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Westworld - "Zhuangzi" (4x05): Série morreu, mas passa bem...



O título do episódio é uma referência a Zhuangzi, historicamente romanizado Chuang Tzŭ, um antigo texto chinês do período dos Estados em Guerra (476-221 a.C.) que contém histórias e anedotas que exemplificam a natureza despreocupada do sábio taoísta ideal. Nomeado por seu autor tradicional, "Mestre Zhuang" (Zhuangzi), o Zhuangzi é um dos dois textos fundamentais do taoísmo, juntamente com o Tao Te Ching.


Veja aqui a análise do episódio anterior, "Generation Loss" (4x04)


Crítica do episódio


Começamos o episódio com mais um plano geral da cidade e uma narração em off de William. Ele aparece no restaurante com um casal desconhecido, em um diálogo meio aleatório sobre meritocracia, onde o casal a defende. Porém William revela: "Cheguei a 5 minutos atrás e vocês nem sabem quem eu sou". Ou seja, eles são robôs mas são programados para defender o sistema, tipo essa galera que defende o capitalismo e o sistema pois tem um emprego que o permite viajar para o exterior. Uma ótima crítica a mentalidade do sistema atual, onde nunca fomos tão desiguais e ao mesmo tempo "tão felizes". O casal me lembra Teddy e Christina, sugerindo uma crítica ao plot. 



A cena de William conversando com a mulher ferida pareceu um diálogo direto com os roteiristas sobre a a baixa qualidade do episódio anterior. Não se pode usar a ideia da série não ter regras para criar regras subjetivas. Por isso o último episódio foi viagem, delírio coletivo puro.



Detalhe: o episódio voltou a a ter a cena antes da abertura, coisa retirada no episódio anterior. Ou seja, mexeram na edição como eu falei no último episódio.



Cara, eu não aguento mais o plot de Christina. Ela já está a cinco episódios na série e nada mudou. Tudo que vemos é sempre a mesma cena dela interagindo com sua amiga, que faz ela pensar que ela é desconstruída por isso. Tudo bem, é interessante o fato de agora ela querer em seu trabalho de roteirista, reviver o passado da primeira temporada, quando ela era Dolores. Mas além de contraditório, era previsível. A personagem só serve atualmente para realmente rir da cara do tipo ideal dos fãs cegos de Westworld e da cabeça dos roteiristas retardados que tentam vender a série como se fosse Black Mirror, ao estilo do último episódio.


A cena de Charlotte obrigando o homem a a tocar o teclado enquanto outras pessoas são obrigadas a dançar, representa um pouco da cabeça doentia de quem disse, como vários disseram nos grupos e fóruns sobre o último episódio, que Charlotte era a melhor personagem, quando o que estamos vendo aqui é ela usar de seus poderes para fazer pessoas de bonecos em uma espécie de dança doentia da morte. É tipo o que tá rolando no mundo atual com a mentalidade do "novo normal". A cena parece referência a dança da morte do filme O Sétimo Selo, de Bergman (já analisado aqui). 



Mas sei lá, ainda acho um pouco errado a escolha da vilã, demonstrando que a série tem problemas estruturais e que sua produção deve ser uma briga de faca. Eles tentam fazer o que consideram certo ou politicamente correto, mas sempre voltam isso para uma metáfora barata de manipulação que desconfia de seus próprios personagens, cortando a fruição da série.



Só que a sequência ainda peca por querer esteticamente passar uma imagem muito transgressora ao fazer os humanos de bonecos, afinal são todos robôs, mas parece relativizar a escravização de pessoas como uma "lacração". Há quem pense assim? Claro, mas eles não preciso de incentivo da série. Acho que toda metáfora totalitária e distópica deve tomar cuidado com isso para não louvar justamente a dominação e opressão enquanto sistemas fechados e impossíveis de transpor.


Duas perspectivas que eu tinha pego e nenhuma análise pescou foi o olhar de nojo de Dolores para o mendigo no primeiro episódio, mendigo esse que foi morto nesse episódio pela mulher que conversa com William na cena do crime. Uma crítica a certos elitismos da série? Talvez. Mas o outro ponto é que segundo William, a ideia de Charlotte era fazer todo mundo se matar, algo que eu reclamei do último episódio, que parecia que dava gatilho de suicídio em pessoas mais fracas.




Os debates filosóficos e éticos desse episódio foram melhores escritos e dispostos nos diálogos. Por exemplo, o diálogo inicial no restaurante debateu de maneira sutil questões que envolvem a meritocracia. Já na cena de William com Charlotte, ouve um bom debate sobre valores humanos, sobre estar sobre controle da própria vida e liderança. Afinal, quem controla o jogo que nos todos jogamos todos os dias? É uma boa reflexão que o episódio faz. 


Contudo, o episódio é bom? É quase lá. Ele é melhor que o anterior, que foi um desastre total, um gancho dentro do gancho que anulava toda a série. Mas ele não é bom no sentido da série e das séries em geral. Perto da primeira temporada, é totalmente fraco. A série simplesmente está esquecendo de entreter. É preciso ser divertido, particular, não só depender de ganchos reflexivos que o espectador pode querer produzir ou não. 


De certa maneira, o episódio usou da mesma pegada do anterior, anulando a anulação. Mas quantas vezes mais a série vai ter que virar conforme o episódio? 



O maior problema da série para mim é não ter seguido os filmes clássicos Westworld e Futureworld. Era preciso acabar a série na 2° temporada e lançar uma nova série chamada Futureworld. Mas para manter a marca e o dinheiro eles mantiveram o nome "west" para as pessoas associarem de proposito com faroestes. Uma maldade de marketing meio oportunista que já torna a série meio que um "bait" nessa temporada e por isso nada encontra lugar. 



A direção do episódio foi bem melhor, soube segurar o clima, mas o roteiro não. Uma esperança fica ao final do episódio de William se juntando com Christina para tirá-la de sua vida. Mas isso já não aconteceu antes? Tá difícil, viu... Melhorou, mas ainda não conseguiu me agradar, fazendo-me começar a questionar se a 3° temporada não era melhor pois pelo menos tinha cenas de ação caras e bem produzidas. 







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