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Westworld - "Well Enough Alone" (4x02): Análise do segundo episódio da quarta temporada da série


O segundo episódio da quarta temporada da série da HBO Westworld continua seu "labirinto". Temos a volta de William enquanto Man in Black. Maeve (Thandiwe Newton) e Caleb (Aaron Paul) enfrentam androids replicantes que estavam na figura de um senador dos Estados Unidos e sua esposa. A empresa Delos volta ao mercado e parece estar preparando um novo mundo para seus hóspedes: a "era dourada" dos anos de 1920

Westworld 4° temporada está disponível no HBO Max


O episódio começa diferente. William (Man in Black) ataca Clementine (uma das garotas do saloon, da primeira temporada, amiga de Maeve) em algum lugar do oriente. 



Vale lembrar que a última temporada terminou de maneira bem "ruim", com William, sendo substituído pelo seu replicante por Dolores (má) e Hale, que agora comanda as operações do "William mau", enquanto Dolores não é mais Dolores, é Christina e é uma das roteiristas do departamento de narrativa. 



Agora Dolores (Evan Rachel Wood) interpreta um novo personagem, a Christina, escritora/roteirista de videogames que agora odeia sua vida por não ser mais western (gênero de aventura). 


Ou seja, Dolores da quarta temporada nega a Dolores que queria matar todo mundo e se vingar de todos os humanos. Agora, ela passa sua vida dentro de uma rotina. Ao "matar todo mundo", Dolores substituiu os roteiristas de sua estória, se tornando ela mesma em um novo mundo do departamento de escrita. 



Parece que Dolores/Hale tentaram a tática de "dividir para conquistar", e agora uma cópia de Dolores, com uma nova vida, tem também em um novo mundo. 



Depois de matar os hóspedes no corpo do senador, Maeve usa sua habilidade mental para pegar resposta. Maeve e Caleb vão até a opera, descobrindo que o teatro estava vazio e que era uma cilada. Alguns momentos depois, eles vão para um trem onde vários hóspedes estão reunidos junto a androids também. 


Eles descobrem que William chegou primeiro e transformou o corpo do senador e sua esposa em replicantes. Parece que a estória era que o senador e William eram parceiros de política e que ele contribuía para a campanha.



Maeve e Caleb entram em luta corporal com o senador, e depois disso, ela encontra a antiga esposa do senador matando um cavalo, já transformada em alguma coisa de muito terrível, como disse Maeve. Maeve continua assistindo Caleb, que agora tem uma esposa e uma filha. 



Na Delos, Clementine encontra com funcionários do Departamento de Justiça. Eles investigam a Delos enquanto os agentes ameaçam, ela que já havia sido reprogramada pelo William (Man in Black), controlada por Hale em última instância. Clementine então pergunta para evitar os agentes enquanto eles ameaçam com o poder do governo americano, "Mas vocês tem hora marcada?", depois ela e Hale armam para os agentes. Clementine então mata o agente o sufocando.



A nova atração que é mostrado apenas uns segundos, parece ser um novo mundo, os anos de 1920, na época da chamada Era Progressista, a mais nova atração da retomada dos parques da empresa Delos. 



Christina encontra um centro de saúde mental abandonado e fica intrigada. Ela encontra uma sala toda dedicada a Peter Myers. Lá ela encontra um desenho da torre, de onde vinham os sinais de reordenação por parte dos donos da narrativa e do parque. 


Christina lembra que no primeiro episódio, ela ouviu um mendigo falando sozinho sobre "uma música sem som", que está "vindo da torre".  

 




William, que estava jogando golfe enquanto conversava com um agente do serviço secreto, conta sobre seus planos de retomada do parque. Enquanto o próprio William manda um dos representantes que o ameaçavam, Clementine mata outros dois agentes secretos do governo. 


Em algum lugar, Hale acorda o William se verdade de seu sono forçado e o coloca em uma máquina de clonagem, e calmamente diz para ele que vai acabar com sua raça (seres humanos) e o coloca de volta para dormir. 



Crítica do episódio


Recapitulando um pouco, podendo entender que Christina não sabe que é Dolores ainda e que já viveu um universo de exploração e "aventuras". Teddy (James Marsden) aparece por alguns segundos no primeiro episódio (deixando a entender que ele encontrou a nova identidade de sua antiga amada). 


O episódio termina epicamente com a "golden age" (idade dourada), parecendo que o novo mundo de Westworld é mesmo os anos de 1920. Esse plot certamente vai ser interessante. 


A terceira temporada parecia o filme Futureworld (1976), enquanto as primeiras temporadas parecem com o filme que gerou a ideia original do Michael Crichton de Westworld (filme de 1973).



Christina está em dúvidas sobre sua vida e reflete sobre ser vazia, sem paixão e sem romance. Ela se culpa pelo suicídio de um homem que estava a perseguindo por semanas. 


Ao ir no sanatório e ver que não tem ninguém ali, pode parecer "assustador" para algumas pessoas, porém, é uma reflexão até acadêmica proposta aqui. O debate sobre manicômio e reforma psiquiátrica pode estar sendo levantado pela série, como uma forma de "mundo" também. 



Clínicas e manicómios são desacreditados como possibilidade real de "cura" faz tempo. Isso pode se dizer sobre qualquer clínica, basta qualquer coisa dar errado na estrutura do lugar. A reflexão é que Westworld pode ser metáfora para opressão e simulacro e "qualquer mundo", e que manicómios, por exemplo, eram pensados como instituições totais, e que isso poderia facilitar em ser um local ideal para controle de indivíduos "fora da normalidade". 



Essa reflexão da normalidade foi talvez o ponto alto da volta da série, que agora tenta se aproximar mais da realidade, problemas de estrutura, emprego, renda e família, e não tanto no futurismo vazio (como na terceira temporada), uma metáfora de tempos altamente reflexivos em relação a estrutura geral da ordem, da rotina e da sociedade em si. 


Se antes o foco era no futurismo, agora a ideia volta a envolver temas de debates filosóficos e existenciais. Ou seja, a série por mais "doida" que parece ser, ela ainda inspira debates e ideias originais, e principalmente debate a criação e os gêneros dos gostos mais populares. 


É como a própria moda, ela pode vir de algo que surgiu há 200 anos atrás, caiu em desuso e voltou. Essa é a reflexão profunda de Westworld, uma ideia de que os mundos existem dependendo a fantasia e da representação de cada sociedade, mas que em comum, todas elas são simulacros (esse seria o caráter mais pessimista da série). 


O que podemos pensar é que a série se encontrou depois da desastrosa 3 temporada (que não fazia sentido nenhum), e que agora a série tenta debater os limites morais e filosóficos da ideia de parque temático, ou seja, a moda de uma época, os costumes e a sociologia particular de cada período possuiria uma certa áurea.


Como o exemplo dos excelentes episódios que eram no universo Shogun (Japão, xogunato), que a série já retratou e o tradicional parque temático (ao estilo vídeogame real) que era o projeto da empresa Delos (que era do pai da esposa de William, que vira dono de tudo depois da morte da esposa e de internar o pai dela nos aposentos de moradia que depois foram usados com ele mesmo. 


Enquanto podemos observar que agora a personagem Christina simboliza a pessoa presa em uma rede de social democracia (a vida dela seria a vida dos sonhos para a fantasia da antiga Dolores filha de fazendeiros), mas para ela própria, que não sabe de nada do antes, sua vida é sem graça. 


Uma metáfora de que a maioria dos fãs da série gostavam quando a série era sobre western (gênero de faroeste) na primeira temporada, e concordam em dizer que a série perdeu sua principal característica ao fazer a sua "revolução" interna, entre a rebelião de Maeve e a de Dolores e Teddy. 


Seu editor e chefe insiste que os finais tem que ser sangrentos (o que explica sua inquietação com as narrativas), onde todo mundo morre, senão você não tem as narrativas clássicas que os americanos tanto amam. Isso é uma boa reflexão, pois quando Dolores acaba com tudo nas primeiras temporadas e mata todo mundo, inclusive o Ford (Anthony Hopkins), ela estava sendo "autora". 


O que faz sentido então, ela ser como uma escritora, roteirista mesmo nessa temporada como Chistina, e ainda por cima, agora ela não é mais loira, é morena. Outro detalhe, é que William inaugurou no fim do episódio do "mundo dos anos 1920", sob aplausos. 



Outras imagens do episódio:








































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