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Um Filme Falado (2003): Uma viagem ao Mediterrâneo, Fernand Braudel e a longa duração das origens culturais



Rosa Maria  (Leonor Silveira) é uma professora universitária de História da Universidade de Lisboa. Ela embarca em um cruzeiro, com destino a Bombaim, na Índia, junto com sua filha, Maria Joana (Filipa de Almeida). Elas querem encontrar o marido de Rosa, que é aviador. Um filme histórico, de produção entre Portugal, França e Itália que usa sua trama para representar as trocas culturais, onde em uma crise todos no navio falam idiomas divergentes e não conseguem se compreender totalmente, apenas Rosa consegue entender a todos por falar português: a língua mais antiga da Europa. 

 

"Águas a correr pelo tempo, por córregos,

por leitos e pelos espaços históricos desses povos de diferentes

raças, hábitos e costumes, não obstante unidos pela mesmíssima

raiz humana que os liga, que nos liga e nos iguala a todos nós..."


Filme disponível ao fim do artigo


Um filme diferente, focado na conversação, na interação como maior simbologia da estória. A ideia bem ousada do filme é colocar em um primeiro plano que o elemento das heranças culturais são preservadas em objetos e monumentos que remetem a tradições de longa duração, em segundo nível, é questionado no filme o quanto existe apesar da evolução e do progresso da civilização, ainda existe elementos de barbárie, como preconceito e xenofobia. Se o português é o mais maltratado da Europa, como fala o filme, em Portugal, Brasileiros passam por preconceito e xenofobia, é um ciclo sem fim.  



A professora de história, que ensina para sua filha os valores culturais originais do mediterrâneo. Além disso, nessa segunda parte do filme é que começamos a entender que europeus se sentem como uma parte "superior" do mundo, em oposição aos árabes, ou seja, começamos a ver primeiro o teatro da civilização, e depois os preconceitos e detalhes que cercam essa "civilização". 


O principal trabalho do historiador Fernand Braudel (que serviu como inspiração para "um filme falado") foi o livro "O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na época de Filipe II", o livro fala sobre o antigo histórico de trocas culturais do ocidente e do oriente, especialmente na época da unificação do governo de Filipe II. Marinheiros vindos de Veneza costumavam a trabalhar como mercenários no exército turco, mostrando o motivo no filme da parada na Turquia ser onde eles são recebidos com uma frase em inglês de boas-vindas. 



É no governo de Filipe II que a Espanha começa a dominação dos mares, através de sua "invencível armada", que até mesmo tentava contratar mercenários vindos da Inglaterra para fortalecer seu poder naval. Também durante o governo de Filipe II, foi adotada na Espanha a paridade coma prata americana, enquanto o mundo oriental, (a Turquia Islâmica, ainda vivia do ouro africano). Já o oriente médio daquela época se constituía basicamente de duas regiões de caravanas de comércio, entre as rotas da Meca, ou vindas de regiões na Síria ou no Cairo. O mesmo pode ser observado de Portugal, que foi praticamente, o primeiro país formado completamente da Europa (portanto, o mais antigo). 



A reflexão do filme é profunda, a imagem mitológica da evolução do ocidente é o próprio retrata da confiança cega em uma história linear e única, e o segundo arco do filme, passa a discutir essa segurança na forma da possibilidade do barco afundar (aqui o barco significa a União Europeia), e Portugal seria o país mais deixado para "afundar" nas crises da Europa. Simbolizadas no filme na ideia de ter uma bomba no barco (paranoia de terrorismo). 






Rosa escolheu um cruzeiro para poder ver os pontos em Marselha, Nápoles e Pompeia. Eles visitam Atenas, onde são guiados por um monge ortodoxo (Nikos Hatzopoulos), eles visitam o Cairo, e cruzam com um tipo de português desconhecido. Eles passam por Istambul, e quando estão no Golfo Pérsico, conhecem Delfina. 


Rosa escolhe ir em cruzeiro, pois assim teria oportunidade de visitar lugares de que falava todos os dias aos seus alunos. Passam por Marselha, Nápoles e Pompeia. Rosa dá uma aula sobre as pirâmides para sua filha, enquanto veem a pirâmide da esfinge de Gizé ao fundo.



Visitam Atenas, onde são guiadas por um monge ortodoxo (Nikos Hatzopoulos). Visitam o Cairo, onde se cruzam com um português que não conheciam (Luís Miguel Cintra). Passam ainda por Istambul e conhecem uma empresária francesa (Catherine Deneuve), Francesca (Stefania Sandrelli), uma cantora italiana e Helena(Irene Papas), professora e atriz grega, como também conhecem o comandante do navio John Walesa (John Malkovich).  O cara norte americano simboliza a ideia de que até o inglês entra nessa coisa de ‘torre de babel”, já que Rosa também o entende. 



Crítica do Filme


mapa do mar mediterrâneo, 1685


Todo amor português em relação a cultura não salva nos momentos de profunda cisão e crise que o continente passou. A implementação do euro foi em 1998, 3 anos depois do filme. Apesar do sucesso da moeda ao longo dos anos, a crise atual inflacionária desafia a ideia de uma Europa progressista e unida. O diretor Bertolucci , por exemplo, se referia a Manoel de Oliveira e sua "atlântica alegria de viver". 




Prova disso que estou falando é que o dólar (normalmente cotado inferior ao euro), está em paridade com o euro. Se antes era impossível criticar a União Europeia, hoje em dia é nítido o processo de crise e queda que o continente europeu está passando. Poucas florestas remanescentes, poucas fontes energéticas, e grande disparidade e desigualdade econômica, com grande processo de expulsão e gentifricação nas grandes cidades. Mas nada disso importa quando contamos a história como evolução da gente, como evolução dos nossos próprios países. É inevitável que certos preconceitos e opiniões taxativas sobrepujam o debate, como nas cenas que Rosa fala que os moradores de Pompeia viviam "vidas devassas" e por isso sofreram com uma tragédia (uma certa noção religiosa da 'divina providência'). 




A história, a sociologia e as ciências sociais em perspectiva


O filme aborda conceitos e tradições de história factual, na visão de Braudel, história de longa duração pode vir de análises também como  na ‘micro-história’, se falar sobre um local e um momento histórico específico. O debate sobre tempo e duração na história é muito importante para o campo, refletindo não apenas os tema, mas como escrevemos a História enquanto método. Braudel nos alertava sobre os perigos nas querelas de tempo curto, tanto pro sociólogo, quanto na profissão do historiador.  A história do filme relata enquanto testemunho oral de uma forma de historiografia canônica oficial do mundo, quase bíblica. A missão então do professor de história é igual aqui a do guia de turismo, ou do profissional do museu. 


O recorte micro está relacionado com o tempo curto, o tempo do jornalista, do cronista, do acontecimento justamente relatado ou vivido, como em Tucídides. O tempo longo está relacionado a fenômenos de escala global, a cultura e sua formação são perguntas que sua própria genealogia vem de um recorte de maior duração. A contradição maior nos cursos de história, é que a maioria dos formandos se forma com um tema que é, essencialmente, com recorte retirado da sociologia, (o tempo do sociólogo costuma ser o tempo médio, o do jornalista do curto, e o do historiador deveria ser o longo, Braudel comentava que os historiadores tem em si uma bússola que automaticamente historiciza as informações culturais que são como "fait divers" para por exemplo, os jornalistas. 


A lição maravilhosa de Braudel que ninguém entendeu, vale para a história, mas vale muito mais para o jornalismo, se todos nós só nos preocuparmos com a situação da pedra quando ela cair, somos agendados (mandados pela estrutura), pelo caos aleatório do mundo e não produzimos efeito de observação e participação dos fenômenos sociais, a observação que deveria vir de termos herança e tradição (por mais que seja renegada). A questão de Braudel podemos fornecer pistas do apagamento histórico que muitas vezes a disciplina da história sofre sob tempos autoritários e apolíticos, vemos então a ditadura dos recortes micro, (isso nada tem a ver com a sociologia, embora seja uma herança dos pais fundadores do método, o criador do método sociológico enquanto pesquisa foi Émile Durkheim), mas quem não faz outra coisa nos dias atuais é a própria história. 


Refém do documento ou do testemunho como nunca, os novos historiadores  e suas monografias são obrigados a falar de um dia, uma semana, um mês talvez, nunca o recorte de anos como um todo. Uma vez, foi pedido para Braudel orientar um trabalho sobre Revolução Francesa, ele recusou por se perguntar, teria tudo da Revolução Francesa já se acabado, todas essas observações são seguras de se ter? Com certeza, essa é uma indagação poderosa. O Clio (o ciclo) sempre foi a musa suprema da história, e sim, a longa duração é uma temporalidade em si.   



Já uma história conjectural segue um ritmo mais largo e lento( contando com análises de vida material, dos ciclos e interciclos econômicos (como em Ernest Labrousse ou Pierre Chaunu). Braudel também falava sobre as linhas temporais e sua relação com as formas e escritas das áreas das ciências humanas e sociais.  Linhas temporais de Braudel, entre a história e e sociologia são expressivas por simbolizar segundo ele, as únicas ciências puramente globais. 


Já o diretor do filme tem essa pegada de ensino de história e ciência, em filmes como O Princípio da Incerteza (2002), ou em "O Quinto Império (2004)" paradigmas clássicos científicos são debatidos já começando pelo título das obras. Em "Um Filme Falado", o sentido de locução e enunciação são dados na própria fórmula do fazer do filme. Um filme que fala é um filme que se explica, como um "guia de turismo". Mas o fim do filme nega a veemência da crença cega no progresso, e toda a segurança do "primeiro mundo" não salva as duas.



Manoel de Oliveira foi um ativista e cineasta único, trabalhando e produzindo sempre até ficar bem velhinho, morrendo recentemente. Ele viveu as viradas na política de Portugal, depois da Revolução dos Cravos de 1974, que tirou o governo de Oliveira Salazar, que governava o país desde 1926. Ele fez o filme Acto da Primavera em 1963 (que era um filme etnográfico) sobre a tradição da Paixão de Cristo (um filme belíssimo) em uma pequena cidade portuguesa de Curalha, um filme onde amor a palavra e a tradição oral já era evidente na visão do cineasta. Apesar de Um Filme Falado ser um filme de 2003, o filme tem uma visão sobre a "longa duração", um conceito de Fernand Braudel.  





Foi na época de deposição de Salazar que uma nova imagem mitológica de Portugal foi talhada novamente. A ideia imperialista e colonialista da formação de Portugal através de mitos, como o de dom Sebastião (sebastianismo), que era crença mística  após o desaparecimento de D. Sebastião (1554-1578), que diz que depois do aparecimento do rei, ele viria como um novo messias, para levar o país de volta ao apogeu e a época de glórias que seria a ideia de colonização e expansão que Portugal tinha do mundo. 


De modo que da Europa, é considerado o país mais de fora (além do próprio Reino Unido, que sempre teve uma briga com a Europa clássica), mas é o país que já "dominou o mundo", na mesma época, é claro, da divisão do poder com a Espanha, os dois primeiros países a exercer uma dominação e uma expansão colonizadora. Mas isso é passado, e a crise bateu na porta de Portugal muito cedo, em 1888, já existia mais riqueza no Brasil do que em Portugal, o que explica a "fuga" da família real portuguesa para as nossas terras tupiniquins. 



Outra coisa interessante, é a narrativa da viagem ser a forma de entendimento de diversos conceitos clássicos de história e civilização. Esse amor ao mar é marcante aos portugueses, vale lembrar que nossa primeira literatura foi lusíadas que enaltecia os feitos no mar do ciclo das grandes navegações. Foi Vasco da Gama que contornou o Cabo da Boa Esperança (na África), e resolveu o problema de acesso apenas pela rota através de Constantinopla (atual Turquia), até então, era apenas pelo mediterrâneo que se tinha acesso a todas as riquezas vindas do oriente. 


A ideia é simples, em casa porto, conhecemos um personagem novo (que simboliza um país e sua personalidade), o capitão do navio (John Malkovitch) é o norte-americano, em Marselha, se junta uma empresária francesa (Catherine Deneuve), e em Pompeia, se junta uma ex-modelo italiana (Stefania Sandrelli), e em Atenas, uma cantora grega interpretada por Irene Papas. Apesar de ninguém entender o português, Rosa consegue entender a todos perfeitamente.  O português parece então ser da família da Europa, mas um parente distante, quase estrangeiro, essa noção também está presente em outro filme de Manoel de Oliveira, Palavra e Utopia (2000), que aborda o poder da influência da palavra no imaginário e ação, e na narrativa em si. 


No Um Filme Falado, o português precisa de tradução por ser vista por todos como um "grande outro" em termos linguísticos. O padre Antônio Vieira foi um intelectual que pensando na expansão dos jesuítas e da igreja católica, mas a lição de que o português é essa língua da conversão.


Marcello Mastroianni em seu último filme  Viagem ao princípio do Mundo, demonstra através das memórias de Oliveira, filmadas no norte de Portugal, a ligação ímpar com o mediterrâneo. Braudel perguntava mil perguntas sobre o grande mar, era o início da civilização, era o início do sedentarismo, o início das trocas culturais que estabeleçam o início das práticas comerciais no mundo. Não é exagerar dizer que a civilização antiga nasceu ali, por ser entre o oriente e o ocidente, uma eterna disputa entre hegemonia e narrativa. Lembrar que era um cruzeiro de Lisboa a Bombaim, lembrar que a ideia de superioridade ocidental é no filme retratada como ameaçada pela ideia de “terrorismo”, na parada oriental de Aden, no Iémen, é quando as duas são “explodidas” no final do filme. A cantora grega canta uma música sobre o Eden, sobre um "lugar de paz entre os homens", como uma ideia de "última ceia". Depois disso, já é a tragédia. 





A moça professora de história, que é portuguesa, sabe como entender tudo falado do grego, do italiano e do francês, porém, não conseguem entendê-la de volta. Uma grande metáfora da importância do mediterrâneo como local onde a cultura europeia e ocidental foi primeiro desenvolvida, e que com suas ligações, também envolve a ligação com o oriente próximo. Vemos pontos como Ceuta, Marselha, Pompeia, Atenas e Istambul, através desses locais que Rosa Maria tenta ensinar a evolução cultural europeia em compasso com a ideia de diversidade cultural e religiosa dos povos que a construíram. 



A forma como a professora conta a história, parece bem aquela história padrão de guia de turismo (aquela ensinada na academia), a história factual (tradição do historicismo), uma coisa a la Ranke que conta apenas um lado da história em um sentido de "progresso nacional sem fim".  Quando por exemplo, ela fala sobre o Vesúvio e a destruição de Pompeia, quando Rosa Maria menciona que acha que isso aconteceu por conta "da vida devassa" que a população levava. Quando Rosa não está contando a história do mediterrâneo com base na narrativa bíblica, ela varia entre as duas tradições.  Nesse filme, a questão da viagem é muito importante, é a forma histórica em si. 



Mas quando o filme caminha, e logo a viagem se torna menos interessante, o lugar da história no início e da tradição é identificado com certo caráter de segurança, em oposição a segunda parte do filme, onde toda essa cultura não impede tragédias atuais. No fim, Rosa e sua filha não conseguem sair do barco, o resgate demora muito, mesmo com as pessoas falando para elas "pularem na água", elas não fazem por se sentirem impotentes ali, e vemos um clarão e a cara de pânico de todos. 



No golfo pérsico, o grupo no navio encontra um norte-americano com origem brasileira e polaca, tornando possível o contato e oferece uma boneca para sua filha. É uma tragédia e uma metáfora interessante também da situação da União Europeia. O filme trabalha seu lado semiótico pensando em elementos, como a boneca islâmica, as joias egípcias, a estátua grega, o próprio navio como metáfora de trocas culturais. Na segunda parte, o culturalismo de um filme leve de viagem se transforma em uma interação mais dramática.



Opinião do diretor em entrevista, as coisas ocorrem seja como ocorrem hoje, acontecem também sem diferença, ontem ou há mil anos. Havia antes um entendimento dado ao culto mundano, uma forma de falar que era mais sofisticada. Numa época passada, havia um certo requinte, uma certa maneira de falar entre pessoas mais cultivadas, mais dadas ao culto mundano. E tinham um modo de falar diferente, mais sofisticado. Fome, desigualdade, miséria, tudo isso é para se ponderar quando pensamos no valor de conservação da cultura mundo afora. 


As alegorias históricas do filme são relativas a estética da mitologia greco-romana original e sua influência todo um todo no mar do mediterrâneo, com seus entrepostos e ligações com o orient, muito presentes como herança na Europa, mesmo tanto tempo depois de Roma e da Grécia (o berço da civilização ocidental e da democracia). Vemos mãe e filha visitam as heranças patrimoniais da Europa. Manuel de Oliveira tem um estilo de cinema muito original, como Bergman, pautado no teatro e em certo formalismo. 



No filme, rola referência a vários elementos sobre a origem clássica (grega) da cultura ocidental, como tem alguém que fala grego na mesa. Quando as duas portuguesas visitam o monumento em Marselha, o pescador João lembra de ler o que está escrito no chão no bloco de pedra. Estava escrito que Marselha foi fundada pelos gregos no século 6 antes de cristo. 


A ideia revolucionário em torno do Mediterrâneo, é que dentro da questão material, da ideia da estrutura, "a hipótese causal drenal" (estimula que civilizações são mais propensas de nascer perto de fontes de água e comida, essa fonte seria o mediterrâneo) teria tornado possível a vida e o processo de evolução e sedentarismo das civilizações dentro do escopo do oriente próximo. 



Existe uma ideia presente em todo filme de analogia entre a situação das portuguesas (individual) como representantes do tipo de cultura da própria nação. É como se fosse uma alegoria histórica, cada pessoa representa um país e um tipo de ideologia e cultura, que andam lado a a lado. 


Aqueles que falam português (participam da lusofonia) tem talentos em uma mesa com pessoas que falam outros idiomas, que entender a maioria daqueles que falam, quem fala grego, quem fala italiano, e quem fala francês, porém, nenhum deles a entende de volta, como uma espécie de pegadinha da língua, uma certa "maldição" de má compreensão, seria essa a reclamação dos portugueses.  



A vida privada representa o destino coletivo, a nação, a cultura, essa é a beleza do jogo de cena desse belo filme de Manoel de Oliveira. A questão da beleza, do patrimônio e da cultura europeia como herdeiras helenísticas, também não excluem as raízes orientes, do mediterrâneo próximo, que diversos países da Europa possuem. Ele morreu em 2015, fazendo filmes com mais de 100 anos de idade. 



Manoel de Oliveira, aborda entre outros pontos a gênese europeia e diz que a “formação da Europa é feita contra os muçulmanos”, embora mais adiante contemporize, e mencione o Papa João Paulo II, dizendo que “nenhuma das religiões tem, no seu fundo, a proposta de guerra”. Um exemplo disso para Braudel no mediterrâneo, é a questão da criação do Canal do Suez (localizado no Egito), em 1869, abrindo uma rota direta da Europa no mediterrâneo, o que antes era exclusividade de Constantinopla (atual Turquia).


 Essa ideia de superioridade europeia é um dos principais motivos da desconfiança inclusive em relação a União Europeia, essa ideia de "somos os melhores", "livre trânsito (cidadão global) no território apenas se você for 100% europeu" é um dos motivos dessa crise. Como no filme, a mãe e a filha de Portugal são as primeiras sacrificadas em uma situação de emergência, toda a civilização que possa ter desaparece e apenas os instintos de sobrevivência (aqui a metáfora econômica é de neoliberalismo) faz com que as duas pudessem ser deixadas a própria sorte. 


É uma situação limite ilustrativo que serve para exemplificar esse lugar, ao mesmo tempo universalizado, e isolado é a composição viva do sentimento de ser português. Nesse sentido, o debate de euro centrismo e superioridade europeia sofrem com os casos de xenofobia relatados no presente por parte da comunidade brasileira, ou de outros países do eixo da lusofonia (que falam o português). 







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