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Westworld - "Années Folles" (4x03): Análise do terceiro episódio da quarta temporada da série



Bernard encontra Akecheta no Sublime, que o informa que tudo, exceto uma versão possível do futuro, levará à destruição da humanidade. Bernard acorda anos depois no mundo real e se junta a Stubbs para decretar os passos supostamente corretos para garantir a sobrevivência da humanidade, começando por ajudar um grupo rebelde humano a encontrar uma arma enterrada no deserto. A esposa de Caleb, Uwade, e a filha Frankie se defendem de uma cópia do amigo de Caleb, Carver, cujo homólogo humano é encontrado morto por Frankie. Maeve e Caleb acham que o parque Temperance se assemelha muito aos eventos de Westworld, incluindo uma narrativa baseada na rebelião dos anfitriões.

Westworld 4° temporada está disponível no HBO Max


Veja aqui a análise do episódio anterior, 1x2



Antes de entrar no episódio, um detalhe do título. "Années Folles" é como ficou conhecida a década de 1920 na França. O termo, também chamado de "crazy years", foi criado para descrever as ricas colaborações sociais, artísticas e culturais do período. O mesmo período também é referido como os anos 20 rugindo ou a Era do Jazz nos Estados Unidos. Na Alemanha, às vezes é referido como os "anos 20 de Ouro" por causa do boom econômico que se seguiu à Primeira Guerra Mundial. No Brasil, tivemos os modernistas, a Semana de Arte Moderna e a criação do partido comunista e expoentes da música moderna como Pixinguinha. 


O episódio começa com Bernard, que andava sumidaço da série. Ele está segurando uma miniatura do labirinto, pego de suas mãos por uma menina. Ele anda pela cidade de Westworld e estão todos mortos. 



Vemos então o índio da segunda temporada (Zahn McClarnon), que liderava o grupo dos índios do parque. Ele está de terno e sem pintura na face.




Eles conversam sobre ficar presos em loops eternos. Bernard vê então vários locais diferente na mente, cenários de mundos que o programa rege como realidade. Bernard diz que acredita que em todos os cenários ele morre, mas o índio o conta que isso só se ele escolher sair. 



Vemos então um plano de onde havíamos visto Bernard pela última vez. Ele parece empoeirado, denotando estar ali a muito tempo parado. 



Voltamos então para Maeve e Aaron Paul no anos 20, onde além de uma referência as sufragistas, aparece de novo um mendigo, só que dessa vez ambos não fazem cara de nojo como fez Christina. 



Maeve nota um detalhe interessante sobre os mundos: apesar de mudar a aparência e a época, as histórias são as mesmas. Por exemplo, quando rola o pote e ele quase se abaixa para pegar, temos referência ao piloto da primeira temporada, onde Dolores deixava cair o pote todos os dias para ser "ajudada". Pareceu para mim uma metáfora da situação atual das séries americanas: todas parecem copias uma das outras, mudando apenas a época e gênero. 


Cena de Bernard brigando com os rednecks é meio estranha, diria até descontextualizada e desnecessária. Vemos então que apesar de ter ido para a aventura, a filha de Caleb está sentindo sua falta, algo interessante, já que se pensarmos que quando ele não estava tentando salvar nada estava feliz com a família. 



Um cara estranho quer levar a menina para um abrigo, só que ao ela dar o urso para ele e pegar de volta, vemos que ele está sujo de sangue. 


Na trama de Bernard, vemos uma moça o perguntar "a quanto tempo luta pela causa?", após Bernard mostrar seu símbolo do labirinto, algo que parece frase de resistência comunista. Definitivamente esse plot está buscando referências em Mad Max. 


A sequência dos anos 20, principalmente as cenas nas ruas são impressionantes. Muito realistas. Detalhe para a música instrumental ao fundo na cena do tiroteio: "Enter the Sandman", do Metallica.



Temos uma cena bem legal, onde ao Maeve e Calebe se infiltrarem na central de reparo de robôs, voltamos a um tiroteio de uma temporada anterior, onde vimos Dolores invadir aquele lugar e, naquela época, a série levava a gente a torcer por ela, quando na verdade agora, olhando da perspectiva de Maeve e Caleb como infiltrados, aquilo tudo parece um loucura sangrenta desnecessária. Maeve chega a comentar que é outra "Wyatt", uma referência a Wyatt Earp, um cowboy do velho oeste americano que virou xerife por ter participado de um tiroteio onde sua gangue matou a gangue rival, famoso evento histórico do tiroteio de "OK Corral".



A cena da filha de Caleb e o jogo doentio da máquina foi de tirar o fôlego, muito emocionante ao nos fazer refletir o quanto humanos são os replicantes, já que eles vivem como tal. 



Já William vindo para cima de Maeve foi legal também, algo meio Nemesis de Resident Evil, um confronto que já queremos ver a muito tempo. E que nervoso da porra da cena dos abelhas em cima de Caleb, uma armadilha um tanto quanto injusta, pois quebra a regra "crime vs. punishment" das séries. 



Mas vamos aos pontos que ficaram estranhos. Cadê Christina? Simplesmente um episódio inteiro sem a protagonista que é vendida no trailer e piloto da série. E eu sinceramente adoro o ator que faz o Bernard, mas seu plot é sem graça e meio requentado da segunda temporada, com pinceladas de estética Breaking Bad, que nesse episódio não levaram a lugar algum. Isso pode melhorar nos próximos episódios? Claro, mas o episódio foi salvo por Maeve e Caleb, que depois desse episódio roubaram completamente o protagonismo da série. Depois das loucuras de Dolores, é difícil se importar muito com o que vai acontecer com Christina. O tropo dela na cena do tiroteio, que toma um tiro de Caleb, sintetiza isso como sendo um plot furado, que já foi, tanto que reapareceu Ted.


O plot de Maeve e Caleb parece estar questionando também a tendência de repetição e gênero das últimas séries americanas, que realmente andam meio batidas. Acho que o plot deles está tentando e muito fugir de um final óbvio para a série e isso merece ser reconhecido. 



Existe um grande espaço para interpretações filosóficas e sociológicas, já que ao reviverem por outra perspectivas os mesmos arquétipos e plots, está se debatendo profundamente a construção social da realidade e a narrativa que escolhemos, algo com um profundo teor de questionamento político dos plots e locais comuns do início da série.


Mas a série precisa melhorar a sua edição. Estamos no que é  supostamente a temporada final da série, e parece que ainda estamos tendo momentos de edição alternada de cenas e plots que não possuem a menor conexão direta e imagética, tornando o episódio maçante. A direção do episódio foi bem fraca, disparando para todo lado e parecendo não saber direito o que estava fazendo. 



Existe uma teoria, até que interessante, que Bernard estaria no futuro em relação ao plot de Caleb e Maeve. Esse elemento, com outros desse episódio, tornam mais evidente o debate político da série. Como é meio óbvio os sistema bipartidário americano, fica difícil ter um otimismo político uma vez que todo governo está sempre com a transição de poder entre republicanos e de democratas, algo sinalizado pelo suposto futuro. É uma teoria, mas não sei se é sustentável.


Eu digo que foi um episódio quase lá. Foi bem legal o plot de anos 20, cenas de ação bem feitas e bastante resolução da narrativa. Mas o o ritmo e falta de foco enfraqueceram ele, fazendo dele um episódio interessante, com cenas muito boas, mas onde parece que fizeram esforço para colocar cenas entediantes e enroladas para que não fosse bom demais. Queria que a série ficasse um pouco menos morna, em uma inconstância eterna de dar qualquer ponto de vista definitivo. As vezes isso é legal, outras soa como gancho barato, como tivemos no final desse episódio. Torço para melhorar um pouco essa transição e que a temporada entregue um pouco mais, apesar de ela já ser melhor que a anterior.


Veja aqui a análise do próximo episódio, 4x04


Mais cenas do episódio:












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