Gremlins (1984): Desvendando o caos do Natal e seu consumismo perante o acesso à novidades tecnológicas em clássico dos anos 80

"Gremlins," dirigido por Joe Dante, é um daqueles filmes que ficam gravados na memória por sua mistura única de comédia, terror e fantasia. Lançado em 1984, em meio a uma era de avanços tecnológicos rápidos, o filme não apenas cativou o público com suas criaturas adoráveis, os Mogwai, mas também deixou uma marca duradoura como uma sátira social sobre o Natal, o consumo e os perigos da negligência com a tecnologia

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O filme foi lançado durante a década de 1980, uma época marcada por avanços tecnológicos rápidos, o surgimento da cultura pop e uma atmosfera de otimismo econômico. "Gremlins" incorpora elementos dessas tendências, misturando inovação tecnológica com referências culturais e criando algo que ressoou com o público da época. 

No contexto de "Gremlins", é possível interpretar o filme de maneira mais crítica, considerando que a sátira sobre o consumismo e as implicações não intencionais da tecnologia pode refletir as preocupações sobre as consequências sociais e econômicas das políticas da era Reagan. O filme, assim, pode ser visto como uma expressão cultural que questiona o lado menos glamoroso da suposta prosperidade econômica.

A história começa de maneira inofensiva quando o protagonista, Billy Peltzer, recebe um Mogwai como presente de seu pai. Esses pequenos seres peludos têm regras simples: evite a luz forte e, o mais importante, não os alimente após a meia-noite. É claro que, como em toda boa história, essas regras são ignoradas, desencadeando um caos desastroso.

O filme não é apenas sobre criaturas fofas que se transformam em monstros noturnos; é uma alegoria brilhante sobre nossa relação com a tecnologia. Os Mogwai e os Gremlins representam a dualidade da inovação tecnológica. Inicialmente, são adoráveis e promissores, mas quando não são tratados com respeito e responsabilidade, tornam-se agentes do caos.

As cenas principais são um verdadeiro espetáculo. A introdução dos Mogwai é uma mistura de encanto e curiosidade, enquanto a quebra das regras desencadeia uma sequência frenética de transformações e caos em Kingston Falls. É impossível não rir e se surpreender com a criatividade por trás dos efeitos práticos e animatrônicos que deram vida aos Gremlins.

O contexto histórico de 1984, com o rápido avanço tecnológico, contribui para a mensagem impactante do filme. A produção, com seus efeitos visuais inovadores para a época, solidificou "Gremlins" como um ícone cultural.

Hoje, a mensagem de "Gremlins" permanece relevante. Em um mundo cada vez mais dependente da tecnologia, o filme serve como um alerta sobre os perigos da imprudência tecnológica. A mensagem política contemporânea pode ser interpretada como um apelo à regulamentação e responsabilidade no desenvolvimento e uso da tecnologia.

"Gremlins" é mais do que um filme de monstros; é uma reflexão inteligente e bem-humorada sobre nossa relação complicada com a inovação. Em outras palavras, sabe aquela sensação ruim que dá nessa época do ano? É a sensação de obrigação de ter que consumir ou que você deveria estar consumindo e aproveitando a vida. Se você tem dinheiro, você tem que saber com o que gastar, afinal você batalhou aquele dinheiro com seu esforço e se você não quer nada não está aproveitando a vida. Se você não tem dinheiro, você se sente um lixo por não poder estar incluso nos bem de consumo que deseja e outros de um grupo social que almeja-se estão incluídos.

No contexto natalino, "Gremlins" adquire uma camada adicional de significado. O filme começa com o presente de Natal peculiar, um Mogwai fofo chamado Gizmo, e, ironicamente, desenrola-se durante a época festiva. A conexão entre a história e o Natal destaca uma reflexão mais profunda sobre nossas tradições e a rápida incorporação de tecnologias inovadoras em nossas celebrações. A mensagem sobre ética e prudência tecnológica ressoa especialmente durante a temporada de Natal, quando somos frequentemente bombardeados por novidades tecnológicas como ideal de presentes. 

A nostalgia associada à reexibição do filme durante as festividades oferece uma oportunidade única para os espectadores considerarem como as mensagens atemporais de "Gremlins" continuam relevantes, não apenas em nosso relacionamento com a tecnologia, mas também na preservação dos valores fundamentais que definem o espírito natalino. O filme, assim, transcende seu status de clássico para se tornar um lembrete anual sobre a importância da moderação e responsabilidade, não apenas com nossos presentes, mas também com o progresso tecnológico que molda nosso mundo. Por isso algum canal sempre exibe o filme, seja o SBT no clássico Cinema em Casa ou a Globo hoje em dia. 

A falta de cuidado com as regras simples para manter os Mogwai sob controle pode simbolizar a negligência em relação à natureza e o ambiente. Analogamente, a disseminação caótica dos Gremlins pela cidade destaca como a destruição ambiental pode ocorrer quando não respeitamos os limites e as precauções necessárias.

"Gremlins" estabelece uma crítica sutil, mas eficaz, ao consumismo desenfreado associado ao Natal. A narrativa se desenrola em meio às compras de presentes e à busca frenética por novidades tecnológicas, elementos intrínsecos à celebração natalina. Os Mogwai, inicialmente apresentados como adoráveis e desejáveis presentes, tornam-se uma metáfora para as consequências negativas do consumismo desenfreado. 

A transformação dos Mogwai em Gremlins após a quebra das regras pode ser interpretada como uma representação do lado sombrio do excesso materialista, onde a busca por mais, mais rápido, mais novo, pode desencadear um caos indesejado. A reexibição do filme durante a temporada natalina tem o sentido de servir como um lembrete oportuno de que, mesmo em meio à alegria festiva e às tradições, é crucial refletir sobre o equilíbrio entre a alegria do presente e as responsabilidades éticas associadas ao consumismo desenfreado. "Gremlins" ressoa como um chamado para uma celebração mais consciente, onde a alegria do Natal não seja obscurecida pelo frenesi do consumismo.

Um destaque importante sobre "Gremlins" é a sua classificação etária. O filme foi lançado em uma época em que ainda não existia uma classificação específica para determinar a adequação de um filme para diferentes idades. No entanto, a recepção do público e a natureza do filme levaram à criação do sistema de classificação PG-13 nos Estados Unidos.

"Gremlins" é frequentemente citado como um dos filmes que influenciaram a implementação do PG-13, que está situado entre PG (orientação sugerida) e R (restrito). A razão para isso foi que, apesar do apelo inicial do filme para um público mais jovem, algumas cenas foram consideradas intensas o suficiente para justificar uma classificação além do PG, mas não tão severa quanto o R.

Muitas pessoas citam esse filme como um trauma de infância. Acho que a cena mais pesada nessa vertente é aquela que a mãe do protagonista luta com os Gremlins maus na cozinha. Ela esfaqueia um e explode o outro no microondas, o que é sinistro pois até duas cenas antes eles eram bichinhos fofinhos. 

O contraste entre a natureza inicialmente fofa dos Mogwai e a transformação deles em criaturas perigosas adiciona uma camada de choque à narrativa.

Essa sequência em particular, com a mãe de Billy usando utensílios de cozinha para enfrentar os Gremlins, é notável por seu tom de horror e humor negro. A mudança abrupta de atmosfera, indo de momentos mais leves para uma situação intensa e violenta, contribui para o impacto emocional da cena.

Essa dualidade de tons, combinada com a transformação dos personagens, é parte integrante da abordagem de "Gremlins" para o gênero de terror cômico. O filme brinca com as expectativas do público, proporcionando momentos leves e, em seguida, subvertendo essas expectativas com sequências mais sombrias, criando uma experiência cinematográfica memorável e muitas vezes impactante para o espectador.

Esse aspecto do filme não apenas destaca sua influência cultural e social, mas também sua contribuição para a evolução do sistema de classificação etária nos filmes. "Gremlins" desempenhou um papel significativo na conscientização sobre a necessidade de uma classificação intermediária para atender a uma variedade de públicos.

Ao longo do filme, vários outros filmes são referenciados diretamente em algumas cenas. São elas:

Branca de Neve e os Sete Anões (1937) - Os gremlins assistem ao filme no teatro.

A Felicidade Não se Compra (1946) - Um clipe do filme é mostrado.

O Mau Cheiro do Amor (Curta 1949) - O filme é visto passando na televisão do bar ao fundo enquanto Billy conversa com Chuck Jones, o diretor do desenho animado.

Orfeu (1950) - Em que os Futtermans assistem.

Agora Sou Tua (1950) - Gizmo assiste ao filme no quarto de Billy.

Vampiros de Almas (1956) - Gizmo é visto assistindo ao filme no quarto de Billy.

Hemo the Magnificent (Filme para televisão 1957) - Aparece muito brevemente na cena em que o Gremlin da escola eclode.

Kong (videogame 1981) - Os Mogwais podem ser vistos jogando Donkey Kong.

Star Wars (videogame 1983) - Um dos gremlins joga videogame no bar.

Castelos de Cristal (Videogame 1983)

História e bastidores do filme 

O roteirista Chris Columbus concebeu a ideia para "Gremlins" enquanto trabalhava em uma loja de departamento e imaginava o que aconteceria se os brinquedos ganhassem vida.

A equipe de efeitos especiais, liderada por Chris Walas, utilizou animatrônicos para criar os Mogwai e Gremlins. Essas são marionetes eletrônicas controladas por operadores que permitiam movimentos precisos e expressivos.

Além dos animatrônicos, foram utilizadas marionetes e bonecos em certas cenas. Isso permitiu uma variedade de movimentos e interações com os atores e cenários.

Para cenas que envolviam locais específicos, como a loja de brinquedos, foram criadas miniaturas detalhadas. Essas miniaturas permitiram a realização de cenas complexas e destruições controladas.

A produção fez amplo uso de efeitos visuais práticos, evitando em grande parte o uso de efeitos gerados por computador (CGI), que ainda não eram tão avançados na época. Isso contribuiu para a sensação tangível e física dos Gremlins na tela.

Os animatrônicos foram equipados com sistemas hidráulicos e mecanismos internos para controlar movimentos como expressões faciais, piscar de olhos e movimentos corporais. Isso permitiu uma gama completa de interações.

Em algumas cenas, foram usados dublês em tamanho real para representar os Gremlins em movimento. Isso combinado com os efeitos visuais práticos contribuiu para a sensação de presença física dessas criaturas.

O nome do personagem principal, Gizmo, é um tributo ao lendário animador Chuck Jones, conhecido por seu trabalho em desenhos animados clássicos da Warner Bros., como Looney Tunes.

Steven Spielberg foi o produtor executivo do filme. Seu envolvimento trouxe uma influência significativa na mistura de gêneros, combinando elementos de comédia, horror e fantasia.

A trilha sonora do filme foi composta por Jerry Goldsmith e apresenta a icônica música de abertura que se tornou associada ao filme. A música contribuiu para criar a atmosfera única do filme.

Uma cena que foi originalmente filmada, mas cortada do filme, mostrava os Gremlins atacando um Papai Noel em um shopping center. A cena foi considerada muito sombria e foi removida, mas imagens dela foram usadas nos trailers promocionais.

O lançamento do filme durante a temporada de Natal, juntamente com a presença dos Mogwai como presentes, adicionou uma dimensão única ao filme e o tornou um clássico para exibições durante as festividades.