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Arquivo X - "O Prometeu Pós-Moderno" (5x05): Curiosidades e análise do episódio que faz uma homenagem ao cinema de terror clássico



O quinto episódio, da quinta temporada de Arquivo X é muito especial, foi ao ar dia 30 de novembro de 1997.Foi escrito e dirigido pelo próprio criador da série Chris Carter. O tipo de episódio cobre o tipo de mitologia descrito nos estilos de episódios "monstro da semana", e em apenas um episódio cobriu toda uma série de homenagem aos filmes clássicos de terror dos anos de 1930, como o clássico Frankenstein, em referência ao subtítulo do livro de Mary Shelley "O moderno prometeu", como no nome do episódio que se chama "O Prometeu pós-moderno" e demonstra a realidade de pequenas cidades americanas e sua cultura que emana um carácter sinistro de linchamento e julgamento social. Esse episódio também foi nomeado para 7 prêmios do Emmy, e ganhou em uma categoria.


 Todo mundo sabe o que atraiu tantos fãs para a série da Fox, a base do entendimento da série clássica Arquivo X é em cima de projetar as ideias de crença de Fox Mulder, com a refutação em par feita pela sua parceira Dana Scully, personagem inspirada na Clarice Starling (personagem de Jodie Foster), do filme Silêncio dos Inocentes (Silence of the Lambs, 1991).  


Já falamos sobre Arquivo X antes em dois artigos, um geral que tentava entender a ideologia geral da série em torno do debate entre o ceticismo e a crença, e um sobre um episódio marcante, o 4x02, inspirado no estilo do filme O Massacre da Serra Elétrica.


Esse episódio  foi marcante por diversos motivos, primeiro mostra Mulder  e Scully investigando um caso de uma criatura misteriosa que engravidou uma mulher de meia idade em uma cidade do interior. Lá eles descobrem que o apelido do monstro era "O grande Mutato", uma criatura genética que era criação de um doutor local (a ala a história de Frankenstein original). 


A série sempre brilha ao tratar de temas clássicos da teledramaturgia americana. A história escrita por Carter é excelente e referencia o mundo clássico da literatura e do cinema de terror. Parte do roteiro do episódio apresenta referências diretas especial ao filme de 1931 de James Whale. Além disso, o episódio foi filmado em preto em branco, inclusive possuindo uma forma de céu de estúdio artificial para imitar o estilo dos filmes com a estética de Frankenstein. Como no livro de Mary Shelley, a criatura é inocente e é criado por certa maldada de ego do professor que já havia afastado todos de sua vida.  


O roteiro também foi pensado em cima das atrizes/cantoras Cher e Roseanne, mas elas não puderam participar.  Uma curiosidade do episódio é que o ator que interpretou depois Jeffrey Spencer (Chris Owens), nesse episodio ele interpreta a criatura, o grande mutato, para fazer maquiagem do monstro o ator teve que ficar horas na caracterização, sendo construída com maquiagem que custou quase  $40,000 mil dólares e demorou até 7 horas para aplicar tudo, além do uso de dentaduras e lentes de contato e látex. O técnico de efeitos Tony Lindala admitiu que a técnica de filmagem do episódio foi especial para tentar ganhar o Emmy. 




O episódio começa com temática de quadrinho, e temos um personagem na cidade que é escritor das histórias do "grande mutato", o monstro local. Mulder recebe uma carta de Shaineh Berkowitz (Pattie Tierce), uma mãe solteira que alega ter gravidado enquanto estava inconciente há 18 anos atrás, resultando no nascimento de seu filho Izzy (Stewart Gale), o mesmo que faz os quadrinhos do grande mutato, e de quem Scully desconfia inicialmente. A questão do Mutato é interessante por refletir a atualidade dos tipos de lendas locais e como elas se relacionam com o envolvimento midiático que uma lenda local pode possuir. 




Agora, um novo ataque se torna conhecido quando falam sobre Mulder e sua especialidade no paranormal no programa The Jerry Springer Show (um programa  ao estilo 'talk show' nos Estados Unidos) que citava Mulder como especialista do sobrenatural, e querem que ele investigue a situação. Uma curiosidade é que o próprio Jerry Springer participa do episódio como ele mesmo.




Então Scully e Mulder viajam para Albion, Indiana. Eles encontram Shaineh e seu filho e eles contam como que é a aparência do monstro. Scully acha que o monstro é invenção da imaginação local que testemunha e relata o poderio da criatura, e Mulder acha que tem mais alguma coisa na situação que tornava o caso um "x files" (sobrenatural). 


Eles encontram um homem velho que conta para eles com raiva que não existem monstros por lá. e mandam o geneticista Francis Pollidori (John O'Hurley) e mostra para eles os experimentos sobre o gene Hox, usando a mosca da fruta Drosophila, mostrando a imagem da mosca mutante com as pernas que cresciam pela boca. Ele instrui os agentes dizendo que a mesma coisa poderia acontecer com seres humanos. Dr. Pollidori é obviamente a referência ao personagem literário de Victor Frankenstein (o criador da criatura Frankenstein), sendo o personagem inspirado no personagem do livro de Mary Shelley. 




Depois disso, a esposa de Pollidori também é atacada pelo monstro, e os agentes acham um resíduo químico vindo de origem da agricultura usado para anestesiar animais, o que leva a desconfiar do pai de Pollidori, que é um fazendeiro. Mutato morava com o doutor Pollidori, acha o corpo dele depois de ter sido morto, e enterra seu corpo no celeiro. Enquanto isso, uma multidão enfurecida quer matar Mutato, monstro e ídolo dos quadrinhos local. 




A multidão em meio a um espírito de linchamento quer que Mulder e Scully entreguem Mutato para eles lincharem, mas eles não deixam. Marcando uma mudança de postura ideológica no episódio, onde eles impedem um linchamento e dão ao monstro algo que ele nunca teve: uma noite de diversão




Chris Carter, o criador original da série observou que eles queriam um episódio marcante ao estilo dos "episódios mitológicos", e que queriam um episódio inspirado completamente no personagem Frankenstein, mas acharam a tarefa difícil, por isso focaram em misturar as referências com a versão do primeiro filme.  Carter procurou mistura o universo Frankenstein com o universo x files de mode que se tornasse crível como elemento de fantasia, também foi utilizada referências de estórias e contos populares rurais (folk). 




A parte científica do episódio contou com a ajuda de Anne Simon, uma cientista da Universidade de Indiana. Uma curiosidade é que um dos quadrinhos originais da história dos Simpsons era sobre um personagem com o mesmo nome, mas com pronúncia diferente. Carter até mesmo ligou para o criador dos Simpsons, Matt Groening para ter autorização para usar o personagem no episódio. O interessante é que o criador dos Simpsons, uma série que já brincou muito com a ideia da cultura americana popular, e inclusive, já fizeram homenagens com aparição de Mulder e Scully em Springfield. Ambas as séries fazendo parte da Fox, uma emissora bem conservadora, mas sendo os dois, entretenimento bem de esquerda, se pensarmos ao longo prazo. 


O episódio foi filmado em Canadá, Vancouver. Joel Ranson, o diretor de fotografia adaptou as luzes da série para o tom cinza do episódio em preto e branco.  Chris Carter utilizou da lente de câmera objetiva grande angular, o que forçou os atores a olharem para a câmera mais do que se encarar entre si.


Mutato fala com a multidão e explica que ele foi criado há 25 anos atrás e que ele mesmo é um resultado das experimentações do doutor Pollidori, tentaram criar até mesmo uma companheira fêmea para ele, ao estilo "A Noiva de Frankenstein".


Descobriram que era uma questão de experimentação com a genética de animais do celeiros, ao estilo "Revolução dos Bichos" e produziam então seres híbridos, como porco/humano. Enfim, um episódio clássico que emana literatura e humanismo, se destacando imensamente da leva dos outros episódios. Além do "momento ship" entre Mulder e Scully, deles dois dançando no show da Cher, que é muito legal.


Momento mothership : 


Vale ressaltar que existe um debate de teve ou não teve um beijo, não estava no script, mas os atores levaram a cena, sendo que a cena não foi para o recorte final, mas fica como uma das lendas e mitologias do fandom de x files, a maioria acha que a história é coisa de fake de fã, outros juram que o beijo foi gravado e não foi ao ar, sendo um caso de "memória falsa de fã", o fato é que o fandom pode fazer uma escolha aqui e "escolher acreditar". O podemos ter certeza é que acabou sendo uma das cenas mais bonitas do casal mothership.








Então quem acaba preso é o Dr. Pollidori, quem criou a criatura, sendo uma crítica e uma reflexão do carácter de transformação e alteração do natural que a ciência e a genética poderiam possuir. Mulder e Scully resolvem no fim levar Mutato para um show da Cher. O episódio termina com o casal de investigadores dançando e vemos mais uma vez a estética pulp gibi no fim do episódio, coisa que nunca tinha sido feita antes na série. 


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