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A Face Oculta (One-Eyed Jacks, 1961): Dirigido e protagonizado por Marlon Brando, este é um dos grandes faroestes revisionistas já realizados



Com roteiro escrito por Sam Peckinpah, "A Face Oculta" era para ser dirigido por Kubrick, mas ele foi demitido antes das filmagens pelo próprio Marlon Brando.  Inspirado no livro "The Authentic Death of Hendry Jones", de Charles Neider, conta a trama do pistoleiro Rio (Brando) que fica na prisão por 5 anos, devido a traição de Dad Longworth, seu ex parceiro de crimes. Entretanto, o cowboy Rio é um sedutor e conquista Louisa, que é enteada de seu ex parceiro, que agora é um rico patrono local



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Quando pensamos em filmes de faroeste, alguns clichês, arquétipos e tropos narrativos são colocados em questão. Aqui não temos a figura do faroeste da mulher livre e vulgar, como nas histórias de John Ford, ou mesmo Howard Hawks. Aqui o clichê é sobre o conservadorismo vindo do romantismo do século XIX.


O contexto de batalhas na fronteira entre americanos e mexicanos criava essas situações onde se refletirmos bem, não havia muita diferença entre o bandido e o xerife. Como no caso do filme, onde Dad simboliza o reformismo político de grupos que uma vez fizeram alguma coisa de criminosa e que depois se tornaram paladinos da moralidade. Na história da américa, o arquétipo histórico retratado no filme é típico do novo político americano, retratado na figura de Dad, o antigo bandido, homem branco que se casa com uma viúva mexicana (Katy Jurado). 


O casal regido pelo homem branco simboliza o casamento das revoluções populares na américa com certo conservadorismo vindo do ocidente que procura ignorar o passado.  O nome "Rio" já nos remete ao lado tropical, como Rio de Janeiro, o nome Dad simboliza o paternalismo dos políticos locais. 


O clichê ao evoluir a narrativa é nítido. O cara malandro que queria magoar Dad através de Louisa acaba se apaixonando "de verdade" por ela, como demonstrado no filme. Talvez se Kubrick tivesse sido o diretor, Rio seria mais anti herói e corrompido, ao estilo Alex Delarge, e isso certamente não era a ideologia de Marlon Brando (um cara considerado radical) e que tinha se interessado pelo carácter revisionista do filme, onde o herói é quem a sociedade caça, como nas histórias clássicas latinas. 



Percebendo que alguns filmes de western repetem padrões estéticos específicos, como se fosse uma ideia de parque de display de arquétipos sólidos, o herói, vazio ou não, que pode ser o fora da lei, ou mesmo o xerife dependendo do tipo de western esse carácter se modifica. Se observamos a narrativa do filme, não se difere muito de outros faroestes. A decisão de ficar com Louisa não convenceu Dad que soube sobre o envolvimento dos dois. O final não é apologético e catártico, mas certamente ajuda a refletir.


O contexto político da época, de intensa disputa geopolítica em um mundo polarizado. Em 1961, ano de lançamento  do filme a Guerra-fria estava em intensa disputa entre a União Soviética e os Estados Unidos. No Brasil, foi a eleição de um político populista de direita Jânio Quadros, com certo apoio até mesmo de certa esquerda, o que reforça a tese do reformismo generalizado no mundo da época e isso se reflete no estilo de tese e filme que corresponde One Eyed-Jack, o filme entrou para o imaginário americano de maneira imensa, sendo como se fosse um retratado do homem aventureiro e sedutor antigo, na figura de Marlon Brando. 

 

Dad (o ex parceiro de crimes) é o cara que era bandido e como traiu e fugiu resolver "mudar de vida", a atitude dele represente o reformismo e o revisionismo da época. Ele que era um fora da lei vira um moralista tradicional que tem todo o ódio por Rio (que representa o jovem aqui).  Essa figura de Dad do homem provedor e pai de família não colava com Rio, que conhecia seu passado. A história vira uma torrente de violência, ciúmes e traições que levam ao final com Rio e Dad se enfrentando, e Dad sendo morto por Rio.  


Todo mundo sabe quem é Marlon Brando, o "poderoso chefão" do filme quando velho, mas nesse filme ele está jovem ainda. Depois disso o ator quando ganhou o Óscar pelo filme O Poderoso Chefão, e acabou pedindo para atriz indígena Maria Louise Cruz para receber o prêmio em seu lugar. Além de ter dirigido com essa tentativa um dos maiores clássicos do cinema americano, amado por muitos como um filme ímpar em estilo e filmagem. 


Brando gostava de fazer sessões de improvisação para preparar para o filme com maior motivação. O diretor Martin Scorsese já se referiu esse filme como seu western favorito. 


Esse filme com certeza busca debater os tipos e estilos de personagens com certo tom revisionista no sentido de acompanharmos a história de um cowboy ao estilo Billy the kid, mas há todo um envolvimento emocional onde o herói não é o cara certinho, mas sim o uma figura meio mitológica de fama.  Possuindo todos os traços de arquétipos ao estilo de Freud que refletem como masculinidade e ansiedade. Marlon Brando era um perfeccionista de dar medo no set de filmagem com sua produção. 


A série Twin Peaks, por exemplo, lembrou do filme na cena de Audrey e Donna lembram do filme clássico, onde Audrey comenta sobre o prostíbulo que ficava na fronteira com o Canadá, e que era um negócio do seu pai. Na cena, eles lembram do filme clássico e muitas pessoas descobriram o filme por conta dessa referência. Sendo uma aula de tropos e arquétipos dos EUA, não podia ficar a fora a referência ao tipo de história retratada por Marlon Brando.


O filme foi considerado muito avançado na ideia e na abordagem, com o herói sendo o bandido, o xerife sendo o vilão que costumava a ser bandido. Enfim, um filme que claramente desafiou a acostumada audiência americana. As manchetes eram todas contra o filme. Por muito tempo, o carácter mitológico de um ator enquanto produtor de uma ideia, e a chance disso sair de controle acabou se tornando um medo depois de Marlon Brando, que certamente sempre teve certa certeza criativa e ideológica. Principalmente, se pensarmos filmes como On The Waterfront (1954). Nos anos 1960 com a tensão da Guerra-fria os, o gênero de western tinha decaído no gosto popular, o que explica o motivo de ser um faroeste revisionista e não clássico com a figura do xerife como herói, mas sim o bandido lendário local.


No Brasil o revisionismo no western é ao contrário do que é nos filmes americanos. Se revisionismo no faroeste lá serve para tomarmos o ponto de vista do bandido (ao estilo Eric Hobsbawm), aqui temos a tendência de fazer os filmes de faroeste sobre o cangaço, então o revisionismo nos filmes de faroeste no Brasil em filmes como "A morte comanda o cangaço", diferentemente, abordam uma desconfiança popular em relação ao banditismo e ao cangaço, ou seja, o revisionismo aqui é para não gostar do bandido, ao contrário dos filmes americanos, onde o eu-lírico normalmente é do establishment. 


Certamente um filme marcante de fotografia, estilo e original em sua abordagem, feito em uma época onde as pessoas já não pensavam ou gostavam tanto assim de westerns, com uma visão de esquerda e revisionista sobre a História dos Estados Unidos e do México. Certamente, um dos filmes mais "de esquerda" que já vi na vida. 


Rio(personagem de Marlon Brando), que também é chamado de "The Kid" tem como mentor Dad Longworth e tem um terceiro homem chamado Doc, eles roubaram um sacos de ouro de um banco em Sonora, México em 1880. O filme conta com a participação da primeira latina a ser indicada ao Oscar pelo filme High Noon, a atriz mexicana Katy Jurado, que faz a mãe da enteada de Dad, Louise que se envolveu com Rio. 


Depois de anos com pedidos de todos para fazer um western, ele finalmente cedeu. Ele ficou interessado no vilão da história o nome dele ser Dad (sendo uma indicação de paternalismo, o pai). 


Rosenberg tinha comprado os direitos do livro, euquanto quem estava cotado para participar era também Rod Serling, o criador da famosa série de tv The Twilight Zone (Além da Imaginação). Depois Sam Peckinpah reescreveu  história, mas quem ficou no final foi Guy Troper.  Kubrick enquanto estava o projeto queria Spencer Tracy no papel de Dad, mas Marlon queria seu amigo Karl Malden, que tinha trabalhado com ele desde Streetcar. 


O filme seria sobre a cidade de Monterey, durante os anos de 1880. Como a área tinha uma grande população asiática, Marlon queria retratar o namorado de seu personagem com uma garota local chinesa, no caso sua namorado France Nuyen. Mas Kubrick disse que sua garota não conseguiria atuar... Foram vários os motivos da saída do grande diretor, mas todos concordam que Marlon Brando em sua única direção da vida também caprichou no filme que fez. 


Os mexicanos rurais (polícia montada) eles rastreiam o bando em uma cantina local e matam o terceiro homem (Doc), enquanto Dad e Rio fogem, eles ficam presos em um rocha nas montanhas perto de um jacalito (uma pequena casa). Dad coloca os sacos de ouro no pônei, mas muda de ideia. Dad pensa que só sobreviveria se abandonasse o amigo e corresse para a fronteira, e foi o que fez. Rio é preso e transportado para a prisão e descobre a traição do amigo. Rio era um malandro que gostava de enganar mulheres, sendo dando anéis falsos, com promessas de amor falsas. 


Rio passa 5 anos na prisão em Sonora. Ele escapa junto com seu novo parceiro Chico Modesto. Enquanto ele está na prisão, Dad se torna xerife de Monterey, na Califórnia. Dad havia fugido de cometer assaltos no México e virado xerife em uma pequena cidade na Califórnia. 


Quando Rio é solto, dá uma chance para Dad se explicar sobre ter o traído antes. Mas Rio planeja sua vingança secretamente junto com Chico Modesto e Bob Emory. 


Os planos iniciais mudam drasticamente quando Rio se apaixonada pela linda enteada de Dad e passa uma noite com ela na praia em um festival. Dad tenta punir Louisa pelo ocorrido, mas Maria, sua esposa, impede ele de castigá-la. 


Ainda cheio de raiva, ele prende Rio em uma armadilha e começa a chicoteá-lo como forma de punição. Rio fica entre estar apaixonado pela enteada de Dad e prometer ao mesmo tempo matar ele. 


Ele decide por fim que ele quer fugir com Louisa e não se vingar mais. Mas Emory tinha seus próprios planos e acaba matando Chico e roubando o banco da cidade sem que Rio saber disso, ao mesmo tempo armando para todo mundo achar que foi Rio que roubou o banco, sendo preso ele saberia que seria enforcado em poucos dias. Rio declara que Dad seria o "one-eyed jack" (mandachuva) do lugar, mas que ele sabia a face oculta que ele escondia sua identidade. 


Explicando aqui o título do filme.  Luisa visita Rio na cadeia e diz que está grávida de seu filho. Ele é agredido pelo policial Lon Dedrick, que tinha sido vetado por Louisa anteriormente. 


Maria confronta Dad, o marido, para saber sobre a verdadeira natureza do passado dele e de Rio juntos. Já que ele não contou que tinha sido bandido antes.  Dad sai raivoso dizendo que a família não era agradecida por tudo que ele tinha feito por eles. Louisa tenta colocar uma arma para Rio, mas o objeto é descoberto por Dedrick. 


Rio conseguiu pegar a arma que ficou na mesa por perto com dificuldade. Apontando a arma sem carga para Dedrick blefando, Rio pega o revolver de Dedrick e bate nele até ele ficar inconsciente e prende ele em uma cela. Enquanto Rio escapava ele foi flagrado por Dad, que começa a atirar nele. Rio atira matando Dad, virando um homem oficialmente procurado, então depois ele tem que fugir. 


Enquanto fugia com Louisa pelas dunas, ele se despede, como ele agora é procurado no México, ele fala para Louisa que ele vai para Oregon. Ele diz para ela encontrar com ele na primavera, quando ele voltará para ficar com ela. 



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