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Adiós Gringo (1965): Um contrato falso leva Giuliano Gemma a virar um fora da lei em busca de justiça e vingança




O cowboy Brett Landers é falsamente acusado de roubar gado. Ele é forçado a atirar em um homem em legítima defesa, mas promete voltar para provar que é honesto. Sua única pista é o nome do homem que primeiro lhe vendeu o gado, Gil Clawson, um antigo conhecido que virou bandido. Enquanto segue os passos do homem, ele salva a vida de uma mulher que foi sequestrada após um roubo de diligência e deixada para trás para morrer de sede e fome exposta ao sol. Acontece que um dos bandidos é filho do homem mais poderoso da região, que fará de tudo para proteger seu filho pervertido 



Assista o filme completo, com legendas, no final desse artigo


"Adios, Gringo" é um filme surpreendente. De cara, você não dá muita coisa pelo filme mas aos poucos uma trama muito bem elaborada, com um roteiro realmente muito bem escrito, sobre justiça, sociedade e pessoas marcadas pelo destino te convence. 



Como todo spaghetti western, o filme começa de maneira bem aleatória e direta, com ele sendo enganado e achando que tinha se dado bem. O que temos que notar aqui o método elaborado do golpista. Ele utiliza de um método burocrático para dar seu golpe. É um homem na estrada dizendo que quer se desfazer do gado em troca de dinheiro. Parece estranho, mas ele possui um contrato então tudo bem, afinal parece legal. Só que ao chegar a cidade ele descobre que o contrato é falso com o dono, que também faz questão de rasgar o contrato para ele não ser apurado e também, apesar da sugestão de sua mulher, não quer ir até o xerife, colocando a dúvida na minha cabeça. Muito provavelmente por estar na frente de sua mulher e querer mostrar sua honra, mas sua atitude além de suspeita, levou a sua morte. 



Após isso, um detalhe que muitas análises ignoram é que as pessoas ao redor se comportam como gado, como manada, em teoria de grupo, buscando orquestrar de cara um linchamento e enforcamento do herói. Percebemos na cena que muitas pessoas nem refletem o que estão fazendo, apenas vão o enforcar pois é o costume. 



Esse é um elemento que alguns westerns esquecem, pois afinal é preciso lembrar que o sistema educacional ainda não era disseminado e as pessoas não tinham muita instrução.



Assim, não sobra escolha para ele a não ser ir para o outro lado e se tornar um fora da lei e foragido. Percebemos aqui também a inocência do herói, uma vez que ele subestimou o poderio dos fazendeiros locais, sendo obvio que tal gado não viria tão fácil. 


Seu encontro com Lucy é bem simbólico, pois afinal como ela ele foi marcado pelo trauma. O que poucos notam é que lá na frente vamos descobrir que o homem que deu o golpe no herói, trabalha para o mesmo playboy que estuprou Lucy, demonstrando que era todo um esquema.




Ele então busca justiça, tentando falar com o xerife. Mas o xerife lembra que ele é procurado e pensa em entregá-lo para a justiça da outra cidade e pegar a recompensa. Ele ainda faz um diálogo sobre saber que isso seria errado, mas que depois que se casa e tem filhos você precisa pensar em si, uma ótima forma de mostrar como o poder se corrompe. 


Brett consegue convencer o xerife, finalmente. Mas o xerife não acredita que poderá resolver o caso, uma vez que quem Brett está acusando é o filho do homem mais importante da região, algo que Brett não sabia até então. Isso é uma coisa que acontecia muito em cidades pequenas do Brasil também, mas hoje em dia menos pois se cresceu a noção do problema de se ter "senhores locais" que mandam mais que a lei. 



O confronto final dessa trama é emocionante, de tirar o fôlego. Você fica torcendo, pois como é típico dos spaghettis, há uma grande desvantagem numérica dos vilões em relação aos heróis. Logo, qualquer erro pode ser fatal. 



Aqui já vale mencionar como é boa atuação de Giuliano Gemma, principalmente nas cenas de ação. A maioria do elenco parece bem amadora, destaque para o ator do xerife e o pai do vilão talvez que dão certo valor a trama.


O impressionante talvez do filme, é que tudo isso é amarrado de uma maneira muito boa, não tendo o aspecto forçado da maioria dos spaghettis. Há uma fluidez do roteiro que prepara para as cenas mais impactantes. Além do roteiro ser muito bom, também a direção é bem arrumada, dando um caráter bem formal a um filme que é simples e sem muito recurso.


As cenas de ação são muito boas, utilizando de certos efeitos práticos para reproduzir a violência, muito interessantes para um faroeste e sendo mais comuns a filmes de terror, principalmente trash.



Adios Gringo oferece uma boa mistura de influências americanas e italianas. Os créditos nos dizem que foi baseado em um romance pulp americano, do autor Henry Whittington.


A trama, enfatizando redenção em vez de vingança, parece mais americano que italiano, mas tanto as cenas de ação quanto o estilo de atuação são tipicamente italianos. 



As caracterizações são clichês, mas Cressoy é, no entanto, bastante convincente como o patriarca, autoritário, despótico, mas não sem consciência. Righi está bem escalado como o verme: ele parece tão confiável quanto um furão perto de uma toca de coelho. Roberto Carmadiel também, escalado contra o estereotipo geral de um médico sábio em vez do habitual companheiro cômico. 



A trilha de Benedetto Ghiglia é muito boa e marcante, principalmente para um spaghetti. A música tema é meio brega (Gringo, Gringo, pom, pom, pom) mas possui certo irônico por acompanhar as desventurar do herói.


Gemma mostra pouco da atitude cínica do herói spaghetti western, mas a violência é um pouco mais gráfica do que em seus filmes anteriores. A exemplo, um homem é pregado a uma parede perfurando sua mão. O diretor, Giorgio Stegani, tem um estilo bem atraente e que me convenceu bastante, levando uma produção independente a um patamar bem alto pela simples maneira como coloca as coisas no quadro, em cena.


Diria que é melhor que Ringo, O Cavaleiro Solitário, quase no nível de um Mato Hoje, Morro Amanhã, mas ainda sendo simples, meio televisivo, perto de um Sergio Leone. O meio do filme é meio enrolado e demorado demais, e a violência um pouco exagerada. Porém, é um filme que me divertiu bastante, vale a pena e diria necessário para aqueles interessados pelo gênero dos spaghettis. Sua trama humanista, sobre pessoas marcadas e que tenta tirar das oportunidades o melhores que puderem é realmente tocante, tornando o filme muito recomendável para quem quer ver um filme divertido e tocante ao mesmo tempo.


História por trás do filme


Este foi o primeiro de três westerns spaghetti do diretor Stegani. Ele foi assistente de direção em Un Dollaro Bucato, de Ferroni, e também trabalhou como assistente de direção para Gérard Oury na bem-sucedida co-produção franco-italiana Le Corniaud, estrelada por Bourvil e Louis de Funès


Pela primeira vez Gemma usou seu nome italiano, em vez do pseudônimo americanizado Montgomery Wood. Toda a campanha publicitária foi construída em torno de sua personalidade; era tanto um filme dele quanto o de Stegani. 


Isso parece ter levado a um excesso de brigas na produção, dando a Gemma a oportunidade de mostrar todas as habilidades físicas e atléticas e um papel estendido para o bom amigo de Gemma, Nello Pazzafini, que recebe mais tempo de tela do que o vilão principal Righi. 



Embora o estupro real não seja mostrado e o corpo nu de Stewart esteja oculto pela estatura de Gemma quando ele se aproxima dela, a sequência é bastante desagradável de se ver, dando certa raiva e repulsa. 



Aqui o estupro e a tortura são usados ​​para sublinhar o quão maus são os vilões. Nunca há nenhuma sugestão de que isso possa ser desculpado, muito pelo contrário: algumas pistas são feitas sobre a hipocrisia dos homens, que tendem a culpar a vítima de um estupro e não os estupradores, indo bem ao contrário de Estranho Sem Nome, mesmo sendo uma produção de bem menos orçamento e ambição.


Assista o filme completo, legendado, aqui:















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