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A Noiva de Frankenstein (1935): Humor ácido e moderno junto com temáticas femininas marcam sequência que foi considerada melhor que filme original



A Noiva de Frankenstein é um filme americano de ficção científica e terror, de 1935, que é uma sequência direta do filme Frankenstein de 1931, também dirigido pelo diretor James Whale e estrelando mais uma vez Boris Karloff no papel de querido monstro Frankenstein.  Henry Frankenstein (Colin Clive) volta depois de quase ter morrido. A mulher de Henry é Elizabeth (Valerie Hobson)A tarefa agora foi dada pelo Doutor Septimus Petrorius (Ernest Thesiger) a Henry Frankenstein (Colin Clive). O doutor dá para ele a tarefa da criação da companheira mulher do monstro (Elsa Lanchester). Vemos no início do filme, a interação sobre a criação da história original no século XIX, com direito a Mary Shelley avisando que não tinha acabado ainda sua história e que ela tinha uma lição moral escondida. 


O filme começa com a reunião entre Bram Stoker, Mary Shelley e seu marido. Conta-se a história de que ficaram em um castelo na Indonésia durante uma tempestade. Ela fala que ainda não contou tudo, e que tem uma sequência, onde vemos uma lição moral sobre um homem que tentou brincar de ser Deus, uma temática comparativa que demonstra como no livro a metáfora da criação é abordada. O segundo filme é centrado na ideia do feminino, ou como seria feminista da perspectiva de Mary Shelley o que ela propôs em 1818 quando publicou o livro, com grande entusiasmo de seu marido, que era um dos seus maiores fãs. 


A brincadeira é que antes os homens acreditavam na criação divina, academicamente, no máximo a interdição de credos envolvia certo neoplatonismo, e que depois disso ainda houve um intenso intercâmbio com o mundo da magia, até que em um segundo nível de evolução científica, as crenças começaram a imanar um novo sistema de método, a metafísica, por exemplo, mudando o ângulo de crença na centralidade e importância de Deus para o homem, por isso Frankenstein é uma metáfora de evolução científica. Antes explicávamos com a filosofia, depois com a religião, depois com algo entre os dois, e por fim, o Deus (ídolo), como pensado por Bacon se tornou em certo sentido a própria ciência e os paradigmas éticos contemporâneos por ela emanados. 




A história se desenrola quando Henry Frankenstein tenta abandonar sua criatura criada e gera um caos em sua vila, que começa a perseguir a criatura. O monstro chega a salvar do afogamento uma moça que caiu assustada com ele, mas ninguém liga pelo clima de ser linchamento. O filme começa com a cena final de 1931 que era uma vila em 1899.




Enquanto isso, ele é forçado por seu antigo mentor doutor Pretorious, junto com ameaças do monstro a construir uma companheira para ele, depois de quase morrer nos braços de sua esposa. Um velho cego que toca violino adota o monstro e tenta ensinar normas para ele. 

 




O monstro que foi abandonado pelo seu criador ficou sozinho e o filme mostra como que ele não tem intenção de machucar as pessoas, mas como todos veem ele como "o monstro" não adianta: ele sempre acaba machucando os outros. O monstro é considerado o inimigo da população que nunca dá chance para sua remissão. 




Esse filme é diferente, passa uma sensação mais relaxante que o primeiro filme, que podemos apontar como mais punitivo e censurado que o segundo. Quando assistido na sequência do primeiro filme, e se colocarmos em comparação, o segundo filme tem um tom muito mais acessível. Parece brincar com a perspectiva do bom e do mau e com o maniqueísmo tradicional das audiências. 


O cientista que foi considerado louco agora quer apenas se livrar daquilo que havia criado anteriormente. Se o primeiro filme reflete o lado do livro sobre criação científica, o segundo filme enfoca na questão na relação homem-mulher  na sociedade. Sendo o plot criar uma mulher para o monstro para ele ficar mais dócil. Uma metáfora clássica de criação. Exemplo: Deus cria o homem, mas o abandona, então percebe que Adão precisava de Eva.





Minha Leitura do Filme


Na história do livro original, o monstro pode simbolizar para a literatura feminista a ideia do estranhamento com o feminino, ou com instituições "mortas" como o casamento. É uma crítica genial por tentar ver o processo moral fora do escopo do heroísmo ou solução externa. O filme além de contar sobre a Noiva de Frankenstein, também demonstra o processo de criação da obra, no século XIX, sendo esse elemento não presente no primeiro filme, que foca na primeira parte do livro. 


Muitos consideram até mesmo melhor que o filme original, no sentido que houve melhoras na resolução da história, contando parte do contexto da escrita desse tipo de história, no século XIX. A Noiva de Frankenstein foi considerado em 1998 um dos filmes a serem preservados pela biblioteca do congresso americano, no Registro Nacional de Filmes, como culturalmente, historicamente, ou "esteticamente significante". 


 O filme possui tons de imperfeições de estrutura que eram ditos pela convenções de censura da época, como maneirismos e certo carácter jocoso e tedioso que servia como alívio cómico, elementos do tipo de clima "gótico" da trama, esse carácter "light" tornou o filme agradável aos olhos da censura. 


O clássico Frankenstein, entrou para a mentalidade popular de uma maneira toda nova, o monstro fora adorado pelas massas, que queriam ir no cinema para ver ele, grandemente interpretando em ambos dos filmes por Boris Karloff, que ficou muito conhecido por seu papel de monstro Frankenstein. Frankenstein era o aristocrata cientista, uma ideia de um "moderno Prometheus", que havia roubado o fogo dos trovões dos céus para dar ao homem comum, no livro de Mary Shelley ele seria a criatura gerada pela eletricidade e o desmembramento de partes de corpos.


História por trás do filme




Apesar disso, é discutido o quanto de autoria haveria no filme. Apesar de James Whale ter assinado em quase tudo, composição, edição. luz, palco, decoração. Como essa caracterização foi relativizada e o sucesso absoluto dele foi dividido com Boris Karloff, o Frankenstein, e o sucesso das adaptações foi considerado um golpe de sorte, por mais que fizesse parte da visão do autor. As pessoas começaram a dar o nome do criador ao monstros explicando essa confusão, massas fama dele junto as massas era inquestionável. A confusão dos nomes acabou dando o nome do criador na criatura. A concepção popular do filme foi de fama para o monstro Frankenstein. A atriz que fez Elizabeth no primeiro foi a Mae Clarke e depois mudou por conta da saúde da atriz para a Valerie Hobson


A Universal queria muito fazer uma sequência, mas o diretor havia sofrido muito com o primeiro filme. Achando que a ideia já havia secado originalmente e que seria uma perda de tempo pela forma estar esgotada. Uma curiosidade é que Henry era para ter sido morto no primeiro filme, e que o personagem do livro diferentemente se chamava Victor Frankenstein. Para manter ele vivo, corrigiram fazendo uma edição final para permitir uma sequência. Também Kut Neuman recusou dirigir o filme antes de Whale por ter aceitado fazer o filme The Black Cat. Depois de Whale ter arrasado no filme The Invisible Man, o que fez dos produtores perceberem que queriam ele como diretor do filme sim. 


Diferente do primeiro filme , nesse há uma explicação do contexto de surgimento do movimento gótico no século XIX, mostrando a história do castelo na Indonésia onde foi escrito Drácula por Bram Stoker e Frankenstein  por Mary Shelley (Elsa Lanchester). Mas por fim, quem dirigiu o filme foi James Whale e não Florey, o filme seria em uma uma Torre de Vigia abandonada o cenário.




O doutor quer seduzir Henry para provar o mistério da vida e da morte juntos, por isso ele é o vilão, quer dividir as atenções de sua mulher Elizabeth, alguém comum e convencional. Quando o mostro é pego e quase morto, ele é visto indo no cemitério e depois em direção ao confronto com a morte. Depois disso, é permitido para ele uma forma de barganha. 


Ao criar a companheira do monstro de uma mulher que havia já morrido, ela acaba gostando mais que Henry do que do monstro, que era quem ela tinha sido feita para agradar o mostro. Mas ele percebe que também ela o odeia e fica desapontado. O monstro percebe que ele e sua companheira tinham que morrer, e acabam explodindo o laboratório e salvando Henry e Elizabeth da fúria dos dois. 




Whale também decidiu que a mesma atriz que interpretasse Mary Shelley seria a atriz da noiva, para marcar que a história era originalmente sobe ela em algum nível. Ele chegou a considerar Brigitte Helm e Phyllis Brooks antes de decidir que a atriz seria Elsa Lanchester, o efeito era para entendermos que as histórias da cultura popular não vem do nada e que existe um processo de imaginação na criação desses personagens. 


Outro elemento é sobre o cabelo de Elsa Lanchester que ficou muito conhecido pelo filme. O penteado com alguns fios brancos e cacheados em um relevo preso no alto da cabeça fez sucesso. O penteado foi baseado em Nefertiti, que foi uma rainha do Egito, esposa do faraó Amenófis. 



Temáticas consideradas censuráveis para o escritório de censura eram exatamente o tipo de sub texto dos filmes de gênero de terror. Homosexualidade do doutor Pretorious, proto feminismo da perspectiva da criação do feminino, refletindo a segunda parte do livro de Mary Shelley.  Refletiam o novo lugar da mulher na sociedade em ascensão. O momento de 1935 marca um novo período de adaptação nas produções de Hollywood, era o início do controle sistemático através do escritório de censura. Karloff e Whale discutiram sobre a articulação de fala do monstro, Karloff não queria que seu personagem falasse, achava que tiraria seu charme.  


Para interpretar a famosa escritora, Lanchester usou um vestido branco bordado com lantejoulas de borboletas, estrelas e luas, que levou 17 mulheres na costura e 12 semanas para ser feito. A atriz falou que bebia pouco líquido o quanto o possível. 


Algumas máquinas com nomes de aparelhos "científicos" foram reaproveitadas do primeiro filme para outras produções, como o Cosmic Ray Diffuser e o Nebularium.


O aparelho "Cosmic Ray Diffuser" foi utilizado em vários filmes do gênero de terror da época e ficção científica como  Frankenstein, Noiva de Frankenstein, The Vanishing Shadow, produzindo um efeito de "áurea"  que brilhava de maneira rítmica. 


Bastidores, produção e censura do Hay Office





O roterista Robert Florey escreveu o título de The New Adventures of Frankenstein, The Monster Lives!, mas foi desconsiderado em 1932. Aí em 1934 Whale colocou John L. Balderston para trabalhar em outra versão. No livro é o próprio monstro que cria sua companheira, mas a destrói sem trazer a vida. Depois de messes trabalhando com John L. Balderston, mas depois desistiu e passou o projeto para o escritor William J. Hurlbut e Edmund Pearson. 


O roteiro final com elementos das três versões de roteiro anterior foi submetido ao escritório de censura (Hays office) em Novembro de 1934. Naquela época todas as produções passavam por esse tipo de crivo. Era para garantir que o filme não seria contra a moralidade e nem muito de esquerda. 


Houve problemas na entrega do roteiro, começando a produção em Janeiro de 1935. Apesar da consagração popular do filme, sofreu com censura em alguns estados americanos. Desde que saiu a reputação do filme parece ter crescido, e hoje em dia, é considerado um dos melhores filmes de sequência já feitos.  A sequência também tem a participação de Elsa Lanchester no papel de Mary Shelley.


O roterista Robert Florey escreveu o título de The New Adventures of Frankenstein, The Monster Lives. Mas foi desconsiderado em 1932. Aí em 1934 Whale colocou John L. Balderston para trabalhar em outra versão. No livro, é o próprio monstro que cria sua companheira, mas a destrói sem trazer a vida. Depois de messes trabalhando com John L. Balderston, mas depois desistiu e passou o projeto para o escritor William J. Hurlbut e Edmund Pearson. O roteiro final com elementos das três versões de roteiro anterior foi submetido ao escritório de censura (Hays Office) em Novembro de 1934. Naquela época todas as produções passavam por esse tipo de crivo. Era para garantir que o filme não seria contra a moralidade e nem muito de esquerda. 


O projeto do filme custou US$293,750 de dólares da época, mas no final custou ao todo $397,023 de dólares, quase o mesmo orçamento do filme original, e demorou 36 dias para ser filmado. No primeiro filme, Karloff havia quebrado o quadril na cena de destruição do moinho, e Clive tinha quebrado a perna também. O filme foi tão debatido que teve 90 a 75 minutos de novas filmagens feitas para deixar o filme na maneira que o diretor queria, o que ocorreu alguns dias de distância da premiere (lançamento) final do filme. 


Isso também ocorreu por conta do escritório de censura que implicou com algumas partes do filme. Uma delas, era a parte do roteiro onde o trabalho de Henry era comparado com o trabalho de Deus. A outra cena censurada foi de mostrar uma figura que aparentava ser cristo crucificado e que era resgatado no cemitério. 


O membro Joseph Breen que era o diretor do escritório de censura queria censurar algumas partes como essa do filme, demonstrou preocupação pois os seios da atriz que interpretava a noiva apareciam demais, segundo ele. Outra preocupação era com o número de assassinatos mostrados em tela, para ele eram muitos, e ele aconselhou o diretor e tirar algumas cenas que iam nesse sentido. O filme foi liberado em Abril, dia 15 de 1935 pelo escritório de censura, mas foi desafiado de censura no estado de Ohio. 


Censores na Inglaterra e na China reclamaram da cena que o monstro olha para o cadáver de sua namorada com brilho nos olhos, acharam que era meio necrófilo. Para um filme que foi considerado inicialmente como "um de seu gênero de terror", certamente ganhou uma crítica positiva por sua qualidade técnica geral, sendo nomeado para um prêmio no Oscar, de Gravação de Som. 


É considerado também um dos melhores dos filmes de terror, sendo considerado um dos melhores 100 filmes. Em 2008, foi nomeado o segundo melhor filme de terror, apenas atrás de Nosferatu. A vila utilizada no filme de uma cidade alemã foi utilizada pelos estúdios da Universal do cenário original do filme Sem Novidades no Fronte All Quiet on the Western Front (1930), ao contratar o diretor de arte Charles D. Hall, ele fez o desenho de paisagens originais de árvores de madeira.


O título, A Noiva Frankenstein, convida a leituras diversas. Possuindo certo carácter de de ambiguidade. Primeiro, era para as pessoas odiarem o monstro, mas isso não aconteceu. A tentativa de imitar a atmosfera europeia vinha de contratar alguns atores ingleses. Naquela época, filmes como King Kong e Frankenstein conquistavam plateias com cenas como a do início do filme, onde um moinho é queimado enquanto o povo persegue o monstro. 


A cidade que antes havia ficado assustada com o monstro agora estava inebriante com a possibilidade de perseguir o monstro. Esse filme substitui o carácter mais gótico e sinistro do primeiro filme, e coloca no lugar uma forma de humor ácido que ri das situações sociais e políticas. 


Está disponível no Youtube




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