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Caminhos Violentos (At Close Range, 1984): Um filme cruel onde o único objetivo é viver para contar

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Esse filme seria pouco conhecido se não fosse um detalhe: sim, é o filme que ilustra o clipe "Live to Tell" da Madonna, na época esposa de Sean Penn. Estrelado por Penn, o filme conta a história real da gangue de Bruce Johnston, temida na Pensilvânia. Penn faz o filho do gângster, que admira seu pai, até descobrir que ele era, na verdade, um assassino


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Baseado em historia real, a Gangue Johnston, que tinha uma ampla rede e operava principalmente no Condado de Chester, de acordo com um relatório de 1980 da Comissão de Crime da Pensilvânia. Ele e a gangue Johnston também cometeram crimes no condado de Lancaster em várias ocasiões e até cruzaram as fronteiras estaduais que faziam fronteira com Maryland e Delaware . Eles se envolveram principalmente em furtos, roubando itens que variavam de antiguidades a drogas.


Em cada arrombamento ou roubo, os membros de gangue usaram suas habilidades para arrombar fechaduras, arrombar cofres e desarmar ou impedir sistemas de segurança. Eles usaram walkie-talkies e scanners da polícia . Enquanto realizavam um trabalho em uma parte do condado, eles distraíam a polícia estadual telefonando para um relatório falso em outro lugar.


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De 1986, o filme mostra 1978. Já no início do filme, a cena do Sean Penn no capô do carro é genial, e deve ter sido uma absurdo para gravar tanto para o ator como para o dublê. Provável influencia para missão "Catshup no Para-Choque" do nostálgico GTA SA.


Sean Penn interpreta Johnston Jr, representado como um low life do interior. Alguém que só quer curtir, fumar e namorar. Ele faz pequenos crimes que geralmente não afetam ninguém. A cena da carroça é uma boa alegoria à pegada do lugar onde mora.


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Bandido de verdade é seu pai Bruce Johnston, interpretado pelo genial Christopher Walken, que não pode ser descrito se outra forma: um miliciano. 


Ele controla, como na vida real uma gangue. No filme é representado que o principal negócio de Johnston é desmanche de carros. Entretanto, seu filho anda a pé e têm que se estapear na rua por 5 dólares. Seu pai obviamente tem grana, mas esconde a grana de sua família e os impõem uma vida pobre por estilo de vida, e claro para gastar sozinho com farra. 


Eventualmente, ele dá oportunidades para seu filho descolar uma grana em seus crimes, mas como só mais um de seus capangas. Ele também dá um carro para seu filho lá pela metade do filme. Só que esses atos são feitos com um certo artificialismo. É como se esses favores fosse um "paternalismo" para demostrar não seu carinho pelo filho, mas uma superioridade. 


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Entretanto um dia, ele convida seu filho para um servicinho e de repente seus capangas apagam um cara, em uma cena sinistra e bem construída onde a vítima apenas é levada para o lago e sua cabeça afundada na água, como metáfora de um batismo, uma óbvia referência ao caráter de culto religioso que possuem algumas organizações milicianos. Isso é simbolizado genialmente por Walken ao colocar o dedo na frente da boca, referenciando a "lei do silêncio" ou "omerta" proposta por essas organizações.


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Isso choca seu filho, que busca parar de cometer crimes para ele. Isso o revolta, em uma cena onde obviamente o que está em jogo simbólico do "dar valor". Como seu pai nunca foi valorizado pela sociedade, ele supervaloriza as interações com o filho e espera dele uma gratidão irreal. Seu filho nunca nem viu essa possibilidade de "dar certo" do pai, são outros tempos, mais repressivos, e ele sente que seu pai é privilegiado por ter vivido em uma época onde se valorizava a cultura do "malandro", do politicamente incorreto.


Resumindo, o pai arma pro filho que é preso, em uma cena muito bem feita onde a luz toca seu rosto e a sirene dispara, e do desbotamento da luz um encadeado nos mostra seu destino já na cela da prisão. Todos os seus amigos tem suas fianças pagas e são libertados, menos ele. É pelo fato de não ter dinheiro? Não, apenas para impor uma moral.


O filho eventualmente consegue sair da prisão e planeja fugir com sua namorada. É então que seu pai arma um atentado para apagar o filho, resultando na morte da garota e no filho, semi-morto dos ferimentos a bala, buscando vingança contra seu pai. Uma história pesada, brutal e pior de tudo: real.


O filme busca retratar um certo tipo de "moral bandida", típica de bandidos chamados no Brasil de milicianos, que buscam convergir ou legitimar seu comportamento por um extremo moralismo, principalmente em suas famílias. 


Diferente do mostrado pelo comportamento da maioria dos bandidos que querem roubar uma bolada e fugirem para o Caribe ou Rio de Janeiro, Johnston via um orgulho social-democrático em viver do crime. O fato de ser da Pensilvânia, primeiro local a ser historicamente colonizado dos Estados Unidos, não é coincidência. Johnston tinha tanto orgulho de si que seu comportamento era extremamente auto referenciado e tudo devia se dar de uma maneira "paternalista", ao ponto de não aceitar as diferenças do filho.


Vamos as questões técnicas. A fotografia do filme é linda. As cenas a noite e o contorno que dão um ar neo noir, com luzes desfocadas ao fundo (provavelmente uma lente teleobjetiva), ou as cenas de dia no lago e no milharal, com ar límpido, são muito bonitas e levam o espectador a levar o filme "a sério". 


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É um pouco engraçado ver Sean Penn já com seus 40 anos, interpretando um jovem de 20. Mas sua interpretação é um esculacho. A desilusão em seus olhos chorosos são momentos intensos. Christopher Walken também faz um vilão de dar nojo, ou seja, está ótimo no papel.


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Acredito que há uma metáfora cinematográfica e visual no nome do filme, que em livre tradução seria "de perto" ou "na mira", com os ângulos e closes que a câmera faz na maior parte do filme, buscando reforçar a noção de intimidade e personalismo, mais comum nas novelas do que no cinema. O filme busca retratar uma crise entre famílias muito profunda e realista antropologicamente, por isso muito comum em termos de conflitos de gerações. Um tanto cruel em seu realismo, mas ótimo para tirar do local comum da maioria dos filmes.


A título de curiosidade, o diretor do filme James Foley, dirigiu o episódio 2x17 - "Wounds and Scars"  da série Twin Peaks de David Lynch, um dos mais cruciais para a trama.

 



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