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Sharper - Uma Vida de Trapaças (2023): Com Julianne Moore e Justice Smith, novo filme da A24 tem show de reviravoltas em trama sobre golpistas




Tom é o proprietário de uma livraria e sebo em Nova York. Um dia, uma mulher chamada Sandra entra à procura de um livro, e depois de inicialmente recusar seus avanços, os dois começam um romance. Semanas depois de seu relacionamento, Sandra diz a Tom que seu irmão está em dívida e deve pagar US $ 350.000 ou ser morto


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Crítica do filme


Os filmes de gênero geralmente elaboram suas cenas e abordagem da trama através de cenas, arquétipos e símbolos que remetem ao gênero de alguma forma. Assim, além de reconhecermos que um filme pertence a aquele gênero através do roteiro, existem premissas reconhecíveis sobre o filme desde seu pôster e, as vezes, até no título. Sharper foi uma surpresa pois nem a sinopse e nem suas imagens primarias conseguem explicar o filme, fazendo com que ele inicialmente se torne pouco previsível pois não é claro a qual gênero o filme pertence. 


Começamos com uma trama, meio agua com açúcar, lembrando aqueles romances nacionais dos anos 90, sobre um livreiro que tem um "cruch" pela cliente de sua loja e acaba caindo em um golpe. 


A partir daqui, supostamente, deveríamos ver como dito pela sinopse outras histórias aleatórias, como crônicas, de outros personagens. Entretanto, e aqui está a principal originalidade do filme, as histórias se completam e se continuam através do último que deu o golpe. Assim, o filme traça justificativa e a história pessoal daquela pessoa para dar um golpe. Assim, forma-se um ciclo vicioso onde aquele que foi golpeado se sente na missão de passar o golpe adiante. 



Em síntese, são 4 níveis de golpe. O primeiro é o mais interessante pois ele está relacionado com tudo, apesar de não parecer. Logo percebemos que a moça da primeira história é a mesma da segunda. Ela passava por necessidades e estava na condicional, e ao ver ela sendo bulinada por sua agente da condicional. Ela conhece então o primeiro golpista, que a introduz aos golpes, ensinando cada técnica em um relacionamento que lembra Cinquenta Tons de Cinza. Ou seja, é esse na verdade o início do filme cronologicamente.


Descobrimos que o interesse dele na moça não é sexual (ou não apenas), mas sim em treiná-la para um golpe. Descobrimos que ele por sua vez, é submisso a um outra mulher: a personagem de Julianne Moore. Assim, o próprio interesse romântico se torna uma metáfora de golpe. 



Por último, a motivação de Julianne Moore era romântica? Sim e não. Ela tinha interesse em John Lithgow, mas seu interesse era na verdade em seu dinheiro e, principalmente, na instituição de pesquisa que ele dirigia. 


Resumindo, o filme é marcado por constantes viradas até o fim, de maneira até exaustiva e que enfraquece o filme em algumas partes. Entretanto, a grande virada final do filme é muito boa, pois ao longo do filme pareceu-se construir uma moral de que dar golpes e fingir ter um conhecimento do que ter um conhecimento real. Assim, a proposta e a estética do filme estimulam a pensar que o golpista é mais interessante e malandro do que quem é esforçado. Só que a virada final do filme nos dá respostas, em algo que não entrarei para não entregar o final (apesar de previsível). Só que ai entra uma coisa que me questionei: será que esse final não é bom só perante as poucas opções de encerramento que o filme deixou? Qualquer outro resultado diferente colocaria uma profunda mensagem anticientífica no filme, mas o encerramento parece, por isso, forçado na medida que o filme não apontava para isso. 



No final, em Sharper temos a seguinte composição: Uma atuação muito boa, principalmente de Julianne Moore, John Lithgow e Justice Smith. É muito engraçado ver as cenas de envolvimento de Moore com Lithgow, pois ela já fez a caçadora de serial killers do FBI, Clarice Starling, em Hannibal (2001); e Lithgow já foi o serial killer "Trinity", no seriado Dexter. Já Justice, entregou sua melhor atuação desde Detetive Pikachu (2019). Um trabalho de imagem muito bom, onde a iluminação e a fotografia do filme lembra até filmes brasileiros de drama em alguns momentos. A edição e a direção salvam o filme, tornando ele arrojado principalmente no início. 


Só que o grande ponto fraco do filme é o roteiro, que começa muito convincente e de obriga assistir o filme até o final pelo suspense que causa, mas que de fato não possui um material ou ideia muito arrojada para entregar. Apesar do final romântico me agradar mais do que um pessimista, achei que ficou muito improvisado e rocambolesco, onde essas viradas são meramente teatrais, para pessoas mais jovens principalmente, que buscam entender mais os sentidos dos filmes através de seus personagens, do que ter de fato apenas uma mensagem moral e conceitual do filme. Em outras palavras, é um filme legal, vale a pena ser assistido e com certeza vai te entreter por algumas horas para saber o final, mas que em si não é nem muito original e nem muito genial para ser um "filmaço" imperdível. Ele é apenas bom. Mas bom em uma época que a maioria dos filmes é uma bomba, então recomendo muito o filme, pois pro padrão de hoje o filme é bem legal.



História por trás do filme 


Em março de 2021, foi anunciado que a A24 produziria o filme para a Apple TV+, dirigido por Benjamin Caron e estrelado por Julianne Moore, baseado em um roteiro escrito por Brian Gatewood e Alessandro Tanaka que fez parte da Lista Negra de roteiros de 2020 que não serão lançados nos cinemas durante este ano civil. Em julho de 2021, Sebastian Stan foi adicionado ao elenco, com Justice Smith e Briana Middleton se juntando em agosto. Em setembro, John Lithgow foi escalado, com as filmagens começando em 13 de setembro em Nova York.



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