No Texas da era da Lei Seca, um andarilho chamado John Smith (Bruce Willis) dirige seu Ford Model A Coupe para a pequena cidade fronteiriça de Jericó. Quando ele chega, uma jovem chamada Felina (Karina Lombard) atravessa a rua, chamando a atenção de Smith. Momentos depois, um grupo de mafiosos irlandeses liderados por Finn (Patrick Kilpatrick) cercam o carro de Smith. Eles o advertem contra olhar para a "propriedade de Doyle" e quebram seu carro. Encalhado e sem dinheiro para consertar seu carro, Smith se vê preso em uma cidade dividida por duas violentas gangues
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Crítica do filme
Com a proposta e a estética de desse filme, é incrível que ele tenha permanecido tão desconhecido. O Último Matador é um filme geralmente elencado quando falamos, principalmente, de Bruce Willis e da filmografia de Walter Hill. Porém, na carreira do ator acabou sendo um papel mais apagado, principalmente pela sua logo posterior atuação no filme Shyamalan, O Sexto Sentido. E Walter Hill, de maneira geral, é um cineasta apagado por Hollywood, por seus filmes conterem mensagens fortes, com verdades muito cruas para academia. Isso representa, claro, um disparate entre a visão média dos críticos, acadêmicos e profissionais de cinema daquilo que é o cinema em seu lócus artístico de produção.
Aqui, Hill se afasta muito de seu clássico, The Warriors, focando mais em uma proposta histórica e de gênero, do que de fato sociológica. Ao mesmo tempo que faz seu "filme de máfia", ele recoloca os gangsters dos anos 20 e 30 direto em uma situação que remete aos tempos e filmes de faroeste.
O filme faz uma constante provocação entre o gênero do faroeste, seus arquétipos e situações, porém confrontando com uma modernização incipiente, onde os sujeitos modernizados continuam tendo que lidar com incipiente subdesenvolvimento do interior. Assim, os gangsteres, são os cowboys, só que com a provocação que os tempos se modernizaram, trazendo mais ideologia para os conflitos, junto com certo progresso nos relacionamentos e violência.
É preciso lembrar também, que o filme é um remake de Yojimbo (já analisado aqui no blog). E é preciso refletir que Yojimbo, por mais que seja um filme clássico incrível, tem uma mensagem datada para os dias de hoje. No filme de Kurosawa, o maior cineasta japonês de todos os tempos, acompanhamos a trama de um samurai errante, que cruza com essa cidade divida por duas gangues que polarizam todas as relações e negócios da cidade. Yojimbo, aceita fazer trabalho para os dois e fica como agente demiurgo da discórdia, onde seu ímpeto, na verdade, se torna por ajudar o povo daquela cidade a se livrar de ambos.
O problema, é que como um filme do auge da guerra fria, não é difícil entender o filme como um alegoria com as disputas entre Estados Unidos e União Soviética. A provocação porém, seria o fato de posicionar o samurai, figura histórica romantizada e adorada por todos, como um mercenário que só busco o lucro e explorar de maneira anárquica a ironia daquele conflito, algo típico de um personagem ao estilo Hamlet. Para a época, Kurosawa como um comunista culturalista, buscava estimular uma visão irônica da vida. Ele sabia que seu país havia apoiado os nazistas, o que o impedia de ser mais nacionalista em seus filmes, e ao mesmo tempo sabia que o comunismo soviético não possuía um projeto positivo de poder para os asiáticos, principalmente japoneses.
Só que para os dias de hoje, a postura errante de Yojimbo pode ser identificada com a mentalidade "antipolítica", ou seja, que recusa a política por vela como algo "sujo" e "corrompido", onde só maus intencionados podem estar. Ou seja, negacionistas, bolsonaristas, trumpistas e extremistas radicais, podem achar que Yojimbo está falando para eles em sua postura de anti-herói que desconfia de todos os lados, quando na verdade ele seria um personagem anti-radical por excelência. Similar a Hamlet, sua inspiração, onde nosso protagonista vivia sob o dilema de saber que seu tio havia matado seu pai para usurpar o trono, mas ao mesmo tempo sabia que o governo do seu tio havia melhorado sua vida.
Isso explica, o pé-atrás com o filme, pois Yojimbo já era difícil de entender, então ao ouvirem que O Último Matador era um remake, as pessoas deram um pé para trás. Entretanto, Walter Hill alterou completamente o filme e a mensagem de sua influência, apesar de manter fragmentos da ideia original.
Então, o que temos é uma versão mais humanista e modernista de Yojimbo, onde há mais preocupação com sentimentos reais ao longo da trama. Mas em termos gerais, o roteiro não é muito genial ou original. Porém, a premissa histórica extremamente elaborada serve como o guia do filme, que é suficiente para a direção e a produção do filme como um todo.
O que quero dizer é que a ideia de fazer um faroeste, só que na era da Lei Seca (melhor debatida aqui) e com gangsteres, foi tão genial em termos de estilo e estética, que essa premissa sustenta todo o filme. É um típico filme de diretor, muito rico em ângulos e cenas de ação muito criativas. Esse estilo shooter de filme de gangster, combinado com a direção dinâmica de gênero será óbvia influência para Michael Mann em Inimigos Públicos.
Aqui, Walter Hill aperfeiçoa ainda mais sua técnica, que se baseia em usar momentos e personagens históricos extremamente bem situados, para refletir com intensidade a ações dos personagens com certo tom de realismo. Filmes como esse são obrigatórios de assistir, pois sua abordagem histórica obriga o espectador acompanhar até o final para tirar sua própria conclusão.
Conclusão: é um filme muito bonito, muito visual. Tem uma pegada de época e histórica interessante, e uma direção impecável. A atuação de Bruce Willis e Christopher Walken são geniais, onde a dualidade dos dois além de inesperada foi muito bem encenada. Um encontro que marca o grande talento desses dois atores. O resto do elenco também é muito bom, contando até com uma participação do Michael Imperioli, o Christopher do seriado Família Soprano. A roteiro não pode ser muito elogiado, pois não é original e nem traz elementos muito novos para além de elementos cênicos definidos pela premissa histórica do filme. Um filme marcante, que vale a pena ser assistido principalmente por sua mistura de gênero histórico, gangster e faroeste. Filmes sobre a era da Lei- Seca sempre são geniais. Mas o filme não apresenta muita coisa de novo, sendo um filme muito mais visual e estético do que profundo. Perfeito para assistir relaxando depois de um dia estressante.
História por trás do filme
Walter Hill foi abordado pelo produtor Arthur Sarkassian para refazer o filme japonês Yojimbo (1961), que Akira Kurosawa não só dirigiu, mas também co-escreveu com Ryūzō Kikushima. Hill diz: "Levei muito tempo para ser persuadido a fazê-lo. Eu pensei que a própria ideia de adaptar o Sr. Kurosawa era uma insanidade pelas razões óbvias. O primeiro filme foi muito, muito bom e, além disso, eu estaria na longa sombra do Sr. Kurosawa, que é provavelmente o nosso cineasta mais reverenciado."
Quando soube que Kurosawa apoiava um remake americano, Hill concordou em escrever e dirigir – mas com a condição de que o filme não fosse um faroeste (já havia havido um remake europeu não autorizado, o Spaghetti Western A Fistful of Dollars, que havia sido objeto de litígio). Ele decidiu fazê-lo como um filme de gângster da década de 1930 usando técnicas do filme noir da década de 1940.
"Esta é a história de um homem mau, que assim que chega começa a apertar botões e fazer as coisas apenas para si mesmo", disse Hill. "Mas também descobrimos que este homem está em um ponto de crise espiritual consigo mesmo e com seu próprio passado. E este homem decide que talvez ele deva fazer uma boa ação, mesmo que isso vá contra todas as regras de sua vida como ele a entende ... A ação e a violência devem ser orgânicas à história que está sendo contada. Eu acho que este é obviamente por sua natureza um filme muito sombrio e muito difícil, então eu acho que seria desonesto contar a história e apresentar a fisicalidade de uma maneira mais suave. Além disso, não acho que este seja o filme mais brutal que se possa imaginar. Na verdade, há muito pouco sangue além da sequência em que Bruce é espancado."
Ele admitiu que o filme não era realista. "Eu não acho que nada parecido com os filmes de realismo social da década de 1930 está sendo tentado", disse ele. "Estamos em uma situação mítica-poética de 'era uma vez'."
Hill assinou para fazer o projeto em 1994. O filme recebeu sinal verde do chefe de produção da New Line Cinema, Michael De Luca, que alocou um orçamento de US $ 40 milhões. O filme era conhecido por vários títulos, incluindo "Gundown", depois "Gangster", depois "Welcome to Jericho".
Hill disse mais tarde que ele e Bruce Willis "não eram próximos quando fizemos o filme", mas "eu gostei de trabalhar com ele. Foi impessoal. Clássico, "Eu sei o que você quer dizer. Você quer que eu seja um tipo de cara Bogart, Mitchum' e eu disse: 'Exatamente. Deixe acontecer'. Ele então pegou isso e deu o que eu achei que era um desempenho muito bom. Eu sempre senti que havia uma espécie de ressentimento central de que Bruce sentia que deveria ser mais apreciado por seus talentos. Ao mesmo tempo, acho que há uma limitação, que ele faz certas coisas melhor do que outras, e nem sempre escolheu tão sabiamente."
O corte original de Hill do filme tinha mais de duas horas de duração. Antes de Hill editar a versão final nos cinemas, seu corte bruto foi usado para editar os trailers do filme, e é por isso que há muitas imagens alternativas / excluídas mostradas neles, incluindo muitas tomadas alternativas, edições diferentes de algumas cenas, versões estendidas de cenas, algumas linhas extras de diálogo, tomadas e partes de cenas excluídas, incluindo sequência adicional de tiroteio entre duas gangues e final alternativo em que Hickey é morto por Smith em um maneira diferente. Algumas fotos e fotos promocionais também mostram várias cenas deletadas.
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