A América, o novo mundo simbolizou uma série de novos comportamentos, tanto religiosos, como econômicos. Os imigrantes que fundaram a América do Norte, trouxeram consigo uma forma de lógica de trabalho e liberalismo oriundas da vasta gama de experiências políticas. Um caldo cultural formou um novo continente misturando tradições antigas e criando outras.
Durante a formação dos Estados Unidos da América, a discussão inicial travada era sobre como se viveria no novo continente, em termos de deliberações coletivas, aquela nova sociedade era regida por ideais e leis deveriam emanar de um local específico, ou valer para todos os territórios. Várias lendas de integração são relembradas e tradições foram formadas com base nelas. O exemplo do dia de ação de graças, comemorado no dia 26 de novembro antecede o Natal, o chamado (thanksgiven) que simbolizou uma pretensa união entre os colonos ingleses e os nativos na fundação da América é uma data de encenação de que esse processo foi pacífico e orgânico, porém não foi. As comemorações datam de 1621 na região de Plymouth (a primeira região de colonização, no atual Massachusetts. Havendo já uma tradição de substituição das datas tradições católicas por parte do rei que rompeu com a igreja, Henrique VIII. Essa áurea mitológica seria símbolo da união entre a tribo Wampanoags e os colonos ingleses que teriam se tornado "amigos", a data virou feriado nacional apenas em 1863 no governo Lincoln.
A colonização Inglesa foi feita através de um acordo tácito onde esses novos colonos eram respeitados. Através do modelo de colonização de povoamento, e não como na América do Sul, que o modelo triunfante era colonização de exploração de produto unitário (monocultura), destinada a ser exportada para o mercado externo. Assim a Europa descobrindo a América descobriu também a própria modernidade.
MAPA das 13 colônias, o povoamento origem no futuro EUA. |
O que significa um passo em relação ao liberalismo clássico. Pensado como uma forma de "não lutar contra a natureza", a prática da monocultura foi altamente estimulada como um primeiro "multiculturalismo".
Afinal o açúcar produzido no Brasil não poderia ser produzido na Holanda, por exemplo, mesmos sendo as companhias de comércio aberto deles que controlassem sua comercialização na Europa. Essa é a contradição para a teoria de John Locke clássica. Como houve uma exploração organizada pelos produtos e não pelas pessoas, o valor cultural desse novo mundo ficou restrita ao que poderiam produzir, trocar e comercializar. Ou seja, os países não conseguiriam formar sua cultura regional, seu orgulho nacional e pensar em fatores como independência e cultura em comum.
Nesse sentido é que podemos analisar a formação de um "mercado comum", como realmente um "supermercado" mundial. Ir em um só lugar e comprar de tudo não seria possível sem o começo do desbravamento das companhias de comércio e sua atuação em condimentos e produtos "especiais" de certas regiões. Progressivamente com o aumento do controle e poderio das empresas de condimentos e alimentos, essa dominação se tornou "natural" e as especiarias e condimentos "exóticos" antes somente comercializados pela elite e pelos nobres foram "democratizados" para grandes massas.
O caso da fundação da cidade de Nova York é peculiar pois evidencia essa lógica do comércio que funda regiões. Fundada por um grupo de descobridores como Henry Hudson que era representante da Companhia Holandesa das Índias Orientais, em 1609 exploraram a bacia hidrográfica da região, nomeando seu principal rio. Nova York foi cenário de batalhas entre Ingleses e Americanos pela posse da estratégica terra. Essa companhia estava interessada em comercializar produtos específicos e vender para os mercados europeus. No caso de Nova York, hoje em dia se constitui como um dos maiores centros comerciais do mundo e como uma das cidades mais modernas. Mas a cidade começou por acidente, por interesse da companhia na caça e comercialização de pele de castor. Em 1626, o então governador Peter Minuit fez uma proposta pela ilha de Manhattan de cerca de 60 guilders (um valor de 24 dólares) aos nativos algonquinos.
Cidade de Nova York |
O hábito do café, a posteriori, o café acompanhou o jornal e seu papel, e ali estaria para "descobrir o cotidiano". O primeiro produto a modificar os hábitos europeus sendo o açúcar, cultivado no nordeste do brasil, foi nas plantações das Antilhas que a Europa superou a necessidade de comércio do ciclo da cana do nordeste, e depois, cultivado, foi em Cuba por companhias como a United Fruit Company, levando aos habitantes do velho mundo cáries, sabores e e vontades para todo o globo.
A vida por exemplo, dentro da corte de versalhês era composta por doces e confeitaria, passou a fazer parte da mesa, também a própria sobremesa como uma grande demonstração de privilégio por parte das elites europeias que tratavam o açúcar como uma raridade ímpar. Primeiro era um produto que exigia uma troca entre o ocidente e o oriente. Posteriormente, na ilha da madeira, em Portugal veio a ser o laboratório para depois plantar no Brasil seu ciclo de açúcar. Toda essa influência de companhias modernas estrangeiras fez surgir um termo para designar países do novo mundo que tinham como moeda e produto típicos uma ou outra monocultura.
Assim esse passado colonial incorpora a faceta de um estilo de política satelizadas por países ricos que importam esses produtos e que influenciam em suas políticas. Assim surge o termo "república das bananas" para categorizar países com política altamente militarizada, com guerras civis e alta instabilidade política. Países como Nicarágua, Haiti, Brasil, Cuba, México e outros se caracterizam por ter sofrido influência direta dessas companhias de comércio, que tinham como função em um primeiro momento fomentar ideias nacionalistas e independentes contra o atraso das clássicas monarquias europeias estagnadas. Já as companhias estrangeiras modernas não possuíam esse "ideal", sendo mais conservadoras, como a própria united fruit.
Assim nasce aos poucos a solidificação da estrutura do federalismo na América. De colônia do Reino Unido, se tornaram os Estados Unidos independente em 1776, em 1787 já sinalizavam com uma nova constituição, e em 1790 uma primeira eleição do congresso e do novo presidente, em 1780 já ratificariam sua constituição, considerada sagrada para o pilar da ideologia Americana. Esta que se posicionou como uma poderosa parte do que viria a ser depois o "American Way Of Living (jeito americano se viver)". O debate historiográfico gira em torno de analisar a influência do iluminismo dentro da Revolução Francesa de 1789
A identidade do norte orientou-se por um intenso patriotismo e tentativa de unificação, evidenciado por exemplo no "mito dos pais fundadores" como Thomas Jefferson e George Washington. A noção de "povo escolhido" e de "terra prometida", ou mesmo "terra da liberdade" eram mesclados ao tom dos novos tempos de revoltas, conflitos, que culminaram na Revolução Francesa e iluminismo. Os Estados Unidos surgiam assim através do mito da "república moderna" e isso seria evidenciado posteriormente na Doutrina Monroe(ocorrida entre 1817 a 1825) da "América para Americanos" e no destino manifesto, que seria a crença do domínio e da expansão para o norte como inevitabilidade do progresso yankee.
Na economia isso era entendido como uma "revolução de mercado" com o início do progresso no setor industrial e também aos poucos, com a formação de um poderoso mercado interno que atenderia as demandas dessa indústrias. Quando no meio do século XIX, a economia escravocrata Americana impedia a formação desse mercado se tornou um empecilho para doutrina do progresso Americano, sendo abolida em 1865, alguns registros de jornal do sul sinalizavam que ainda era intensivamente praticada.
Já a economia exportação ligada ao sul e com a escravidão e com o "plantation", tinha como principal produto para sustentação dessas elites o algodão. Um filme que demonstra bem a ideologia do sul dos EUA é o "Gone With the Wind"(E o Vento Levou) que retrata o fim da hegemonia sulista e a queda dos padrões para a elite escravocrata depois da Guerra da Secessão.
Pode parecer uma visão demasiada romântica e saudosista dos tempos da escravidão, mas a verdade é que essa é também a ideologia do ensino de história do Estados Unidos na maioria das universidades. Não se estuda, por exemplo o papel da economia e das pressões do mercado externo para a abolição, mas sim se estuda como o sul estruturava sua economia de uma maneira muito organizada e serena. Com uma ideia de investimentos financeiros centrais, eles se opunham com as ideias de liberdade e gostavam de uma paridade com a antiga colônia em relação a costumes, hábitos e valores.
A França depois de seu processo revolucionário vendeu sua parte do território: Alabama, Mississipi e a Luisiana(local nomeado em homenagem ao Luis XIV, antigo rei da França. Já a Virgínia, nomeada em 1584 pelo navegante Walter Raleigh, e era uma homenagem a Elizabeth I. Esses colonos tiveram que de sua própria maneira negociar e guerrear com as antigas tribos indígenas que eram habitantes nativas, havendo expedições em 1584, 1585 e 1587.
Alexis de Tocqueville, um nobre francês que apontou o caos que virou o governo republicano francês no período posterior a tomada jacobinista. Em seu clássico livro "A Democracia na América", Tocqueville aparece como um dos primeiros autores a se interrogar sobre essa modernidade que começava a reencarnar os valores clássicos das cidades antigas e optavam pela república e por ideologias como o liberalismo, individualismo e o "senso comum". Muitos ainda temiam a rebeldia dos antigos colonos das antigas 13 colônias.
Em certa parte:
"Podem-se distinguir na grande família anglo-americana dois ramos principais que, até hoje, cresceram sem se confundir inteiramente, um no Sul, outro no Norte."
Em outra parte mais a frente, aborda o fator da escravidão como principal fator de definição da cultura do sul, diferente do que muitos na história argumentam hoje em dia de maneira revisionista:
"Mal a colônia foi criada, nela introduziram a escravidão. Foi esse o fato capital que iria exercer enorme influência sobre o caráter, as leis e todo o futuro do Sul."
"A escravidão, como explicaremos mais tarde, desonra o trabalho; ela introduz o ócio na sociedade e, com este, a ignorância e o orgulho, a pobreza e o luxo. Ela debilita as forças da inteligência e entorpece a atividade humana. A influência da escravidão, combinada com o caráter inglês, explica os costumes e o estado social do Sul."
Alguns fatores de sobrecarga de impostos levaram ao rei George III revogar a antiga prática celebrado por conservadores como Burke, que era a "negligência salutar"(prática de deixar os EUA ter certa autonomia comercial por ser parte do "ocidente" inglês), uma noção de que por serem protestantes Ingleses lavradores da terra, ainda herdeiros da Revolução Burguesa, os americanos e os ingleses deveriam se unir e prosperar juntos. Uma noção que separava a revolução gloriosa da revolução francesa. Com a independência dos EUA, é evidente que algumas acelerações políticas, práticas de desfiles, slogans, bandeiras, faixas e outros elementos do contexto da revolução francesa adentraram no imaginário da constituição da democracia nos EUA e é sobre essas contradições que se debruça Tocqueville.
O extraordinário crescimento Americano gerou a expansão e o impulso para ir ao oeste. Seria o tempo dos cowboys e dos fora-da-lei como "Billy the Kid". O contexto de expansão para o oeste trouxe a novidade de promessa de terras baratas, conquistadas muitas das vezes com genocídio indígena, como no caso da Flórida que foi invadida para já pressionar sua venda por parte da Espanha. Era a terra ideal de liberdade para todo estrangeiro sem família, imigrante europeu pobre que queria refazer sua vida, era a terra da liberdade para o homem pobre europeu sem cultura.
Mas nós temos que pensar que o liberalismo da América era uma espécie de subproduto importado do liberalismo clássico do século XVI, fruto das revoluções protestantes, como a Gloriosa.
Hoje em dia quando pensamos que é difícil não observar o quanto o liberalismo clássico se confundiu com uma forma deturpada de individualismo. A diferença é que o último é exercido sem a consideração do "bem comum". A liberdade inicial defendida pela ideologia americana era aquela vinculada com o senso comum. A referência aqui é de Thomas Paine, um inglês que se considerava Napoleão o maior charlatão de todos os tempos e que com o convite de Thomas Jefferson se mudou para os EUA.
A noção de democracia que lhe era cara era uma onde o poder republicano só poderia triunfar em locais pequenos e não em grande impérios, portanto era defensor do federalismo. Como visto na reunião dos pensamentos desses primeiros políticos que no livro "federalismo", como também no livro "senso comum" que seria um compilado mais objetivos com suas ideias chaves. Disporiam assim de suas ideias de formação do Estado e direitos do homem.
Talvez por isso seja os EUA o país que mais debate suas características e valores. Na teoria clássica do liberalismo, o fruto do trabalho da terra dava como resultado da essência da própria sociedade. A capacidade de razão e instrumentalização seriam a forma de entendimento diferenciado que tornava as relações políticas livres. Já o liberalismo americano, mais tardio, era mais ao estilo do liberalismo econômico.
O LIBERALISMO CLÁSSICO NA INGLATERRA:
O que nasceu como quase uma demonstração daquilo que o liberalismo clássico inglês pregava em termos iniciais. John Locke raciocinava no "Dois Tratados sobre o governo civil", quando aborda a noção de que um coletivo de pessoas igualmente pautadas em ideias culturais e estáveis, possuidoras de terras e tradicionalmente ligadas ao local poderiam reivindicar uma forma de quebra no contrato social vigente. Locke pensava em sua época o contexto da Revolução Gloriosa, mas é na questão americana que mais triunfa seu conjunto de pensamentos.
A melhor forma de definir como surgiu ideologicamente o liberalismo é pensar que a vida racional humana predispõe alguma forma de vida comunitária, e que esta vida envolve cultura e vivência que se traduzem em tradições.
O pilar do liberalismo clássico reside no trio: 1) liberdade individual, 2) liberalismo econômico, e 3) propriedade privada. Seria essa a chave para entender a força e a persuasão liberal, frente ao que combatiam na época, que era a usurpação, o mau uso da terra, o imposto abusivo vindo da coroa.
A crise do modelo de interferência do Estado autoritário, representado para sempre na figura do "Leaviatã" de Hobbes, fazia do novo modelo político e econômico altamente sedutor por priorizar as relações comerciais. Modelos de cidades, entrepostos comerciais, companhias de comércio e de capital misto começaram a tonar conta de culturas e plantações específicas, que começaram a ser protegidas com aval parlamentar e monopólios. Segundo os fisiocratas, o motivo da queda do modelo das "grandes nações europeias".
Quando se analisa a ascensão dos Estado-Nação: Portugal, Espanha, Inglaterra e França, é importante ressaltar o que fez surgir no ocidente uma vontade de se fazer política, em prol de maior seguridade de fronteiras. A Idade Moderna viu florescer um novo tipo de consentimento em torno dos Estados-nação. Essas então são as linhagens dos Estados absolutistas em formação.
A Inglaterra é a primeira ratificar o parlamento de maneira representacional, com a Carta Magna (1215) por João “Sem-Terra”. Como o exemplo das guerras entre a França e a Inglaterra (Guerra dos 100 anos). Se na Idade Média, posterior as reformas de Carlos Magno , e depois dos diversos concílios regulatórios (como os dois de Trento), é visto uma Igreja muito mais controladora de parâmetros políticos.
Nessa perspectiva, Henrique VIII é o primeiro governante que se sobrepõe ao poder da Igreja tradicional católica. A igreja anglicana passou a ser a principal a sede do poder religioso, sendo o Soberano o chefe da Igreja. Passo que intensificou o contexto de liberdade religiosa nos governos posteriores, como o de Elizabeth I. O contrato Social, tema caro aos três autores, traz diferentes e dissonantes perspectivas sobre o contrato, a legitimidade (soberania), a obrigatoriedade desse contrato dentro dos seus diferentes contextos históricos e políticos, que envolvem o “Jusnaturalismo”, o consentimento, ou derivado de uma maioria, ou de um poder autárquico, são os temas principais da política. A Inglaterra da Idade Moderna é o cenário, tanto para Thomas Hobbes e, quanto para John Locke. O pessimismo de Hobbes, o empirismo de Locke e o idealismo de Rousseau.
A concepção jusnaturalista, que envolve o Direito Natural e sua justificação e transição em direção ao Contrato Civil são tema mais caros ao argumento de Thomas Hobbes (1588-1679). Segundo ele, que foi preceptor de Carlos II (Charles), em Leaviatã, desenvolve uma metáfora usando uma figura bíblica do livro de Jô, para exemplificar as falhas individuais relativas ao “estado de natureza”, e o castigo para a não obediência em relação ao poder instituído.
Montesquieu afirma que, no despotismo, o que motiva as pessoas é o medo, pois já que um único individuo governa como preferir, os súditos terão medo, pois não tem segurança jurídica frente a esse governante. Porém, ele afirma que o déspota também vive com medo, pois, pode sofrer uma revolução ou golpe de estado a qualquer momento. Na República, o princípio fundamental é a virtude. Já que a república parte do pressuposto que todos têm a oportunidade de criar uma lei, é necessário, então, que todos sejam virtuosos e olhem para o coletivo.
É necessário buscar o bem comum em detrimento do bem individual. Na monarquia, o princípio é a honra e se faz fundamental porque vai dar origem a teoria da separação dos poderes. A honra é vista como algo negativo, uma espécie de egoísmo. Dentro dessa perspectiva é interessante ressaltar que Montesquieu é um primeiro Autor que corresponderia a uma teoria da racionalização moderna dos aparatos do Estado. Para ele, o ocidente teria uma vocação para tentativas de democracia, enquanto que o oriente viveria de governos longevos e autoritários.
Ele daria como justificativa as questões climáticas: “as condições telúricas”. A moderação seria a palavra-chave para a descrição dessa nova teoria. Os Estados-nação modernos começaram a ser pensados como fronteiras, onde os nacionalismos determinaram uma corrida de prol de uma constituição de cidadania, que envolveria esses novos países de democracia popular, como nos EUA.
A política agora era dividida em três poderes. Para Montesquieu, como aconteceu na segunda República Jacobina, a soberania respaldada apenas da vontade de todos seria uma tirania, uma forma de despotismo fora do oriente, como também pensava Tocqueville e depois Furet também.
A democracia na América se construiu como uma forma de fugir dessa grande perseguição aos ideais liberais clássicos. O que vale observar é a mudança no eixo de liberalismo ideológico clássico, para liberalismo econômico e financista. Essa mudança na economia é dada com uma crise de Estado, conhecida por alguns, criticada pela escola fisiocrata como a "crise do século XVII".
Essa crise sendo na verdade, a primeira grande oscilação de poder internacional e a queda da Espanha e de Portugal como as grandes nações e articuladores, para dar lugar aos países como EUA, Inglaterra e França. A verdade é que o modelo econômico ficara ultrapassado, em muito breve, no século XIX, o novo mundo, começaria por São Domingos em 1791, que declarou processos de independência.
A lição que a América nos dá é que esse "novo mundo" seria gerido, governado e disputado enquanto uma extensão do mercantilismo e que seria formado pelo colonialismo de certas nações em disputa. Havendo assim uma diferença entre o colonismo clássico feito pelas nações europeias como Portugal, Espanha e Inglaterra para o neocolonialismo moderno, o primeiro sendo o ciclo de exploração do século XV até o XVII. Como podemos ver, o segundo, o neocolonialismo seria o ciclo de exploração do qual já faz parte enquanto parte dos exploradores o próprio Estados Unidos, já no século XIX.
O extraordinário crescimento Americano gerou a expansão e o impulso para ir ao oeste. Seria o tempo dos cowboys e dos fora-da-lei como "Billy the Kid". O contexto de expansão para o oeste trouxe a novidade de promessa de terras baratas, conquistadas muitas das vezes com genocídio indígena, como no caso da Flórida que foi invadida para já pressionar sua venda por parte da Espanha. Era a terra ideal de liberdade para todo estrangeiro sem família, imigrante europeu pobre que queria refazer sua vida, era a terra da liberdade para o homem pobre europeu sem cultura.
Mas nós temos que pensar que o liberalismo da América era uma espécie de subproduto importado do liberalismo clássico do século XVI, fruto das revoluções protestantes, como a Gloriosa.
Hoje em dia quando pensamos que é difícil não observar o quanto o liberalismo clássico se confundiu com uma forma deturpada de individualismo. A diferença é que o último é exercido sem a consideração do "bem comum". A liberdade inicial defendida pela ideologia americana era aquela vinculada com o senso comum. A referência aqui é de Thomas Paine, um inglês que se considerava Napoleão o maior charlatão de todos os tempos e que com o convite de Thomas Jefferson se mudou para os EUA.
A noção de democracia que lhe era cara era uma onde o poder republicano só poderia triunfar em locais pequenos e não em grande impérios, portanto era defensor do federalismo. Como visto na reunião dos pensamentos desses primeiros políticos que no livro "federalismo", como também no livro "senso comum" que seria um compilado mais objetivos com suas ideias chaves. Disporiam assim de suas ideias de formação do Estado e direitos do homem.
Talvez por isso seja os EUA o país que mais debate suas características e valores. Na teoria clássica do liberalismo, o fruto do trabalho da terra dava como resultado da essência da própria sociedade. A capacidade de razão e instrumentalização seriam a forma de entendimento diferenciado que tornava as relações políticas livres. Já o liberalismo americano, mais tardio, era mais ao estilo do liberalismo econômico.
O LIBERALISMO CLÁSSICO NA INGLATERRA:
O que nasceu como quase uma demonstração daquilo que o liberalismo clássico inglês pregava em termos iniciais. John Locke raciocinava no "Dois Tratados sobre o governo civil", quando aborda a noção de que um coletivo de pessoas igualmente pautadas em ideias culturais e estáveis, possuidoras de terras e tradicionalmente ligadas ao local poderiam reivindicar uma forma de quebra no contrato social vigente. Locke pensava em sua época o contexto da Revolução Gloriosa, mas é na questão americana que mais triunfa seu conjunto de pensamentos.
A melhor forma de definir como surgiu ideologicamente o liberalismo é pensar que a vida racional humana predispõe alguma forma de vida comunitária, e que esta vida envolve cultura e vivência que se traduzem em tradições.
O pilar do liberalismo clássico reside no trio: 1) liberdade individual, 2) liberalismo econômico, e 3) propriedade privada. Seria essa a chave para entender a força e a persuasão liberal, frente ao que combatiam na época, que era a usurpação, o mau uso da terra, o imposto abusivo vindo da coroa.
A crise do modelo de interferência do Estado autoritário, representado para sempre na figura do "Leaviatã" de Hobbes, fazia do novo modelo político e econômico altamente sedutor por priorizar as relações comerciais. Modelos de cidades, entrepostos comerciais, companhias de comércio e de capital misto começaram a tonar conta de culturas e plantações específicas, que começaram a ser protegidas com aval parlamentar e monopólios. Segundo os fisiocratas, o motivo da queda do modelo das "grandes nações europeias".
Quando se analisa a ascensão dos Estado-Nação: Portugal, Espanha, Inglaterra e França, é importante ressaltar o que fez surgir no ocidente uma vontade de se fazer política, em prol de maior seguridade de fronteiras. A Idade Moderna viu florescer um novo tipo de consentimento em torno dos Estados-nação. Essas então são as linhagens dos Estados absolutistas em formação.
A Inglaterra é a primeira ratificar o parlamento de maneira representacional, com a Carta Magna (1215) por João “Sem-Terra”. Como o exemplo das guerras entre a França e a Inglaterra (Guerra dos 100 anos). Se na Idade Média, posterior as reformas de Carlos Magno , e depois dos diversos concílios regulatórios (como os dois de Trento), é visto uma Igreja muito mais controladora de parâmetros políticos.
Nessa perspectiva, Henrique VIII é o primeiro governante que se sobrepõe ao poder da Igreja tradicional católica. A igreja anglicana passou a ser a principal a sede do poder religioso, sendo o Soberano o chefe da Igreja. Passo que intensificou o contexto de liberdade religiosa nos governos posteriores, como o de Elizabeth I. O contrato Social, tema caro aos três autores, traz diferentes e dissonantes perspectivas sobre o contrato, a legitimidade (soberania), a obrigatoriedade desse contrato dentro dos seus diferentes contextos históricos e políticos, que envolvem o “Jusnaturalismo”, o consentimento, ou derivado de uma maioria, ou de um poder autárquico, são os temas principais da política. A Inglaterra da Idade Moderna é o cenário, tanto para Thomas Hobbes e, quanto para John Locke. O pessimismo de Hobbes, o empirismo de Locke e o idealismo de Rousseau.
A concepção jusnaturalista, que envolve o Direito Natural e sua justificação e transição em direção ao Contrato Civil são tema mais caros ao argumento de Thomas Hobbes (1588-1679). Segundo ele, que foi preceptor de Carlos II (Charles), em Leaviatã, desenvolve uma metáfora usando uma figura bíblica do livro de Jô, para exemplificar as falhas individuais relativas ao “estado de natureza”, e o castigo para a não obediência em relação ao poder instituído.
Montesquieu afirma que, no despotismo, o que motiva as pessoas é o medo, pois já que um único individuo governa como preferir, os súditos terão medo, pois não tem segurança jurídica frente a esse governante. Porém, ele afirma que o déspota também vive com medo, pois, pode sofrer uma revolução ou golpe de estado a qualquer momento. Na República, o princípio fundamental é a virtude. Já que a república parte do pressuposto que todos têm a oportunidade de criar uma lei, é necessário, então, que todos sejam virtuosos e olhem para o coletivo.
É necessário buscar o bem comum em detrimento do bem individual. Na monarquia, o princípio é a honra e se faz fundamental porque vai dar origem a teoria da separação dos poderes. A honra é vista como algo negativo, uma espécie de egoísmo. Dentro dessa perspectiva é interessante ressaltar que Montesquieu é um primeiro Autor que corresponderia a uma teoria da racionalização moderna dos aparatos do Estado. Para ele, o ocidente teria uma vocação para tentativas de democracia, enquanto que o oriente viveria de governos longevos e autoritários.
Ele daria como justificativa as questões climáticas: “as condições telúricas”. A moderação seria a palavra-chave para a descrição dessa nova teoria. Os Estados-nação modernos começaram a ser pensados como fronteiras, onde os nacionalismos determinaram uma corrida de prol de uma constituição de cidadania, que envolveria esses novos países de democracia popular, como nos EUA.
A política agora era dividida em três poderes. Para Montesquieu, como aconteceu na segunda República Jacobina, a soberania respaldada apenas da vontade de todos seria uma tirania, uma forma de despotismo fora do oriente, como também pensava Tocqueville e depois Furet também.
A democracia na América se construiu como uma forma de fugir dessa grande perseguição aos ideais liberais clássicos. O que vale observar é a mudança no eixo de liberalismo ideológico clássico, para liberalismo econômico e financista. Essa mudança na economia é dada com uma crise de Estado, conhecida por alguns, criticada pela escola fisiocrata como a "crise do século XVII".
Essa crise sendo na verdade, a primeira grande oscilação de poder internacional e a queda da Espanha e de Portugal como as grandes nações e articuladores, para dar lugar aos países como EUA, Inglaterra e França. A verdade é que o modelo econômico ficara ultrapassado, em muito breve, no século XIX, o novo mundo, começaria por São Domingos em 1791, que declarou processos de independência.
A lição que a América nos dá é que esse "novo mundo" seria gerido, governado e disputado enquanto uma extensão do mercantilismo e que seria formado pelo colonialismo de certas nações em disputa. Havendo assim uma diferença entre o colonismo clássico feito pelas nações europeias como Portugal, Espanha e Inglaterra para o neocolonialismo moderno, o primeiro sendo o ciclo de exploração do século XV até o XVII. Como podemos ver, o segundo, o neocolonialismo seria o ciclo de exploração do qual já faz parte enquanto parte dos exploradores o próprio Estados Unidos, já no século XIX.
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