a possibilidade para a ascensão de políticos do partido trabalhista em 1950. Era a Era do Estado de Bem-estar social. Em 1930 em diante, o país sofreu um período de crise, desde então, o setor automobilístico passou a ser subsidiado pelo Estado. 


Em 1920, o começo do uso em massa de tecnologias como o rádio e o cinema. A BBC surgia como um meio público que levara seu editorial para todas as casas que tinham um rádio. Até 1924 a indústria britânica produzia metade das mercadorias do mundo, 10 anos depois, perdeu a hegemonia dos mercados, produzindo 37,6 apenas. 


"Era um país com dois setores divergentes da economia, o decadente e o em ascensão, ligados apenas por três fatores, as grandes acumulações de capital, a crescente interferência estatal e o arcaísmo derivado do ajustamento invulgarmente bem sucedido da Grã-Bretanha ao padrão do capitalismo liberal mundial do século XIX. Em 1939, a economia liberal estava morta."


A reflexão final é que a morte do modelo de economia liberal clássica preparou no século XX o mundo para passar por experiências economias onde era cada vez maior o papel da Estado na economia. 


Capítulo 12) Governo e Economia


Hobsbawm diz no início desse capítulo o tema central do livro, o estudo do modelo liberal clássico inglês, sua visão ideológica e sua progressiva queda em favor de nomes modelos econômicos. 


"No entanto, entre essas duas eras, que representa maquilo que poderia ser chamado de 'a norma da história', e na verdade da razão, houve uma época na qual a atitude fundamental do governo e dos economistas era oposta, quanto menos conseguisse intervir na economia, melhor. Num sentido mais amplo, essa era de abstenção, o triunfo e o domínio da Grã-Bretanha industrial,  e na realidade, compreendia a situação econômica e social para apenas alguns países semelhantes, em essência, a história da teoria e da política, é a história da ascensão e da queda do laissez-faire". (p.209)


Era inevitável que a economia se transformasse em uma "ciência sinistra". O laissez-faire total seria uma contradição em si, já que qualquer governo, mesmo conservador dita empregos e o exercício de sua influência através dos empregos no Estado e isso é uma participação bem grande dos orçamentos nacionais. 


Em 1834, Hobsbawm volta a discutir os efeitos pesados da Lei dos Pobres (um estatuto que vinha desde os tempos dos Tudors, a antiga poor law, mas que foi reformulado para pior, sendo uma das piores leis já aprovadas no parlamento inglês). A Lei dos Pobres foi muito pesada para o povo. Condicionado a prestar serviço em asilos e albergues, as crianças eram obrigadas a frequentara escola e quem não trabalhava era açoitado e até mesmo preso ou condenado a morte. 






O moderno sistema fiscal conservou a primeira das vigas mestres e substituiu a segunda pelo imposto de transmissão, que representa um tribuno sobre as propriedades, mas acima de tudo, acrescentou uma terceira, o imposto de renda progressivo. 


A maior parte do orçamento desde o século XVIII correspondia a receita de empresas públicas, como os correios, e do novo imposto para carros. O imposto de renda foi adotado no período das Guerras Napoleônicas, até 1842, quando passou a ser adotado permanentemente. A economia primitiva que mirava no imposto sobre produtos e mercadorias caiu em desuso exatamente por conta desses argumentos utilizados por Hobsbawm. 


O padrão ouro veio para garantir a valorização real da moeda e tornar a economia mais estável, quando foi abolido em três momentos, (1797, 1914, 1931).  Apesar disso, outras formas de pagamento na época existiam, como os cheques e letras de câmbio. A estabilidade da libra repousava na influência do mercado externo inglês. 


O governo britânico passou então a se relacionar diretamente com os produtores principais de capitais e empresas, como a Anglo-Persian Oil Company, ou com o próprio Canal de Suez, a companhia de navegação Cunard, onde foram acusadas autoridades da política britânica da época foram acusadas de corrupção e lobby.   Em 1930, produtos e mercadorias básicas, como (porcos, leite, batatas e lúpulo) chegaram a beira da nacionalização. Nos anos de 1960, Hobsbawm brinca que John Stuat Mill se impressionaria com o aumento considerável do estado por lá.


Capítulo 15 -  A Outra Grã-Bretanha



Hobsbawm aponta o motivo de falar sobre a Inglaterra em foco, mas nesse capítulo ele se dedica aos outros países do Reino Unido, País de Gales, Irlanda e Escócia. Alguns desses países nada sentem que tem em comum com a ideia central de Inglaterra, principalmente no auge do liberalismo clássico em vigor. Gales foi absorvida pela Inglaterra em 1536. 


O florescimento da revolução industrial e a inserção econômica desses "parceiros comerciais" possibilitou o nascimento de uma tradição do campesinato, ligado as línguas celtas tradicionais, e também protestante. O país continuava a ser um país de agricultura familiar, apesar da maioria das propriedades serem alugadas a arrendatários.

 

Em 1840 houve uma grande fome na Irlanda por conta da falta de batata (como em Adam Smith), que sempre foi um importante alimento na Irlanda. Isso levou a um despovoamento dessas regiões em direção aos centros do capital inglês para escapar da fome. Depois disso, houve uma corrida em torno de melhorar a agricultura. A agricultura chamada de progressista seria essa técnica de análise da capacidade do solo para melhorar as colheitas. Também foi nesse contexto que ocorreu a conversão forçado ao protestantismo, popularizando o termo "take the soup" (tome a sopa) para se referir a prática de converter e alimentar na época da grande fome e virou uma grande questão nacional na psique Irlandesa. 



Muitos depois disso na Escócia passaram a a praticar essa forma de agricultura. Os filósofos escoceses, como David Hume, ou mesmo Adam Smith sofriam com insultos duplos, dos radicais populistas, e também não eram gostados pelos conservadores que os ironizava. A agricultura mista entre também a pecuária era como se organizava essas fazendas. Nos anos 1960, muitos do País de Gales, por exemplo, saiu das fileiras do Partido Trabalhista e passaram a se identificar com partidos nacionalistas.  


Conclusão: 


Não por acaso um irlandês que escreveu o hino The Red Flag (a bandeira vermelha), que é um símbolo do partido trabalhista. Também tinham tradição como líderes dos cartistas, por exemplo. A imigração irlandesa para o centro do país foi em massa depois do século XIX, como também muitos emigraram para os Estados Unidos. Como também tinha literatura trabalhista, com o romance "Os Filantropos de Calças Rasgadas".  


O livro gosta de lembrar algumas contradições da economia política clássica, levanta quem e quais correntes seguiram a ideia de liberalismo clássico, quem rompeu com ele por também oportunismo pensando em si, e também sobre o declínio do laissez-faire, uma política que apenas teve sua ascensão através do imperialismo britânico. 


O livro estuda a ascensão e a queda do modelo econômico clássico, como também o começo das intervenções estatais na economia, e sua contraditória fama do contrário em um país como a Inglaterra. 


Um livro muito necessário por versar sobre a importância de marcos e resoluções e outros marcos demográficos que ajudam a ilustrar parte de seu pensamento. Hobsbawm se utiliza da ampla escala de registros estatísticos que passam a existir no século XIX para dizer e contradizer sobre o sistema econômico liberal clássico inglês, e suas contradições, como sua dimensão estatal de monárquica, como também a ascensão de um modo de vida moderno na Europa que pós anos 1950 confiou em fórmulas de Estado de bem-estar social. 


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