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Arquivo X - "Gender Bender" (1x14): Análise e curiosidades do décimo quarto episódio da primeira temporada


Escrito por Larry e Paul Barber, e dirigido por Rob Bowman, com a participação especial de Nicholas Lea. Um típico episódio "monstro da semana", e não pertencente a linha do tempo do arco mitológico. Scully e Mulder investigam uma série de assassinatos ocorridos depois de encontros sexuais. Os dois agentes do FBI investigam uma morte relacionada a indícios de feromônios, aparentemente relacionado com um grupo religioso vivendo em Kindred, de Massachusetts, que vive como se ainda estivessem no século XIX, ideais parecidos com a cultura Amish.   





Depois do clima de música alta regando uma balada na noite  cosmopolita, um homem é visto deixando o quarto, mas quem foi vista entrando foi uma mulher. 

Scully e Mulder encontram rastros de cerâmica no quarto onde ocorreu o assassinato, o que os leva a desconfiar dos Kindred, que são comparados aos amishs no início do episódio. 

Os agentes vão até a loja de troca de produtos locais, onde descobrem que a cultura Kindred só se deixou fotografar pela última vez em 1930, e mostra essas fotos para eles. 


Scully se encontra com um dos membros em uma das carroças, ele pega na mão de Scully e ela sente algo de estranho no cara. Ela diz isso para Mulder, que por sua vez brinca que sempre achou isso deles.  

Ao seguir para a comunidade dos Kindred pelas florestas, eles são encurralados pelas pessoas do vilarejo, que exigem para a entrada em sua comunidade, que os agentes deem suas armas para poder entrar (de acordo com as regras locais). 





Os agentes são obrigados a entregar a arma por conta do costume local, Mulder entrega sua arma, mas retira o pente de balas como prevenção. 
Eles são chamados para jantar em uma mesa cheia deles, e Scully estranha o hábito de fazer oração. 

Um senhor se engasga, e eles não podem nem mesmo interferir (como uma metáfora da ideia contra livre-arbítrio). Eles ficam com a impressão de que eles estão escondendo algo e veem um grupo de gente com tochas seguindo para um celeiro, eles vão até o celeiro deles para ver o ritual. 



A comunidade diz que foi pedido para eles "não interferirem", e Scully sai meio que levada pela mão por Mulder para embora dali. Mulder pega um café para Scully na estrada e pergunta como ela está, e ela responde que está envergonhada e diz que acreditou no cara. 

Mulder diz que sabe o que viu, e que ela estaria a ponto de fazer "the wild thing" (transar) com um estranho, coisa que ele estava criticando no início do episódio. Marty, como mulher, começa a falar em diálogo sobre tocar um corpo de homem e mulher e do quanto isso a emocionava antes de matar mais uma de suas vítimas. 


Scully e Mulder fazem uma batida e depois Scully aponta a arma pro mesmo cara, que bate nela na cara, e aí só aparecem as sombras da noite escura. 


Crítica do episódio


Esse episódio é um dos meus favoritos. Sua temática e subtons são notáveis. A história dos amishs acaba trazendo um elemento de curiosidade sobre um grupo de pessoas (que vivem em comunidades que tentam se fechar para o mundo), e a relação deles com os dois agentes do FBI que vem investigar. 


Os crimes sexuais chamam a atenção e vou explicar o motivo. O episódio pode parecer aleatório, mas é um dos mais importantes da série. É a primeira aparição do Nicholas Lea, por exemplo.



Scully descobre com o cara que entrevistou na porta do armazém, quem é o irmão Marty, dizendo que ele diferente. Ele mostra as revistas do amigo e diz que ele "saiu" da comunidade depois de sua primavera, e que ele queria ser "do mundo deles". Mulder se esconde nos dutos do celeiro observando o ritual, e Scully está entrevistando um amigo de Marty. Ele pega na mão de Scully de novo, e é quando ela seria 'atacada'. 


Os amishs controlam seus jovens muito mais que pais comuns, mas há um momento para cada um onde para garotos e garotas, que chegam na idade de 16 anos, podem escolher ir para a "civilização", e aí eles podem voltar para o modo de vida dos familiares e dos parentes se escolherem voltar para sua cultura. Isso é temática até na comédia Sex Drive. 


O que acontece é que muitos desses jovens não voltam e experimentam a vida liberal dos tempos modernos. Os amishs na vida real são um culto anabatista que recusou a sociedade moderna no século XIX. 



Bastidores e História por trás do episódio


O episódio foi baseado no desejo do produtor Glen Morgan de fazer um episódio sobre tensão sexual. Os roteiristas tiveram certa dificuldade no desenvolvimento da ideia, que mostrava o sexo como "assustador". Apresentando então a vida em sociedade do grupo suspeito, um grupo amish (pessoas que vivem em comunidades que se assemelham com o século XIX, e que não possuem energia elétrica, nem possuem televisão). 


O pessoal que vive e mora dentro desse modo de vida, cultura e ideologia não pode sair do espaço da comunidade até completarem 16 anos completos, quando podem ir para a cidade para decidir se vão voltar ou se querem optar por outra vida. A ideia original veio de pastores anabatistas como Jakob Amman, um homem suíço, que buscavam uma interpretação "literal" da bíblia.



Alguns elementos no episódio foram marcantes, como o vilão hermafrodita, como achar círculos nas plantações (como também tem no filme de 1998, dirigido por mesmo nome que dirigiu esse episódio). É então inserido o tema deles acharem que era um espaço feito por uma impressão de aterrisagem de alguma nave alienígena. 



Tem o elemento de morte por sexo (o que quer dizer que dormir com um "alien" é fatal para um humano). O nome do episódio quer dizer exatamente o que quer dizer, significa "gênero móvel", para se referir ao vilão do episódio, que por ser alien pode mudar de sexo após o fato sexual. Outro detalhe sinistro do episódio é que Scully quase transa com o assassino antes de Mulder interromper.  


O filme "A Vila", de Shyamalan retrata de maneira literária uma realidade parecida, onde ele reflete o poder dos jovens querem "manter a tradição" e mentir para continuar o legado de sua sociedade quando descobrem a função social dos mitos como agregadores da sociedade em questão. 


O que é parecido com a reflexão de que a maioria dos jovens amish (que estão em sua maioria no Estado da Pensilvânia), voltam depois de sua "folga" para sua vida pacata. 



A questão é que eles podem ir fazer o que quiser, com pouca idade de experiência de fora de sua comunidade rural, o que leva alguns a querer curtir muito fora dali, e aí entra a metáfora do alienígena do episódio. 


O episódio foi visto por aproximadamente 6.8 milhões de pessoas na sua exibição original, apesar de muitos não terem gostado do final ambíguo, como também por ser uma reflexão sobre gênero e ascensão da ansiedade causada pelos novos papeis femininos nos anos 1990.



Evidenciado por como a entidade mexeu mais com Scully, por ser uma mulher mais cética e conservadora, o conservadorismo pastoral dos amish combinou com uma luva com sua personalidade, por isso ela ficou "hipnotiza", ou seja, ficou com certo encanto antropológico com o lugar, o que não ocorreu no caso do Mulder (que normalmente é esse cara que gosta e acredita nas coisas), como era um caso sobre conservadorismo religioso clássico, quem acabou quase morrendo em perigo foi Scully, sendo salva na última hora por Mulder (quando normalmente quem salva quem é mais Scully em relação ao Mulder).  



Queriam introduzir essa ideia de que pessoas amish eram como "alienígenas", pessoas de "outro planeta",  pessoas de fora. O episódio foi escrito por dois roteiristas avulsos Larry e Paul Barber, que queriam fazer um episódio que chocasse uma cidade agitada e os costumes rurais amish. Fizeram também um trabalho de arte, inspirado no trabalho do suíço H.R Giger, mas depois passou por outros roteiristas que aprimoraram a ideia para ficar mais com a cara da série. O canto entoado pelo povo de Kindred não estava no roteiro entregue por Barbers, adicionados por pelo produtor Paul Rabwin. Outra cena deletada foi uma onde a virilha de alguém apodrecia. 


O personagem do Marty foi interpretado por dois atores, uma mulher Kate Twa que interpretou a forma feminina, e Peter Stebbings que interpreta Mary na forma masculina. O produtor R.W. Goodwin disse basear sua escolha por Stebbings por sua grande semelhança física com a outra atriz.  Kate Twa, que interpreta uma conhecida de Scully no episódio "Soft Light".


Gender Bender também marca o debute de Tob Bowman como diretor, o mesmo que dirigiu o filme The X Files: Fight the Future. O diretor achou o episódio difícil de executar. Para construir um subterrâneo nos celeiros das casas de Kindred., sendo necessária uma segunda unidade de câmeras para filmar melhores ângulos de câmera. Para complementar algumas cenas que ficaram faltando do episódio, David Duchovny filmou mais um dia de cenas dele para completar o que faltava. 


Os cenas exteriores da vila de Kindred foram filmadas em uma fazenda preservada de 1890 em Langley, na British Columbia, uma província canadense, enquanto os interiores foram filmados em um palco de som.


A pequena cidade visitada pelos agentes foi filmada na localidade de Stevenston, British Columbia, foi utilizada novamente em "Miracle Man". A música do episódio na boate forma recicladas do trabalho do criador de trilha sonora da série Mask Snow, em seu outro trabalho In The Line of Duty: Street Wat. 


A intenção por parte do diretor era criar uma impressão de ambiente muito mais cosmopolita do que o que foi para o recorte final. Ele queria focar nas diferenças entre o lugar da cidade e o campo. 


Gender Bender parece ser o episódio que demonstra as tensões sexuais e ansiedades de maneira bem figurativa. Parece querer representar a mudança da expectativas novas em relação ao gênero feminino, com a conquista das mulheres em postos de trabalho antes não imagináveis. Gerando certo medo ao contato sexual e da reprodução, demonstrando certa potência da censura, do controle e da repressão sexual em comunidades como estas. 


A relação da abdução e de paranoia com alienígenas e sexo é uma das metáforas costuradas no episódio, como em filmes como Communion, E.T., e o livro The Puppet Masters. 


Ao ser perguntado sobre se irritaria alguém a comunidade de Kindred ser inspirada na cultura amish, Chris Carter disse que não se preocupava em irritar ninguém, afinal a comunidade amish não assiste televisão, ele brincou. 


O episódio recebeu críticas diversas. Matt Haigh, escritor pelo Den of Geek, disse, que foi "uma ideia interessante e original", com intenso trabalho de "atmosfera", e cenários potencialmente assustadores, como também vilões assustadores. Zack Handlen escreveu elogiando o episódio, dando um "A". 


Ele sentiu que o enredo misturou perfeitamente teoria científica, rumor não substancial, e efeitos visuais memoráveis, achando representar a essência do estilo de The X-Files, mostrando alguém interagindo brevemente com o fenômeno sobrenatural sem nem mesmo aprender a verdade de suas experiências. 


Mas alguns acharam forçado os temas de opressão e ansiedade sexual, e que isso teria causado um efeito tedioso por ter temas muito conservadores no episódio. Alguns apontam que se a pessoa morreu de feromônios, não teria nada a ver com temática alienígena. No fim, tudo é justificado com a questão da explicação deus ex machina de que os costumes seriam "culpa dos aliens". 



















Comentários

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