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Loucuras na Idade Média (2001): Filme usa o anacronismo histórico para divertir lembrando as lendas trovadorescas



Loucuras na Idade Média é um filme de 2001 do gênero de aventura e comédia, dirigido por Gil Junger. Martin Lawrence interpreta Jamal, um funcionário de um parque com temática medieval, que ao cair no lago durante o trabalho, viaja no tempo direto para a Idade Média 



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Podemos analisar o filme, até pela sua data de produção como uma metáfora da ideia de conquistas de direitos, a globalização, mesmo em pleno século XXI. Jamal é explorado em seu emprego e faz um aulas de História de noite na faculdade (explicando como ele sabia dos temas medievais abordados no filme). 


Apesar do filme ser apenas uma metáfora e uma chamada para a aventura que assimila o anacronismo, o filme ainda busca falar um pouco do tipo de clima e estórias comuns a literatura trovadoresca típica de corte. Na sua produção, o filme teve suas alocações na Carolina do Norte, em Wilmington e Carolina Beach.


Uma comédia bem maluca com tons difusos em filme que sempre passa na televisão brasileira. O filme lucrou 39 milhões para uma produção que tinha custado 50 milhões, mas nas reprises, imagino que o filme tenha se pagado. 


Jamal que se nomeia Jamal Sky Walker (em referência a Star Wars) trabalha no "Medieval World" (parque temática) e  quer participar da competição no Castle World, enquanto ele estava limpando a vala do esgoto do parque, quando vai parar na Inglaterra no ano de 1328.




Uma referência daqui do Brasil é a música "Paisagem da janela", de Lô Borges e Milton Nascimento:

"Cavaleiro marginal lavado em ribeirão

Cavaleiro negro que viveu mistérios

Cavaleiro e senhor de casa e árvores

Sem querer descanso nem dominical"

 

A lenda do cavalheiro negro é originalmente fruto das histórias de corte do Rei Arthur, um cavalheiro sobrenatural que apareceu a mando de Sir Calogrenant, no conto Yvain, the Knight of the Lion. 


A primeira menção associando a um nome foi de um autor chamado Raoul de Houdenc em La Vengeance Raguidel (também no século 13), ou na estória Sir Perceval of Galles, onde o cavalheiro não ficou feliz com as investidas de um outro amigo Perceval com sua esposa. Outra referência seria de um cavalheiro negro chamado Sir Perarde, mencionado em Le Morte d'Arthur: The Tale of Sir Gareth (Book IV)


Um cavalheiro negro também é referenciado como filho de um Tom a' Lincoln e Anglitora (que por sua vez era filha de Prester John, o famoso caso do rei desaparecido na Etiópia que percorre a imaginação), no romance arthuriano Tom a Lincoln.


As pessoas acham que ele era um francês mouro da Normândia, porque ele está citando uma famosa rua de em LA em certo momento do filme. O que é piada, já que todos sabem que a última invasão que a Inglaterra teve foi da Normândia.  


Jamal é levado até o rei Leo, que quer saber se ele é o mensageiro vindo da Normândia que ele espera para unir a Inglaterra e a Normândia, ele se apresenta com seu apelido dos tempos de basquete na escola, Jamal "Sky" Walker, sem querer, ele previne o assassinato do rei que todos detestavam e ganha sua confiança.


Victoria (a garota que ele gosta), ela conta para Jamal que o rei atual tirou a rainha antiga que todo mundo gostava, ela diz para ele que ele parece ser um homem honrado. Mas depois se decepciona com sua covardia para ficar do lado do rei e até de se envolver com sua filha, a princesa Regina. 



Ele dorme com a princesa e sua fraude é descoberta quando o verdadeiro mensageiro chega com sua proposta de casamento para a princesa, e ele é exposto como fraude. 


 

Tentam matar ele duas vezes e ele consegue se livrar, trago para uma quarta execução, Jamal por fim se declara um feiticeiro poderoso, quando o carrasco se engasga com a maçã, ele começa a fazer a manobra de Heimlich. 


Com o tempo, Jamal se convence que é necessário reestabelecer a rainha e depor o rei Leo, mostrando que ele não é exatamente como o rei Arthur, que era amado. Isso é quando Knolte ensina alguns movimentos de espada para Jamal e convencem os locais aos poucos a  abandonar o rei.


A rainha volta ao poder e Jamal é coroado, quando ele acorda de volta ao parque temático, o que implica que toda sua aventura pela história foi um sonho. Com sua experiência agora ele está animado com o parque e tem ideias para reerguer o lugar que estava fechando.  


Depois disso, Jamal conhece Nicole, que é exatamente a cara de Victoria, depois disso, ele cai novamente no esgoto, agora na Roma Antiga, e quando ele está prestes a ser devorado por leões, ele corre.


Pode o anacronismo ser usado como ferramenta para o ensino da história? Jamal "Sky" Walker parece gostar de sua nova vida entre os comuns da Idade Média.


Podemos dizer que o anacronismo é uma ferramenta sim, e muito usada nas artes por exemplo, no humor. Quem não se lembra das brincadeiras anacrônicas ao estilo O Exército de Brancaleone, ou, essa brincadeira de não se saber na época do "beijo francês" dele


O rapaz do filme trabalha em um carrossel ao estilo temático medieval, uma espécie de feira moderna que lembra para ele algumas práticas medievais, por isso, depois de pegar umas aulas na faculdade e bater a cabeça no esgoto a céu aberto, ele acorda em outra realidade, no mundo de opressão da idade média. 


Primeira cena de "Black Knight",  é dele escovando o dente, se preparando para sair de carro. Ele dirige em direção ao parque temática da Idade Média, onde trabalha no Carnival (tipo parque temático) é uma cultura de Idade Média (ao estilo backtin), essa “brincadeira” do filme é genial. Nesse sentido, o imaginário panegírico da época envolvia estórias mais maduras do que estamos acostumando. Pensando nas estórias da freira Heloisa, contadas por Humberto Eco, por exemplo.


Sua chefe fala sobre rescisão e sobre o diretor de inspetoria ter negado suas investidas. 


Modo de produção, empregos, e materialidade de “classe” que pode ser rastreado desse período. O trabalho de serviços pode ser a metáfora de “emprego ou sub emprego que sempre existiu”. Como seria a vida do homem negro em plena economia neoliberal (anos 2000), e como seria a vida de um “cavalheiro negro”, e se refere então a uma lenda de um cavalheiro negro.  


Enquanto limpam o fosso (esgoto) do lugar, ele é atraído para dentro do esgoto e vai parar na Idade média, vendo os pés de metal de um homem que vem falar com ele.


O filme pode ser visto como uma brincadeira provocante com coisas que sempre existiram na humanidade. Como no século XIX, muitos revisaram os estudos sobre Idade Média através de uma perspectiva romântica. 


Quando a Idade Média era vista antes como a “época da praga”, da peste negra e das guerras (cruzadas), como da Reconquista, por exemplo. Um filme engraçado e que seu próprio anacronismo serve para trabalhar alguns conceitos de modernidade, como saber ler e escrever, higiene e outros hábitos de pós século XXI. 


Ele comenta sobre ter esgoto a mostra no castelo, por não ter vasos sanitários por lá, e pergunta como eles fazem.  Eles veem um linchamento e morte e fala sobre “o povo ter poder” alto no meio de todos e acabam olhando para ele, que desmaia em seguida. Ele vê a execução de um morte e fica atordoado. 


Ele se apresenta como um agente, produtor, e conhece uma moça no castelo e começa a dar em cima dela e pede seu número. Ele pergunta se alguém tem uma caneta, e ele fala que sabe “ler a escrever”. Martin Lawrence tenta falar para os moradores da vida da Idade Média sobre “assédio sexual” e sobre exploração do trabalho. Ele salva a vida de um guerreiro decadente e vê “sua casa”. 


Martin Lawrence ainda acha que está no presente. Ele é um homem moderno e acha que quando entramos em um “parque”, apenas vamos nos divertir. Ele tem a confiança no capitalismo e fala sobre o cara ter “má higiene”. Ele começa a reparar que as “aventuras” do lugar são reais, e que todos usam cavalos mesmo e usam roupas que pesam muito para carregar, o que dificulta os movimentos das roupas em batalhas, por isso que Jamal deu ao seu amigo um tênis de presente. 


A pergunta sobre parque temático, ao estilo “parque dos dinossauros”, é que parece uma metáfora de estilo e lógica, vemos um homem voltando a Idade Média, quando normalmente filmes de Idade Média acabam sendo fortalecedores de uma visão eurocêntrica de mundo, quando na verdade, quando a época de ascensão das noções de racismos foram mais forjadas pelo século XIX.


Ele é chamado de “mouro” (muçulmano) pelo rei, referenciando que as etnias negras representavam os países que entravam em guerra com a Europa da época. Vestindo uma “camisa de time”, de número 23 e verde, ele se apresenta como “bobo da corte” e mensageiro, e tenta montar no cavalo do mensageiro que diz ser. 



Ele é recebido pela camareira número 7, que teria “ideias feministas”, mas era também camareira do reino. Ela queria lhe o seu medalhão. Ela quer devolver o reino para a antiga rainha deposto, parecendo que precisa de sua ajuda para acabar com o rei autoritário. 


Com várias sanguessugas em sua pele, ele se desespera. É chamado para jantar com o rei em um banquete, com cachorros que comiam os restos embaixo da mesa. O rei serve com a mão o prato. O rei acha que ele vem da “Normandia”.


Ele também tenta ensinar a banda um “som moderno”. Tinha na cena “panderola”, algo não comum na Idade Média. Ele pede para alguém “fazer a bateria”, e inventa uma boa música. A filha do rei beija ele na festa. Ele acaba “salvando” o rei da facada sem querer aos olhos dos súditos. Ele apresenta a ideia do “frappuccino ”, um café especial. Ele tenta ensinar que fast food também pode ser de “idade média” já que tem ali uma forma de ‘modo de produção’. 


Ele joga xadrez com o cara inimigo que já queria matar ele antes, parecendo uma brincadeira com Sétimo Selo. 


No caminho, ele interveem para não matar um homem que foi pego roubando um nabo da horta do rei. Aí ele dá dinheiro pro cara fugir. Eles tem que fingir estar transando para “não levantar suspeita”, e aí chega o verdadeiro mensageiro, chegando no quarto dele, a filha do rei, Regina se deitou com o cavalheiro, e aí o Duque não se interessou mais pela filha dele. Ele acabou sendo preso por isso e quase morto, é salvo pelo amigo. 


No calabouço do castelo ele escuta dos presos sobre a “lenda do cavalheiro negro”, a sua própria história, na brincadeira do filme. Ele é colocado para ser morto na frente de todo mundo, e tenta convencer que é um “grande feiticeiro”, pegando do bolso um isqueiro big. 


Eles dizem que “já tem fogo”, e que não se impressionaram. O carrasco se engasga e as pessoas acham que ele lançou um feitiço no carrasco, já que ele salva ele depois.  Ele foge depois do ataque e sai do castelo do rei minutos depois de fugir, com ajuda do velho guerreiro, enquanto o duque planeja seu ataque. 


A noção de que a “batalha não é minha” dele é igual a do homem moderno, mas é na Idade Média onde ele encontra esse ideal de “resistência” meio cavalheiresca. Ele briga com uns caras no fim do filme, usando um golpe de boxe, e então seu amigo coloca o rosto de um dos caras no coco do cavalo, onde ele teria pedido para buscar sua bebida. 


Eles chegam em uma vila devastada, em um saque da coroa real. Por sequestrarem a garota dele ele finalmente “adere a causa” e descobre que ninguém está a fim de lutar. Apenas seu amigo. Eles veem a rainha antiga. Ele fala sobre “papo cabeça”, mas está fora de sintonia. Ele tenta discursar no lugar da rainha. 


Ele discursa dizendo que ele “não seria o rei Arthur” e anima a multidão. Eles treinam para destituir o reino ao som de James Brown.


Aí aparece o cavalheiro negro e se mete no conflito entre rei e súditos. Mas é o próprio Duque que joga o rei no fosso do castelo. O cavalheiro negro luta com o duque para resgatar sua namorada. Por fim, ele beija ela “a moda francesa”, enquanto a velha rainha volta ao poder. Assim, Jamal Skywalker é feito de o cavalheiro negro pela rainha. 


Na hora, ele volta do seu “desmaio” e de repente, nada do que aconteceu e viveu era real. Ele estava no presente, em seu emprego e tinha passado mal. Ele volta não querendo desistir do parque, quando antes, ele achava que a dona  tinha que vender. Seis semanas depois, as atrações todas voltam ao parque. 


Ele reencontra Victória por lá e ela está diferente. Ela disse que trabalhava na secretaria da faculdade, e ele disse que tinha se inscrito em um “curso noturno” na faculdade. Ele cai de novo e volta dessa vez na Roma dos Gladiadores, e esse é o fim, ou seja, voltamos a metáfora de "mundo cão", deixando brecha para uma continuação mas que até hoje não aconteceu. Um filme divertido.


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