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Godzilla (2014): Filme trouxe franquia de volta à vida e elevou status do kaiju a herói



Em "Godzilla" (2014), dirigido por Gareth Edwards, o mundo testemunha o despertar de criaturas colossais que ameaçam a humanidade. Quando antigas e titânicas criaturas despertam, o lendário Godzilla emerge para restaurar o equilíbrio natural da Terra. Enquanto cidades são devastadas, um cientista, interpretado por Bryan Cranston, e seu filho embarcam em uma jornada épica para desvendar segredos enterrados e entender o papel do gigante réptil na preservação do planeta. Em meio a espetaculares batalhas e reviravoltas emocionantes, "Godzilla" oferece uma visão impactante do icônico monstro japonês, reapresentando o épico kaiju para uma nova geração


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Godzilla de 2014 prova que ideias boas não ficam ultrapassadas. Após a franquia ficar muitos anos sem atualização, o filme recuperou a franquia e fez renascer nas pessoas a admiração pelo lagarto gigante.


"Kaiju" é um termo japonês que se traduz literalmente como "besta estranha" em inglês. No contexto cinematográfico e cultural, kaiju refere-se a monstros gigantes, geralmente de origem fictícia, que aparecem em filmes japoneses do gênero tokusatsu, especialmente nos filmes de Godzilla e em outras produções similares.


A trama do filme começa em 1954, Godzilla, um predador alfa pré-histórico, é atraído ao Atol de Bikini na tentativa de matá-lo com uma bomba nuclear. E para quem é mais atento percebeu: 1954 é a data do filme original japonês de Godilla. O filme original já foi analisado aqui no blog e você pode ler clicando aqui. 


Nas primeiras imagens, com pegada de footage histórico muito interessante, vemos escrito "Monarch", mesmo nome da série lançada recentemente e que propõe dar uma lógica ao monsterverse". 



Depois, em 1999, os cientistas Monarch Ishiro Serizawa e Vivienne Graham investigam o esqueleto de um monstro semelhante a Godzilla em uma caverna desenterrada por uma mina de urânio desabada nas Filipinas. E 1999 é a data do remake americano de Godzilla.



Eles encontram dois esporos gigantes, um dormente e outro eclodido, junto com uma trilha que leva ao mar. No Japão, a Usina Nuclear de Janjira experimenta atividades sísmicas incomuns. 



O supervisor Joe Brody (Bryan Cranston de Breaking Bad) envia sua esposa Sandra para liderar uma equipe de técnicos ao reator. Um tremor rompe o reator, e Joe fecha a porta do reator antes que Sandra e sua equipe possam escapar enquanto.



Quinze anos depois, o filho de Joe e Sandra, Ford, um oficial EOD da Marinha dos EUA, retorna de uma missão para sua esposa, Elle, e seu filho Sam em São Francisco. 


No entanto, ele deve partir imediatamente para o Japão depois que Joe for detido por invasão na zona de quarentena de Janjira. Joe está determinado a descobrir a causa do colapso e convence Ford a acompanhá-lo para recuperar dados vitais de sua antiga casa. Eles descobrem que a zona não está contaminada e recuperam os dados, mas são descobertos e levados para uma instalação nas ruínas da usina.

 


A instalação abriga uma enorme crisálida que se alimenta dos reatores da usina há 15 anos e emite pulsos eletromagnéticos intensos ao longo do tempo. Uma criatura gigante parecida com um inseto alado emerge da crisálida e escapa, destruindo a instalação. Joe fica gravemente ferido e morre mais tarde, porém o incidente é relatado publicamente como um terremoto.



Aqui o filme ficou meio confuso. Pareceu que a ideia original era a seguir a trama do personagem de Cranston. Porém isso seria reverter a premissa, uma vez que o Godzilla é uma metáfora sobre a situação do Japão após ser bombardeado nuclearmente na Segunda Guerra. Colocar que um acidente nuclear destruiu a família americana padrão do rapaz da marinha, seria muito clichê. Então essa trama acaba no meio do filme quando Joe morre, onde a trama de Ford morre junto no filme.



O filme passa a focar mais nos cientistas e militares que buscam uma solução para a crise dos mosquitos gigantes, ficando o Godzilla em segundo plano. 



Os militares desejam jogar ogivas nucleares nos monstros, ao que o cientista se opõe argumentando que o mesmo foi feito em 54 e não funcionou. Então os militares afirmam apenas que agora utilizarão o dobro da energia nuclear, sem se preocupar com o meio ambiente e danos ao planeta.



É chato ver que a maioria das cenas de tensão do filme são, na verdade, com os monstros secundários, os Mutos. Mas faz sentido uma vez que o filme tenta tirar o estigma de vilão do Godzilla, até mesmo elevando seu status a herói, uma vez que está óbvio que será o Godzilla que acabará com a ameaça dos Mutos.



Aqui o mais interessante do filme é querer estabelecer uma cronologia dos filmes principais. Por sua vez isso ganha conotação metafórica, uma vez que parece que forma de lidar com as guerras é conflitos, não poderia cair na mesma solução: a nuclear. A cena da ponte onde os ataques dos militares representam mais ameaça a população que o próprio Godzilla, corroboram a visão do filme de que a guerra gera mais guerra.



Entretanto é na trama que se encontram as principais falhas do filme. Por exemplo, se as ogivas serão inúteis e os monstros se atacaram entre si, todo o plot dos militares é descartável, tanto que para termos alguma simpatia por Ford ele tem que estar querendo se reencontrar com sua mulher e seu filho, buscando compensar a ideia quebrada de família que ele desenvolveu com o trauma de seu pai e a morte da sua mãe. Só que o ator é muito sem graça e não convence como pai de família. 



Assim como a personagem da enfermeira que sua esposa, a maioria dos personagens estão lá para a gente apenas se familiarizar com os humanos e refletir as consequências da destruição causada pelos monstros. O problema é que como a maioria dos personagens é vazio, queremos apenas vez as cenas dos monstros e caos que eles fazem. Como na cena onde uma mãe está desesperada ao telefone e o filho está encantado com as imagens na tv, dizendo que "os dinossauros estão destruindo tudo". 



Entretanto, na cena ápice do filme, quando os Mutos enfrentam o Godzilla, o filme fica estranhamente escuro, tirando um pouco a graça do clímax. 


No final da luta, entretanto, o Godzilla consegue derrubar um dos Mutos. Só que um prédio cai em cima do Godzilla, levando o Godzilla e Ford encararem um ao outro, denotando que ele se sentia como o próprio monstro uma vez que teve sua vida alterada pela questão nuclear como o lagartão.



Entretanto, o personagem realmente bom do filme é o do cientista. Além de ter defendido uma visão correta eticamente e que não prejudicaria a natureza, no final o que ele falou foi o que foi seguido pela conclusão do filme. 



E se a missão do soldado era inútil e ele só precisou se reencontrar com a família no final, não bastava a família ficar junta desde o início e se afastar ao máximo do perigo? Ficou parecendo que o nucleo da família foi inserido apenas para tornar o filme familiar, mais tranquilo para as crianças, mas onde nada no plot da família faz sentido ou comove. Ficamos mais comovidos por achar que o Godzilla, inerte no chão, morreu, o que logo é desmentido com o monstro se levantando perante o cientista e voltando para o mar sendo ao mesmo tempo enquadrado pela câmeras dos noticiários que agora o consideram um herói. Momento que meu filho de 3 anos comemorou mais pelo Godzilla estar vivo do que o reencontro da família, pois segundo ele "o Godzilla sofreu muito". 




A direção do filme e os efeitos são o grande destaque, seguindo bem a tradição daquilo que melhor se destacava no filme clássico de 54. Ao mesmo tempo, o filme capturou bem o lado sentimental e familiar do filme de 99, transformando em um filme de continuação e retomada perfeito para trazer a franquia de volta a vida. Entretanto considero que o filme japonês original de 54 é o melhor e mais perfeito até hoje, por trazer de um ponto de vista real e intenso a questão da tragédia nuclear. Tentar transformar o Godzilla em herói é legal, mas ao mesmo tempo minimiza a sua ameaça e logo o significado de sua metáfora: o risco da ameaça nuclear. Por isso, ao que parece, na nova versão japonesa, Godzilla Minus One, o monstro voltou a ser mau, mas ainda não assisti para dizer. O ponto é que Godzilla de 2014 representou um importante passo para a franquia, mas fez modificações muito ideológicas na trama, tirando sua capacidade de ser um filme épico e inesquecível.








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