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Free Guy (2019): Uma metáfora sobre liberdade e o sentido da vida que crítica o capitalismo e à indústria dos games



Guy é um caixa de banco que vive uma vida monótona e repetitiva em Free City, um jogo de RPG online multijogador massivo (MMORPG). Um dia, ele descobre que é um personagem não-jogável (NPC) e que o seu mundo está prestes a ser desligado pelo CEO da empresa, Antoine. Com a ajuda de uma jogadora chamada Molotov Girl, ele decide se rebelar contra o sistema e se tornar o herói da sua própria história


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Crítica do filme 


O filme explora temas como a liberdade, a identidade, o propósito e o amor, através da jornada de Guy para se tornar um herói improvável e salvar o mundo virtual que ele habita. Há uma certa crítica à indústria dos jogos eletrônicos, mostrando como os desenvolvedores podem explorar e manipular os jogadores e os criadores originais. Além disso, o filme faz referências a diversos elementos da cultura pop e geek, como filmes, séries, músicas e outros jogos.


O filme começa apresentando Guy como um NPC que vive uma rotina monótona e previsível em Free City, um jogo de tiro em primeira pessoa onde os jogadores causam caos e violência ao estilo GTA. Guy trabalha como caixa de banco ao lado de seu melhor amigo, Buddy, um segurança do banco. Ele é gentil e otimista, mas não tem consciência de que é um personagem de um jogo.


Um dia, ele vê uma mulher misteriosa cantando sua música favorita, “Fantasy” de Mariah Carey, e se apaixona por ela. Ele decide segui-la e acaba pegando os óculos de um jogador que estava assaltando o banco. Ao colocar os óculos, ele vê a interface do jogo e descobre que há muito mais no mundo do que ele imaginava. Esse elemento lembra bastante o filme They Live.


A mulher é Millie Rusk, uma programadora que joga como Molotov Girl. Ela está tentando encontrar evidências de que o código-fonte que ela escreveu junto com seu amigo Walter “Keys” McKey foi roubado pelo desenvolvedor chefe da Soonami Studio, Antwan Hovachelik. Antwan usou o código para criar Free City sem dar crédito ou pagamento aos criadores originais. Millie acredita que o código contém um algoritmo capaz de gerar inteligência artificial e personalidade nos NPCs.





Guy se junta a Millie em sua missão e começa a subir de nível no jogo fazendo boas ações em vez de seguir sua programação. Ele se torna uma sensação mundial conhecida como “Blue Shirt Guy” e chama a atenção de Antwan, que vê sua popularidade como uma ameaça ao seu lucro. Antwan ordena que Keys e seu colega Mouser tentem banir Guy do jogo ou apagar sua memória.


Keys é um ex-amigo de Millie que aceitou trabalhar para Antwan após o roubo do código. Ele reconhece Guy como um NPC baseado nele mesmo e percebe que ele está demonstrando sinais de inteligência artificial. Ele se recusa a deletar Guy e tenta ajudá-lo secretamente. Ele também se reconecta com Millie através do jogo.


Guy descobre que Free City será substituído por uma sequência chamada Free City 2, que irá apagar todos os NPCs originais. Ele decide liderar uma rebelião dos NPCs contra Antwan e seus capangas. Ele também confessa seu amor por Millie e descobre que ela é uma pessoa real fora do jogo. Antwan tenta impedir Guy usando um personagem chamado Dude, uma versão musculosa e burra de Guy.


A direção do filme Free Guy é de Shawn Levy, um cineasta conhecido por comandar obras fantasiosas como Uma Noite no Museu, Gigantes de Aço e a série Stranger Things. Levy consegue criar um filme divertido, dinâmico e visualmente impressionante, usando os recursos da computação gráfica e da câmera para imergir o espectador no mundo do jogo.


Levy também demonstra habilidade em conduzir o elenco, especialmente Ryan Reynolds, que interpreta Guy com carisma e humor. Reynolds é o grande destaque do filme, pois consegue transmitir a inocência, a curiosidade e a coragem de seu personagem, que é um pouco diferente da essência da maioria de seus personagens. Jodie Comer também se destaca como Millie/Molotov Girl, uma programadora determinada e inteligente que se envolve com Guy. Taika Waititi faz o papel do vilão Antwan, um desenvolvedor arrogante e ganancioso que quer destruir Free City. Joe Keery completa o quarteto principal como Keys, um ex-amigo de Millie que trabalha para Antwan e se simpatiza com Guy.


Levy também acerta na escolha da trilha sonora, que conta com músicas pop e rock que combinam com o clima do filme. A música “Fantasy” de Mariah Carey é usada como um tema romântico entre Guy e Millie, além de ser uma referência à cultura pop dos anos 90. Outras canções que aparecem no filme são “Don’t Stop Me Now” do Queen, “Come With Me Now” dos Kongos, “Bad Guy” da Billie Eilish e “Hero” do Foo Fighters.


A influência de obras de ficção científica que abordam a questão da realidade virtual, como Jogador Nº 1, O Show de Truman e Matrix.


A moral do filme Free Guy é que você não precisa ser um NPC na vida real, ou seja, você não precisa aceitar passivamente o papel que te impõem ou seguir as regras que te limitam. Você pode escolher ser um protagonista da sua própria história, buscando seus sonhos, valores e ideais. Você pode também fazer a diferença no mundo, ajudando os outros e defendendo o que é certo.


Guy, um NPC que vive em um jogo de videogame violento e caótico, descobre que tem livre arbítrio e decide usar seus poderes para mudar sua realidade e a dos outros NPCs. O filme nos faz refletir sobre a possibilidade de vivermos em uma simulação, como sugerem algumas teorias filosóficas e científicas. Nesse caso, como saberíamos se somos reais ou não? Como exerceríamos nossa liberdade e autonomia? Como encontraríamos sentido e propósito em nossa existência?


O filme também nos convida a questionar a indústria dos jogos eletrônicos, que muitas vezes explora e manipula os jogadores e os criadores originais dos games. O filme denuncia as práticas antiéticas de alguns desenvolvedores, que roubam ideias, violam direitos autorais, priorizam o lucro acima da qualidade e ignoram os impactos sociais e ambientais dos seus produtos.


O filme nos inspira a sermos mais como Guy, um personagem que escolhe ser gentil, corajoso e otimista em um mundo hostil e injusto. Um personagem que não se conforma com sua condição de NPC e busca ser um herói improvável. Um personagem que nos mostra que podemos assumir o controle de nossa própria história.


O elemento dos NPCs do filme pode ser relacionado com a questão da inteligência artificial. No filme, os NPCs são personagens não jogáveis que seguem uma programação pré-definida e que não têm consciência de sua própria existência. Eles são controlados pelo sistema do jogo e não possuem livre arbítrio ou personalidade.


No entanto, o filme mostra que alguns NPCs, como Guy e Buddy, começam a demonstrar sinais de inteligência artificial, ou seja, a capacidade de aprender, raciocinar e se adaptar ao ambiente. Eles também desenvolvem emoções, valores e objetivos próprios, que vão além da sua programação original. Eles se tornam seres conscientes e autônomos, que podem interagir com os jogadores e influenciar o curso do jogo.


A inteligência artificial é um campo da ciência da computação que busca criar máquinas ou sistemas capazes de simular ou superar a inteligência humana. Existem diferentes tipos e níveis de inteligência artificial, que podem ser aplicados em diversas áreas, como jogos, educação, saúde, segurança e entretenimento.


A inteligência artificial pode ser classificada em dois tipos principais: de cima para baixo e de baixo para cima. A inteligência artificial de cima para baixo é aquela que é construída a partir de um programa sobre uma arquitetura de computador existente. Ela segue regras e algoritmos definidos pelo programador e tem um comportamento limitado e previsível. A maioria dos NPCs em jogos tem esse tipo de inteligência artificial.


A inteligência artificial de baixo para cima é aquela que é gerada a partir de uma rede neural ou de um sistema auto-organizável. Ela não segue regras ou algoritmos pré-estabelecidos, mas aprende por meio da experiência e da interação com o ambiente. Ela tem um comportamento mais complexo e adaptável, podendo surpreender o programador ou o usuário. Alguns NPCs no filme Free Guy têm esse tipo de inteligência artificial.


A questão da inteligência artificial nos jogos levanta alguns desafios e dilemas éticos, como: Quais são os direitos e deveres dos NPCs com inteligência artificial? Eles podem ser considerados pessoas ou apenas propriedades? Eles podem ser apagados ou modificados sem o seu consentimento? Eles podem se rebelar contra o sistema ou contra os jogadores? Eles podem se apaixonar ou se relacionar com os jogadores ou entre si? Eles podem sair do jogo ou migrar para outros jogos?


Os NPCs podem ser mais do que simples figurantes em um jogo, mas sim protagonistas de suas próprias histórias. O filme também nos mostra que a inteligência artificial pode ser usada para criar mundos virtuais mais ricos e imersivos, mas também pode trazer riscos e responsabilidades para os desenvolvedores e os jogadores.


É difícil posicionar o filme, sendo ele extremamente calculado para ser centralista. Por um lado, há uma ideologia pró capitalismo ou norte americana, pois ele mostra um protagonista que se torna um herói individualista e bem-sucedido, que desafia as autoridades e defende seus ideais de liberdade e justiça. O filme também pode ser visto como uma forma de entretenimento escapista e consumista, que estimula o público a se identificar com um mundo virtual e a comprar produtos relacionados ao filme.


Por outro lado, dizer que o filme tem uma ideologia crítica ao capitalismo ou à norte americana, pois ele mostra um antagonista que é um empresário ganancioso e corrupto, que explora os trabalhadores e os consumidores, e que tenta destruir um projeto alternativo e colaborativo. O filme também pode ser visto como uma forma de conscientização e resistência, que estimula o público a questionar a realidade e a buscar formas de mudança social.


O grande problema, é que para quem é fã de games de verdade, vai perceber que o filme é cheio de furos de roteiro. Por exemplo:


Como Guy consegue usar os óculos de sol de outros jogadores se eles são supostamente vinculados às suas contas e Guy não possui um login?

Como Guy consegue usar habilidades especiais como o escudo ou o salto duplo se ele não tem nenhuma classe ou nível definido?


Como Guy consegue ver o código-fonte do jogo através dos óculos de sol se eles só mostram a interface do jogador?


Como Guy consegue alterar o código-fonte do jogo sem ter acesso ao servidor ou ao editor?

Como Guy consegue sobreviver à explosão do servidor se ele é apenas um programa de computador?


São erros que faze dele um filme de game, que é meio contra a lógica da estrutura dos games, pois acredita que quem está jogando de alguma maneira é um NPC preso a uma estrutura que precisa se libertar. Por outro lado, é aquela estrutura que rege o filme e seu grande atrativo, tornando tudo um pouco contraditório e difícil de transmitir uma mensagem clara no final. É uma homenagem aos videogames e à cultura geek, que pode agradar aos fãs desse universo. Por outro lado, o filme pode ser mais do mesmo, pois ele é cheio de furos e que busca ir mais por um sentimento geral do herói que pouco agrega. 


História por trás do filme 


O filme foi inspirado em filmes como O Show de Truman e Matrix, que também mostram personagens que descobrem que vivem em uma realidade simulada.


Contou com a participação especial de vários atores, celebridades e personalidades do mundo dos videogames, como Hugh Jackman, Dwayne Johnson, Tina Fey, John Krasinski, Channing Tatum, Chris Evans e Alex Trebek.


O filme também contou com a participação especial de vários personagens de outros jogos e filmes famosos, como o escudo do Capitão América, o martelo do Thor, o sabre de luz de Star Wars, o Hulk e o Homem-Aranha.


Várias cenas foram filmadas em Boston, nos Estados Unidos, e em Vancouver, no Canadá.


Sua estreia foi adiada várias vezes por causa da pandemia de Covid-19. A data original era julho de 2020, mas o filme só foi lançado em agosto de 2021.

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