Uma linha do tempo, seguindo a evolução da história da Música Popular Brasileira moderna. Dez músicas que contam a história da MPB: da sofisticação da bossa nova de Tom Jobim ao experimentalismo tropicalista de Caetano, Gil e os Mutantes. Do lirismo popular de Chico Buarque e Elis, à alma soul e que cantava a alma de todo brasileiro de Tim Maia. Elaboramos uma lista com o coração da MPB e as músicas que mais marcaram a nossa história nos tempos recentes e no cenário pop.
A lista foi difícil de fazer e pensar. É uma visão pessoal, é claro, mas que tenta pensar e segue a lógica do pop, das músicas mais tocadas e ouvidas, não tanto há uma segmentação de gêneros.
Cada faixa marcou uma virada estética, política ou emocional e juntas formam o retrato de um Brasil que canta com inteligência, swing e sentimento.
1) Garota de Ipanema, Tom Jobim e Vinicius de Morais
A música foi um sucesso, foi escrita em parceria de Tom e Vinicius e era sobre a Helô Pinheiro. A música ganhou o mundo junto com Frank Sinatra e ainda por cima lançou a cantora Astrud Gilberto (esposa na época do João Gilberto) na versão em inglês.
2) Wave, Tom Jobim
O clássico de 1967 também de Tom Jobim demonstra toda a mobilidade e inovação da bossa nova, essa ideia de sentimentos leves que lembram a brisa do mar marcava uma ideia de música nacional popular e erudita ao mesmo tempo.
3) A Banda, Chico Buarque
A Banda de Chico Buarque é outra tese (risos) uma música que foi produzida com na e esteira de Sargent Pepper's Lonely Heart's Club do Beatles (outro álbum inovador). É impressionante como surgiram na mesma época, em gêneros musicais completamente distintos. Mas com ideias estéticas super iguais! Mas A Banda de Chico veio antes da banda inglesa em 1966, demonstrando a inovação da música brasileira e sua influência também no campo da estética.
Vou explicar. Esse álbum dos Beatles fala sobre a influência da banda na cultura, da banda? Da banda militar, os exércitos modernos tem essa marca, principalmente na Europa, a ideia do o tambor e da marcha. Tudo isso existiu nas guerras até a Primeira Guerra, onde o nacionalismo ainda era importante para as definições das novas fronteiras mundiais e isso confundiu o costume e os hábitos de muitas nações.
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4) Alegria Alegria, Caetano Veloso
O nosso quarto lugar é Alegria Alegria, do Caetano. Sério, sem brincadeira, você faz um doutorado só analisando a semiótica dessa música, dá muito pano pra manga. A realidade é que Caetano ficou bravo com a música porque era como se ele não superasse essa música como Chico que fazia 10 músicas hits e já enterrava seus primeiros sucessos. Era a "Anna Júlia" do Caetano. Era a melhor música mas tirava a identidade de um dos mais profícuos compositores e cantores brasileiros. Também formado em filosofia, se não me engano e cancelado ás vezes como Woody Allen.
Em termos de sonoridade, há ali uma coisa de fado português que se atualiza mas dorme ainda na essência da tradição, onde o fado simples quase encontra a música de marchinha de carnaval, a música laboral do trabalho e do plantation, com a própria atualidade da música popular e de sua fórmula popular. A ideia de "Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento" aborda uma paranoia sobre liberdade e identificação, como havia muitos clandestinos, andar sem documentos era entre a proteção de uma identidade procurada e a vontade de ser mais um, alguém que não precisa de documentos ou de medo pois tem apenas a mostrar sua cultura e resiliência individual. É um manifesto pelas artes, citando Claudia Cardinale, cinema e guerrilhas e até hoje consegue fazer arrepiar quem escute com tantas referências políticas.
Há uma forte presença também da ideia da pop art, Andy Warhol, coca-cola e de uma quiets resistência ao senso comum e a obviedade de fases da vida e convenções sociais, como se casar.
5) A Minha Menina, Os Mutantes e Jorge Ben
O nosso quinto lugar esquenta com mais uma com participação de Jorge Ben! Dessa vez é que ele que participa com a música "A minha menina", um marco por misturar a brasilidade inerente com a entrada de riffs duros que pareciam com um som de berimbau abafado sendo uma das primeiras músicas de rock nacional com preocupação de passar a ideia do básico iê iê iê do rock tipo Beatles para a tradução para um som nacional.
Para entender o quanto os Mutantes e Jorge Ben influenciaram basta pensar que os riffs de rock tinham acabado de ser "descoberto" e aqui já se fazia com roupagem de música local e completamente traduzida. Explicando que o experimentalismo dos Mutantes levou a banda a uma grande e ampla fama posterior com a redescoberta da originalidade do som feito pela banda.
6) País Tropical, Jorge Ben
O nosso sexto lugar é para Jorge Ben, uma aula de senso comum brasileira, o violão, o fusca, o Flamengo, a "nega". É tudo tão próximo e tão afável que parecia resistência mesmo sem ser. É uma declaração que o Brasil existia em latência apesar de tudo d de todos. Os versos "Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza", seria como em inglês, "I live in a tropical country, blessed by god and beautiful by nature".
Vale lembrar que Jorge Ben ainda segura o recorde de público para um cantor brasileiro e que até Rod Steward já plagiou uma de suas músicas. O cara é o maior flamenguista de todos os tempos atrás de Zico, e foi homenageado por Chico Buarque que ao perceber que ele era mais censurado que toda a malandragem de Jorge Ben, escreveu "Jorge Maravilha" para falar das "filhas dos generais" e seus desejos múltiplos. Tanto Chico quanto Jorge são a alma da música brasileira.
7) Gostava Tanto de Você, Tim Maia
O sétimo lugar é do grande cantador de musica negra, como ele mesmo falava. Tim Maia, que teve uma banda antes com Jorge Ben e Roberto Carlos, emigrou e foi preso nos EUA e ainda voltou e fez todo o sucesso do mundo no Brasil.
Tim Maia teve uma baita biografia e seu profissionalismo com sua banda Vitoria Régia era apenas para os melhores acompanhar. O cara era além de tudo, grande maestro e obcecado com boa música.
Gostava Tanto de Você é uma música ímpar, dessas que grudam e não saem mais da cabeça, uma musica de amor e rompimento, uma balada das baladas composta por um amigo de infância, Edson Trindade para uma de suas ex namoradas.
8) Domingo no Parque, Gilberto Gil
O critério maior além da qualidade e representação da música, ser sobre músicas extremamente conhecidas por todos nós brasileiros, com exceção talvez de "Domingo no Parque" de Gilberto Gil, que tem seu lugar na lista por outros inúmeros motivos. Muitas dessas músicas são vindas dos embates doa festivais da Record, principalmente o de 1967, que eram palco para o lançamento dos novos sucessos das música brasileira. Naquela época, era difícil sobreviver ao cancelamento da plateia que gostava dos "bons moços". Outra música desse festival que vale ressaltar é "Ponteio", super séria, super técnica e ganhadora do júri.
Mas não posso colocar na lista porque mesmo sendo tão boa música, fica abaixo do sentido de representação nacional popular que Domingo no Parque sobra por contexto, nosso oitavo lugar agrega. Além da história da manifestação contra a guitarra elétrica, Gilberto Gil inovou e colocou os "jovens do rock" para participar do tradicional da MPB. Domingo no Parque aborda a felicidade de um casal que está se divertindo e do nada, no compasso de uma traição, o clima de festa se transforma em traição e violência.
9) Como Nossos Pais, Belchior e Elis Regina
Já o nono lugar é de uma música ímpar, que fala sobre solidão, repetição dos padrões em um pais sob o signo da ditadura militar e foi composta por Belchior, cantor conhecido como parte do chamado "pessoal do Ceará" da música e que escrevia muito para a maior cantora da história do Brasil que foi Elis Regina.
10) Chega de Saudade, João Gilberto
Chega de Saudade do grande mestre João Gilberto, sua família respirou música e ele foi um dos responsáveis pela popularização da bossa simples, nos sentidos que ele demonstra na música "Desafinado", essa ideia do simples e até do desafinado como ele brinca.
João Gilberto depois de cético e separado ainda forneceu apoio aos jovens dos Novos Baianos e aí ainda influenciou mais uma geração com sua música. Explicou esse início da lista com uma das músicas mais belas do Brasil e que usa da bela palavra intraduzível "Saudade".


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