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Como Era Verde o Meu Vale (1941): A crítica social de Richard Llewellyn e a elegância do cinema de John Ford

 


Dirigido por John Ford, Como Era Verde O Meu Vale conta a história dos Morgans, uma trabalhadora família mineira galesa, do ponto de vista do filho mais novo, Huw Morgan, que vive com seus pais afetuosos e gentis, bem como com sua irmã e cinco irmãos, durante final da Era vitoriana. Além de expor a dureza da vida das classes trabalhadoras da época, Huw narra a lenta degradação das condições de trabalho na cidade e como isso afeta o relacionamento das pessoas 



Assista ao filme dublado ao final deste artigo


A sociedade era recoberta por um moralismo baseado no respeito, principalmente, ao pai de família, como vemos na figura do pai da família Huw. Porém isso só se dava por ele ser aquele com a melhor condição de trabalho na mina e logo o provedor da família. Quando acidentes acontecem e as condições de trabalho pioram, o respeito as pessoas desaparece na medida que elas são desrespeitadas no trabalho. Assim, a moral some, deixando toda a lógica de uma geração para trás. Essa é a nostalgia que o filho recorda mas ao mesmo tempo busca repelir por causa dos traumas, como os castigos que o pai dava. Além disso, o pai se colocava contra as greves por melhores direitos na mina.


A história narra a vida nas minas de carvão de Gales do Sul da Inglaterra na Era vitoriana, a perda desse modo de vida e seus efeitos na família. Vemos a luta dos trabalhadores das minas por aumento de salário e a diminuição cada vez maior da renda que leva os trabalhadores a fazer greve. 


Tudo fica mais trágico quando o patriarca da família morre em um acidente na mina, gerando a necessidade da filha se casar com o rico local e não o pobre pastor de quem ela gostava. Assim, o ideal de sustentar-se de maneira honrada e por isso os costumes dos trabalhadores, se perde em detrimento da ideia de ascensão social, o que não é errado, apenas distingue-se do ideal original.


A adaptação do clássico feita pelo diretor John Ford é o filme favorito de Clint Eastwood exatamente por esse carácter único, não exatamente de faroeste, mas de se fazer um filme com grande veracidade no tratamento histórico de retratar o século XIX e a opressão em relação aos trabalhadores. Mais uma vez mostrando isso, como fez em As Vinhas da Ira (1940), e que havia sido feito um pouco antes e era bem mais derrotista.  No Brasil, tivemos o livro Vidas Secas de Graciliano Ramos publicado um dois anos antes, em 1938. 


Huw é o menino de ouro que representa a geração que foi de uma família de trabalhadores a poder ir para a escola. Mas ir para a escola para ele representa humilhações e espancamentos por causa de sua origem, é assim que Huw começa a se preparar para se defender do bullying que sofria constantemente por ser pobre na escola.




É uma adaptação com uma fotografia incrível e um final mais dramático e emocional, com a morte na família do pai, o Gwilym Morgan. Eles decide ir embora no fim. Também é revelado que o pastor Mr. Merddyn Gruffydd sempre amou secretamente Angharad, com eles decidindo ir embora no fim, colocando um tom romântico que não tinha originalmente.



Um filme profundamente belo e sensível inspirado no livro de Richard Llewellyn que era descendente de gauleses e chegou até viver  em países como o nosso Brasil, China, Itália, Argentina, Quênia e em Israel, e se inspirou na região de Gilfach Goch para escrever  sua cidade fictícia de seu romance clássico em 1939, que ganhou até mesmo 5 Oscars, incluindo o de Melhor Filme em 1941, ganhando de O Falcão Maltês, e Cidadão Kane.  O roteiro foi escrito por Philip Dunne. Conseguimos ver no filme aquele estilo do realismo soviético  que estava em alta na época. 


As ideias de crítica social retratando a pesada vida dos trabalhadores daquela época em ascensão, a pouca possibilidade de escolha para as mulheres e a hipocrisia religiosa e das fofocas alheias são temas que perpassam o livro, junto com um questionamento sobre a perda da cultura e da herança através de grandes mudanças, como a chegada inevitável da industrialização e seu impacto ao longo prazo. 


Foi adaptado como espocial de meia-hora para uma peça de rádio, em Março de 1942, com Sara Allgood, Donald Crisp, Roddy McDowall, Maureen O'Hara e Walter Pidgeon, e em 1947 com Crisp e David Niven, e em setembro de 1954 com Crisp e Donna Reed na linha de programas de especiais de rádio.


Tem algumas diferenças do clássico livro para o filme, no livro o ponto de vista era em primeira pessoa, o filme já passa para uma narração em terceira pessoa. O filme é mais bruto em mostrar a vida dos trabalhadores e mostra isso de uma maneira bem estrutural, já o livro mostra como uma novela profundamente os sentimentos dos personagens. 


O elemento do personagem do Huw é interessante por vermos essa inserção da necessidade das novas gerações se educarem, e de que isso só foi possível com o sacrifício do casamento arranjado da irmã com Evans, o filho do dono da mina de carvão. Esse deslocamento dos primeiros anos da infância de Huw sendo idílica e feliz em um primeiro momento de união de todos. 


Isso pode ser uma diferença entre a fase de ouro da revolução industrial no fim do século XIX (onde inicialmente se passa o livro), e a crise da industrialização no vale (pequenas cidades industriais) com o começo do século XX. Vemos essa transição através dos olhos de Huw, da nova geração que viu a industrialização chegar no vale e viu a decadência depois da da crise econômica e da diminuição geral dos salários, e por fim, o fim do ciclo de desenvolvimento com a reflexão de Huw de que todos que conhecia ou morreram ou se mudaram. 



Em 1990, o filme foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Filmes da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos como sendo de valor atemporal pra Academy Film Archive, que  preservou How Green Was My Valley em 1998 para a posteridade.


Os Morgans são uma família mineira dos vales de Gales do Sul durante o final da era vitoriana. Huw, o filho mais novo do patriarca Gwilym Morgan, volta para casa com seu pai para conhecer sua mãe, Beth. Seus irmãos mais velhos, Ianto, Ivor, Davy, Gwilym Jr. e Owen trabalham nas minas de carvão com o pai, enquanto a irmã Angharad cuida da casa com a mãe. 


A infância de Huw é idílica; a cidade, ainda não invadida por resíduos de mineração, é linda, a família é calorosa e amorosa e os mineiros cantam enquanto caminham para casa.  Os salários são recolhidos, os homens lavam-se e depois comem juntos. Depois o dinheiro para gastar é distribuído. Huw fica apaixonado ao conhecer Bronwyn, uma garota noiva de seu irmão mais velho, Ivor. Na barulhenta festa de casamento, Angharad conhece o novo pregador, Sr. Gruffydd, e há uma atração mútua óbvia.


Os problemas começam quando o dono da mina diminui os salários e os mineiros fazem greve em protesto. A tentativa de Gwilym de mediar, não endossando uma greve, o afasta dos outros mineiros e também de seus filhos mais velhos, que deixaram a casa. Beth interrompe uma reunião noturna dos grevistas, ameaçando matar qualquer um que fizer mal a seu marido. Ela e Huw atravessam o campo no meio de uma tempestade de neve no escuro para voltar para casa. Mais tarde, no caminho para casa, os grevistas ouvem Huw pedindo ajuda. Eles resgatam Beth e Huw do rio. 


A greve acaba por ser resolvida e Gwilym e os seus filhos reconciliam-se, mas muitos mineiros perderam os seus empregos. A excepcionalmente bela Angharad é cortejada pelo filho do dono da mina, Iestyn Evans (Marten Lamont), embora ela ame o Sr. Gruffydd também a ama, para deleite malicioso das mulheres fofoqueiras da cidade, mas não suporta submetê-la à vida dura e espartana de um ministro religioso empobrecido. 




Angharad se submete a um casamento sem amor com Evans, e eles se mudam para fora do país. Huw começa a estudar em uma vila próxima. Depois de sofrer com implicâncias por parte dos outros meninos, ele aprende a lutar com o boxeador Dai Bando e seu amigo, Cyfartha. Depois de uma surra do cruel professor Sr. Jonas, Dai Bando vinga Huw com uma exibição improvisada de boxe


Bronwyn descobre que Ivor morreu em um acidente em uma mina e é um choque para todos. O choque faz com que ela entre em trabalho de parto e ela dê à luz um filho. Mais tarde, dois dos filhos de Morgan são demitidos em favor de trabalhadores menos experientes e mais baratos. Sem perspectivas de emprego, eles partem em busca de fortuna no exterior. 


Huw recebe uma bolsa de estudos para a universidade, mas, para desgosto de seu pai, ele a recusa para trabalhar nas minas. Ele se muda com Bronwyn para ajudar no sustento dela e de seu filho. Quando Angharad retorna sem o marido, fofocas cruéis sobre uma situação iminente começam a circular na cidade já que moça teve que se casar por segurança e estabilidade e não por amor. Um filme dirigido por John Ford e adaptado do Philip Dunne, do autor escritor Richard Llewellyn  já significava clássico, desses que sempre vemos e revemos e queremos falar sobre os filmes de John Ford, dono de um estilo único, documental e etnográfico. 


Assista ao filme aqui







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