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Better Call Saul - "Wine and Roses" ("Vinho e Rosas" - 6x01): Curiosidades e análise do primeiro episódio da sexta e última temporada


Em um flashforward, a polícia apreende os pertences de Saul da extravagante casa que ele possuía durante os eventos de Breaking Bad. No presente, Nacho foge para o norte do complexo de Lalo e se refugia em um motel. Ele tenta, sem sucesso, falar com Mike, que diz a Gus que Nacho merece seu respeito. Juan Bolsa liga para Gus para informar que uma recompensa foi colocada em Nacho. Jimmy e Kim discutem planos para adquirir um carro e um escritório melhores para a persona Saul Goodman. Jimmy decide aceitar o plano de Kim para arruinar Howard, e decide implantar um saco de talco de bebê que se assemelha à cocaína no armário de Howard

Better Call Saul está na Neflix


Lalo, ferido e mancando, chega à fazenda de um casal que vive em seu complexo. Depois de uma conversa educada com a esposa do fazendeiro, ele a mata para evitar que alguém saiba de sua sobrevivência. Ele tem o fazendeiro raspando a barba para usar seu corpo como isca para o seu próprio.


Juan Bolsa diz a Gus que Lalo foi assassinado, que Nacho é o responsável, e que agora há uma grande recompensa por Nacho. Gus pergunta a Mike se ele acredita que Lalo está morto, ao que Mike concorda sem coração. Ele também diz a Gus que Nacho merece seu respeito, ao que Gus diz que sim.


Jimmy McGill e Kim Wexler saem do hotel e voltam ao trabalho. Jimmy é confrontado pelo promotor no caso de Lalo, que o informa que o réu desapareceu e que sua suposta família que ele trouxe para a audiência não pode ser verificada. Jimmy garante que seu cliente voltará para sua audiência, mas acidentalmente deixa o nome verdadeiro de Lalo escapar durante sua conversa. Naquela noite durante o jantar, Kim sugere que Jimmy adquira um carro e um escritório melhores para combinar com sua nova persona Saul Goodman. Eles também discutem seus planos para arruinar Howard Hamlin.



Jimmy entra no country club onde Howard e Clifford Main estão jogando golfe. Ele encontra o armário de Howard e planta um pacote de pó de bebê que se assemelha à cocaína. Clifford nota o pacote quando ele sai do armário de Howard, mas Howard insiste que não é dele.


Lalo se prepara para voltar aos Estados Unidos, mas primeiro chama seu tio Hector Salamanca. Ele informa Hector que ele ainda está vivo, mas que eles precisam deixar seus inimigos acreditarem que ele ainda está morto. Ele também diz a Hector que acha que Gus é responsável pela tentativa de assassinato, à qual Hector lhe pede para encontrar provas. Lalo acredita que sabe onde pode encontrar provas e logo volta para o México.



Recapitulando


Não tivemos um novo episódio de "Better Call Saul" em dois anos por causa da pandemia. Os atores envelheceram bastante; mas os personagens não envelheceram um minuto. Então, vamos relembrar exatamente o que está acontecendo com a série.


Para onde vai Lalo Salamanca na cena final? Em direção à vingança. Lalo Salamanca (Tony Dalton) acaba de sobreviver à invasão e tentativa de  assassinato, derrotando uma gangue de homens horrivelmente armados com apenas uma panela de óleo fervente e armas roubadas deles mesmos. Ele sabe quem enviou esses caras - o rival de metanfetamina e empresário de frango frito, Gus Fring (Giancarlo Esposito).



Gus está alguns passos à frente de Lalo desde que este Salamanca apareceu. Foi Gus quem planejou prendê-lo por assassinato, um crime que Lalo realmente cometeu. 



Tendo perdido seu amado chef e aparentemente todos os outros membros de sua equipe, Lalo agora buscará a vingança máxima. Sabemos que isso não envolverá matar Fring – ele ainda está vivo e bem em “Breaking Bad”, a sequência dessa série – mas ele  pode causar estragos. No mínimo, ele pode impedir a abertura do super brasão mágico, que dizem ser a causa do coração mais amado de Gus e também o mais importante para seus resultados.



Vargas está condenado? Talvez não, mas Nacho (Michael Mando) quer vingança.



No episódio final da 5° temporada, Nacho teve uma longa discussão com o chefe de gangue Don Eladio (Steven Bauer) sobre como ele administrava o negócio no Novo México sem Salamanca. Foi uma perda de tempo para os espectadores? Sim, se Nacho nunca executou operações em Albuquerque. Mas foi bom de ver a cena de tiro de qualquer maneira.



No final da temporada passada, Kim (Rhea Seehorn) convenceu Jimmy McGill (Bob Odenkirk) a ferrar seu mentor e ex-chefe, Howard Hamlin (Patrick Fabian), com algum mau comportamento ou conduta diferencial para encerrar sua carreira. 



Um motivo óbvio aqui é dinheiro. Com Howard à beira do escândalo, ela e Jimmy receberão cerca de US$ 2 milhões em uma longa ação coletiva contra uma casa de repouso. No entanto, é mais do que isso. Kim odeia tanto o cara que até Jimmy - que não é fã de Howard - acha isso exagerado.


Howard tem um histórico de paternalismo e insulto a Kim. Ele a botou para trabalhar em uma sala mal iluminada com colegas calouros quando ela era caloura em Hamlin e McGill, punindo-a pelos crimes de Jimmy. 




Kim se torna um dos personagens mais intelectuais da série. (Gus é seu único rival.) Durante a cena de separação da quinta temporada, ela sonha em abrir um escritório de advocacia para ajudar os pobres, o que é tão altruísta quanto um advogado pode imaginar.


As cinco temporadas anteriores de "Better Call Saul" começaram com uma breve visita a Omaha, onde  Jimmy pós-Saul vive e trabalha em um shopping center, depois de escapar de Albuquerque como fugitivo. Em uma inversão inteligente  da norma, as cenas futuras do show foram filmadas em preto e branco. Durante a abertura da 5ª temporada, Jimmy é confrontado por um cara que parece reconhecê-lo, indicando que seu disfarce foi pelos ares.


História por trás do episódio 


Em janeiro de 2020, a AMC renovou Better Call Saul para uma sexta temporada. O showrunner Peter Gould e representantes da AMC confirmaram que seria a temporada final da série e consistiriam em 13 episódios, maior do que os 10 usuais. Isso trará a contagem final de episódios da série para 63, um a mais que seu antecessor Breaking Bad. Semelhante à forma como a quinta e última temporada de Breaking Bad foi dividida em duas metades, dando a sensação de que a segunda metade foi a sexta temporada. 


Em abril de 2020, Michael Mando e Tony Dalton disseram separadamente que as filmagens estavam programadas para começar em setembro, mas ambos não tinham certeza se seria adiado devido à pandemia COVID-19 em curso. Rhea Seehorn disse em julho que as filmagens não começariam até que fosse seguro fazê-lo. Gould disse que as filmagens dificilmente começarão em 2020 devido à pandemia, acrescentando que, enquanto a Sony Pictures Television estava fazendo "tudo humanamente" possível para que a série retomasse as filmagens com segurança, "acho que provavelmente vamos atrasar um pouco, infelizmente". Em outubro, Esposito disse que as filmagens começariam em março de 2021, o que foi ecoado por Odenkirk em fevereiro de 2021.



As filmagens começam oficialmente em 10 de março de 2021, no Novo México. Cada episódio deveria levar cerca de três semanas para ser filmado, um cronograma de filmagem mais longo em comparação com as temporadas anteriores, onde um episódio típico foi filmado em nove dias. A produção estava prevista para durar cerca de oito meses, mas as filmagens terminaram após onze meses em 9 de fevereiro de 2022.



Esta é a primeira estreia da temporada de Better Call Saul onde a cena de abertura não apresenta Jimmy McGill em sua persona como Gene Takavic. Em vez disso, apresenta a casa de Saul Goodman, fornecendo um vislumbre de sua vida pessoal durante Breaking Bad. Gould disse que isso foi deliberado, porque durante o processo de escrita a equipe de redação percebeu que esta temporada seria diferentemente estruturada do que as outras na série, e que faz mais sentido esperar pela linha do tempo de Gene como resultado. Ele também disse que a cena de abertura foi inspirada nos filmes clássicos Sunset Boulevard e Cidadão Kane. A canção que toca sobre a cena de abertura não foi feita pelo compositor de longa data Dave Porter, mas é uma gravação da orquestra Jackie Gleason de Days of Wine and Roses, de onde o título do episódio deriva seu nome. 


Em 27 de julho de 2021, após filmar por doze horas com Seehorn e Fabian, Odenkirk estava andando de bicicleta quando sofreu um ataque cardíaco. A supervisora de segurança da saúde, Rosa Estrada, e a diretora assistente, Angie Meyer, administraram ACP e conectaram Odenkirk a um desfibrilador automatizado; levou três vezes para o pulso do ator voltar. Odenkirk foi levado às pressas para o Hospital Presbiteriano, onde dois stents foram colocados em seu corpo para aliviar o acúmulo de placas. Odenkirk foi tratado sem cirurgia e fez uma pequena pausa nas filmagens, exigindo que a produção fizesse algumas mudanças de horário para acomodar isso. Em meados de agosto, Dalton disse que cenas não envolvendo Odenkirk estavam sendo filmadas, mas Odenkirk ainda não tinha sido dada autorização para retornar. Odenkirk confirmou no início de setembro de 2021 que estava de volta às filmagens.


O episódio foi dirigido por Michael Morris, e escrito pelo showrunner e co-criador Peter Gould. O nome do restaurante onde Jimmy conhece Kim, El Camino Dining Room, foi notado como uma referência ao filme El Camino: A Breaking Bad Movie de Breaking Bad.


Crítica do episódio 


Vou resumir a nova temporada de Better Caul Saul em duas palavras: boa demais! A série parece que não só teve uma grande evolução de plot, como também de produção. Tudo que já havia nas outras temporadas está no mesmo lugar, os personagens, cenários e tudo mais da trama. Mas tudo soa mais profissional depois de uma longa pausa. Não é só a atuação dos atores, que está incrível pois afinal eles estão a mais de 2 anos treinando tais personagens, mas também a produção, os equipamentos, maquiagem, fotografia e tudo mais, parecem ter passado por um investimento e remodelação intensa, atingindo um auto padrão de qualidade. 



Agora, vamos focar em alguns detalhes do episódio para analisar mais de perto. Há uma forte exploração de contrastes de ângulo e perspectiva na volta da série. Há muitos planos gerais que são voltados para planos detalhe.




As primeiras cenas do episódio que mostram a mansão de Saul sendo desmontada, obviamente são um flashfoward do fim da série, parecendo até realmente o desmonte do set de filmagem. Ou seja, tudo que vemos de cara é o fim da temporada, onde obviamente o esquema de Saul com o Cartel foi descoberto. Assim, a série sabe se construir na medida que não é sobre o final chocante ou bombástico. Todo mundo tem noção do que pode acontecer no final. Mas se vai dar certo, não sei. O importante é o caminho e como ele vai ser construído e a que custo.


Aaaa e para quem achava que só os militares brasileiros curtiam um viagra, olha lá a caixinha na mansão de Saul. Em outro plano ele também aparece "fazendo arminha", como metáfora de que fazer esse tipo "populista conservador" não tá colando mais, e Saul está com as horas contadas, talvez pelo fato do populismo judicial não estar mais convencendo. E o letreiro com o nome do filme "El Camino", uma referência?



Achei que a série, pela interrupção da pandemia, assumiu um clima pessimista. Isso fez com que o clima de distância entre Kim e Saul voltasse a ser explorado. É claro que eles continuam tendo química (diria até mais do que nunca), mas está ali no texto inserido um certo pessimismo em torno do relacionamento. O momento que isso ficou mais claro, para mim, foi no momento em que se focou no copo de Kim, dizendo "melhor advogado do mundo, de novo", onde o "de novo" está riscado de caneta, algo que passa a ideia de retalho, daquilo que dá para fazer apesar de tudo. 



Isso não quer dizer que acredite que a série vai dar um final ruim para o casal, ou que Kim vai morrer (como apostam alguns fãs), mas que na verdade eles querem aproveitar as especulações pessimistas dos fãs para atrair mais audiência, sem deixar determinado no primeiro episódio o que vai acontecer. Afinal, eles trabalham envolvidos com o crime e o cartel, algo que não é relaxante. E para que? O capitalismo, apesar de propor oportunidades, não é tão bom assim, e isso é uma ideia reforçada no episódio. 



Várias cenas me lembraram, como em Miami Vice, a ideia de estar se falando de uma coisa querendo falar de outra coisa. Há um certo questionamento inerente ao sistema de Saul, pois afinal o mundo atual não está tão bom quando na época de Breaking Bad.



Alguns detalhes da série valem ser mencionados, como o fato de na cena do crime, os primos Salamanca (ainda vivos aqui), entram em uma cena do crime, com perícia criminal aparentemente do México, e os policiais tem medo deles, uma forma de questionar a objetividade desses métodos, uma vez que o poder pode agir de maneira mais direta do que se espera. 


Isso se associa um pouco com o plot de Vargas, que lembra Arquivo X (o qual Vince Gilligan foi produtor e roteirista), onde parece que seu desespero tem um sentido de provação, uma vez que já sabemos que o destino tende ao seu lado. Vemos isso nas cenas de Mike e Gus. Ambos já possuem seu destino traçado por Breaking Bad: ambos vão morrer graças ao frágil Walter White. Então o que estamos vendo aqui? Estamos vendo uma revisão do que foi feito nos últimos tempos, desde os 2000 para cá, em torno de escolhas políticas e estéticas. 



Fica evidente essa questão também na cena, aparente desconexa, de Saul arrumando confusão no clube, por considerar as práticas do mesmo antissemitas. Ele estava fazendo uma cena por interesse próprio ou era realmente um caso de racismo? Era racismo, pois na medida que ele cismou, não faltou babacas conservadores para realmente quererem bater nele. Então, mesmo agindo por interesse ele estava certo. 



No final, mas uma contradição ao melhor estilo faroeste. Apesar de Lalo ser o grande vilão, ele parece educado e gostar dos imigrantes latinos, pois afinal acredito que Better Call Saul é a última série a manter um bom diálogo entre Estados Unidos e América Latina, algo que muitas séries usaram para terem vizualisão quando era bonito ser brasileiro ou mexicano, mas agora, fizeram questão de esconder a influência das novelas e do público latino nas séries americanas. Só Better Call Saul não.



A série parece muito madura e é muito legal ver essa evolução de roteiro, atuação e direção. A pausa da pandemia parece ter feito bem a série e minhas expectativas para a temporada foram confirmadas e acho que não tem como decepcionar. Agora só conferindo os próximos episódios. Até lá!
















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